SEXTA-FEIRA SANTA
Ano – C; Cor – Vermelho; Leituras: Is 52,13 – 53,12; Sl 30 (31); Hb
4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1 – 19,42.
“PERTO
DA CRUZ PERMANECIAM, DE PÉ, SUA MÃE...” (Jo, 9,25).
Diácono
Milton Restivo
“Na minha angústia invoquei a
Iahweh, ao meu Deus lancei o meu grito; do seu Templo ele ouviu a minha voz, meu
grito chegou aos seus ouvidos.” (Sl 18 (17), 7).
“Ele não tinha aparência nem
beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo.
Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na
dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem
tomamos conhecimento dele. Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava,
eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era
um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado. Mas ele estava sendo
traspassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu
sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a
cura para nós. Todos nós estávamos perdidos como ovelhas, cada qual se desviava
por seu próprio caminho, e Yahweh fez cair sobre ele os crimes de todos nós.
Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; tal como cordeiro ele foi
levado para o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a
boca. Foi preso, julgado injustamente; e quem se preocupou com a vida
dele? Pois foi cortado da terra dos
vivos e ferido de morte por causa da revolta do meu povo.A sepultura dele foi
colocada junto com a dos ímpios, e seu túmulo junto com o dos ricos, embora
nunca tivesse cometido injustiça, e nunca a mentira estivesse em sua boca. No
entanto, Yahweh queria esmagá-lo com o sofrimento: se ele entrega a sua vida em
reparação pelos pecados, então conhecerá os seus descendentes, prolongará a sua
existência e, por meio dele, o projeto de Yahweh triunfará. (Is 53,2-10).
Nos momentos em que nos sentimos sozinhos, mesmo estando no meio da
mais barulhenta multidão, devemos elevar o nosso pensamento ao Senhor Nosso Deus
e Pai e, nos recolhendo dentro de nós mesmos, nos entregarmos à oração.
Nesses momentos em que sentimos que a solidão bate forte em nosso
coração, devemos voltar a nossa atenção a todos aqueles que estão tristes, acabrunhados,
arrasados, explorados; todos aqueles que se sentem abatidos, desesperados,
injustiçados...
Nesses momentos, quando nos sentimos desamparados, devemos nos unir em
oração e nos colocar na presença de Deus Pai que muito nos amou e nos ama e
suplicar a mediação do Senhor Jesus que “...
foi obediente até a morte e morte de cruz...” (Fl 2,8), esse mesmo Senhor
Jesus que nos disse: “Eu dou a minha vida por minhas ovelhas.”
(Jo, 10,15). João, o Apóstolo amado, na sua primeira carta nos adverte, dizendo: “Nisso conhecemos o amor: ele deu a sua vida
por nós, e nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos.” (1Jo, 3,16).
Imaginemos a cruz de Jesus, o Cristo, a cruz onde ele se imolou por
nós.
“Vejam! Tão desfigurado estava
que não parecia mais gente, tinha perdido toda a sua aparência humana”. (Is 52,14). “Ele não tinha aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem
simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado e rejeitado pelos homens,
homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente
esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos conhecimento dele”. (Is
53,2-3).
Coloquemos-nos inteiramente na presença do Senhor Nosso Deus e, num ato
de humildade, peçamos: “Senhor, aqui
estamos, com nossas fraquezas, com nossos fracassos, com nossas angústias e
sofrimentos. Ó Senhor, vê a nossa
miséria e nossa dor, e, na sua bondade, tem compaixão de nós e releve todas as
nossas faltas, as nossas ingratidões, os nossos desamores”.
Prestemos atenção: na nossa mentalização no sofrimento do Senhor Jesus,
o Cristo, no Calvário, observemos lá, junto da cruz onde Jesus está suspenso
entre o céu e a terra nas mais terríveis e angustiantes dores, uma figura
abatida, desolada, sofrida: Maria, a mãe de Jesus: “Perto da cruz de Jesus permaneciam, de pé, sua mãe...” (Jo,
19,25).
