terça-feira, 17 de março de 2015

MARIA, FIGURA INSPIRADORA PARA O SEGUIMENTO DE CRISTO

MARIA, FIGURA INSPIRADORA PARA O SEGUIMENTO DE CRISTO


Santo Agostinho disse que Maria fez plenamente a vontade do Pai e por isso é mais para Maria ter sido discípula de Cristo do que Mãe de Cristo (Sermões, 5, 7).
Ela foi proclamada bem-aventurada porque acreditou e porque ouviu e praticou a Palavra. Ao recebê-la em sua casa, Isabel proclamou: “Bendita és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 45). É bendita porque acreditou. Acreditou na promessa de Deus e no Deus da promessa. Acreditou na Palavra de Deus, a meditou em seu coração para transformá-la em vida.
Porque acreditou que o Filho gerado em seu seio é Deus, seguiu-o com total entrega. Assim ela é a primeira na ordem da fé em Cristo, a primeira que o seguiu em termos de tempo e, em termos de qualidade, é a que melhor o seguiu. Ela precedeu e superou a todos no discipulado de Cristo.
Por isso, a afirmação de Cristo de que sua mãe, seus irmãos e suas irmãs e bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática inclui em primeiro lugar sua própria Mãe.
         Ela é bem-aventurada porque mais e melhor acolheu e cumpriu a Palavra, prolongando seu “faça-se em mim” da anunciação (Lc 1, 38).
Sua grandeza está não tanto na sua maternidade física de Cristo, mas na realização do desígnio de Deus encarnado em Jesus, no compromisso radical com o Reino. Sua bem-aventurança maior não consiste tanto na ligação com Jesus por laços de sangue, mas por sua incondicional acolhida e prática da Palavra divina. Daí que ela se torna a figura exemplar, modelar de todo discípulo de Cristo. “Ela é discípula perfeita que se abre à Palavra e se deixa penetrar por seu dinamismo” (DP 296). Nisso está a razão maior de sua bem-aventurança.
A propósito, João Paulo II, na Encíclica sobre a Mãe do Redentor (20), diz: Maria continuava, pois, mediante a fé, a ouvir e a meditar aquela palavra, na qual se tornava cada vez mais transparente, de um modo “que excede todo conhecimento” (Ef 3, 19), a auto-revelação de Deus vivo. E assim, Maria Mãe tornava-se, em certo sentido, a primeira “discípula” do seu Filho, a primeira a quem ele parecia dizer: “Segue-me”, mesmo antes de dirigir este chamamento aos Apóstolos ou a quaisquer outros (cf. Jo 1, 43).
Por sua união com a missão do Filho, o Documento de Puebla (292-293) ressalta que Maria “foi a fiel companheira do Senhor em todos os caminhos. A maternidade divina levou-a a uma entrega total. Foi doação generosa, cheia de lucidez e permanente, unida a uma história de amor a Cristo íntima e santa, uma história única que culmina na glória. Maria, levada ao máximo na participação com Cristo, é íntima colaboradora de sua obra. ... Ela não é apenas o fruto admirável da redenção; é também sua cooperadora ativa. ... Ela nos ensina que a virgindade é uma entrega exclusiva a Jesus Cristo, em que a fé, a pobreza e a obediência ao Senhor se tornam fecundas pela ação do Espírito.”
Por ter assim acompanhado seu Filho, o Cardeal vietnamita François Xavier Nguyen Van Thuan, que passou 14 anos na prisão pelo regime comunista, diz que “Maria proferiu um ‘sim’ total, porque acreditou na Palavra, deixou-se plasmar pela mão de Deus e conduzir por ele por onde quer que ele a levou: no Egito, em Nazaré, em Caná, no Gólgota, no Cenáculo à espera do Espírito Santo” ((TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA, quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia, Cidade Nova, p. 206)
Como discípula do Filho, no início da pregação de Jesus, em Caná da Galiléia (Jo 2, 1-12), testemunhou sua fé absoluta nele. Pediu e alcançou o “sinal”, pelo qual Ele “manifestou sua glória e seus discípulos creram nele”. A Mãe, fiel discípula, de certa forma, gerou a fé dos novos discípulos do Filho.
Em Pentecostes, esteve reunida com os mesmos discípulos, aguardando em oração, a manifestação do Espírito Santo. Com certeza, os acompanhou nos passos iniciais da evangelização, como acompanhou seu Filho, amparando-os com seu carinho maternal e seu testemunho fiel de discípula. Como em Caná, continuava a gerar a fé de novos discípulos do Filho. Como em seu início, ela continua a ajudar a Igreja a avançar na missão. Ela continua a cuidar da qualidade de nosso seguimento, pois, segundo o Documento de Puebla (290), “enquanto peregrinamos, Maria será a mãe e a educadora da fé (LG 63). Ela cuida que o Evangelho nos penetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade.” “Todo serviço que Maria presta aos homens consiste em abri-los ao Evangelho e convidá-los a obedecer-lhe: ‘Fazei o que Ele vos disser’ (Jo 2, 5 – DP 300). Ou, no dizer de São Marcelino Champagnat, fundador dos maristas, “Maria nos conduz sempre a Jesus, porque o leva sempre nos braços ou no coração”.
O Documento de Santo Domingo (15) proclama-a, por isto, por ser mulher de fé, plenamente evangelizada, como a mais perfeita discípula e evangelizadora; modelo de todos os discípulos e evangelizadores por seu testemunho de oração, de escuta da Palavra de Deus e de pronta e fiel disponibilidade ao serviço do Reino até a cruz. O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja (LG 65) diz que ela refulge para toda a comunidade como exemplo de virtudes.
Quatro comparações ressaltam a missão de Maria de orientar-nos para Cristo. Antiga tradição a invoca como “Estrela da manhã”: anuncia a chegada de um novo dia com o despontar do sol, que para nós é Cristo. Outra a invocação é “Estrela do mar”: Maria guia os navegantes em sua travessia perturbada por ventos contrários e tempestades. O Papa Paulo VI a declarou “Estrela da Evangelização”: sua razão de ser é apontar para Cristo. A estrela indicou o caminho aos sábios (reis magos) do Oriente para chegarem ao Menino em Belém. Maria é a estrela que ajuda as pessoas a se encontrarem com Ele. Alguns místicos a compararam com a lua porque recebe a luz de Cristo, o Sol da justiça, e a reflete para a humanidade.
Por sua atitude fundamental de abertura e acolhida ao chamado do Pai, por sua fidelidade e colaboração com Cristo, Maria é figura inspiradora para o/a discípulo/a de Jesus. Com ela, segundo o cardeal vietnamita François Xavier Nguyen Van Thuan (obra citada, p. 210), aprende a realizar com exatidão o perfil que o Concílio Vaticano II dela elaborou:
viver plenamente no Mistério: amor acolhido;
ser comunhão em todos os aspectos de sua vida: amor correspondido;
abrir-se ao mundo em missão: amor compartilhado.

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