XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – C; Cor – verde; Leituras: Is 66,18-21; Sl 117 (116); Hb
12,5-7.11-13; Lc 13,22-30.
“FAÇAM TODO ESFORÇO POSSÍVEL PARA ENTRAR PELA PORTA ESTREITA” (Lc
13,22-30).
Diácono
Milton Restivo
Na primeira
leitura da liturgia de hoje vemos que há uma revelação profética da segunda vinda
de Cristo. “Eu que conheço suas obras e
seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e
verão a minha glória”. (Is 66,18).
Nessa segunda
vinda Jesus vai reunir todas as nações juntas por causa de suas obras e de seus
pensamentos. Isso não aconteceu na sua primeira vinda. Vai haver um último dia.
“Porei
no meio deles um sinal...” (Is
66,19a).
Que sinal seria esse? A cruz,
conhecida mundialmente.
A cruz, em
primeiro lugar, é a declaração do amor de Deus para a sua criação e suas
criaturas: “Pois Deus amou de tal forma o
mundo, que entregou seu filho único, para que todo o que nele acredita não
morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16).
Para os que
crêem, a cruz tem um significado mais profundo.
A cruz
significou, para Jesus, uma luta para ir onde não queria, fazer o que não
queria, dar o que não queria, mas que a vontade do Pai fosse feita independente
do que ele gostaria que fosse: “Meu Pai,
se é possível, afasta de mim esse cálice. Contudo, não seja feito como eu
quero, e sim como tu queres”. (Mt 26,39b): “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua
cruz, e me siga”. (Lc 9,23b).
Por nós Jesus
aceitou e suportou a cruz: “Em troca da
alegria que lhe era proposta, ele se submeteu à cruz, desprezando a vergonha, e
se assentou à direita do trono de Deus.” (Hb 12,2b).
A revelação de
Isaias, contida na primeira leitura, finaliza-se da seguinte maneira: “Escolherei dentre eles alguns para serem
sacerdotes e levitas, diz o Senhor”. (Is 66,21).
É o que Deus
está fazendo atualmente no mundo: chamando homens e mulheres de todas as raças,
culturas e procedências que escolheram seguir ao Senhor, aderindo ao chamamento
de Jesus: “Sigam-me, e eu farei de vocês
pescadores de homens”. (Mc 1,17).
O plano de Deus,
para todo o mundo, é revelado profeticamente por Isaias que declara que existem
quatro coisas que Deus pretende fazer e duas coisas que ele quer que os homens
façam.
As quatro
coisas que Deus pretende fazer para arregimentar os escolhidos são: primeiro –
reunir todos à sua volta: “virei para reunir
todos os povos e línguas” (v 18); segundo – colocar um sinal no meio deles:
“porei no meio deles um sinal” (v
19a); terceiro – enviar mensageiros para os que foram salvos: “enviarei dentre os que foram salvos,
mensageiros para os povos” (v 19b) e quarto – escolher gente comprometida
para o seu serviço: “Escolherei dentre
eles alguns para serem sacerdotes e levitas” (v 21).
As duas coisas
que Deus pede que os homens façam, são: primeiro – anunciar às nações a glória
do Senhor: “Esses enviados anunciarão às
nações minha glória” (19c) e, segundo – serem purificados e a terem as mãos
limpas e o coração puro (cf Sl 24 (23),3-4) para se colocarem ao serviço do
Senhor: “levarão sua oferenda em vasos
purificados para a casa do Senhor”. (v 20b).
A liturgia nos
traz o Salmo 117 (116) que é o menor Salmo das Sagradas Escrituras e que só
possui dois versículos. É o menor capítulo da Bíblia, considerando que cada
salmo é considerado um capítulo. É tão
pequeno esse Salmo que não resisto à tentação de transcrevê-lo aqui tal como se
encontra na Bíblia Edição Pastoral: “Louvem
a Yahweh, nações todas, e o glorifiquem todos os povos! Pois o seu amor por nós
é firme, e sua fidelidade é para sempre! Aleluia!” (Sl 117 (116),1-2). Este
Salmo reforça o anunciado na primeira leitura, que diz: “Eles virão e verão a minha glória”. (Is 66,18b).
A carta aos Hebreus, a segunda
leitura, que foi por muito tempo atribuída a Paulo, mas que os estudiosos da
Bíblia chegaram à conclusão que não é bem assim e cujo autor é desconhecido,
diz que a sua comunidade negligenciou,
quando diz: “Vocês já se esqueceram da
exortação que lhes foi dirigida como a filhos...” (Hb 15,5a).
