domingo, 19 de setembro de 2021

 

"SE ALGUÉM QUER SER O PRIMEIRO DEVE SER O ÚLTIMO, AQUELE QUE SERVE A TODOS" - Mc 9,30-37

 

XXV DOMINGO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 53; Tg 3,16 – 4,3; Mc 9,30-37.

 

Diácono Milton Restivo

 

A primeira leitura da liturgia de hoje é do livro da Sabedoria. O que é lido nos mostra, de modo transparente, o desacerto que existe entre a justiça e a injustiça, entre o justo-fiel a Deus e o injusto-ateu que sente-se incomodado diante de quem pratica a justiça:

·         “Vamos armar ciladas para o justo, porque ele nos incomoda e se opõe às nossas ações”. (Sb 2,12).

Toda a perseguição promovida pelo injusto contra o justo é porque o justo, na sua retidão, caráter e santidade, incomoda o injusto no seu pecado que não quer ver a contradição de suas ações serem tornadas públicas, não quer ver ninguém se opondo ao seu caminho de devassidão e, por isso, o injusto afirma:

·         “Se o justo é filho de Deus, Deus cuidará dele e o livrará das mãos dos seus adversários. Vamos prová-lo com insultos e torturas, para verificar a sua serenidade e examinar a sua resistência. Vamos condená-lo a sofrer morte vergonhosa, porque ele mesmo diz que não lhe faltará socorro”. (Sb 2,18-20).

Viver de acordo com a vontade de Deus no meio de uma sociedade injusta, atéia e violenta, é estar sujeito a insultos, ciladas, torturas e até mesmo à morte planejada.

Não foi isso que aconteceu com a irmã Dóroti na Amazônia e tantos outros?

O injusto quer submeter o justo a todo o tipo de prova, quer examinar sua resistência, quer desafiar o socorro de Deus. O justo, por excelência, experimentou tudo isso em sua caminhada de cruz. Não foi assim com Jesus?

A segunda leitura é continuação do livro de Tiago que estamos lendo já há alguns domingos, e fala exatamente da falsa sabedoria que gera conflitos de toda a sorte:

·         “De fato, onde há ciúme e espírito de rivalidade, existe também desordem e todo tipo de ações más”. (Tg 3,16).

O trecho desta liturgia revela conflitos profundos na comunidade que deveria ser santa. Há ciúmes, espírito de rivalidade, discriminações, hipocrisia.

Há competições, cobiças, invejas. Há lutas, guerras e até mesmo mortes.

Tiago diz que tudo isso vem exatamente da ganância e dos prazeres que guerreiam entre cristãos:

·         “De onde surgem os conflitos e competições que existem entre vocês? Não vem exatamente dos prazeres que guerreiam nos seus membros?”. (Tg 4,1). 

Por não conseguirem satisfazer estes prazeres partem para a violência, a guerra e até a morte:

·         “Vocês cobiçam, e não possuem; então matam. Vocês têm inveja, e não conseguem nada; então lutam e fazem guerra.” (Tg 4,2).

Estes prazeres perturbam em tudo as orações dos fiéis, até mesmo daqueles que conseguem rezar e pedir, pois acabam pedindo mal com intenção de gastar em prazeres:

·         “Vocês não recebem porque não pedem; e vocês pedem, mas não recebem, porque pedem mal, com intenção de gastarem em seus prazeres”. (Tg 4,2b-3).

A comunidade precisa buscar a sabedoria que vem do alto, que vem de Deus.

Essa sabedoria é pura, pacífica, humilde, compreensiva, cheia de misericórdia e bons frutos.

Essa sabedoria é sem discriminação e sem hipocrisia. Essa sabedoria é a verdadeira sabedoria cristã geradora de justiça, fraternidade e paz.

Em Marcos 8,27ss, que vimos no domingo passado, Jesus pergunta aos seus discípulos o que acham que ele seja. Na continuação da leitura deste mesmo evangelho, Jesus vai se revelando.

Na leitura de hoje Jesus começa a afastar-se da multidão e a preocupar-se mais com o ensinamento particular aos seus discípulos, aqueles que o seguem diuturnamente:

·         “Partindo daí Jesus e seus discípulos atravessaram a Galiléia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava, porque estava ensinando os seus discípulos”. (Mc 9,30-31).

Jesus tinha a preocupação de ensinar os seus discípulos.

A maioria do seu tempo Jesus dedicava à formação dos discípulos; explicava as parábolas, respondia às questões, dava bronca às vezes, tudo para ensinar. 

Marcos diz:

·         “Jesus anunciava a Palavra usando muitas outras parábolas como esta, conforme eles podiam compreender. Para a multidão Jesus só falava com parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, ele explicava tudo”. (Mc 4,33-34).

Jesus já havia feito o primeiro anúncio da sua paixão:

·         “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar depois de três dias”. (Mc 8,31).

Na liturgia de hoje Jesus proclama o segundo anúncio de sua paixão:

·         “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, quando estiver morto, depois de três dias ele ressuscitará”. (Mc 9,31).

Nesses dois primeiros anúncios Jesus diz que “deve sofrer muito” e “vai ser entregue”.

Todo esse conjunto deve ser interpretado como designo de Deus, para que se concretizasse o plano de amor do Pai, realizado pelo Filho, considerando que a salvação dos homens iria acontecer através da cruz.

Mas Jesus deixa claro que o Pai não vai simplesmente entregá-lo à morte: no terceiro dia ele ressuscitará, e isso ele afirma nos dois anúncios de sua paixão.

O caminho da cruz amedronta quem quer que seja e para os discípulos de Jesus não foi diferente:

·         “Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas”. (Mc 9,32).

Quem não entende e não faz perguntas é porque tem medo de se comprometer; é melhor ficar na ignorância dos fatos do que perguntar e se ver envolvido nos acontecimentos. Seria melhor ignorar a afirmativa de Jesus.

Mas, durante a caminhada para a cidade de Cafarnaum, os discípulos discutiam alguma coisa, mas nada do que Jesus havia dito:

·         “Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, Jesus perguntou aos discípulos: ‘Sobre o que vocês estavam discutindo no caminho?”. (Mc 9,33).

Claro que Jesus sabia o que eles conversavam e discutiam, mas queria ouvir das bocas deles próprios. Com certeza, não estavam discutindo sobre o que Jesus falara, porque, quem gosta de falar de morte e sofrimento? O Mestre deveria estar equivocado.

O Evangelista deixa claro que quando chegaram à cidade de Cafarnaum eles “estavam em casa”; haviam chegado e entrado em casa, e isso deixa claro que a casa é o lugar do ensinamento particular, da privacidade com as pessoas mais próximas.

