terça-feira, 5 de outubro de 2021

 

SÃO BENEDITO, O NEGRO - 1526-1589

 

Corria o ano de 1589. Em uma pobre cela no convento franciscano de Santa Maria de Jesus, a três quilômetros de Palermo, sul da Itália, o enfermeiro observa o irmão leigo, iletrado, que faz alguns movimentos no leito de dores em que se encontra há dois meses.

Seu rosto, alquebrado pela fadiga de 63 anos transcorridos em meio a intensas atividades apostólicas, em dado momento ilumina-se. Sua boca se abre e os olhos tornam-se fixos e extáticos. "É o fim, o irmão está cruzando o limiar da eternidade" - pensou o enfermeiro. E sai correndo a fim de chamar outros frades para as derradeiras orações que se fazem pelos agonizantes. O doente, entretanto, terminado o êxtase e após o retorno do enfermeiro, diz-lhe: "Fique tranqüilo. Eu o avisarei do dia e hora da minha morte. Vou falecer no dia 4 de abril". Ao que o enfermeiro retruca: "Imagine, Frei, como esta casa ficará cheia!" Pois ele bem conhecia a extraordinária fama de santidade daquele frade, a qual foi tão grande por toda parte, quando ainda vivo, que raramente se encontra algo semelhante na História da Igreja.  "Pode ficar sossegado, não virá ninguém", garantiu-lhe o Santo. As duas profecias cumpriram-se ao pé da letra.

Com efeito, no dia da morte e do sepultamento houve um grande afluxo de gente para a festa do Divino, numa igreja do Espírito Santo, nos arredores de Palermo, e por isso ninguém foi ao convento. No dia aprazado, o Santo recebeu o consolo dos Sacramentos da Igreja: confissão, comunhão, extrema-unção, inclusive a bênção papal. O enfermo senta-se na cama e, olhando para o céu, reza e contempla. Invoca seus santos padroeiros: São Francisco de Assis, São Miguel Arcanjo, os Apóstolos São Pedro e São Paulo. Em determinado momento das orações, e depois de uma visão de Santa Úrsula, Benedito - é esse o nome do moribundo - pronuncia em alta voz: "Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito". Em seguida, deita-se, fecha os olhos e dá o último suspiro. Naquele exato momento, não longe dali, Benedita Nastasi, de 10 anos de idade e sobrinha do Santo, observando uma pombinha que entrara dentro de casa, ouviu a voz do tio:  "Benedita, queres alguma coisa de lá.  - "De lá, onde, meu tio?" - indaga a menina. - "Lá do Céu, minha filha" - completa a conhecida voz. E a pombinha desaparece ...

Nosso tão popular São Benedito, o Negro, chamava-se Benedito de São Filadelfo, pois tal era o nome da localidade (hoje San Fratello) perto de Messina (Sicília) onde ele nasceu em 1526.

Era filho de escravos etíopes, comprados pela família Manasseri. Sabe-se que o Santo foi pastor, tornando-se depois eremita. Para obedecer a uma ordem do Papa, ingressou posteriormente como irmão leigo na Ordem Franciscana, no convento de Santa Maria de Jesus, nas imediações de Palermo. Ali se notabilizou como cozinheiro milagroso, pois, com frequência, os Anjos do Céu desciam para ajudá-lo na preparação das refeições.

Apesar de iletrado e de ser apenas irmão leigo, eram tais os dons e carismas com os quais a Divina Providência ornou sua alma, que foi eleito Superior e Mestre de Noviços do convento. A exemplo do Seráfico Pai São Francisco, seu Fundador, o sem número de milagres e prodígios operados já em vida por São Benedito constituem também verdadeiros fioretti. Impossível referi-los todos. Resta-nos mencionar ao menos alguns.

 

Cura de cancerosa

Antes de fixar-se no convento de Santa Maria, Benedito levou vida eremítica em Nazana, durante oito anos, e em Mancusa, na região de Palermo. Então, sua fama de santidade já ia alta. Certo dia em que atravessava Mancusa, chamaram-no para ver uma doente num casebre. "Não posso fazer muita coisa por ela, pois não sou sacerdote. Mas posso fazer-lhe uma visita e rezar por ela",respondeu. "Me acode, Frei", gritava a pobre mulher, roída por um câncer no seio, que se alastrava terrivelmente. "Me dá uma bênção, por amor de Deus!" Condoído pelas dores da enferma e pela aflição de seus familiares, o Santo aproximou-se do leito, rezou com todos os presentes, animou a enferma a ter Fé em Deus, e depois, a pedido dela, traçou o sinal da cruz sobre a chaga do seio. Instantaneamente foi curada, restando-lhe uma cicatriz apenas! Logo em seguida, Benedito bateu em retirada, para fugir de qualquer agradecimento ou louvor. 

 

Ressurreição de mortos

Certa vez, quatro senhoras de Palermo - Eulália, Lucrécia, Francesca e Eleonora, esta última com o filho de cinco meses nos braços vieram visitar o Santo no convento de Santa Maria. De regresso à cidade, ainda perto do convento, a carroça virou e prensou a criança, que teve morte instantânea. Os frades vieram socorrê-las, e Benedito deparou-se com a patética cena da mãe abraçada ao corpinho disforme.

Benedito aproximou-se e disse: "Pare de chorar. A criança não está morta; pode dar-lhe de mamar". Os circunstantes pensavam que o Santo delirava. Entretanto, mal a mãe lhe obedecera, a criança começou a sorrir, deixando a todos atônitos. Fato análogo sucedeu com o filho de João Jorge Russo. Quando visitava o convento com sua esposa e alguns parentes, a carroça em que viajavam caiu de uma ponte e a criança ficou esmagada. "Tenham muita confiança em Nossa Senhora. Vamos rezar". 

Esse recurso à mediação da Santíssima Virgem, aliás, era uma constante em todas as intervenções de São Benedito. Todos se ajoelharam e começaram a rezar; ato contínuo, a criança abriu os olhos, despertando do sono da morte. Antes mesmo de fazer-se eremita - e talvez este tenha sido o primeiro milagre operado por São Benedito -, trouxeram à sua presença uma criancinha morta. Condoído, o Santo tomou aquele corpo inanimado em seu braço esquerdo, e com a mão direita fez o sinal da cruz sobre a pequena fronte enregelada. Após os presentes rezarem o Pai Nosso e a Ave Maria, o milagre da ressurreição se realizou!

