XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – B; Cor – Verde; – Leituras: Dn
12,1-3; Sl 15; Hb 10,11-14.18 – Mc 13,24-32.
"O CÉU E A TERRA PASSARÃO, MAS AS
MINHAS PALAVRAS NÃO PASSARÃO”.
Mc 13, 24-32
Diácono Milton Restivo
A primeira leitura de liturgia deste domingo traz o
profeta Daniel evocado nas liturgias, de uma maneira especial quando o tema é
escatologia, isto é, quando o assunto aborda o destino último do homem ou sobre
o destino final do universo. Escatologia é a
denominação teológica sob a qual se estudam as versões sobre o final dos
tempos. O termo deriva do adjetivo grego (escaton = último, afastado, extremo).
Finalmente, escatologia é a ciência das coisas dos últimos tempos.
A escatologia é um elemento importante no messianismo
pregado por Jesus.
A liturgia dos dois últimos domingos do tempo comum
vai abordar esse tema neste e, no próximo domingo, é focado o apocalipse de
Daniel. O livro de Daniel leva a crer que ele, Daniel, nasceu na Judéia em
torno do ano 622 aC.
Era um jovem quando se tornou prisioneiro e foi deportado, com o povo, para a
Babilônia no ano 605/6 aC. Esse era só o começo do cativeiro babilônico e da
devastação da nação judaica. Babilônia estava localizada no Rio Eufrates,
próxima à cidade atual de Bagdá no Iraque. Segundo a narrativa, Daniel estava
entre os primeiros cativos levados de Jerusalém para a Babilônia e continuou lá
durante o período de setenta anos, tempo em que os israelitas estiveram em
cativeiro:“O país inteiro será entregue
à destruição e desolação, e o povo ficará escravo do rei da Babilônia durante
setenta anos. Depois de completados os setenta anos, eu castigarei o rei da
Babilônia e seu povo...”. (Jr 25,11ss; Dn 1,1-21;10,1).
O rei de Babilônia, Nabucodonosor, atacou Jerusalém
por três vezes. A primeira vez em 605 aC, quando aprisionou um seleto grupo de
cativos que tinha profissões e conhecimentos especializados e rendosos, onde
estavam Daniel e seus três amigos: Sidrac, Misac e Abdênago que, conforme
consta em Daniel, capítulo 3, foram condenados a serem jogados na fornalha
ardente de onde saíram ilesos e onde entoaram o chamado “canto dos três jovens” (Dn 3,51-90) que, infelizmente, esse canto,
como alguns outros livros que constam da Bíblia católica, não faz parte da
Bíblia dos nossos irmãos evangélicos e protestantes. Esse canto dos três jovens
é costumeiramente recitado na Liturgia das Horas. Houve mais dois ataques de
Nabucodonosor na Judéia (597 e 586
aC). Ao final do terceiro ataque, que resultou na
invasão de Jerusalém, Nabucodonosor derrubou a cidade e destruiu por completo o
Templo. Determinado a fazer com que nunca mais houvesse outra rebelião,
destruiu Jerusalém e o Templo completamente.
Neste último ataque todos os habitantes foram levados como escravos para
a Babilônia.
Daniel é mostrado como um homem de fé profunda e
persistente, e foi abençoado por Deus por causa dessa fé; serviu como
estadista, conselheiro e profeta de Deus junto aos reis da Babilônia e mais
tarde aos reis dos medos e dos persas. Anunciou destemidamente aos reis ateus
que Deus imperava nos reinos dos homens. O livro trata do conflito entre o
reino de Deus e os reinos do mundo. Os capítulos de 7 a 12 de Daniel são
essencialmente proféticos. Traçam um esboço do surgimento e queda dos grandes
impérios mundiais, desde os dias de Daniel até o final da história humana. E, é
claro, a ênfase principal é sobre o tempo do fim ou o fim dos tempos.
Daniel, durante o domínio romano, profetizou que
haveria uma grande catástrofe: “será uma
hora de grandes apertos, tais como jamais houve, desde que as nações começaram
a existir, até o tempo atual. [...] Muitos
que dormem no pó despertarão; uns para a vida eterna, outros para a vergonha e
a infâmia eternas”. (Dn 12,1.2). Jesus confirmou esta profecia quando falou
sobre a destruição de Jerusalém: “Porque
neste dia haverá uma tribulação como nunca houve, desde o início da criação
feita por Deus, até agora; e nunca mais haverá outra igual”. (Mc 13,19; Mt
24,21). Jesus ligou a profecia que fizera da destruição de Jerusalém com a
profecia de Daniel: “Quando vocês virem a
abominação da desolação da qual falou o profeta Daniel, estabelecida no lugar
onde não deveria estar...”. (Mt 24,15; Lc 21,20-22). Os muitos profetas do
Antigo Testamento profetizaram, cada um a seu modo, a escatologia, e já haviam
transmitido ao povo os oráculos de Yahweh a respeito desses acontecimentos: “Acontecerá naquele dia - oráculo de Yahweh
- que eu farei o sol declinar em pleno meio-dia e escurecerei a terra em um dia
de luz.” (Am 8,9); “Eis o dia de
Yahweh, que vem implacável, e com ele o furor ardente da ira, reduzindo a terra
à desolação e extirpando dela os pecadores. Com efeito, as estrelas do céu e
Orion não darão a sua luz. O sol se escurecerá ao nascer, e a lua não dará a
sua claridade.” (Is 13,9-10); “Erguei
ao céu os vossos olhos, olhai para a terra cá em baixo, porque os céus se
desfarão como a fumaça, e a terra se desgastará como uma veste; os seus
habitantes perecerão como mosquitos... (Is 51,6); “Porque eis que vem o dia, que queima como forno. Todos os arrogantes e
todos aqueles que praticam a iniquidade serão como palha; o Dia que vem os
queimará - disse Yahweh dos Exércitos - de modo que não lhes restará nem raiz
nem ramo.” (Ml 3,19).