Os discípulos não responderam a pergunta que Jesus fizera, porque o que eles estavam discutindo estava fora do contexto dos ensinamentos de Jesus, mas, claro, repito, Jesus sabia sobre o que eles conversavam:

·         “Os discípulos ficaram calados, pois no caminho tinham discutido sobre qual deles era o maior”. (Mc 9,34). 

Os discípulos ainda não haviam entendido nada do que Jesus lhes passava. Pensavam simplesmente numa organização de classe, onde deveriam existir superiores e subordinados, maiores e menores, opressores e oprimidos, primeiros e últimos.

Jesus jamais perdeu uma oportunidade de transmitir os seus ensinamentos, e nos ensinamentos a verdade que emanava do Pai. O Evangelista diz que “Jesus se sentou”.

O sentar-se diante dos seus discípulos é atitude de quem tem autoridade, vai ensinar, vai transmitir um novo conhecimento:

·         “Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse: ‘Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos”. (Mc 9,35).

Jesus não fala simplesmente; ele dá o exemplo.  Não é isso que nos narra João, no seu Evangelho, na última ceia de Jesus com os seus discípulos na cena do lava-pés?

·         “Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha na cintura”. (Jo 13,4-5).

Para nós hoje, isso pode parecer uma atitude solene que beira ao romantismo e à poesia, mas, na época de Jesus, para o povo judeu, somente lavava os pés dos convivas quem fossem escravos; lavar os pés era tarefa de escravo.

Jesus se despiu do seu manto, ou seja, uma atitude de humildade sem abrir mão de sua dignidade humana, cingiu-se com uma toalha, apanhou uma bacia com água e ajoelhou-se na frente de cada discípulo para lhe lavar o pé, rebaixando-se ao nível do escravo, do menor de todos, porque aquilo era a obrigação do escravo.

Jesus complementa a sua atitude diante da recusa de Pedro de não permitir que Jesus lhe lavasse os pés:

·         Você não sabe o que estou fazendo. Ficará sabendo mais tarde”. (Jo 13,7). 

Mais adiante Jesus complementa:

·         “Vocês compreenderam o que acabei de fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão: eu sou mesmo. Pois bem: eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática”. (Jo 13,12-17). 

Eis a essência da vida cristã: servir a todos.

A grandeza e a dignidade do cristão estão no serviço.

A casa em que Jesus e seus discípulos estavam em Cafarnaum, nessa oportunidade, com certeza era a casa de uma família constituída, porque havia crianças; Jesus se aproveitou da presença de uma criança para complementar e ilustrar o seu ensinamento de quem é maior:

·         “Depois Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio deles. Abraçou a criança e disse: ‘Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim”. (Mc 9,36-37a).

Jesus estava no centro do grupo, e Jesus coloca a criança no meio deles, isto é, coloca a criança no seu próprio lugar, e diz:

·         “Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim”. (Mc 9,37a).

Diante da recusa dos seus discípulos em entender o seu ensinamento, Jesus, o Servo de Yahweh, pega uma criança como símbolo de quem deve seguí-lo. Não porque criança é sempre santa nem inocente! Mas porque é sem poder, é dependente dos adultos em tudo.

No tempo de Jesus criança era sem direitos, e seu lugar era entre os últimos da sociedade.

Os discípulos são convidados a despojar-se do poder para serem servos, da mesma maneira do que o Mestre, ele que

·         “não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte da cruz”. (Fl 2,6-8).

Porque Jesus lançou mão de uma criança para ilustrar o seu ensinamento? É porque, em primeiro lugar, como já dissemos, a criança no tempo de Jesus era marginalizada e indicava uma pessoa necessitada e dependente e, em segundo, por causa de sua inocência e simplicidade.

A criança tem confiança total no pai e na mãe; o que os pais mandam, elas não questionam, porque sabem que dos pais só podem vir coisas que lhe beneficiam e nunca que lhe colocam em risco, e por isso Jesus diz em Mateus:

·         “Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu. Quem se abaixa e se torna como esta criança, esse é o maior no Reino do Céu. E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe”. (Mt 18,2-5).

Em outra ocasião, quando tentaram impedir as crianças de se aproximarem de Jesus, Jesus

·         “ficou zangado, e disse: ‘Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas. Eu garanto a vocês: quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele’. Então Jesus abraçou as crianças e abençoou-as, pondo a mão sobre elas”. (Mc 10,14-16).

Jesus identifica-se com os pequeninos:

·         “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der ainda que seja um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa”. (Mt 10,40-42).

Receber uma criança significa, portanto, servir aos mais necessitados e marginalizados.

A criança é assim o modelo do servidor com a sua gratuidade e aquele a quem devemos servir, por causa da sua carência.

Receber, respeitar, acolher, ajudar, socorrer um menor neste mundo é a Jesus que estamos fazendo tudo isso, porque ele mesmo disse:

·         “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25,35-40). 

E Jesus dirá a esses que viram nos menores o próprio Jesus:

·         “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo”. (Mt 25,34).

A fé significa reconhecimento e compromisso com a pessoa concreta de Jesus retratada no irmão necessitado, porque Jesus está identificado com os pobres e oprimidos, e marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza e no poder. Esta é a condição para participar da vida do Reino.

A nossa força vem da Cruz de Jesus, a fraqueza do Deus

·         “que escolheu o que o mundo despreza, acha vil e sem valor, para destruir o que o mundo pensa que é importante”.  (1Cor 1, 28).

Os apóstolos, depois que receberam o Espírito Santo que Jesus lhes havia prometido, de pequeninos que eram, tornaram-se verdadeiras celebridades para as coisas de Deus.

Todos simples, sem estudos nem preparo, foram chamados por Jesus e capacitados para o trabalho de divulgar a Igreja de Jesus e atravessaram o mundo inteiro e são e serão, até o fim dos tempos, as verdadeiras celebridades, simples, sem arrogância e nunca esquecida, confiantes e amparados na promessa do Mestre:

·         “Eu garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água porque vocês são de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. (Mc 9,41).

O Filho do Homem vai ser entregue...

·         “Se alguém quiser ser o primeiro que seja o último de todos.”


sábado, 18 de setembro de 2021

 

SÃO JOSÉ DE COPERTINO - 1603-1663

 

No dia 17 de junho de 1603, nasceu, no reino de Nápoles, na aldeia de Copertino, um menino de nome José. Era o filho mais novo da família Desa, cujo pai, um pobre carpinteiro, mal conseguia sustentar a família.