 

Milagre das flores

São Benedito tinha o costume de recolher os restos de comida do convento em seu avental de cozinha, para distribuí-los depois aos pobres. Certa vez o Santo encontrou-se com o vice-rei da Sicília, Dom Marcantonio Colonna, que, atraído pela fama de sua santidade, veio visitá-lo.

Curioso, o ilustre visitante perguntou a Benedito o que levava com tanto cuidado. Ele simplesmente abriu o avental e mostrou ... flores, tão frescas e aromáticas, que o vice-rei levou-as para o altar de sua capela particular.

 

Peixes que aparecem e pães que se multiplicam

Em certa ocasião acabaram as provisões do convento. Era inverno e chovia torrencialmente. E os religiosos não tinham sequer condições de sair para pedir esmolas. Benedito pediu a um frade, que o auxiliava na cozinha, que abrisse os Santos Evangelhos em qualquer lugar e lesse o que estava escrito.

A seguinte passagem foi lida: "Não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta" (Mt 6,25-26).

Iluminado por essas palavras e movido pela sua heróica confiança na Providência, o Santo pôs-se a agir. Encheu com água todas as panelas, tachos e latas grandes que havia no convento. Na manhã seguinte, estavam cheios de peixes frescos, muitos deles vivos.

Em outra ocasião em que Benedito, então superior do convento, deu ordem ao irmão porteiro, Vito da Girgenti, de distribuir pão aos pobres, o religioso, vendo que a fila era enorme, reservou no fundo do cesto alguns pães para os frades.

O fato chegou ao conhecimento de Benedito, que intimou o porteiro a chamar de volta todos os pobres que ficaram sem pão: "Dê aos pobres tudo o que estiver na cesta mandou Benedito -, pois a Providência nos socorrerá". Ao obedecer, o irmão Vito notou maravilhado que o pão da cesta não se acabava mais; quanto mais ele tirava, mais aparecia!

 

Os frades relapsos

Certa vez, três noviços resolvem fugir do convento e voltar para casa. De madrugada galgam o muro, e na rua, quando cantam vitória pela pseudo-façanha, divisam um vulto que vinha ao seu encontro. Era Frei Benedito, que os interpela: "Que jazem aqui a estas horas? Voltem já para o convento!" E os aconselhou a rezar muito pela perseverança na vocação.

Meses depois, eles caem de novo na tentação de fugir, e tomam o maior cuidado para que ninguém saiba de nada. Quando novamente ganham a rua, dão de frente com Frei Benedito, que abre os braços, dizendo: "Alto lá, onde pensam que vão?" Os três reconhecem um sinal de Deus a fim de perseverarem, pedem perdão ao Santo, prometendo não mais reincidir na falta.

 

"O Santo, o Santo”...

A cada milagre que acontecia, o povo acorria à portaria do convento, aclamando e louvando o Santo. Sua popularidade e veneração se tornaram tais que ele acabou, certa vez, transtornando uma procissão de "Corpus Christi". 

Nessa ocasião, os frades tomaram parte na procissão da Catedral de Palermo. E São Benedito foi designado para portar a cruz processional, à frente do cortejo. Ao fixar os olhos no Crucificado, sentiu-se arrebatado pelo amor a Nosso Senhor e entrou em êxtase. Seu corpo passou a deslizar suavemente, sem que ele movesse os pés.

Ao ver aquilo, o povo irrompeu em gritos de admiração: "Olhem o Santo, o Santo!" As filas da procissão se desorganizaram completamente. Os encarregados da ordem gritavam para que as pessoas se enfileirassem. Mas não houve jeito, e a procissão retomou logo para a Catedral...

 

O corpo incorrupto

Quando, após as comemorações do Divino Espírito Santo, o povo ficou sabendo que Benedito havia falecido e já estava sepultado, todos se dirigiram para Santa Maria de Jesus.

O túmulo estava em local de difícil acesso, e o grande afluxo de peregrinos perturbava a vida dos frades. E o seu número crescia a cada dia, na proporção em que se difundia a notícia dos milagres operados junto à sepultura. Começaram a implorar relíquias do Santo. Suas vestes e as roupas da cama onde faleceu foram transformadas em tiras.

Até mesmo sua cama e colchão foram reduzidos a pedacinhos, avidamente disputados pelos visitantes. A 07 de maio de 1592, três anos após sua morte, seu corpo, incorrupto e exalando suave perfume, foi colocado numa urna instalada em cavidade aberta em parede da sacristia da igreja de Santa Maria de Jesus. Entretanto, a sacristia logo transformou-se em capela, com o povo cantando, rezando, pagando promessas. Isso durante dezenove anos a fio.

No dia 3 de outubro de 1611, com a presença do Cardeal Dória, o corpo de São Benedito foi transladado novamente para magnífica urna de cristal numa capela lateral da própria igreja de Santa Maria de Jesus, no antigo convento franciscano, a três quilômetros de Palermo, cidade que, antes mesmo do reconhecimento oficial da Igreja, tomou-o por Padroeiro, em 1652.

São Benedito foi declarado bem-aventurado em 1763, por Clemente XIII, e canonizado pelo Papa Pio VII em 25 de maio de 1807.

 

Culto no Brasil

O Estado da Bahia foi o pioneiro na devoção a São Benedito em terras brasileiras. Já antes mesmo de sua canonização havia lá uma irmandade em sua honra. Simultaneamente, a devoção ao Santo deitou profundas raízes no Maranhão.

Sabe-se da existência de imagens de São Benedito pelo menos desde 1680, em Olinda, Recife, Igaraçu (PE), Belém do Pará e Rio de Janeiro. O mesmo sucedia em São Paulo.

Um século antes de ele ser declarado santo pela Igreja, já era venerado como tal nas igrejas frequentadas pelos membros da Venerável Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1707). E hoje a devoção ao Santo já é um fenômeno nacional. Não faltam pelo Brasil afora paróquias, capelas, ou ao menos um altar com a imagem do Santo Negro.