Em todo o capítulo 13 de Marcos nota-se um sermão de
Jesus a respeito do fim. Todo esse capítulo se relaciona com a expectativa do
fim. Em Marcos 13,24-27 vê-se um discurso profético e escatológico de Jesus. Em
primeiro lugar Jesus fala de uma catástrofe cósmica. Em Marcos 13,30 o Reino se
estabelecerá a qualquer momento. E, se voltarmos a Marcos 13,7-10 Jesus afirma
que, depois de terríveis coisas que acontecerão, seus discípulos serão levados
aos tribunais por causa do seu nome. Mas é necessário que o Evangelho seja
pregado a todas as nações, e ai virá o fim.
A escatologia de Jesus se conhece pelo sermão arrolado
nos capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus. Mais resumidamente, o sermão
escatológico de Jesus se repete em Marcos 13,1-37 e em Lucas 21,5-38. Nessas passagens Jesus descreve o fim dos tempos sobre um
fundo que se parece com a destruição de Jerusalém; ao mesmo tempo se refere ao
Messias, sem afirmar ser ele mesmo tal personagem, de sorte a desenrolar-se
todo o contexto em linguagem enigmática: "Porque
o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá
a cada um de acordo com a própria conduta. Eu garanto a vocês: alguns daqueles
que estão aqui morrerão sem terem visto o Filho do Homem vindo com o seu
Reino." (Mt 16,27-28): "Se
alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras diante dessa geração adúltera
e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória
de seu Pai com seus santos anjos". (Mc 8,38-39); "Se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, o Filho do
Homem também se envergonhará dele quando vier na sua glória, na glória do Pai e
dos santos anjos. Eu garanto a vocês: alguns aqui presentes não morrerão sem
ter visto o Reino de Deus". (Lc 9, 26-27). Este discurso de
Jesus foi proferido no Monte das Oliveiras, na semana de sua morte. Está
registrado nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e
Lucas): Mateus oferece mais detalhes nos capítulos 24 e 25; Marcos
utiliza todo o capítulo 13 e Lucas o apresenta em versículos esparsos: 17,20-37
e 21,5-36.
Os textos nos apresentam diversas dificuldades de
interpretação, pois estão saturados com conceitos apocalípticos, referências
veladas a possíveis eventos históricos, e referências tiradas de escritos do
tempo do Antigo Testamento. Porém, a sua mensagem central fica clara – o
triunfo final do Filho do Homem, mandando por Deus para estabelecer o seu
Reino.
A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das
nuvens, é tirada do livro de Daniel: “Em
imagens noturnas, tive essa visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um
filho do homem. Chegou até perto do Ancião e foi levado à sua presença. Foi-lhe
dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O
seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino é tal que
jamais será destruído”. (Dn 7,13-14).
Jesus confirma o seu poder, glória e reino na sua
despedida aos apóstolos: “Toda autoridade
foi dada a mim no céu e sobre a terra”. (Mt 28,18); “Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles”. (At
1,9); “Ele foi exaltado à direita de
Deus, recebeu do Pai o Espírito prometido e o derramou...”. (At 2,33); “Ele a manifestou em Cristo, quando o
ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita no céu, muito acima de
qualquer principado, autoridade, poder e soberania, e de qualquer outro nome
que se possa nomear, não só no presente, mas também no futuro. De fato, Deus
colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e o colocou acima de todas as coisas,
como Cabeça da Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que plenifica
tudo em todas as coisas”. (Ef 1,20-23). Este governo de Cristo continuará
eternamente: “Durante este último
reinado, o Deus do céu fará aparecer um reino que nunca será destruído. Será um
reino que não passará para as mãos de outro povo, mas ao contrário, humilhará e
liquidará todos os outros reinos, enquanto ele mesmo continuará firme para
sempre”. (Dn 2,44); “Já que recebemos
um reino inabalável, conservemos bem essa graça”. (Hb 12,28). Em todos os
tempos chegou-se a predizer o tempo quando aconteceria essa segunda vinda do
Senhor, sendo marcado o dia e até mesmo a hora, mas Jesus descarta essa
possibilidade: “Quanto a esse dia e a
essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho, somente o Pai é
que sabe”. (Mt 24,36). Jesus adverte, apenas, que pode acontecer a qualquer
momento: “Eis que eu venho em breve”.
