domingo, 25 de agosto de 2019

“FAÇAM TODO ESFORÇO POSSÍVEL PARA ENTRAR PELA PORTA ESTREITA” (Lc

XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – C; Cor – verde; Leituras: Is 66,18-21; Sl 117 (116); Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30.

“FAÇAM TODO ESFORÇO POSSÍVEL PARA ENTRAR PELA PORTA ESTREITA” (Lc 13,22-30).
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Diácono Milton Restivo

Na primeira leitura da liturgia de hoje vemos que há uma revelação profética da segunda vinda de Cristo. “Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão a minha glória”. (Is 66,18).
Nessa segunda vinda Jesus vai reunir todas as nações juntas por causa de suas obras e de seus pensamentos. Isso não aconteceu na sua primeira vinda. Vai haver um último dia. “Porei no meio deles um sinal...” (Is 66,19a).
Que sinal seria esse? A cruz, conhecida mundialmente.
A cruz, em primeiro lugar, é a declaração do amor de Deus para a sua criação e suas criaturas: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16).
Para os que crêem, a cruz tem um significado mais profundo.
A cruz significou, para Jesus, uma luta para ir onde não queria, fazer o que não queria, dar o que não queria, mas que a vontade do Pai fosse feita independente do que ele gostaria que fosse: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim esse cálice. Contudo, não seja feito como eu quero, e sim como tu queres”. (Mt 26,39b): “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga”. (Lc 9,23b).

Por nós Jesus aceitou e suportou a cruz: “Em troca da alegria que lhe era proposta, ele se submeteu à cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus.” (Hb 12,2b).
A revelação de Isaias, contida na primeira leitura, finaliza-se da seguinte maneira: “Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor”. (Is 66,21).
É o que Deus está fazendo atualmente no mundo: chamando homens e mulheres de todas as raças, culturas e procedências que escolheram seguir ao Senhor, aderindo ao chamamento de Jesus: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens”. (Mc 1,17).
O plano de Deus, para todo o mundo, é revelado profeticamente por Isaias que declara que existem quatro coisas que Deus pretende fazer e duas coisas que ele quer que os homens façam.
As quatro coisas que Deus pretende fazer para arregimentar os escolhidos são: primeiro – reunir todos à sua volta: “virei para reunir todos os povos e línguas” (v 18); segundo – colocar um sinal no meio deles: “porei no meio deles um sinal” (v 19a); terceiro – enviar mensageiros para os que foram salvos: “enviarei dentre os que foram salvos, mensageiros para os povos” (v 19b) e quarto – escolher gente comprometida para o seu serviço: “Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas” (v 21).
As duas coisas que Deus pede que os homens façam, são: primeiro – anunciar às nações a glória do Senhor: “Esses enviados anunciarão às nações minha glória” (19c) e, segundo – serem purificados e a terem as mãos limpas e o coração puro (cf Sl 24 (23),3-4) para se colocarem ao serviço do Senhor: “levarão sua oferenda em vasos purificados para a casa do Senhor”. (v 20b).
A liturgia nos traz o Salmo 117 (116) que é o menor Salmo das Sagradas Escrituras e que só possui dois versículos. É o menor capítulo da Bíblia, considerando que cada salmo é considerado um capítulo. É tão pequeno esse Salmo que não resisto à tentação de transcrevê-lo aqui tal como se encontra na Bíblia Edição Pastoral: “Louvem a Yahweh, nações todas, e o glorifiquem todos os povos! Pois o seu amor por nós é firme, e sua fidelidade é para sempre! Aleluia!” (Sl 117 (116),1-2). Este Salmo reforça o anunciado na primeira leitura, que diz: “Eles virão e verão a minha glória”. (Is 66,18b).
A carta aos Hebreus, a segunda leitura, que foi por muito tempo atribuída a Paulo, mas que os estudiosos da Bíblia chegaram à conclusão que não é bem assim e cujo autor é desconhecido, diz que a sua comunidade negligenciou, quando diz: “Vocês já se esqueceram da exortação que lhes foi dirigida como a filhos...” (Hb 15,5a).