Ele veio ao mundo num pequeno estábulo, onde permaneceu nos primeiros meses de vida, porque o pai, endividado, teve de vender o pouco que possuíam. Já naquela época os desníveis sociais geravam miséria, insegurança e sofrimento, impedindo que filhos de famílias pobres estudassem e desenvolvessem sua cultura e inteligência.

Mas, apesar de iletrado, o menino foi criado no rigor dos ensinamentos de Cristo, pois sua família era muito religiosa.

Assim foi a infância de José. Os únicos talentos por ele manifestados foram de ordem espiritual: o da oração e o da caridade para com os mais necessitados, que sofriam as agruras da miséria, como ele. Quando completou dezessete anos, estava determinado a tornar-se frade.

Mas até os capuchinhos que o haviam aceitado como irmão leigo fizeram-no devolver o hábito, por causa da sua grande confusão mental. Isso causou a José um sofrimento muito grande. Mas não desistiu.

Finalmente, foi aceito no Convento de Grotella, pelos Frades Menores, que o acolheram e lhe deram uma tarefa simples: cuidar de uma mula. Mesmo renegado, estava determinado a ser sacerdote.

Foi então que as graças divinas começaram a intervir na sua vida. Apesar da dificuldade que tinha em estudar, milagrosamente saía-se muito bem nas provas para tornar-se sacerdote.

Desde então, começaram a aparecer sinais de predileção divina e fenômenos que atestavam sua santidade interior, presenciados pela comunidade de fiéis e irmãos da Ordem. Eram manifestações extraordinárias, como, por exemplo, curas totalmente milagrosas de doentes de todos os tipos de enfermidades.

Ainda: em êxtases de oração, caminhava pela igreja sem colocar os pés no chão e, sem tomar nenhum cuidado com o corpo, exalava um fino e delicado odor.

Por tudo isso, já era venerado em vida como santo. Outro fato relevante na vida de José de Copertino é que, apesar de quase não ter nenhum estudo teológico, tinha o dom da ciência e era consultado por teólogos a respeito de questões delicadas.

Espantosamente, tinha sempre respostas sábias e claras. Com isso, José conquistou a glória máxima e, mesmo sendo considerado o frade mais ignorante de toda a Ordem franciscana, sua fama de bom cristão, seu comportamento peculiar e seus milagres chegoaram a Roma.

O papa Urbano VIII convocou-o e recebeu-o com as honras de que era merecedor. Talvez esse tenha sido um dos dias mais felizes na vida de José de Copertino. Em 1628, foi ordenado sacerdote. José de Copertino mergulhou tão profundamente nas coisas de Deus que acabou se tornando um conselheiro de padres, bispos, cardeais, chefes de Estado e religiosos em geral. Todos o procuravam.

E ele os atendia com paciência, humildade e sabedoria, indicando-lhes a luz de que necessitavam. José de Copertino morreu aos sessenta anos de idade, no dia 18 de setembro de 1663, no Convento de Osímo, Itália.

O local, que se tornara um ponto de peregrinação com ele ainda vivo, tornou-se, imediatamente, um santuário a ele dedicado. Festejado liturgicamente no dia de sua morte, este singular frade franciscano é considerado pelos estudiosos como "o santo mais simpático da hagiografia católica".

Os frequentes êxtases espirituais, que lhe permitiam "voar" literalmente pela igreja, fizeram de são José de Copertino o padroeiro dos aviadores e pára-quedistas.

Também, devido à sua determinação diante das numerosas dificuldades encontradas nos estudos e exames de seleção, é considerado o santo padroeiro dos estudantes que se encontram nessa condição, anualmente.

São Comemorados também neste dia: São Metódio do Olímpia, Santa Ricarda, Santo Eumênio de Gortyne (bispo), Santo Estórgio (primeiro bispo de Milão), São Ferréolo de Limoges (bispo).

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

 

SÃO ROBERTO BELARMINO - 1542-1621

 

Roberto Francisco Rômulo Belarmino veio ao mundo no dia 4 de outubro de 1542, em Montepulciano, Itália. Era filho de pais humildes e católicos de muita fé. Tiveram doze filhos, dos quais seis abraçaram a vida religiosa, tal foi a influência do ambiente cristão que proporcionaram a eles com os seus exemplos.

O menino Roberto nasceu franzino e doente. Talvez por ter tido tantos problemas de saúde nos primeiros anos de existência, dedicou atenção especial aos doentes durante toda a vida.

Embora constantemente enfermo, Roberto demonstrou desde muito cedo uma inteligência surpreendente, que o levou ao magistério e a uma carreira eclesiástica vertiginosa.

Em 1563, foi nomeado professor do Colégio de Florença e, um ano depois, passou a lecionar retórica no Piemonte.

Em 1566, foi para o Colégio de Pádua, onde também estudou teologia e, em 1567, mudou para a escola de Louvain, sendo, então, já muito conhecido em todo o país como excelente pregador.

Em 1571, tendo concluído todos os estudos, recebeu a ordenação sacerdotal e entrou para a Companhia de Jesus. Unindo a sabedoria das ciências terrenas, o conhecimento espiritual e a fé, escreveu os três volumes de uma das obras teológicas mais consultadas de todos os tempos: "As controvérsias cristãs sobre a fé", um tratado sobre todas as heresias.

Mais tarde, em 1592, Belarmino foi nomeado diretor do Colégio Romano, que contava com duzentos e dois professores e dois mil estudantes, entre os quais duzentos jesuítas.

Lá, realizou um trabalho de tamanha importância que, algum tempo depois, foi nomeado para o cargo de superior provincial napolitano, função em que ficou apenas por dois anos, pois o papa Clemente VIII reclamava sua presença em Roma, para auxiliá-lo como consultor no seu pontificado.

Nesse período, produziu outra obra famosa: "Catecismo", que teve dezenas de edições e foi traduzido para mais de cinqüenta idiomas. Com a morte do papa Clemente VIII, o seu sucessor, papa Leão XI, governou a Igreja apenas por vinte e sete dias, vindo a falecer também.

Foi assim que o nome de Roberto Belarmino recebeu muitos votos nos dois conclaves para a eleição do novo sumo pontífice.

Mas, no segundo, surgiu o novo papa, Paulo V, que imediatamente o chamou para trabalharem juntos no Vaticano. Esse trabalho ocupou Belarmino durante os vinte e dois anos seguintes.

Morreu aos setenta e nove anos de idade, em 17 de setembro de 1621, apresentando graves problemas físicos e de surdez, consequência dos males que o acompanharam por toda a vida.