São comemorados também nesta data: Santa Maria Francisca, Santa Erotides, Santa Alberta de Agen (mártir), São Barto de Vaison (bispo), Santos Marcelo, Casto, Saturnino (mártires de Cápua).

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

 

SÃO FRANCISCO, O POBREZINHO DE ASSIS - 1182-1226

 

Fundou a Ordem dos Franciscanos a Ordem dos Capuchinhos e a Ordem dos Franciscanos Conventuais. Filho de comerciantes, Francisco Bernardone nasceu em Assis, na Umbria, em 1182.

Francisco em berço de ouro, pois a família tinha posses suficientes para que levasse uma vida sem preocupações.

Não seguiu a profissão do pai, embora este o desejasse. Alegre, jovial, simpático, era mais chegado às festas, ostentando um ar de príncipe que encantava.

Mas mesmo dado às frivolidades dos eventos sociais, manteve em toda a juventude profunda solidariedade com os pobres. Proclamava jamais negar uma esmola, chegando a dar o próprio manto a um pedinte por não ter dinheiro no momento.

Jamais se desviou da educação cristã que recebeu da mãe, mantendo-se casto. Francisco logo percebeu não ser aquela a vida que almejava.

Chegou a lutar numa guerra, mas o coração o chamava à religião. Um dia, despojou-se de todos os bens, até das roupas que usava no momento, entregando-as ao pai revoltado.

Passou a dedicar-se aos doentes e aos pobres. Tinha vinte e cinco anos e seu gesto marcou o cristianismo. Foi considerado pelo papa Pio XI o maior imitador de Cristo em sua época.

A partir daí viveu na mais completa miséria, arregimentando cada vez mais seguidores. Fundou a Primeira Ordem, os conhecidos frades franciscanos, em 1209, fixando residência com seus jovens companheiros numa casa pobre e abandonada. Pregava a humildade total e absoluta e o amor aos pássaros e à natureza. Escreveu poemas lindíssimos homenageando-a, ao mesmo tempo que acolhia, sem piscar, todos os doentes e aflitos que o procuravam. Certa vez, ele rezava no monte Alverne com tanta fé que em seu corpo manifestaram-se as chagas de Cristo.

Achando-se indigno, escondeu sempre as marcas sagradas, que só foram descobertas após a sua morte. Hoje, seu exemplo muito frutificou. Fundador de diversas ordens, seus seguidores ainda são respeitados e imitados. Franciscanos, capuchinhos, conventuais, terceiros e outros são sempre recebidos com carinho e afeto pelo povo de qualquer parte do mundo.

Morreu em 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos. Dois anos depois, o papa Gregório IX o canonizou. São Francisco de Assis viveu na pobreza, mas sua obra é de uma riqueza jamais igualada para toda a Igreja Católica e para a humanidade.

O Pobrezinho de Assis, por sua vida tão exemplar na imitação de Cristo, foi declarado o santo padroeiro oficial da Itália. Numa terra tão profundamente católica como a Itália, não poderia ter sido outro o escolhido senão são Francisco de Assis, que é, sem dúvida, um dos santos mais amados por devotos do mundo inteiro.

Assim, nada mais adequado ter ele sido escolhido como o padroeiro do meio ambiente e da ecologia. Por isso que no dia de sua festa é comemorado o "Dia Universal da Anistia", o "Dia Mundial da Natureza" e o "Dia Mundial dos Animais".

Mas poderia ser, mesmo, o Dia da Caridade e de tantos outros atributos.

A data de sua morte foi, ao mesmo tempo, a do nascimento de uma nova consciência mundial de paz, a ser partilhada com a solidariedade total entre os seres humanos de boa vontade, numa convivência respeitosa com a natureza.

Também lembrados neste dia: São Petrônio, São Amônio, Santos Caio, Fausto, Eusébio, Queremon, Lúcio e seus companheiros (mártires de Alexandria).

domingo, 3 de outubro de 2021

 

“O QUE DEUS UNIU, O HOMEM NÃO SEPARE.” - (Mc 10,2-16).

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Gn 2,18-24; Sl 127; Hb 2,9-11; Mc 10,2-16

 

Diácono Milton Restivo

 

Desta feita, o campo de batalha escolhido pelos fariseus para tentar Jesus foi o debate sobre o divórcio que, entre os judeus e na Lei de Moisés facultava ao homem dispensar a sua mulher pelo motivo mais insignificante que fosse e por aquilo que o homem julgasse conveniente, como, por exemplo, chegar à conclusão que não gostava mais dela.

O texto de referência, para eles, estava no livro do Deuteronômio, onde não se trata da legitimidade do divórcio, mas dos critérios para que possa acontecer:

·         “Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair em liberdade” (Dt 24,1).

Essa “coisa inconveniente” seria as causas prováveis de divórcio como: se uma mulher saísse à rua sem cobrir a cabeça ofendia de tal modo os bons costumes que o marido tinha o direito, inclusive o dever religioso de expulsá-la de casa e divorciar-se dela, sem estar obrigado a pagar-lhe a soma combinada no contrato matrimonial; se a mulher perdesse seu tempo na rua, falando com outras mulheres (porque a mulher não podia conversar com homens que não fosse seu marido ou seus familiares), ou que se punha a fiar na porta de sua casa, podia ser repudiada por seu marido sem qualquer compensação econômica.

Segundo o rabi Hille, “inclusive quando a esposa tivesse deixado a comida se queimar”, podia ser repudiada pelo marido com o divórcio.

No tempo de Jesus a mulher judia era considerada em tudo inferior ao homem.

Há uma expressão, uma espécie de fórmula, que se repete com frequência e expressa o descaso e desapreço com que a mulher era tida: mulheres, escravos, crianças.

Como o escravo não judeu e o filho menor de idade, a mulher era propriedade e pertencia completamente ao seu dono: ao pai, se fosse solteira, ao marido, se fosse casada.

O pai, em caso de dificuldade financeira, podia vender sua filha como escrava quando ela tivesse entre seis e doze anos e meio de idade, conforme consta no livro do Êxodo 21,7.