Esta passagem da carta aos Hebreus é uma
chamada de atenção à comunidade que, aparentemente, estava desanimada e
reclamava das contrariedades oriundas da fé.
O autor repete para a comunidade o que já
fora dito no livro dos Provérbios e, possivelmente, no livro do Apocalipse: “Meu filho, não desprezes a educação do
Senhor, nem desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele
ama e castiga a quem aceita como filho.” (Hb 12,5b; Pr 3,11-12; Apo 3,19) e
incentiva a comunidade a se afirmar na fé, a reconhecer os seus erros e a
buscar “um fruto de paz e de justiça”,
repetindo os ensinamentos do livro dos Provérbios: “Portanto, firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai
os passos dos vossos pés, para que não se extravie o que é manco, mas antes
seja curado.” (Hb 12,12; Pr 4,26).
No Evangelho
Jesus continua na sua caminhada rumo a Jerusalém, atravessando cidades e
povoados a caminho da metrópole.
Como já vimos,
a partir do capítulo 9, versículo 51 do Evangelho segundo Lucas, Jesus se
coloca a caminho e ruma, com os seus discípulos, para Jerusalém: “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado
ao céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém...”. (Lc
9,51).
É o início da
caminhada para o Calvário. Jesus sai do norte, da Galiléia, e caminha para o sul,
rumo a Jerusalém, onde o Cordeiro de Deus deverá ser imolado.
Nessa caminhada
Jesus vai definindo bem qual seria o modelo daqueles que quisessem seguí-lo. Jesus pintava com cores fortes as
dificuldades em seguí-lo e rejeitava todos os que tentavam fazê-lo de forma
inadequada: “Enquanto estava caminhando,
alguém na estrada disse a Jesus: ‘Eu te seguirei para onde quer que fores!’ Mas
Jesus lhe respondeu: ‘As raposas têm tocas, e os pássaros têm ninhos; mas o
Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça’. Jesus disse a outro: ‘Siga-me’.
Esse respondeu: ‘Deixa primeiro que eu vá sepultar o meu pai.’ Jesus respondeu:
‘Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o
Reino de Deus.’ Outro ainda lhe disse: ‘Eu te seguirei, Senhor, mas deixa
primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa.’ Mas Jesus lhe
respondeu: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus”. (Lc 9,57-62).
Jesus pregou sobre o tema: "Não pode ser meu discípulo",
discutindo abertamente a necessidade de calcular o custo antes de embarcar na
vida de discípulo: “Se alguém vem a mim,
e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos
filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não serve
para ser meu discípulo. Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim,
não pode ser meu discípulo”. (Lc 14,26-27).
Jesus sabia que não seria fácil para os
homens seguí-lo e que eles estariam inclinados a enganarem-se a si mesmos
pensando que eram seus discípulos, quando não eram.
Jesus nunca deixou de declarar francamente o
que a conversão real exige: compromisso, entrega total, sim quando é sim, não
quando é não.
No Evangelho de
hoje Jesus continua nessa caminhada: “Jesus
atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para
Jerusalém”. (Lc 13,22).
E, nessa
caminhada, Lucas vai narrando os encontros que Jesus tem com todo tipo de
pessoas: pessoas que buscavam, sinceramente, a conversão, pessoas que queriam
interesses próprios e projeções pessoais (e como existem pessoas assim ainda
hoje na nossa Igreja, a quem poderíamos classificar como “donas da igreja”), e
pessoas que apenas queriam testar Jesus e desmoralizá-lo diante da opinião
pública.
A um jovem rico que buscava seu conselho, Jesus
replicou com palavras tão fortes que o homem foi embora entristecido, não
disposto a segui-lo a tão alto preço, isto é, renunciar aos bens terrenos (Mt
19,16-22).
A um importante líder religioso, Nicodemos,
que tinha vindo louvando Jesus, Jesus respondeu taxativamente: “Você tem que nascer de novo, se quiser ao
menos ver o reino de Deus.” (Jo 3,1-8).
A um doutor da lei que quis tentar Jesus,
perguntando quem era seu próximo, Jesus respondeu sua pergunta, ironicamente,
com outra pergunta: “O que está escrito
na lei? Como lês?” (Lc 10,25-37). Alguém, ainda, está preocupado com
a vida futura, com a salvação, e pergunta a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23).