Com fama de santidade ainda em vida, suas virtudes foram reconhecidas pela Igreja, sendo depois beatificado, em 1923.

A canonização de são Roberto Belarmino foi proclamada em 1930.

No ano seguinte, recebeu o honroso título de doutor da Igreja. A sua festa litúrgica foi incluída no calendário da Igreja na data de sua morte, a ser celebrada em todo o mundo cristão.

São comemorados também, neste dia: Santa Hildegarda, Santa Colomba, São Lamberto de Maestricht (bispo), Santos Macrino e Gordiano (mártires de Moviodunum), Santos Narciso e Crescencião (mártires de Roma).



quinta-feira, 16 de setembro de 2021

 

SÃO CIPRIANO - SÉC. III

 

Cipriano era filho de uma nobre e rica família africana de Cartago, capital romana na no norte da África. Foi considerado um dos personagens mais empolgantes e importantes do século III. Primeiro pelo destaque alcançado como advogado, quando ainda era pagão.

Depois por ser considerado um mestre da retórica e defensor irrestrito da unidade da Igreja. Mas o fator principal foi sua conversão ao cristianismo, já na maturidade, entre os trinta e cinco e quarenta anos de idade, causando um grande alvoroço e espanto na sociedade da época.

Cipriano não deixou apenas sua vida de pagão, mas também distribuiu quase toda a sua fortuna entre os pobres, renunciando à ciência profana da qual se alimentara até então.

Com muito pouco tempo, foi ordenado sacerdote e, por eleição direta do clero e do povo, imediatamente substituiu o bispo de Cartago logo após sua morte.

Cipriano o fez contrariando seu próprio desejo, mas em obediência à Igreja. Nos anos de 249 a 258, durante o episcopado de Cipriano, a Igreja africana passou por sérios problemas.

Os imperadores Valeriano e Décio empreenderam uma perseguição sem tréguas aos cristãos. Além disso, uma grande e terrível peste atacou o norte da África, causando muitas mortes e sofrimento. Como se não bastasse, a Igreja ainda se agitava com problemas doutrinários, internamente. Durante a perseguição do imperador Décio, em 249, grande número de fiéis e sacerdotes, até mesmo bispos, fraquejaram perante as torturas e renunciaram à fé cristã. Por esses atos ficaram conhecidos como "cristãos lapsos".

A Igreja, então, mergulhou, definitivamente, na polêmica do "lapso", criando o seu primeiro grande cisma, isto é, uma divisão entre o clero. Não se sabia que atitude tomar contra os fiéis que abandonavam a fé e depois desejavam voltar para o seguimento de Cristo. Em Roma, fora eleito o papa Cornélio, com amplo apoio dos bispos liderados por Cipriano, que apreciava muito a conduta de seu colega bispo, com o qual trocava muita correspondência.

Mas havia Novaciano, em Roma, que se elegeu antipapa e começou uma forte corrente a favor da não-reconciliação dos desertores. Já na África, um certo Felicíssimo era completamente contra tal atitude, rogando pela clemência e reintegração do rebanho desgarrado.

Assim, liderados, novamente, pelo bispo Cipriano, Novaciano foi perdendo força.

Uma outra controvérsia, que assolava a Igreja na época, era a validade ou não dos batismos realizados por hereges. Essa era a única divergência que existia entre o papa Cornélio e o bispo Cipriano. O papa, seguindo a tradição da doutrina, considerava válidos os batismos, já o bispo dizia que "não se pode dar a fé a quem não a tem". Assim, a questão permaneceu sem solução. Em 258, ainda com a perseguição contra a Igreja, Cipriano foi denunciado e sentenciado à morte por decapitação.

As atas escritas revelam que nesse dia, quando o pró-cônsul determinou a sentença, as únicas palavras proferidas por Cipriano foram "Graças a Deus!" Foi executado no dia 14 de setembro de 258.

São Cipriano deixou-nos inúmeros escritos, entre os quais oitenta e uma cartas que se tornaram uma fonte de informação preciosa da vida eclesiástica daquele tempo.

A Igreja declarou-o padroeiro da África do Norte e da Argélia, sendo sua festa litúrgica marcada para o dia 16 de setembro, quando se comemora a festa do santo papa Cornélio, o amigo de fé que ele tanto defendeu.

São comemorados também, no dia de hoje: São Cornélio (papa e mártir), Santos Luzia e Geminiano (mártires de Roma), Santo Niniano de Cândida Casa (bispo), Santos Rogelio e Serdeus. 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

 

SE DEUS ESTÁ CONOSCO, QUEM ESTARÁ CONTRA NÓS?

 

O amor do Pai é infinito, porque ele mesmo é o amor e o amor é ele: “... porque Deus é Amor.” (1Jo 4,8). Devemos nos transformar em crianças nos braços do Pai, pois que nossa vida é originada por um ato de amor de Deus; o nosso princípio veio de Deus, o nosso momento é Deus, o nosso fim a Deus pertence: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim...” (Apo 21,6).

Jesus conforta-nos dizendo que, se nos entregarmos totalmente nas mãos do Pai, nem mesmo um fio de cabelo cairá de nossa cabeça, se essa não for a vontade do Pai: “Até mesmo os cabelos de vossas cabeças estão todos contados” (Lc 12,7), “Mas nenhum só cabelo de vossa cabeça se perderá.” (Lc 21,18).

Jesus, com a autoridade do Filho Único de Deus, com a autoridade do próprio Deus, nos garante: “... sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15,5).

Os homens, numa ignorância total ao grande amor que Deus Pai tem por nós, na sua falta de respeito à vontade e aos desígnios do Pai, na total falta de confiança à Divina Providência, procuram, através das cartas, búzios, tarô, por meio dos adivinhos e recorrendo a bruxos, no início de cada ano querem, por meio de magias e adivinhações, antecipar os acontecimentos.      