Depois de casada a mulher era propriedade do marido, se fosse casada.  Se ficasse viúva e sem filhos, ela passaria a pertencer ao cunhado mais velho conforme consta em Deuteronômio  25,5-10 e conforme consta do Evangelho de Marcos 12,18-27.

Os fariseus, aqueles que se julgavam os donos da verdade, os doutores da lei e conhecedores incontestáveis da Lei de Moisés, não perderam a oportunidade de tentar Jesus, então,

·         se aproximaram de Jesus. Queriam tentá-lo e perguntaram se a Lei permitia um homem se divorciar de sua mulher.” (Mc 10,2).

Mateus, em 19,1-9, esclarece melhor que Marcos o sentido do debate.

O pano de fundo dessa discussão era os critérios necessários para que um homem pudesse divorciar de sua mulher. Nem se cogitava na Lei judaica que a mulher pudesse, por sua iniciativa, divorciar-se do marido, pois a mulher era considerada objeto e propriedade ao homem!

Nesses dois evangelhos Jesus recusa-se a entrar no debate legalista que cercava a questão, e limitou-se apenas em reafirmar o projeto inicial do Pai para o casamento:

·         Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar”. (Mc 10,9).

O evangelho ressalta o valor perene da família, como dom de Deus. Jesus, partindo do projeto original do Criador, mostra o sentido do matrimônio, que se expressa na igualdade e entrega total e duradoura, conforme afirmativa de Deus na criação do homem e da mulher:

·         “Yahweh disse: “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.” Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou. Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que sobre a terra.” (Gn 1,26-28);

·         “Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e se une à sua mulher, e eles dois se tornem uma só carne”, (Gn 2,24).

Na fonte originária do amor, no gesto criador de Deus, o homem e a mulher encontram a motivação para se realizarem no amor recíproco, na ajuda mútua. O homem e a mulher são chamados a formar “uma só carne”, vivendo uma relação humana segundo a vontade de Deus.

A união conjugal não é um simples contrato legal, mas uma aliança estável semelhante àquela que o mesmo Deus firmou com seu povo.

A primeira leitura diz que:

·         “Yahweh Deus modelou, então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual devia levar o nome que o homem lhe desse. O homem deu nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras selvagens, mas, para o homem, não encontrou a auxiliar que lhe correspondesse.” (Gn 2,19-20).

Interessante! Dentre todas as criaturas criadas depois do homem, nenhuma se encaixou como “a auxiliar que lhe correspondesse.”

·         “Yahweh Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda”. ... Então Yahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, Yahweh Deus  modelou uma mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: “Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela se chamará mulher’, porque foi tirada do homem. Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” Gn 2, 21-24).

A palavra original nos textos bíblicos que para nós foi traduzida como “auxiliar” é traduzida também como “companheira”, que seria o termo mais correto, considerando que “auxiliar” sugere subordinação, que não é o caso, e “companheira” é alguém que divide com o homem as suas responsabilidades e tem  tantas obrigações e direitos quanto o homem.

Na criação do homem Deus sentiu a necessidade de lhe fazer uma companheira que, como ele, fosse superior a todas as demais criaturas já criadas, que se igualasse ao homem em dignidade e que, com o homem, fosse dividida a responsabilidade de zelar das coisas que o Senhor havia criado e dado direitos e obrigações de delas cuidar.

Primeiro Deus

·         “... modelou, então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu... ...mas, para o homem não encontrou a auxiliar (companheira) que lhe correspondesse.” (Gn, 2, 19-20).  

Em sua sabedoria infinita, Yahweh chegou à conclusão que não poderia dar ao homem, como companheira, um ser inferior e irracional, por isso, tirou do próprio homem, do humano, do seu próprio corpo, mais precisamente de uma costela, do lado do seu coração, um pedaço para modelar a mulher, aquela que seria a sua companheira por toda a vida e,

·         “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne.” (Gn 2, 24; Mc 10,7-8).

O escritor do primeiro livro das Sagradas Escrituras deixa transparecer uma sensibilidade que motiva a reflexão sobre como a mulher começou a existir.

O interesse do autor bíblico seria precisamente resgatar a mulher que, na sociedade primitiva, patriarcal e machista, era totalmente ofuscada, dominada, colocada sempre em plano secundário e considerada objeto e propriedade do homem, como vimos acima.

A mulher não foi feita do barro, da lama, como o homem; a sua matéria prima foi algo mais nobre e digna: um pedaço do próprio homem.

E esse pedaço do homem não foi tirado do pé, para que se dissesse que o homem dominaria sobre a mulher ou pisaria na mulher; também não foi tirada da cabeça, para que se pudesse entender que a mulher seria algo mais importante e superior ao homem, e que mandasse no homem.

As Escrituras narram que a mulher foi tirada da costela do homem, do peito do homem, do lado do coração do homem, para que ambos fossem tocados pelos mesmos sentimentos, ideais, objetivos e realizações:

·         Então Yahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, Yahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem”. (Gn 2, 21).

Costela significa “vizinho ao coração”. De onde ser a mulher “um ser igual, mas distinto do homem”. O termo costela conduz ainda à idéia de reciprocidade.

A mulher é aquela que está ao lado e não detrás do homem. Um está ao lado do outro.

Convém repetir e salientar ainda que ambos, homem e mulher, são criados por Deus.

O homem é criado da terra, e a mulher do humano, do homem que já se encontra formado pelas mãos do próprio Deus.

O homem não cria a mulher e a mulher não veio do barro. Deus é quem faz a mulher a partir do homem, do humano.

·         Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que sobre a terra.” (Gn 1, 28).

Tanto o homem quanto a mulher recebem uma mesma ordem de Deus - a de dominar - porque têm uma mesma identidade, e esta identidade é a de terem sido criados à imagem e semelhança do seu Criador.

A mulher, do seu jeito, é, juntamente com o homem, imagem e semelhança de Deus. É isto que constitui a humanidade no mundo.

A mulher não é complemento do homem, ou o homem complemento ou superior à mulher; cada um é uma totalidade, com características próprias e específicas.