Jesus não
deixava ninguém sem resposta; a quem fazia perguntas com o desejo de se
esclarecer, de aprender e de entender a mensagem de Jesus, Jesus era solícito e
respondia de maneira que a pessoa saísse de sua presença reconfortada em
eliminar a sua dúvida. Porém, àqueles que faziam perguntas capciosas, apenas para
tentar Jesus e colocar à prova os seus ensinamentos, Jesus era mais contundente
e dava as respostas à altura da malícia de quem a fazia.
A preocupação
do interlocutor, como vimos, é com a salvação, e Jesus responde dizendo qual é
não somente a melhor, mas a única maneira de se realizar plenamente para entrar
no Reino dos céus. Jesus responde a esse que lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se
salvam?” (Lc 13,23) de maneira amigável, esclarecedora e sem deixar margens
para dúvidas: “Faça todo esforço possível
para entrar pela porta estreita. Porque eu digo a você que muitos tentarão
entrar e não conseguirão”. (Lc 13,24).
A pergunta foi
feita por alguém que estava preocupado de estar fazendo parte do grupo dos
não-salvos. Jesus não responde diretamente a pergunta; nem diz que serão muitos
nem que serão poucos. Diz apenas que "façam
o máximo esforço possível para passar pela porta estreita".
Em outras
palavras: não se preocupe com quantos se salvarão: faça a sua parte!
No Evangelho,
segundo Mateus, a resposta de Jesus é mais abrangente: “Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o
caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! Como é
estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os
que a encontram!” (Mt 7,13-14).
Em duas outras ocasiões Jesus retratou a
cena apavorante do julgamento, quando os homens condenados estivessem esperando
ser aceitos por Deus, mas não seriam (Mt 7,21-23; Lc 13,22-30).
Há muitos, que se acham fiéis a Deus, e Deus
não os aceita: “Uma vez que o dono da
casa se levantar e fechar a porta, vocês, do lado de fora começarão a bater,
dizendo: ‘ Senhor, abre-nos a porta’! Ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês!
’ Então vocês começarão a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti e tu
ensinaste em nossas praças! ’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde vocês
são. Afastem-se de mim vocês todos que praticam a injustiça’”. (Lc
13,25-27).
Em outra oportunidade Jesus não deixa
dúvidas a respeito daqueles que buscam promoverem-se através da religião e se
escudam na Palavra do Senhor para buscarem vantagens materiais e prestígios
entre os homens, acreditando que frequência domingueira na igreja ou pertencer
a determinados grupos ou associações religiosas é passagem garantida para o céu:
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor,
Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a
vontade do meu Pai que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor,
Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que
expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres? ’ Então
eu vou declarar a eles: ‘Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores” (Mt
7,21-23).
A respeito disso, assim disse Francisco, o
bispo de Roma: “Você pode ser criado na
Igreja, pode ter sido batizado na Igreja pode ter servido na Igreja, pode ser
que tenha casado na Igreja, morrido na Igreja, e assim que acordar no inferno
caso você esteja meramente na Igreja e não em Cristo”. Nascemos na Igreja,
fomos batizados na Igreja, aprendemos os sacramentos da Igreja, recebemos a
primeira Eucaristia e o Crisma na Igreja, casamo-nos na Igreja, e até morremos
na Igreja, mas não encontramos o Cristo na Igreja.
Quando fazemos alguma coisa que não deveríamos
fazer e julgamos que ninguém nos viu, podemos ter a certeza de que, pelo menos
duas pessoas têm conhecimento do que fizemos: nós mesmos e Deus, que nos dá a
resposta através do livro do Apocalipse, chamando a nossa atenção e nos
orientando qual deveria ser a nossa atitude, deixando patente o prêmio a quem
assumir com responsabilidade o compromisso com a sua palavra: “Conheço sua conduta: você não é frio nem
quente. Quem dera que fosse frio ou quente! Porque é morno, nem frio nem
quente, estou para vomitar você da minha boca. Você diz: ‘Sou rico! Agora que
sou rico, não preciso de mais nada’. Pois então escute: você é infeliz,
miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. Quer um conselho? Quer mesmo
ficar rico? Então compre o meu ouro, ouro puro, derretido no fogo. Quer se
vestir bem? Compre minhas roupas brancas, para cobrir a vergonha da sua nudez.
Está querendo enxergar? Pois eu tenho o colírio para os seus olhos. Quanto a
mim, repreendo e educo todos aqueles que amo. Portanto, seja fervoroso e mude
de vida! Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a
porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo. Ao vencedor, darei
um prêmio: vai sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci, e estou
sentado com meu Pai no trono dele”. (Apo 3,15-21).