Recorrem a horóscopos e videntes se esquecendo ou ignorando a advertência que o Senhor Jesus faz em seu Evangelho, nos chamando a atenção: “Guardem-se dos falsos profetas, que vem à vocês disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes.” (Mt 7,15), reforçando o que já dizia a lei de Moisés: “Quando vocês entrarem na terra que Iahweh, teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. Que em teu seio não se encontre alguém... ...que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável a Yahweh...” (Dt 18,9-12) e, “Quando surgir em teu meio um profeta ou um intérprete de sonhos, e te apresentar um sinal ou um prodígio - se este sinal ou prodígio que ele anunciou se realiza e ele diz: ‘Vamos seguir outros deuses (que não conheceste) e servi-los’, - não ouçam as palavras desse profeta ou desse intérprete de sonhos. Porque é Iahweh vosso Deus que experimenta vocês, para saber se de fato vocês amam a Yahweh vosso Deus com todo o vosso coração e com todo o vosso ser. Vocês seguirão a Yahweh Deus de vocês e a ele vocês temerão , observarão seus mandamentos e obedecerão à sua voz, a ele vocês servirão e a ele vocês se  apegarão. Quanto ao profeta ou intérprete de sonhos, deverá ser morto, pois pregou a rebeldia contra Yahweh vosso Deus que fez vocês saírem da terra do Egito e resgatou vocês da casa da escravidão, para te afastar do caminho em que Yahweh teu Deus te ordenou caminhar. Deste modo extirparás o mal de teu meio.” (Dt 13,2-6).

Que mais dúvidas poderemos ter a respeito que o Senhor, somente o Senhor nosso Deus é quem nos ama e determina o nosso futuro?

Quem mais, a não ser Deus, pode antecipar e conhecer acontecimentos futuros?

E vemos, através de rádio, televisão, jornais e revistas, homens querendo se adiantar ao tempo e recorrem a pais de santos com suas falcatruas, consultam os búzios, cartas de baralho, ao espiritismo, aos videntes, aos astros, aos charlatães e a tudo o mais que a ignorância do povo julga ter mais poder que ao próprio Deus para desvendar o véu dos tempos e acontecimentos que virão. Se não for a vontade do Pai, sequer um cabelo de nossa cabeça cairá (cf Lc 21,18).

Os homens se esquecem da advertência que o Senhor nos faz, ao dizer: “Eu sou Yahweh teu Deus, aquele que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagens esculpidas, de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, no céu, ou cá embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses nem os servirás, porque eu, eu Yahweh  teu  deus  sou  um  deus  ciumento...” (Dt 5,6-9).

Não conhecemos as Sagradas Escrituras e, não as conhecendo, ignoramos o grande amor que Deus Pai tem por todos os seus filhos.

O Senhor ama a todos os homens, indistintamente “... porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos.” (Mateus, 5, 45), e, antes que lhe peçamos alguma coisa ele já conhece as nossas necessidades, porque assim nos diz Jesus: “... o Pai de vocês sabe do que vocês tem necessidade necessidade  antes de lho pedir” (Mt 6,8). Isso não é amor???

Que grande cuidado, que grande amor tem o Pai por seus filhos e, infelizmente, desconhecendo isso, muitos homens recorrem à idolatria, a divindades, como se conchas do mar ou cartas amareladas de baralhos amarrotados, ou bolas de cristais, ou tantas outras coisas fossem tão ou mais poderosas que o próprio Senhor e pudessem, desprezando os desígnios de Deus, antever o destino dos homens e decretar sua felicidade ou desgraça.

E, o mais interessante; todos os que se dizem videntes, afirmam que estão agindo em nome do Senhor ou até invocam o Santíssimo Nome de Deus para praticarem suas bruxarias, se esquecendo que Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor”, entrará no reino dos céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7,21).

Será que são somente os adivinhos e videntes os falsos profetas e a eles que é dirigida essa advertência?           

Não!!!    Não somente para eles!!! Quantas igrejas que se dizem cristãs, que surgem às dezenas todos os dias e milhares todos os anos que seus pretensos pastores, em nome de Jesus dizem fazer milagres e expulsar demônios, ludibriando os incautos e usando o Santo Nome de Deus em vão, ignorando a ordem expressa do Senhor nos seus mandamentos: “Não pronunciarás em vão o nome de Yahweh teu Deus, pois Yahweh não deixará impune aquele que pronunciar em vão seu nome.” (Dt 5,11). E, bem por isso, Jesus continua em sua admoestação: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios, e em teu nome que fizemos muitos milagres? Então eu lhes declararei: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mt 7,22-23), repetindo o já dito no livro dos Salmos: “Afastem-se de mim, malfeitores todos...” (Sl 6,9). O Livro dos Salmos se inicia com uma bela exortação: “Feliz o homem que não vai ao conselho dos ímpios, não para no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores. Pelo contrário: Seu prazer está na lei de Yahweh, e medita sua lei dia e noite” (Sl 1,1-2). Feliz o homem que não se deixa levar pelas superstições, idolatrias, por todas essas ignorâncias. Feliz o homem que acredita no amor do Pai, confia somente no Senhor e somente nele põe sua esperança e entrega seu futuro, sabendo nada ser e nada poder fazer sem que o Senhor com ele esteja: “... sem mim nada podeis fazer.” (Jo l5,5).

“Aleluia! Feliz o homem que teme a Yahweh e se compraz em seus mandamentos.” (Sl 112 (111),1). Feliz o homem que ouve e confia somente na palavra do Senhor e a pratica: “... felizes os que ouvem a palavra de Deus e a observam.” (Lc 11,28). Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina a pedir: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, na terra como no céu.” (Mt 6, 10).

Seja feita a vontade de Deus, e a vontade do Senhor é, exatamente, que todos os seus filhos sejam felizes, se amem mutuamente e se comprazem em seus mandamentos. Seja feita a vontade do Senhor Nosso Deus e não o que os falsos profetas, adivinhos, bruxos, videntes, cartomantes e todos os que exploram a ignorância do povo proclamam como sendo a verdade. Depois disto, que nos resta a dizer? se Deus está conosco, quem estará contra nós? Quem não poupou o seu próprio Filho e o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele?” (Rm 8,31-32).

E isto é um alerta e um incentivo para nós, cristãos, no tempo em que vivemos, onde os ignorantes querem ludibriar os ignorantes distorcendo a verdade e tentando obscurecer o grande amor que Deus Pai tem por todos nós.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

 

NOSSA SENHORA DAS DORES OU DA PIEDADE – MARIA, A MULHER DA CRUZ

 

Comemoramos hoje, 14 de setembro a festa da Exaltação da Santa Cruz, onde vimos como Jesus nasceu para morrer, e morrer na cruz, porque desta forma Ele traria salvação e vida  em plenitude ao homem.

Compete-nos, agora, falar de uma mulher que nasceu para o sofrimento, por isso o título de Maria como Nossa Senhora das Dores, festa que a Igreja comemora hoje.

Se Jesus é o homem compassivo, Maria também é compassiva.

Ela passou por todos os sofrimentos que uma mulher pode passar. Ela completou nos seus sofrimentos aquilo que faltou nos sofrimentos de Cristo.