O primeiro relato da criação humana indica a igualdade entre homem e mulher, visto que estes são imagem e semelhança de Deus.

A afirmativa de Jesus: “O que Deus uniu o homem não separe”, está alicerçada na criação do primeiro casal: homem e mulher.

O homem necessitava de uma companheira e essa companheira foi tirada e criada do próprio ser do homem, portanto, o homem não tem poder e nem autoridade de desautorizar uma atitude de amor de Deus. 

A união conjugal surgiu com a criação do primeiro casal como instituição necessária para a preservação do gênero humano. Se a mulher foi tirada do homem, são, portanto, homem e mulher que se unem em matrimônio, uma só carne e, “O que Deus uniu o homem não separe”.

No Antigo Testamento o casamento, muitas vezes, era uma imposição dos pais para os filhos, sendo que os jovens se casavam sem mesmo se conhecerem, como aconteceu com Isaac, conforme determinou Abraão;

·         “... ao servo mais velho de sua casa, que governava todos os seus bens: ... ‘Mas irás à minha terra, à minha parentela, e escolherás uma mulher para meu filho Isaac.” (Gn, 24,2ss.).

Mas, também, havia casamento por amor, como aconteceu com Rute e Booz:

·         “Assim Booz desposou Rute, que se tornou sua esposa. Uniu-se a ela, e Yahweh deu a Rute a graça de conceber e ela deu à luz um filho”. (Rt 4, 13).

No Antigo Testamento e, pela Lei de Moisés, o casamento não era uma instituição indissolúvel. No Novo Testamento, como não poderia deixar de ser, os escribas e fariseus, preocupados com os ensinamentos e a doutrina de Jesus Cristo sobre o amor verdadeiro, não com o intuito de aprender mais, pois julgavam que já sabiam tudo e eram os donos da verdade, mas para tentar fazer Jesus entrar em contradição sobre o que ensinava.

O repúdio ou divórcio significava que o homem podia dispensar sua mulher por qualquer motivo, sem mais explicações. Expressava a superioridade do homem e seu domínio sobre a mulher e refletia, na esfera doméstica, a opressão exercida sobre a mulher em todos os níveis da sociedade judaica.

Quando os fariseus citam Moisés para justificar sua atitude ignóbil, Jesus não se intimida: declara-lhes abertamente que, Moisés, ao dar esse preceito para agradar aos homens e cedendo à obstinação e dureza de coração do povo, Moisés foi infiel a Deus e frustrou o designo divino.

Contra toda a mentalidade e modo de ser da cultura judaica, Jesus afirma claramente a igualdade entre homem e mulher.

Não valem leis humanas que destruam essa igualdade querida por Deus.

Os discípulos de Jesus que presenciaram a discussão de Jesus com os fariseus e que tinham a mesma mentalidade dos fariseus, quando chegaram em casa interrogaram Jesus a respeito, como vemos em Marcos:

·         “E, em casa os discípulos voltaram a interrogá-lo sobre esse ponto. E ele disse: “Todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar outra, comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar o seu marido e desposar outro, comete adultério.” (Mc 10, 10-12).

No Evangelho de Mateus, os discípulos retrucam:

·         “Os discípulos disseram-lhe: “Se é assim a condição do homem em relação à mulher, não vale a pena casar-se.” Ele acrescentou: “Nem todos são capazes de compreender essa palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.” (Mt 19,10-11).

No Evangelho de Lucas Jesus insiste na indissolubilidade do matrimônio, dizendo:

·         “Todo aquele que repudiar sua mulher e desposar outra comete adultério, e quem desposar uma repudiada por seu marido comete adultério.” (Lc 18,18).

Paulo, imbuído de amor pelos ensinamentos de Jesus, ensina:

·         “Quanto àqueles que estão casados, ordeno não eu, mas o Senhor: a mulher não se separe do marido; se, porém, se separar não se case de novo ou reconcilie-se com o marido, e o marido não repudie a sua esposa!” (1Cor 7,10-11).

Jesus não somente defendeu e pregou sobre a união, a indissolubilidade e a felicidade no casamento como também, para divinizá-lo e torná-lo um sacramento, participou de um casamento (cf Jo 2,1-12), e com certeza, com as amizades que tinha desde a infância, participou de mais de um casamento; mas as Sagradas Escrituras só notificam um, talvez, pelas maravilhas ali realizadas. 

sábado, 2 de outubro de 2021

 

SANTOS ANJOS DA GUARDA

 

Deus, que criou todas as coisas, criou também os anjos, para que o louvem, obedeçam e atendam. Criou-os para serem eternamente felizes e para que nos ajudem e guiem, especialmente toda a sua Igreja. Entretanto uma grande parte desses anjos cometeu o grave pecado da soberba, desejando tornar-se iguais ao próprio Criador.

Por isso Deus os condenou e os precipitou no inferno, onde permanecerão para todo o sempre. Esses anjos rebeldes são chamados espíritos maus, diabos ou demônios, e têm como chefe Satanás.

Os anjos que ficaram fiéis a Deus são os chamados anjos bons ou simplesmente: anjos. Dentre esses é que Deus escolhe nosso Anjo da Guarda, que é pessoal e exclusivo, cuja função é proteger-nos até o retorno da nossa alma à eternidade.

Ele nos ampara e nos defende dos perigos com que os espíritos maus nos tentam, na nossa vida terrena. "Porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos, eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra" (Sl 90,11-12).

Os Anjos da Guarda estão repletos de dons e privilégios especiais, com uma missão insubstituível ao longo da criação. Eles possuem a natureza angélica espiritual, que é a síntese de toda a beleza e de todas as virtudes de Deus, por isso impossível de ser representada.

Em um dos seus textos, são Francisco de Sales esclarece que a tarefa dos anjos é levar as nossas orações à bondade misericordiosa do Altíssimo e de informar-nos se elas foram atendidas. Assim sendo, as graças que recebemos nos são dadas por Deus, que é o princípio e o fim de nossa vida, através da intercessão de nosso Anjo Bom. Deus confiou cada criatura a um Anjo da Guarda.