Esta passagem da carta aos Hebreus é uma chamada de atenção à comunidade que, aparentemente, estava desanimada e reclamava das contrariedades oriundas da fé.
O autor repete para a comunidade o que já fora dito no livro dos Provérbios e, possivelmente, no livro do Apocalipse: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, nem desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho.” (Hb 12,5b; Pr 3,11-12; Apo 3,19) e incentiva a comunidade a se afirmar na fé, a reconhecer os seus erros e a buscar “um fruto de paz e de justiça”, repetindo os ensinamentos do livro dos Provérbios: “Portanto, firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado.” (Hb 12,12; Pr 4,26).
No Evangelho Jesus continua na sua caminhada rumo a Jerusalém, atravessando cidades e povoados a caminho da metrópole.
Como já vimos, a partir do capítulo 9, versículo 51 do Evangelho segundo Lucas, Jesus se coloca a caminho e ruma, com os seus discípulos, para Jerusalém: “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado ao céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém...”. (Lc 9,51).
É o início da caminhada para o Calvário. Jesus sai do norte, da Galiléia, e caminha para o sul, rumo a Jerusalém, onde o Cordeiro de Deus deverá ser imolado.
Nessa caminhada Jesus vai definindo bem qual seria o modelo daqueles que quisessem seguí-lo. Jesus pintava com cores fortes as dificuldades em seguí-lo e rejeitava todos os que tentavam fazê-lo de forma inadequada: “Enquanto estava caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: ‘Eu te seguirei para onde quer que fores!’ Mas Jesus lhe respondeu: ‘As raposas têm tocas, e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça’. Jesus disse a outro: ‘Siga-me’. Esse respondeu: ‘Deixa primeiro que eu vá sepultar o meu pai.’ Jesus respondeu: ‘Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus.’ Outro ainda lhe disse: ‘Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa.’ Mas Jesus lhe respondeu: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus”. (Lc 9,57-62).
Jesus pregou sobre o tema: "Não pode ser meu discípulo", discutindo abertamente a necessidade de calcular o custo antes de embarcar na vida de discípulo: “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não serve para ser meu discípulo. Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”.  (Lc 14,26-27).
Jesus sabia que não seria fácil para os homens seguí-lo e que eles estariam inclinados a enganarem-se a si mesmos pensando que eram seus discípulos, quando não eram.
Jesus nunca deixou de declarar francamente o que a conversão real exige: compromisso, entrega total, sim quando é sim, não quando é não.
No Evangelho de hoje Jesus continua nessa caminhada: “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém”. (Lc 13,22).  
E, nessa caminhada, Lucas vai narrando os encontros que Jesus tem com todo tipo de pessoas: pessoas que buscavam, sinceramente, a conversão, pessoas que queriam interesses próprios e projeções pessoais (e como existem pessoas assim ainda hoje na nossa Igreja, a quem poderíamos classificar como “donas da igreja”), e pessoas que apenas queriam testar Jesus e desmoralizá-lo diante da opinião pública.
A um jovem rico que buscava seu conselho, Jesus replicou com palavras tão fortes que o homem foi embora entristecido, não disposto a segui-lo a tão alto preço, isto é, renunciar aos bens terrenos (Mt 19,16-22).
A um importante líder religioso, Nicodemos, que tinha vindo louvando Jesus, Jesus respondeu taxativamente: “Você tem que nascer de novo, se quiser ao menos ver o reino de Deus.” (Jo 3,1-8).
A um doutor da lei que quis tentar Jesus, perguntando quem era seu próximo, Jesus respondeu sua pergunta, ironicamente, com outra pergunta: “O que está escrito na lei? Como lês?” (Lc 10,25-37). Alguém, ainda, está preocupado com a vida futura, com a salvação, e pergunta a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23).