Deus também enviou o Anjo Gabriel para anunciar que ela seria a mãe do Salvador, por isso ela foi chamada a completar os sofrimentos de Jesus. O Pai precisava de uma mulher para sofrer. Não quer dizer que faltou algum sofrimento a Jesus, esta é só uma maneira de dizer.

Por isso Jesus disse aos discípulos que eles nada poderiam fazer sem Ele e sem Maria. Mas isso só poderá  ‘dar frutos’ se nós seguirmos a Jesus. Por isso eu quero dizer a vocês que Jesus convidou Maria para fazer parte deste sofrimento, não porque faltava mas para que se tivesse uma idéia maior dos sofrimentos da mulher.

Maria a mulher da palavra, mas ela também é a mulher da cruz. Vocês podem acreditar ou não, mas se estudamos as Escrituras podemos ver que Ela é a Mulher da Palavra, por isso Isabel disse a Maria: ‘Bendita és por ter acreditado na Palavra’.

Maria disse poucas palavras, mas uma das palavras mais lindas foi : ‘Fazei tudo o que Ele vos disser’. Ela é a mulher do Espírito. Vemos Maria comunicando o Espírito Santo. Hoje eu quero apresentar Maria com um outro titulo: a mulher da cruz, a mulher do coração transpassado.

Quando Maria ficou em pé aos pés da cruz,  sabemos que aquela mesma flecha que atingiu Jesus era a mesma  que falava a profecia de Simeão. Imagine o sofrimento que Maria passou quando se tornou suspeita diante do homem que ela amava, José,  e que a amava também.

Por isso podemos imaginar o quanto as mulheres sofrem. 

Por quanto tempo Maria  passou por estes sofrimentos eu não sei... Até que o anjo aparecesse para Jose e dissesse que ele a tomasse por esposa.

Outro sofrimento foi quando ela não achou lugar onde pudesse dar a luz ao seu Filho. Alguém aqui já deu a luz ao seu filho num estábulo? Eu conheço uma mulher, é Maria.

O sofrimento de não ter um lar, de não ter um teto é um sofrimento muito grande, e não havia nenhum lugar para ela. Depois também sofreu a ameaça do filho poder ser morto por Herodes. A mulher que tem o filho sequestrado é um sofrimento imenso, e foi isso que Maria passou quando eles se perderam e  Jesus estava no templo.

O sofrimento de mãe de ver um filho em perigo, sendo atacado pelo inimigo. Não esquecendo a viagem às pressas para o Egito. Pode ter certeza que foi uma experiência dolorosa! Ela sofria muito quando as pessoas diziam a ela que Jesus não respeitava as leis, mas principalmente quando ela estava com Jesus a caminho do Calvário.

O Papa diz para não olharmos Maria apenas como uma devoção, não somente como a mulher da Palavra ou do Espírito Santo, mas olhar para Ela como a Mulher da Cruz. Aquela que nos lembra que devemos fazer o que Jesus fez.

São comemorados também nesta data: Exaltação da Santa Cruz, Santa Rósula, Santa Noteburga, Santos Crescenciano, Vítor, Rosula e General (mártires da África), São Crescêncio de Perúgia (menino de 11 anos, filho de Santo Eutímio, mártir).

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 

“DEUS É AMOR.” (1Jo 4,7-8).

 

“...Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento...” (Lc 10,27).

Esse mandamento de amor foi ensinado ao povo judeu enquanto caminhava no deserto à busca da terra prometida. 

O mínimo que o homem pode fazer a Deus é amá-lo com todas as sus forças porque, antes que o homem pensasse ou aprendesse amar Deus, Ele já o amava desde toda a eternidade.

O homem, amando ao Senhor de todo o seu coração, não está fazendo favor nenhum, muito pelo contrário, está apenas retribuindo, e muito mal e com extrema imperfeição o imenso amor que o Senhor tem por todos os filhos seus. Jesus Cristo foi o modelo de como se deve amar o Pai; viveu para nos ensinar como devemos amar. Muitos seguiram Jesus por amor, convicção, fé.  

Outros o seguiam por interesse, para que as doenças lhes fossem curadas. Mas existiam também aqueles que se julgavam os doutores da lei de Deus, seguiam a Jesus apenas para não deixá-lo em paz e para observar se ele não cometia alguma falha, falasse alguma coisa que contrariasse a lei de Moisés que fora ditada pelo Senhor para poder denunciá-lo, prendê-lo a fim de que não mais doutrinasse e ensinasse ao povo o caminho da justiça. 

Esses doutores da lei, também conhecidos como escribas ou fariseus não perdiam oportunidade de tentarem Jesus e fazer-lhe perguntas capciosas para ver se ele caísse em alguma contradição. Certa vez, estando  Jesus em discussão com os fariseus,  e, “Um dos escribas que ouvira a discussão, reconhecendo que (Jesus) respondera muito bem, perguntou-lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”  Jesus respondeu: “O primeiro é: Ouve, ó Israel, o Senhor Nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força.” (Mc 12,28-30).

Aquele escriba tinha a obrigação de conhecer esse mandamento porque estava contido na lei de Moisés que ele próprio tinha que obedecer e ensinar ao povo, mas Jesus não para por aí e dilata esse mandamento para mostrar ao escriba e para todos os homens que o  amor que se dedica a Deus não tem nenhum valor se esse amor não atingir também todos os irmãos, e diz: “O Segundo (mandamento)é este: amarás o teu  próximo como a ti mesmo.  Não existe outro mandamento maior que esses.” (Mc 12,31).

O escriba certamente ficou admirado com a resposta de Jesus e, talvez, contra a sua vontade ou quem sabe, tocado pela graça  e inspirado pelo Espírito de Deus, porque o Espírito sopra onde, quando e como quer, disse a Jesus: “Muito bem, Mestre, tens razão de dizer que ele é o único e não existe outro além dele, e amá-lo de todo o coração, de toda a inteligência e com toda a força e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.” (Mc 12,32-33 ).

Aquele homem, que não era um seguidor de Jesus, teve de se curvar ante a sabedoria infinita do Divino Mestre e reconhecer que, se o homem não amar Deus através do seu irmão, o seu amor não tem valor, ”e Jesus, vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: “Tu não estás longe do reino de Deus.” (Mc 12,34).