Esta é uma verdade que está em várias páginas da Sagrada Escritura e na história das tradições da humanidade, sendo um dogma da Igreja Católica, atualmente também confirmado pelos teólogos.

A devoção dos anjos é mais antiga até que a dos próprios santos, ganhando maior vigor na Idade Média, quando os monges solitários receberam a companhia dessas invisíveis criaturas, cuja presença era sentida nas suas vidas de silenciosa contemplação e íntima comunhão espiritual com Deus-Pai.

Todavia o Eterno Guardião, como o Anjo da Guarda também é chamado, tão solicitado e cuidado durante a infância, está totalmente esquecido no cotidiano do adulto, que, descuidando de sua exclusiva e própria companhia, não se apercebe mais de sua angélica presença.

Mas este espírito puro continua vigilante, constante dos pensamentos e de todas as ações humanas. O Anjo da Guarda é um ser mais perfeito e digno do que nós, criaturas humanas.

Não podemos ignorá-lo. Devemos amá-lo, respeitá-lo e segui-lo, pois está sempre pronto a proteger-nos, animar e orientar, para cumprirmos a missão da vida terrena, trilhando o caminho de Cristo e, assim, ingressarmos na glória eterna.

A celebração especialmente dedicada aos Anjos da Guarda começou na Espanha, no final do ano 400, propagando-se por toda a Europa em poucos séculos. Antes, ela ocorria no dia 29 de setembro, junto com a do arcanjo Miguel, guardião e protetor por excelência.

O dia 2 de outubro foi fixado em 1670, pelo papa Clemente X, para celebrar separadamente o nosso santo Anjo da Guarda. E para ele a Igreja ditou uma das mais belas orações, que diz: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a Piedade Divina, sempre me rege, me guarda, me governa e ilumina, agora e sempre. Assim seja".

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 

SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS, A SANTA DAS ROSAS

 

 

Santa Teresinha do Menino Jesus nasceu em Alençon (França), no dia 2 de janeiro de 1873, sendo batizada dois dias depois na igreja de Notre-Dame com o nome de Marie Françoise Thérèse.

Seu pai, Louis Martin, relojoeiro e joalheiro, que aos 20 anos tentara ser monge da Ordem de São Bernardo, está perto dos 50 anos quando nasce sua nona filha.

Sua mãe, Zélie Martin, famosa bordadeira do conhecido "ponto de Alençon", gera Teresa aos 41 anos. Vítima de câncer, essa piedosa mulher falece no dia 28 de agosto de 1877.       

 

         
A menina de Lisieux

Aos três anos, a pequena Teresa já está decidida a não recusar nada ao Bom Deus.

Louis Martin transfere-se com as cinco filhas para a cidade de Lisieux, por sugestão do cunhado, Senhor Guérin. Os outros irmãos morreram ainda pequenos. Aí, cercada pelo carinho do pai que chama sua caçula de "minha rainha" e pela ternura das irmãs, Teresa recebe uma formação exigente e cheia de piedade. Suas irmãs se chamam Maria, Paulina, Leônia e Celina.

Na festa de Pentecostes de 1883, ela é milagrosamente curada de uma enfermidade através de um sorriso que lhe oferece a Virgem Maria. Educada pelas monjas beneditinas, até outubro de 1885, completa seus estudos em casa sob a orientação de Madame Papineau.

Fez a primeira comunhão em 08 de maio de 1884, depois de uma intensa preparação. Este grande dia marca a "fusão" de Teresinha com Jesus.

No dia 14 de junho do mesmo ano recebe o sacramento da Crisma, muito consciente dos dons que lhe são implantados no coração. No Natal de 1886 vive uma profunda experiência espiritual, uma virada decisiva em sua vida, que ela chama de conversão: aos 13 anos, a menina chorosa e caprichosa, conforme seu próprio testemunho abandona os cueiros da infância. Supera a fragilidade emotiva consequente da perda da mãe e inicia uma corrida de gigante no caminho da perfeição.

         

 

A vida no Carmelo

Põe-se a pensar seriamente em abraçar a vida religiosa como monja carmelita, a exemplo de suas irmãs Maria e Paulina, no Carmelo de Lisieux, mas é impedida em seu sonho devido à pouca idade.

Por ocasião de uma peregrinação à Itália, depois de visitar Loreto e alguns pontos de Roma, numa audiência concedida pelo Papa Leão XIII a um grupo de peregrinos de Lisieux, no dia 20 de novembro de 1887, audaciosamente ela suplica ao Santo Padre a permissão para ingressar no Carmelo aos 15 anos de idade.

 

No dia 9 de abril de 1888, após muitas dificuldades, consegue realizar seu sonho e é aceita na clausura do Carmelo. Recebe o hábito da Ordem da Virgem no dia 10 de janeiro do ano seguinte.

Emite seus votos religiosos no dia 8 de setembro de 1890, festa da Natividade da Virgem Maria. Inicia no Carmelo o caminho da perfeição traçado pela Madre Fundadora, Santa Teresa de Jesus, cumprindo com fervor e fidelidade os ofícios que lhe são confiados.

Em 1895, por obediência, começa a escrever suas memórias que serão publicadas, após sua morte, com o título História de uma Alma. Este livro será responsável pela divulgação da vida e espiritualidade de Santa Teresinha no mundo inteiro, sendo traduzido em 58 línguas.

No dia 9 de junho de 1895, na festa da Santíssima Trindade, oferece-se vítima de holocausto ao Amor Misericordioso de Deus. Em 03 de abril do ano seguinte, na noite entre a Quinta-feira e a Sexta-Feira Santa, tem uma primeira manifestação da tuberculose, a doença que a levará à morte. Teresa não se rebela.

Acolhe sua enfermidade como a misteriosa visita do Esposo Divino. Serão 27 meses de terrível martírio. Começa uma prova de fé, mas manter-se-á firme até o fim, sem jamais rebelar-se. Tudo aceita com paciência e amor.

Chega a dizer que jamais pensou que fosse capaz de sofrer tanto.

