OS ÚLTIMOS ANOS DO CURA D'ARS
No último
ano da sua vida, o Cura d'Ars viu passar pela sua igreja, pelo menos, uns 100
mil peregrinos. Diante de tal afluência havia em Ars diversos sacerdotes para
auxiliar o santo cura. Mas muitos fiéis não se conformavam e preferiam ficar
até seis dias à espera para poder falar-lhe por alguns minutos. O abnegado
sacerdote embora reduzisse o seu precário descanso a uma ou duas horas por dia
não vencia a avalanche dos que o procuravam.
Os
catecismos a que se dedicava com extremado amor já não passavam duma série de
exclamações que acabavam em lágrimas. Apenas a custo se podia ouvi-lo ou
entende-lo. Com sobre-humano esforço, a sua voz debilitada por uma tosse
intermitente, já quase não lhe permitia articular palavras inteligíveis.
Eis o relato
do jornalista, Jorge Seigneur, em Março de 1859, cinco meses antes da sua
morte: O Cura d'Ars estava no confessionário. Ao ajoelhar-me ouvi um soluço que
não posso reproduzir: era um gemido de sofrimento? Era um grito de amor? O
soluço repetia-se a cada 10 minutos.
Enquanto lhe
restou um pouco de energia, o santo cura esteve confessando e abençoando.
Conscientemente, deixou-se imolar no altar dos seus sagrados deveres. Deu até a
sua última gota de sangue e vida por eles. Não lhe restando força alguma
resignou-se humildemente a que por mãos de amigos mais chegados repousassem o
seu minguado corpo – pobre cadáver – como gostava de chamá-lo, sobre sua
humilde enxerga.
Já sem fala e exangue, vez por outra esboçava um doce sorriso de
benevolência e agradecimento ao pequeno conforto que lhe buscavam oferecer.
Lúcido e em pleno gozo de todas as suas faculdades até o último instante de
vida. Depois de receber o viático ainda pôde reconhecer e esboçar com um
sorriso, o seu agradecimento pela visita do seu Vispo Mons. Langalerie a quem
logo pôde reconhecer.
O mês de
Julho de 1859 foi verdadeiramente abrasador. Fora das casas parecia-se respirar
fogo. Prostrado já mortalmente no seu leito, ainda pôde pressentir o seu
momento derradeiro e pediu que chamassem o seu confessor, o Cura de Jassans.
Chamado também o médico este constatou que o enfermo tinha chegado a uma
debilidade extrema. E ainda declarou: se o calor diminuir ainda haverá alguma
esperança.
Muitos dos
seus queridos paroquianos, movidos de terna compaixão pelo seu santo cura,
chegaram a estender sobre o telhado grandes toalhas que, trepados em escadas
molhavam de quando em quando para mitigar a penúria do seu querido pároco. Era
um testemunho silencioso de devoção pelo amoroso pastor que não vacilou em dar
toda a sua vida pelo amado rebanho.
Finalmente,
no dia 4 de Agosto de 1859, às duas da madrugada, enquanto nos céus de Ars se
desencadeava uma violenta tempestade, João Maria Batista Vianney, sem agonia,
entregou a sua alma ao seu Bom Deus. Contava então, 73 anos, 10 meses e 27
dias; há 41 anos, 5 meses e 23 dias que era Cura de Ars.
A 14 de
Agosto de 1859 o corpo foi depositado numa sepultura aberta no centro da nave.
Sobre ela foi colocada uma lápide de mármore preto em que se gravaram em forma
de cruz um cálice e esta simples inscrição: Aqui jaz João Maria Batista
Vianney, Cura d'Ars.
A 8 de
Janeiro de 1905, o Papa Pio X assinou o decreto de beatificação do Cura d'Ars.
No dia 12 de Abril de 1905, Pio X declarou-o Patrono de todos os sacerdotes que
têm cura de almas em França e nos territórios do seu domínio. E a 28 de
Setembro de 1925, 15 dias depois da canonização de Teresinha do menino Jesus, o
humilde pároco de Ars era canonizado pelo Papa Pio XI.
Francis Trochu, do livro 'O Santo Cura
d'Ars'
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