E agora, nós, que nos dizemos cristãos, que nos rotulamos seguidores de Jesus Cristo, entendemos bem esse mandamento de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos?”  Temos a certeza e a convicção que somente chegaremos a Deus se for através do nosso irmão? Chegaremos aos Senhor amando o irmão, convivendo harmoniosamente com o próximo, respeitando os seus direitos, os seus pensamentos e trabalhando para mais nos melhorar nas coisas do Senhor e com isso ajudar a melhorar a todos os que nos circundam.

Mas nós, que pertencemos ao Senhor e buscamos mais e melhor entendermos a sua mensagem através das Escrituras Sagradas, e que  nos dizemos seguidores dos ensinamentos do Senhor Jesus, ainda não entendemos,  depois de dois mil anos de ensinamentos, que o maior de todos os mandamentos é amar ao Senhor sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.  Aquele escriba entendeu o que Jesus quis dizer  com  ”amar a Deus “  e depois “amar o próximo”  e, bem por isso, “Jesus, vendo que ele respondera com inteligência, disse-lhe: “Tu não estás longe do reino de Deus.”  (Mc 12.34). Fica no ar a pergunta: Entendemos a profundidade e a magnitude desse mandamento? 

Se conversássemos com Jesus a respeito disso, ele também nos diria: “Você não está longe do reino de Deus?” Quem poderá nos responder isso com exatidão é o nosso modo de vida; nós podemos nos enganar, ele não... “...Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento.” (Lc 12,27). “...Amarás o teu próximo como a ti mesmo...  Não existe outro mandamento maior que esses.” (Mc 12,31). “Caríssimos, se Deus assim nos amou, devemos nós também amar-nos uns aos outros.  Ninguém jamais contemplou a Deus.  Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é levado à perfeição.”  (1Jo 4,11-12). E João,  o Apóstolo do Amor, insiste no amor que devemos ter a Deus, e, através desse amor, amar o irmão:  “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois  O AMOR E DEUS, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.  Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque DEUS É AMOR.” (1Jo 4,7-8).

domingo, 12 de setembro de 2021

 

“QUEM DIZEM OS HOMENS QUE EU SOU? [...] E VOCÊ, QUEM DIZ QUE SOU?” [...]

“SE ALGUÉM QUER ME SEGUIR, RENUNCIE A SI MESMO, TOME A SUA CRUZ E ME SIGA”. (Mc 8,27B.29.34b).

 

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; Leituras Is 50,5-9; Sl 114; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35.

 

Diácono Milton Restivo

 

O texto do Evangelho deste domingo se divide em duas partes bem distintas.

Na primeira parte Jesus faz umas perguntas e Pedro fala em nome da comunidade dos discípulos e afirma que Jesus é o Messias libertador que Israel esperava.

Na segunda parte Jesus explica aos discípulos que a sua missão messiânica deve ser entendida à luz da cruz, isto é, como dom da vida aos homens, por amor, antecipando-se ao mandamento do amor do qual ele falaria no Evangelho de João:

·         “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos.” (Jo 15,12-13). 

A maneira como se desenrola o fato é interessante. A pedagogia do relato é única.

Primeiro Jesus faz uma pergunta bastante inocente, diríamos, inofensiva:

·         “quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27b).

As respostas aparecem até inconsequentes, pois esta pergunta, de tão inocente que é, não exige compromisso; afinal de contas, são os outros que devem achar: é o famoso “dizem que”. 

Mas a segunda pergunta é comprometedora:

·         “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mc 8,29).

Jesus dirige-se diretamente àqueles com quem estava conversando, aos que estavam ao seu redor, aos seus discípulos e aos mais próximos, os apóstolos.

Agora a resposta exige responsabilidade, compromisso e adesão, pois quem responde em nome pessoal e não em nome dos outros, se compromete!

A primeira parte (Mc 8,27-30) começa com Jesus questionando os discípulos, fazendo duas perguntas: o que é que os outros dizem dele e o que é que os mais próximos pensam dele.

Segundo os seus discípulos, os outros vêem Jesus em continuidade com o passado:

·         “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. (Mc 8,28).

Pela resposta os homens não entenderam, ainda, a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade.

Reconhecem apenas que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão, assim como os profetas do Antigo Testamento. Não vêem e nem vão, além disso.

Na perspectiva dos homens descompromissados Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que escutou e atendeu aos apelos de Deus e que se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes dele, e como tantos outros que virão, depois dele.

Então Jesus parte para a segunda pergunta, e essa direcionada diretamente aos seus mais íntimos:

·         “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mc 8,29a).

Pedro não se faz de rogado e se faz porta-voz da comunidade dos discípulos e, como tantas outras vezes fizera, fala em nome de todos e resume o sentimento da comunidade do Reino dizendo:

·         “Tu és o Messias”. (Mc 8,29b).

Dizer que Jesus é o Messias, o Cristo, o Ungido, significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu povo e para lhe oferecer a salvação definitiva.

A resposta de Pedro ia de encontro com a verdade.

No entanto, podia dar entendimento a graves equívocos, numa situação em que o título de Messias, principalmente para o povo da época, estava conotado com esperanças político-nacionalistas.

Se se espalhasse que Jesus era o Messias como o povo entendia que fosse um libertador, que arregimentaria exércitos para tirar o povo da opressão dos povos que o dominava, na situação presente os romanos. Isso iria causar um grande alvoroço em todo o território.

Por isso, os discípulos recebem ordens taxativas e expressas de Jesus para não falarem disso a ninguém:

·         “E então Jesus proibiu severamente que eles falassem a alguém a respeito dele.” (Mc 8,30). 

Era preciso antes deixar claro, depurar e completar a catequese ensinada por Marcos em seu Evangelho sobre o Messias e a sua missão para evitar perigosos equívocos.

É isso que Jesus vai fazer, logo em seguida, na segunda parte do texto.

Ai entramos na segunda parte do texto, Mc 8,31-35, onde encontramos duas questões.

A primeira questão, Marcos 8,31-33, é a explicação dada pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela cruz; a segunda, Marcos 8,34-35, é uma instrução sobre o significado e as exigências de ser discípulo de Jesus.

Na primeira questão Jesus passa a explicar o que quer dizer ser o Messias:

·         “Em seguida, Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar depois de três dias’. E Jesus dizia isso abertamente”. (Mc 8,31,32a).

Ser Messias não era ser glorioso, triunfante e poderoso conforme os critérios deste mundo.

Muito pelo contrário. Ser Messias era ser fiel à sua vocação como servo de Yahweh. Era ser preso, torturado e assassinado. Era dar a vida em favor de muitos.

Jesus usa o título messiânico “Filho do Homem” usado por Daniel:

·         “Em imagens noturnas, tive esta visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem”. (Dn 7,13).