 

Meu Deus eu Te amo

Tendo piorado a sua saúde, em 08 de julho de 1897 é conduzida à enfermaria do Carmelo. Suas irmãs e as outras monjas, no afã de não perder nenhuma de suas palavras, anotam tudo que ela diz entre dores atrozes e gemidos. Pouco antes de morrer, sem o menor consolo, exclamou: Não me arrependo de haver-me entregue ao amor.

Às 19 horas do dia 30 de setembro de 1897 fixou os olhos no crucifixo e exclamou: Meu Deus, eu Te amo. Depois de um êxtase que teve a duração de um Credo, expirou. Obscura e anônima, parte para os braços do Pai a humilde carmelita que um dia será chamada a maior Santa dos tempos modernos.

O Papa Pio XI a canonizou no dia 17 de maio de 1925. No dia 9 de junho de 1897 havia prometido fazer cair uma chuva de rosas sobre o mundo. No dia 17 de julho explicara melhor em que consistiria esta chuva: Eu quero passar o meu céu fazendo o bem sobre a terra.

No dia 1o de agosto havia profetizado: Ah, eu sei que o mundo inteiro me amará. De fato, em vinte cinco anos foram contados mais de quatro mil prodígios atribuídos à sua intercessão.

A leitura e meditação de História de uma Alma vem causando, há cem anos, incontáveis conversões.

         

 

Sua mensagem

Sua mensagem pode ser resumida em quatro pontos: - sigamos o caminho da simplicidade; - entreguemo-nos com todo nosso ser ao amor; - em tudo busquemos fazer cumprir a vontade de Deus; - e que o zelo pela salvação das pessoas devore nossos corações.

 

         
A padroeira das missões

No dia 14 de dezembro de 1927, o Papa Pio XI proclamou "Santa Teresa do Menino Jesus padroeira principal de todos os missionários, homens e mulheres, e de todas as missões existentes em toda a terra, com São Francisco Xavier e com todos os direitos e privilégios que convêm a este título".

Teresinha nada realizou que merecesse aplausos do mundo. Não fundou mosteiros como Teresa d'Ávila, nem foi viver no meio dos leprosos como Francisco de Assis. Deus a convidou a realizar miudezas, coisas insignificantes. Deu-lhe a missão de nos lembrar o valor dos "pequenos nadas". Chamou-a para que ela nos revelasse a estrada do abandono em Suas mãos. E Teresinha não decepcionou o seu Bem-Amado. Ela nos mostra o quanto é salutar aceitarmos nossos próprios limites e assumir a nossa pequenez, sem nos envergonharmos de nossa humanidade.

Nada há de extraordinário na vida dessa monja. O que há de especial em Teresinha é a simplicidade com que amou a Deus. Nunca pôde deixar o seu Carmelo para ir evangelizar em terras distantes, embora tenha acalentado o sonho de ir para o Oriente e ali viver sua vocação ao amor.

Seu desejo de ser missionária era tão intenso que chega a confessar que não desejava sê-lo somente durante alguns anos, mas desde a criação até a consumação dos séculos. Além do mais afirma que uma só missão não lhe bastaria.

Manteve correspondência com dois missionários, a quem extravasava seus ideais de partir em missão. O ardor missionário de Teresinha se manifesta no seu zelo em salvar almas, isto é, conduzir as pessoas a Deus, fazendo-as cientes do quão são amadas pelo Senhor Misericordioso. Sua missão é fazer Deus amado, adorado, por seu amor, por sua bondade.

No Carmelo compreendeu que sua missão era "fazer amado o Rei do céu, submeter-lhe o reino dos corações..." Teresinha amplia o conceito de missão, levando-nos a compreender que, pela oração, também podemos nos tornar missionários.      

 

         
A oração é o sustento da ação missionária.

A eficácia da evangelização depende da união com Deus. O trabalho de um apóstolo será mais eficaz se ele for um contemplativo. Um contemplativo será tanto mais autêntico quanto mais apostólica for sua intenção.

Neste sentido, Teresinha foi uma apóstola, uma autêntica missionária pois ajudou, pela oração e por sacrifícios, os missionários, participando de seus trabalhos através de seu coração solidário, sedento de conduzir as pessoas ao conhecimento do amor misericordioso de Deus.

Para a Padroeira das Missões, a oração é uma arma invencível que Jesus lhe deu para tocar as pessoas. Muito mais que as palavras, a oração sensibiliza, testemunha, conforta e transmite esperança. Nossa vida de oração poderá estimular a santificação das pessoas através da atenção aos sinais da presença de Deus nos acontecimentos.

A Santa de Lisieux nos ensina por sua vida que a contemplação é o alicerce da missão.

É necessário cultivar uma espitualidade substanciosa, radicada no Evangelho, marcada pela necessidade de estarmos na presença de Deus numa atitude de adoração e escuta. Missão que não é sedimentada na oração não oferece resultados.

Santa Teresinha, padroeira das missões, intercede junto a Jesus por todos os missionários e missionárias, por aqueles que deixam suas famílias para anunciar o Evangelho em terras distantes.

Para que possamos entender que todo cristão é chamado a ser missionário em sua própria família, em sua escola, em seu trabalho. Anunciar, evangelizar, espalhando a boa notícia de Jesus é tarefa de todos!

         

 

A santa das rosas

Por que Santa Teresinha é conhecida mundialmente como "A Santa das Rosas"?

No dia 11 de março de 1873, não sabendo mais o que fazer para curar sua pequena Thérése de uma atroz gastroenterite, Zélie Martin resolveu ir a Sémaillé, um vilarejo próximo a Alençon, à procura de uma senhora chamada Rose Taillé para ser a ama-de-leite de sua caçula.

Assim, de 16 de março de 1873 a 2 de abril de 1874, Teresa viveu nesse lugar onde os habitantes tinham um belo costume: presentearem-se, por qualquer motivo, com flores.

É provável que a precoce convivência com esses odores tenha acendido em nossa santa uma paixão que jamais a abandonará: as flores, especialmente as rosas.

Em carta à sua prima Maria Gurérin, escrita no dia 18 de agosto de 1887, Teresinha vai afirmar seu amor pelas rosas: "Amo tanto uma bela rosa branca, quanto uma rosa vermelha".