A mãe ama todos os filhos, indistintamente, e, a cada um se dedica de
coração e sem reservas. Não temos dúvidas, a mãe não exita em se sacrificar, em
perder horas e horas de sono para ali estar, atenciosa e orante junto à cama do
filho enfermo e, sempre aflita, partilhando da dor do filho. A mãe tem sempre
uma palavra de ânimo, de conforto, de esperança. Dificilmente encontramos a mãe
nas noites de festas, mas, no leito de dor do filho a presença da mãe é uma
constante, sempre humilde e serviçal, com seu olhar materno, com seu carinho,
com seu amor, com sua dedicação extrema e com a sua participação na dor do
filho...
Maria de pé, perto da cruz... E, quando o Senhor Jesus, nos estertores
da morte, pressentiu que havia chegado o momento derradeiro de voltar para o
Pai, num gesto de amor extremo, transfere a maternidade de Maria para o seu
apóstolo mais querido, João: “Jesus,
então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo que amava, disse à sua mãe: ‘Mulher,
eis o teu filho! ’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’!”. (Jo,
19,26-27).
A experiência nos faz entender que o sofrimento é sempre difícil de ser
aceito e, por vezes, a tentação do desespero, da vingança, do revide, pode
estar batendo à porta do nosso coração.
Pode ser forte até a tentação do ódio. Mas, não devemos entrar nessa...
Não vamos permitir que a descrença e a desilusão ofusquem a nossa fé e
a nossa esperança... Por isso devemos permanecer em oração!
São benditas as lágrimas que lavam os olhos, purificam o coração e nos
faz ver melhor a vida por outro prisma. Não devemos nos desesperar; somos
pessoas humanas, não somos anjos...
Continuemos em oração e mentalizando a cruz de Cristo; Jesus está ali,
no mais terrível dos sofrimentos. Tanto que o Senhor Jesus amou a todos, tanto
bem que Jesus fez: “os cegos recuperam as
vistas, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os
mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.” (Mt, 7,47). Jesus perdoou pecados: “Por esta razão eu lhe digo, seus numerosos pecados lhe estão
perdoados... Seus pecados estão perdoados.” (Lc 7,47.48). Jesus amou e
acariciou as criancinhas; “Deixai as
crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o reino dos céus.” (Mc,
10,14). Jesus amou e respeitou os velhos e as viúvas: “Pois todos os outros deram do que lhes sobrava, ela (a viúva),
porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para
viver.” (Mc, 12,44). Jesus acolheu os pobres: “Ao ver a multidão, teve compaixão dela, porque estava cansada e
abatida como ovelha sem pastor.” (Mt, 9,36). Jesus alimentou os famintos: “Não é preciso que vão embora. Daí-lhes vós
mesmos de comer.” (Mt, 14,16). Jesus
curou os doentes: “Assim que desembarcou, viu uma grande
multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes.” (Mt, 14,14). Jesus
expulsou os demônios: “Logo que saíram, eis
que lhe trouxeram um endemoniado mudo. Expulsou o demônio, o mudo falou.” (Mt,
9,32-33) e “Os demônios lhe imploravam,
dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” Jesus lhes
disse: “Ide.” (Mt, 8,32-33)
Até os mortos se levantavam ao ouvirem a palavra de Jesus: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te.” E o
morto sentou-se e começou a falar.” (Lc, 7,14-15). e “Lázaro, vem para fora.” O morto saiu com os pés e as mãos enfaixados e
com o rosto recoberto com um sudário.
Jesus lhes disse: “Desatem-no e deixem-no ir embora.” (Jo, 11,43-44)., e ainda mais: “Tomando a mão da criança, disse-lhe: “Talita kûm” - que significa:
“Menina, eu lhe digo, levante-se.” No mesmo instante a menina se levantou, e
andava, pois já tinha doze anos.” (Mc, 5,41-42).
Jesus era um homem tão cheio de Deus; era o próprio Deus caminhando
conosco neste vale de lágrimas: “... quem
me viu, viu o Pai. Como podes dizer: “Mostre-nos o Pai?”Você não crê que estou
no Pai e o Pai está em mim? As palavras que lhes digo, não as digo por mim
mesmo, mas o Pai que permanece em mim, realiza suas obras. Creiam-me: Eu estou
no Pai e o Pai está em mim.” (Jo 14,9-11).