(Apo 22,7).
Pedro nos diz que a vinda do Senhor, pela segunda vez,
será inesperada como vem o ladrão à noite: “O
Dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus se dissolverão com
estrondo, os elementos se derreterão, devorados pelas chamas, e a terra
desaparecerá com tudo o que nela se faz”. (2Pd 3,10). “Pois este dia cairá como armadilha, sobre todos aqueles que habitam a
face de toda a terra”. (Lc 21,35).
Jesus disse que viria “... sem demora, e
comigo trago o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho”
(Apo 22,12), e, por isso, orienta que haja vigilância: “O que eu digo a vocês, digo a todos: fiquem vigiando”. (Mc 13,37).
A geração
de Jesus realmente viveu esses momentos terríveis e essa experiência danosa quando
da destruição do Templo e de Jerusalém no ano 70 pelos romanos, a ruína total
da nação judaica, quando milhares de judeus foram massacrados e crucificados e
outros tantos feitos prisioneiros e escravos: “Em verdade vos digo, essa geração não passará até que tudo isso
aconteça”. (Mc 13,30). Nessa
oportunidade todos os que ficaram vivos e conseguiram fugir, se dispersaram
pelo mundo todo, tendo perdido a terra, a nação, o Templo e, por não ter mais
templo, deixaram de ter o local para os sacrifícios previstos na Lei de Moisés,
perdendo, desta forma, também o sacerdócio. Assim dispersos foram submetidos,
por parte do nazismo, à barbarização na Segunda Grande Guerra Mundial ao que
hoje é conhecido como “Holocausto”, e à tentativa, do extermínio da face da
terra de todos os judeus, matando-os, calculando-se que mais de seis milhões
deles foram mortos entre 1.933 e 1.945.
Depois
disso, somente no ano de 1.948, ao final dessa Grande Guerra, o Estado de
Israel, como nação, começou a existir novamente, mas sem a sua capital,
Jerusalém, que se tornou zona internacional e, bem por isso, sem o local onde
estava construído o Templo, continuando assim sem os holocaustos oferecidos a
Yahweh e, por extensão, sem o sacerdócio.
Na
segunda parte do seu discurso escatológico Jesus conta a parábola da figueira. “Aprendam, pois, da figueira esta parábola:
quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o
verão está perto”. (Mt 13,28). O verão é o prenúncio de uma nova vida. A
vida nova anunciada por Jesus é a aceitação de sua mensagem pelos outros povos,
os gentios e pagãos, já que os judeus, o povo escolhido por Deus no Antigo
Testamento, a rejeitou.
A
fecundidade da mensagem de Jesus continuará existindo, mas não mais naquele
povo cujas instituições não cumpriram a sua missão e estão destinadas a
desaparecer: o Reino de Deus se transferirá para outros povos. O povo judeu não
aceitou Jesus como Filho de Deus e, mais tarde, Paulo se vê obrigado a anunciar
para os outros povos o que foi rejeitado pelos judeus: “Era preciso
anunciar a palavra de Deus, em primeiro lugar para vocês, que são judeus.
Porém, como vocês a rejeitam, e não se julgam dignos da vida eterna, saibam que
nós vamos dedicar-nos aos pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu
coloquei você como luz para as nações, para que leve a salvação até aos
extremos da terra’”. (At 13,46-47) e “Então o Senhor me disse:
Vá! É para longe, é para os pagãos que eu vou enviar você”. (At 22,21).
A
parábola da figueira é tomada da agricultura, que o povo judeu conhecia bem. O
seguidor de Jesus é quem se torna aprendiz da figueira, antecipando os tempos
com a vigilância.
O
discípulo de Jesus é, pois, quem vigia e está pronto a qualquer momento.
A segunda
parábola é do homem que partiu para o estrangeiro e deixou sua casa aos
cuidados dos empregados. A imagem da casa nos faz, portanto, pensar no mundo
inteiro como uma casa que Jesus (o dono da casa que foi para o estrangeiro)
deixou aos nossos cuidados: “ele deixou a
casa, distribuiu a tarefa a cada um dos empregados, e mandou o porteiro ficar
vigiando”. (Mc 13,34). Nesta imensa casa, que é o mundo e que tem um dono
que viajou e está prestes a voltar, há muitas funções, cada um tem a sua, mas
todas elas voltadas para a vida e o funcionamento perfeito da casa em que todos
vivem. Apesar das diferentes funções de comando (porteiro) ou não (empregados),
todos têm em comum a vigilância: “Vigiem,
portanto, porque vocês não sabem quando o dono da casa vai voltar; pode ser à
tarde, à meia noite, de madrugada ou pelo amanhecer. Se ele vier de repente,
não deve encontrá-los dormindo. O que eu digo a vocês, digo a todos: Fiquem
vigiando”. (Mt 13,35-37).
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