Sentia-se feliz quando podia lançar pétalas de rosas para o alto quando passava o ostensório com o Santíssimo Sacramento. Madre Inês, sua irmã de sangue, relata que, no dia 14 de setembro de 1897,

Teresinha ganhou uma rosa e a desfolhou sobre o crucifixo de forma muito carinhosa. Algumas pétalas caíram no chão da enfermaria. Muito seriamente, a santa teria afirmado: "Ajuntai bem estas pétalas, minhas irmãzinhas, elas vos servirão a dar alegrias, mais tarde... Não percam nenhuma..."

Seu prazer era atirar flores no grande crucifixo do pátio do Carmelo. Gostava de cobrir o seu crucifixo de rosas de forma muito cuidadosa, afastando as pétalas murchas.

No entanto, não lançava flores em ninguém. Madre Inês conta que certa vez colocou-lhe rosas nas mãos, pedindo-lhe que as atirasse em alguém, como sinal de afeto.

A santa recusou-se a fazê-lo. Ela só desfolhava e lançava rosas para seu amado Jesus. Santa Teresinha aproveita a imagem da rosa para explicar um elemento importante de sua "Pequena Via": "Compreendi que o brilho da rosa... não tira o perfume da pequena violeta... Compreendi que, se todas as florzinhas quisessem ser rosas, a natureza perderia seu enfeite primaveril..." 

Por isso, ela conclui, Deus criou " os grandes santos que podem ser comparados.... às rosas". No jardim da vida há lugar para as humildes flores, as frágeis violetas, que não possuem o vigor e o perfume das rosas, mas mesmo assim enfeitam o mundo. As rosas são os gigantes da fé. As violetas são as almas pequenas que trilham o pequeno caminho.

Quem tanto amava as rosas, vai prometer, quase ao fim da vida, que fará chover rosas sobre o mundo. Com esta promessa estava se prontificando a interceder pela humanidade junto a Deus. Haveria de conseguir muitas graças e bênçãos junto ao Pai.

Após sua morte os milagres irão se multiplicar. Ela prometeu continuar sua missão no céu, trabalhando para o bem das almas e não frustrou os que confiam em sua oração. Ainda hoje são muitos os relatos de curas, milagres e conversões realizados por intermédio da humilde carmelita.

 

 

Doutora da Igreja

Eu sou pequena demais para subir a rude escada da perfeição, afirma Santa Teresinha.

Ainda assim, queria ser uma grande santa, porque para ela, nos caminhos de Jesus Cristo não há meios-termos. Ela admirava os santos que cometeram loucuras em seu amor a Deus e media sensatamente a distância que a separava deles.

A fraqueza se fez força em Teresinha. Essa lúcida mulher que um dia desistiu da rude escada da perfeição foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II, em Roma, no dia 19 de outubro de 1997.

Nesse dia, o Papa disse, no momento da homilia:

“Entre os 'Doutores da Igreja', Teresa do Menino Jesus e da Santa Face é a mais jovem, mas o seu ardente itinerário espiritual demonstra muita maturidade, e as intuições da fé expressas em seus escritos são tão vastas e profundas que a tornam digna de ser posta entre os grandes mestres espirituais.”

E na Carta Apostólica Divinis Amoris Scientia, ainda afirma o Papa: “Teresa oferece uma síntese amadurecida da espiritualidade cristã. Ela une a teologia e a vida espiritual, exprime-se com vigor e autoridade, com grande capacidade de persuasão e de comunicação, como demonstram o acolhimento e a difusão da sua mensagem no Povo de Deus”.

Sua sabedoria e inteligência colocados a serviço do anúncio da Palavra vêm transformando os corações, conduzindo gerações e gerações de pessoas no mundo inteiro à experiência do amor misericordioso de Deus, de forma simples, descomplicada.

Meninos e meninas, pobres e desprezados, todos os que têm um coração de criança são homenageados nesse título que tanto demorou para ser conferido. Os pequenos se tornam Doutores. Passados mais de cem anos, a Doutora Teresinha tem uma Palavra forte e esclarecedora a nos dizer. Palavra profética de mulher missionária que nos faz retornar ao Evangelho.

Acabaram os argumentos daqueles que tentavam escapar aos desafios da vida cristã e dos caminhos da santidade. O Evangelho pode ser vivido por pequenos pássaros como nós.

Teresinha, com seu ensinamento, nos mostra como isso pode acontecer. A menina, agora teóloga laureada, prova-nos que o Evangelho está vivo e pode pulsar em nós, em nossa vida.

Ele existe também para nós, cristãos frágeis e atônitos ante a realidade que nos aflige. A Doutora nos faz descobrir que o Evangelho não é um compêndio de frases edificantes escritas para nos comover ou atemorizar. O Evangelho é uma pessoa concreta: Jesus de Nazaré!

Uma vez apaixonados por Ele e atentos à lição de Teresinha, saberemos encontrar o melhor modo de segui-lo. Teresinha teve seus últimos anos consumidos pela terrível tuberculose, que, no entanto, não venceu sua paciência com os desígnios do Supremo.

Morreu em 1° de outubro de 1897, com vinte e quatro anos, depois de prometer uma chuva de rosas sobre a Terra quando expirasse.

Essa chuva ainda cai sobre nós, em forma de uma quantidade incalculável de graças e milagres alcançados através de sua intervenção em favor de seus devotos. Teresa de Lisieux foi beatificada em 1923 e canonizada em 1925 pelo papa Pio XI.

Ela, que durante toda a sua vida teve um grande desejo de evangelizar e ofereceu sua vida à causa missionária, foi aclamada, dois anos depois, pelo mesmo pontífice, como "padroeira especial de todos os missionários, homens e mulheres, e das missões existentes em todo o universo, tendo o mesmo título de são Francisco Xavier".

Esta "grande santa dos tempos modernos" foi proclamada doutora da Igreja pelo papa João Paulo II em 1997.

Também comemorados no dia de hoje: Santo Aretas e seus 104 companheiros (mártires de Roma), São Dommino de Tessalônica (mártir), Santos Prisco, Crescente e Evágrio (mártires de Tomes), São Remígio ou Remy, São Versíssimo, São Milor.