Jesus não veio ao mundo para cumprir uma missão de triunfos e de glórias humanas, mas para obedecer ao designo do Pai de salvação da humanidade e demonstrar o grande amor do Pai pelos homens e, por isso, Jesus vem oferecer a sua vida em dom de amor aos homens:

·         “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por ele. Quem acredita nele, não está condenado; mas quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus”. (Jo 3,16-18).

O ponto alto da catequese de Marcos no seu Evangelho é a afirmativa do centurião romano junto da cruz:

·         “De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus”. (Mc 15,39b).

Se se fosse perguntado ao centurião romano, para ele, quem era Jesus, com certeza, depois do que ele havia presenciado no Calvário, ele diria, sem medo de errar, que Jesus “era mesmo Filho de Deus” e ponto final.

Depois que Jesus passou a explicar o que quer dizer ser o Messias, Pedro se mostra indignado e em desacordo com este final, tendo a audácia de repreender o Mestre, e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direção ao seu destino de cruz:

·         “Então Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo.” (Mc 8,32b).

A oposição de Pedro e, obviamente, dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade apostólica, considerando que ele falava em nome da comunidade dos discípulos, significa que a compreensão do mistério de Jesus por todos ainda é muito imperfeita.

Para Pedro e para a comunidade dos discípulos, a missão do “Messias, Filho de Deus” tinha que ser uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro e de todos, que é a lógica do mundo, a vitória não pode estar na cruz que se concretiza no dom da vida, e sim na glória que o mundo oferece. Jesus dirige-se a Pedro, também com indignação e com muita dureza:

·         “Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: ‘Fique longe de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens”. (Mc 8,33).

É preciso que os discípulos corrijam o que pensam de Jesus e do plano do Pai que Jesus vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio. O plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas consequências:

“Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16),

Por essa razão a cruz é a expressão mais radical.

Ao pedir a Jesus que não embarque nos projetos do Pai, Pedro está repetindo as tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério no deserto depois de seu batismo (cf. Mc 1,13).

É por isso que Jesus responde a Pedro:

·         “Fique longe de mim, satanás!”.

Jesus já havia tido em sua vida um satanás que, no deserto, tentou induzi-lo a ignorar os planos do Pai; não podia suportar um segundo satanás que tentava afastá-lo do que o Pai havia determinado.

As palavras de Pedro têm por objetivo desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que o impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus.

Depois de anunciar a sua missão, que será cumprida em obediência ao plano do Pai no dom da própria vida em favor dos homens, Jesus convida seus discípulos a seguir um percurso semelhante:

·         “Então Jesus chamo a multidão e os discípulos. E disse: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la. Com efeito, o que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua própria vida? Que é que um homem poderia dar em troca da própria vida?” (Mc 8,34-37). 

Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no caminho do amor, da entrega e do dom da vida.

O que significa, exatamente, renunciar a si mesmo? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a autossuficiência dominem a vida.

O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheio às lutas e reivindicações dos outros homens, mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos. Significa renunciar ao seu egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros.

O cristão não pode viver preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança, de bem estar, de domínio, de êxito, de triunfo.

A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte; “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” significa a entrega total da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida de forma total e completa por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.

No final desta instrução Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a lógica da cruz. Convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la:

·         “Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la. Com efeito, o que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua própria vida? Que é que um homem poderia dar em troca da própria vida?” (Mc 8,35-37).

Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassou; mas ganhou a vida em plenitude, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas, e por isso Jesus disse para que veio:

·         “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10,10).

O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. Por isso, o cristão não deve ter medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado.

Todos os evangelistas, nos seus respectivos Evangelhos, retratam o que ele, evangelista, e a sua comunidade, atestam quem seja Jesus.

Marcos diz logo no início quem é Jesus para ele e para a sua comunidade:

·         “Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus”. (Mc 1,1).

No Evangelho de Mateus, Jesus aparece como o Senhor glorificado e celebrado na sua comunidade. Jesus é o

·         “Deus conosco”, o “Emanuel”. (Mt 1,23).

Lucas não conheceu pessoalmente Jesus. Apresenta-o como o Senhor glorificado. Lucas é o único que chama a Jesus o Senhor, quando fala dele. Fala mais vezes de Jesus como rei.

João diz que Jesus é;

·         “o bom pastor... que dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10,11);

·         “o pão da vida…” (Jo 6,48);

·         “a ressurreição e a vida”. (Jo 11,25);

·         “a luz do mundo…” (Jo 8,12);

·         “o caminho, e a verdade, e a vida”. (Jo 14,6).

E muito mais.

Nos Evangelhos os evangelistas, por várias pessoas, dão vários testemunhos sobre quem é Jesus. O velho Simão, quando a apresentação do menino Jesus no templo, agradece:

·         “Simeão tomou o menino nos braços e louvou a Deus, dizendo: ‘Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel’.” (Lc 2,28-30).

João Batista se humilha ao falar de Jesus porque sabe de quem está falando: 

·         “Depois de mim vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias. Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo”. (Mc 1,7), e

·         “convém que ele cresça e que eu diminua!” (Jo 3,30).

Marta, por ocasião da ressurreição de seu irmão, Lázaro:

·         “Sim, Senhor. Eu acredito de que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo.” (Jo 11,27).

Pedro, falando por todos os discípulos e apóstolos:

·         “Não existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos.” (At 4,12), e

·         “A quem iremos Senhor? Tu tens palavra de vida eterna. Agora nós acreditamos e sabemos que tu és o santo de Deus.” (Jo 6,68).

Jesus também tinha um testemunho a dar de si mesmo. Ele mesmo disse:

·         “Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é válido, porque eu sei de onde venho e para onde vou. [...] Eu dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou dá testemunho de mim.” (Jo 8,14.18);

·         “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre.” (Jo 11,25-26);

·         “Eu sou o pão da vida…” (Jo 6,48); “Eu sou a luz do mundo…” (Jo 8,12);

·         “Eu sou o bom pastor… que dá a vida pelas suas ovelhas…” (Jo 10,11);

·         “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14,6).

·         “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mt 16,15);

·         “Você diz isso de você mesmo ou foram os outros que disseram isso de mim?” (Jo 18,34).

Ou como seria dizer: A opinião é sua, ou é de alguém que você tenha ouvido? 

Qual é o testemunho que hoje damos de Jesus? Não há necessidade de responder com palavras bonitas: o importante é refletir no coração e o que for dito deve corresponder à verdade e reproduzir a sinceridade do coração!

Para você, quem é Jesus?