Jesus não deixava ninguém sem resposta; a quem fazia perguntas com o desejo de se esclarecer, de aprender e de entender a mensagem de Jesus, Jesus era solícito e respondia de maneira que a pessoa saísse de sua presença reconfortada em eliminar a sua dúvida. Porém, àqueles que faziam perguntas capciosas, apenas para tentar Jesus e colocar à prova os seus ensinamentos, Jesus era mais contundente e dava as respostas à altura da malícia de quem a fazia.
A preocupação do interlocutor, como vimos, é com a salvação, e Jesus responde dizendo qual é não somente a melhor, mas a única maneira de se realizar plenamente para entrar no Reino dos céus. Jesus responde a esse que lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23) de maneira amigável, esclarecedora e sem deixar margens para dúvidas: “Faça todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu digo a você que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. (Lc 13,24).
A pergunta foi feita por alguém que estava preocupado de estar fazendo parte do grupo dos não-salvos. Jesus não responde diretamente a pergunta; nem diz que serão muitos nem que serão poucos. Diz apenas que "façam o máximo esforço possível para passar pela porta estreita".
Em outras palavras: não se preocupe com quantos se salvarão: faça a sua parte!
No Evangelho, segundo Mateus, a resposta de Jesus é mais abrangente: “Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!” (Mt 7,13-14).
Em duas outras ocasiões Jesus retratou a cena apavorante do julgamento, quando os homens condenados estivessem esperando ser aceitos por Deus, mas não seriam (Mt 7,21-23; Lc 13,22-30).
Há muitos, que se acham fiéis a Deus, e Deus não os aceita: “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês, do lado de fora começarão a bater, dizendo: ‘ Senhor, abre-nos a porta’! Ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês! ’ Então vocês começarão a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti e tu ensinaste em nossas praças! ’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde vocês são. Afastem-se de mim vocês todos que praticam a injustiça’”. (Lc 13,25-27).
Em outra oportunidade Jesus não deixa dúvidas a respeito daqueles que buscam promoverem-se através da religião e se escudam na Palavra do Senhor para buscarem vantagens materiais e prestígios entre os homens, acreditando que frequência domingueira na igreja ou pertencer a determinados grupos ou associações religiosas é passagem garantida para o céu: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres? ’ Então eu vou declarar a eles: ‘Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores” (Mt 7,21-23).
A respeito disso, assim disse Francisco, o bispo de Roma: “Você pode ser criado na Igreja, pode ter sido batizado na Igreja pode ter servido na Igreja, pode ser que tenha casado na Igreja, morrido na Igreja, e assim que acordar no inferno caso você esteja meramente na Igreja e não em Cristo”. Nascemos na Igreja, fomos batizados na Igreja, aprendemos os sacramentos da Igreja, recebemos a primeira Eucaristia e o Crisma na Igreja, casamo-nos na Igreja, e até morremos na Igreja, mas não encontramos o Cristo na Igreja.
Quando fazemos alguma coisa que não deveríamos fazer e julgamos que ninguém nos viu, podemos ter a certeza de que, pelo menos duas pessoas têm conhecimento do que fizemos: nós mesmos e Deus, que nos dá a resposta através do livro do Apocalipse, chamando a nossa atenção e nos orientando qual deveria ser a nossa atitude, deixando patente o prêmio a quem assumir com responsabilidade o compromisso com a sua palavra: “Conheço sua conduta: você não é frio nem quente. Quem dera que fosse frio ou quente! Porque é morno, nem frio nem quente, estou para vomitar você da minha boca. Você diz: ‘Sou rico! Agora que sou rico, não preciso de mais nada’. Pois então escute: você é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. Quer um conselho? Quer mesmo ficar rico? Então compre o meu ouro, ouro puro, derretido no fogo. Quer se vestir bem? Compre minhas roupas brancas, para cobrir a vergonha da sua nudez. Está querendo enxergar? Pois eu tenho o colírio para os seus olhos. Quanto a mim, repreendo e educo todos aqueles que amo. Portanto, seja fervoroso e mude de vida! Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo. Ao vencedor, darei um prêmio: vai sentar-se comigo no meu trono, como também eu venci, e estou sentado com meu Pai no trono dele”. (Apo 3,15-21).