Na sua infinita sabedoria, Jesus nos deixa uma regra de ouro: “Tudo
aquilo, portanto, que vocês quiserem que os homens lhes façam, façam vocês a
eles, pois esta é a lei e os profetas.” (Mc, 7,12). Sabemos que o Senhor
Jesus gostava muito de dar atenção aos mais esquecidos, aos abandonados, aos
doentes, aos desamparados, aos injustiçados, aos que se sentiam sozinhos, aos
mais pobres.
Jesus amava os pecadores, pois assim ele afirmou: “Não são os que têm saúde
que precisam de médico, mas sim os doentes. Vão, pois, e aprendam o que
significa: “Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício. “Com efeito, eu não
vim para chamar os justos, mas os pecadores.” (Mt, 9,12-13). O Senhor Jesus
sabia e sabe perdoar, sabe acolher os corações mais esmagados, mais dilacerados;
e são para nós, que temos o coração sofrido, as palavras acolhedoras e reconfortantes
do Senhor Jesus: “Venham a mim todos os
que estão cansados, sob o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso... Tomem sobre
vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e
encontrarão descanso para as suas almas, pois o meu jugo e suave e o meu fardo
é leve.” (Mt, 11,28-30).
Voltemos à cruz, voltemos a meditar na cruz.
Mentalizemos novamente Jesus pendente na cruz, na eminência da morte, e
aprendamos com ele a perdoar os que nos fazem mal, como ele perdoou os seus
algozes, pedindo o perdão do Pai para os seus carrascos: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.” (Lc, 23,24).
E, mesmo no meio das mais violentas dores imagináveis, Jesus ouviu a
súplica do ladrão condenado e crucificado no mesmo local: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino”. Ele respondeu:
“Em verdade eu lhes digo, hoje você estará comigo no paraíso.” (Lc,
23,42-43).
Estas atitudes de amor e perdão do Divino Mestre não nos deixam perder
as esperanças.
O Senhor Nosso Pai nos ama do jeito que somos: pecadores, cheios de
falhas, imperfeitos, e muitas vezes inconsequentes...
Nos orgulhosos, nos prepotentes a fé é muito difícil.
Nos humildes, nas pessoas como nós, a fé é possível; basta que creiamos
e tenhamos coragem de assumirmos e vivermos as verdades ensinadas pelo Divino Mestre.
Os braços abertos de Jesus na cruz também estão abertos para mim, para
você, para todos nós, e não podemos nos esquecer que “Jesus morreu de pé e de braços abertos para que não ficássemos
sentados e de braços cruzados”.
Por isso tudo devemos abrir o nosso coração ao Senhor Jesus, ouvindo o
Apóstolo Pedro: “Com efeito, para isso é
que fomos chamados, pois que também Cristo sofreu por vocês, deixando-lhes um
exemplo, a fim de que sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado;
mentira nenhuma foi achada em sua boca. Quando injuriado, não revidava; ao
sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa na mão daquele que julga com
justiça. Por suas feridas vocês foram curados, pois vocês estavam desgarrados
como ovelhas, mas agora vocês retornaram ao pastor e supervisor de suas almas.”
(1Pd, 2,21-25).
Não nos desesperemos. Não busquemos desforras. Não aumentemos o mal que
já fez tanto mal a tanta gente. Acreditemos em Deus. “Tudo é possível àquele que
crê.” (Mc, 9,23).
O Senhor Jesus está conosco. Ele permanece conosco todos os dias em
cumprimento à sua promessa: “E eis que eu
estou com vocês todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt, 28,20),
e isso nos transmite uma paz celestial.
O importante é a paz no coração, a paz do coração, não a paz que o
mundo nos dá, mas aquela paz que o Senhor Jesus desejou e derramou sobre os
seus discípulos e apóstolos dizendo: “A
paz esteja com vocês.” (João 20, 19), e
“Deixo-lhes a paz, a minha paz lhes dou; não a dou como o mundo dá. Não se
perturbe nem se intimide o seu coração.” (Jo, 14,27). Descubramos o nosso coração ao Senhor Jesus e
reconfortemos-nos com a sua palavra de vida eterna: “É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite
em seu templo. Aquele que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles:
Nunca mais terão fome, nem sede, o sol nunca os afligirá, nem qualquer calor
ardente; pois o cordeiro que está no meio do trono os apascentará,
conduzindo-os até as fontes de água da vida. E Deus enxugará toda lágrima de
seus olhos.” (Apo, 7, 15, 17).
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