A chamada de
atenção de Jesus é categórica: “Faça todo
esforço possível para entrar pela porta estreita”. (Lc 13,24a).
Os atletas,
para participarem das competições, usam apenas equipamentos necessários que não
os impeçam de terem movimentos livres, como tênis, calções e camisetas,
deixando de lado roupas pesadas, ternos, casacos e sapatos que impeçam a sua
agilidade.
Quando
viajamos, procuramos levar nas malas apenas o necessário para os dias que
permanecermos no local de destino, evitando levar tudo o que sobrecarregue a
mala desnecessariamente e haja excesso de peso e volume.
Jesus tinha
conhecimento disso e já orientara: “Venham
a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes
darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque minha
carga é suave e o meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30).
Dizendo isso,
Jesus nos prepara para passar pela porta estreita: não levar na bagagem ódios e
rancores, procurando pagar o mal com o bem: “Vocês
ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, lhes
digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe
dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda”. (Mt 5,38-39).
O ódio, o
rancor, a raiva, a ira, o desamor, pesa muito na bagagem, criando excesso de
volume, e não passa na porta estreita.
E o que dizer
da riqueza que não é compartilhada, considerando que a riqueza é um dom de Deus
que não deve ser usufruída apenas por um, mas por todos, conforme rezamos na
oração do Pai Nosso: “o pão nosso”? O
pão não é meu e nem é seu, é nosso; o pão que sobra na nossa mesa, falta na
mesa de alguém, alguém está passando fome. “O
pão é a vida do pobre. Quem lhe tira o pão é um assassino. Mata o próximo quem
lhe tira seus meios de vida, e derrama sangue quem priva o operário de seu
salário. (Eclo 34,21-22).
Quando as
Sagradas Escrituras falam “pão”, quer dizer todo tipo de alimento e necessidades
humanas. Pão é símbolo do alimento humano, o alimento necessário e suficiente: “Concede-me apenas o meu pedaço de pão, para
que, saciado, eu não te renegue...” (Pr 30,8b).
A riqueza não
compartilhada, o pão sonegado ao pobre assim como o ódio, o rancor, a raiva, a
ira, o desamor, pesa muito na bagagem e impede a passagem na porta estreita
porque “Não trouxemos nada para o mundo,
e dele nada podemos levar. Se temos o que comer e com que nos vestir, fiquemos
contentes com isso. Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na
armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem
os homens afundarem na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é o
amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns se afastaram da fé
e afligem a si mesmos com muitos tormentos.” (1Tm 6,7-10).
Jesus não se
cansou e não perdia oportunidades para chamar a atenção com relação à cobiça,
avareza, ganho de riqueza fácil em detrimento ao irmão, querendo tudo para si
sem se preocupar com as necessidades do próximo: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus! De fato, é mais
fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no
Reino de Deus” (Lc 18,24-25); “Não
ajuntem tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem tudo corroem, e onde
os ladrões assaltam e roubam. Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. De fato, onde está
o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6,19-21); “Em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e
a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas” (Mt
6,33); “Felizes de vocês, os pobres,
porque o Reino de Deus lhes pertence” (Lc 6,20).
Na porta
estreita não passam o carro, a casa, as jóias, a beleza e a estética corporal,
o barco, a fazenda, o dinheiro do banco, o desejo de ter sempre mais e mais, a
riqueza não compartilhada, o pão sonegado ao pobre assim como o ódio, o rancor,
a raiva, a ira, o desamor, a discriminação. Tudo isso pesa muito na bagagem,
cria um grande volume e impede a passagem na porta estreita.
Na porta
estreita passam somente o amor, a doação, a riqueza compartilhada, o pão
repartido e, como seria bom quando chegarmos para passar pela porta estreita
encontrássemos Jesus a nos esperar e nos recebesse com essas palavras: “Venham vocês, que são abençoados por meu
Pai. Recebam como herança o reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do
mundo. Pois eu estava com fome e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e
vocês me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês me receberam em sua casa;
eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu
estava na prisão, e vocês foram me visitar” (Mt 25,34-36).
Claro que, para
quem assim Jesus disser, vai haver um grande espanto porque, afinal de contas,
quando isso aconteceu? Quando vimos Jesus necessitado e pobre na nossa frente? Quando
o vimos preso, doente, faminto, nu? Mas Jesus vai tranquilizar-nos, dizendo: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que
vocês fizeram isso a um dos menores de
meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” Mt 25,40).
Será que ainda
temos dúvidas do que seja a porta estreita?
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