A chamada de atenção de Jesus é categórica: “Faça todo esforço possível para entrar pela porta estreita”. (Lc 13,24a).
Os atletas, para participarem das competições, usam apenas equipamentos necessários que não os impeçam de terem movimentos livres, como tênis, calções e camisetas, deixando de lado roupas pesadas, ternos, casacos e sapatos que impeçam a sua agilidade.
Quando viajamos, procuramos levar nas malas apenas o necessário para os dias que permanecermos no local de destino, evitando levar tudo o que sobrecarregue a mala desnecessariamente e haja excesso de peso e volume.
Jesus tinha conhecimento disso e já orientara: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque minha carga é suave e o meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30).
Dizendo isso, Jesus nos prepara para passar pela porta estreita: não levar na bagagem ódios e rancores, procurando pagar o mal com o bem: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda”. (Mt 5,38-39).
O ódio, o rancor, a raiva, a ira, o desamor, pesa muito na bagagem, criando excesso de volume, e não passa na porta estreita.
E o que dizer da riqueza que não é compartilhada, considerando que a riqueza é um dom de Deus que não deve ser usufruída apenas por um, mas por todos, conforme rezamos na oração do Pai Nosso: “o pão nosso”? O pão não é meu e nem é seu, é nosso; o pão que sobra na nossa mesa, falta na mesa de alguém, alguém está passando fome. “O pão é a vida do pobre. Quem lhe tira o pão é um assassino. Mata o próximo quem lhe tira seus meios de vida, e derrama sangue quem priva o operário de seu salário. (Eclo 34,21-22).
Quando as Sagradas Escrituras falam “pão”, quer dizer todo tipo de alimento e necessidades humanas. Pão é símbolo do alimento humano, o alimento necessário e suficiente: “Concede-me apenas o meu pedaço de pão, para que, saciado, eu não te renegue...” (Pr 30,8b).
A riqueza não compartilhada, o pão sonegado ao pobre assim como o ódio, o rancor, a raiva, a ira, o desamor, pesa muito na bagagem e impede a passagem na porta estreita porque “Não trouxemos nada para o mundo, e dele nada podemos levar. Se temos o que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes com isso. Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem os homens afundarem na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns se afastaram da fé e afligem a si mesmos com muitos tormentos.” (1Tm 6,7-10).  
Jesus não se cansou e não perdia oportunidades para chamar a atenção com relação à cobiça, avareza, ganho de riqueza fácil em detrimento ao irmão, querendo tudo para si sem se preocupar com as necessidades do próximo: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus! De fato, é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18,24-25); “Não ajuntem tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem tudo corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam. Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6,19-21); “Em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas” (Mt 6,33); “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence” (Lc 6,20).
Na porta estreita não passam o carro, a casa, as jóias, a beleza e a estética corporal, o barco, a fazenda, o dinheiro do banco, o desejo de ter sempre mais e mais, a riqueza não compartilhada, o pão sonegado ao pobre assim como o ódio, o rancor, a raiva, a ira, o desamor, a discriminação. Tudo isso pesa muito na bagagem, cria um grande volume e impede a passagem na porta estreita.
Na porta estreita passam somente o amor, a doação, a riqueza compartilhada, o pão repartido e, como seria bom quando chegarmos para passar pela porta estreita encontrássemos Jesus a nos esperar e nos recebesse com essas palavras: “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e vocês me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar” (Mt 25,34-36).
Claro que, para quem assim Jesus disser, vai haver um grande espanto porque, afinal de contas, quando isso aconteceu? Quando vimos Jesus necessitado e pobre na nossa frente? Quando o vimos preso, doente, faminto, nu? Mas Jesus vai tranquilizar-nos, dizendo: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram  isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” Mt 25,40). 
Será que ainda temos dúvidas do que seja a porta estreita?

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