MARIA,
FIGURA INSPIRADORA PARA O SEGUIMENTO DE CRISTO
Santo Agostinho
disse que Maria fez plenamente a vontade do Pai e por isso é mais para Maria
ter sido discípula de Cristo do que Mãe de Cristo (Sermões, 5, 7).
Ela foi
proclamada bem-aventurada porque acreditou e porque ouviu e praticou a Palavra.
Ao recebê-la em sua casa, Isabel proclamou: “Bendita és tu que creste, pois se
hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 45). É
bendita porque acreditou. Acreditou na promessa de Deus e no Deus da promessa.
Acreditou na Palavra de Deus, a meditou em seu coração para transformá-la em
vida.
Porque
acreditou que o Filho gerado em seu seio é Deus, seguiu-o com total entrega.
Assim ela é a primeira na ordem da fé em Cristo, a primeira que o seguiu em
termos de tempo e, em termos de qualidade, é a que melhor o seguiu. Ela
precedeu e superou a todos no discipulado de Cristo.
Por isso, a
afirmação de Cristo de que sua mãe, seus irmãos e suas irmãs e bem-aventurados
são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática inclui em primeiro lugar
sua própria Mãe.
Ela é bem-aventurada porque mais e melhor acolheu e cumpriu a
Palavra, prolongando seu “faça-se em mim” da anunciação (Lc 1, 38).
Sua grandeza
está não tanto na sua maternidade física de Cristo, mas na realização do
desígnio de Deus encarnado em Jesus, no compromisso radical com o Reino. Sua
bem-aventurança maior não consiste tanto na ligação com Jesus por laços de
sangue, mas por sua incondicional acolhida e prática da Palavra divina. Daí que
ela se torna a figura exemplar, modelar de todo discípulo de Cristo. “Ela é
discípula perfeita que se abre à Palavra e se deixa penetrar por seu dinamismo”
(DP 296). Nisso está a razão maior de sua bem-aventurança.
A propósito,
João Paulo II, na Encíclica sobre a Mãe do Redentor (20), diz: Maria
continuava, pois, mediante a fé, a ouvir e a meditar aquela palavra, na qual se
tornava cada vez mais transparente, de um modo “que excede todo conhecimento” (Ef
3, 19), a auto-revelação de Deus vivo. E assim, Maria Mãe tornava-se, em
certo sentido, a primeira “discípula” do seu Filho, a primeira a quem ele
parecia dizer: “Segue-me”, mesmo antes de dirigir este chamamento aos Apóstolos
ou a quaisquer outros (cf. Jo 1, 43).
Por sua união com
a missão do Filho, o Documento de Puebla (292-293) ressalta que Maria “foi a
fiel companheira do Senhor em todos os caminhos. A maternidade divina levou-a a
uma entrega total. Foi doação generosa, cheia de lucidez e permanente, unida a
uma história de amor a Cristo íntima e santa, uma história única que culmina na
glória. Maria, levada ao máximo na participação com Cristo, é íntima
colaboradora de sua obra. ... Ela não é apenas o fruto admirável da redenção; é
também sua cooperadora ativa. ... Ela nos ensina que a virgindade é uma entrega
exclusiva a Jesus Cristo, em que a fé, a pobreza e a obediência ao Senhor se
tornam fecundas pela ação do Espírito.”
Por ter assim
acompanhado seu Filho, o Cardeal vietnamita François Xavier Nguyen Van Thuan,
que passou 14 anos na prisão pelo regime comunista, diz que “Maria proferiu um
‘sim’ total, porque acreditou na Palavra, deixou-se plasmar pela mão de Deus e
conduzir por ele por onde quer que ele a levou: no Egito, em Nazaré, em Caná,
no Gólgota, no Cenáculo à espera do Espírito Santo” ((TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA,
quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia, Cidade Nova, p.
206)
Como discípula
do Filho, no início da pregação de Jesus, em Caná da Galiléia (Jo 2, 1-12),
testemunhou sua fé absoluta nele. Pediu e alcançou o “sinal”, pelo qual Ele
“manifestou sua glória e seus discípulos creram nele”. A Mãe, fiel discípula,
de certa forma, gerou a fé dos novos discípulos do Filho.
Em Pentecostes,
esteve reunida com os mesmos discípulos, aguardando em oração, a manifestação
do Espírito Santo. Com certeza, os acompanhou nos passos iniciais da
evangelização, como acompanhou seu Filho, amparando-os com seu carinho maternal
e seu testemunho fiel de discípula. Como em Caná, continuava a gerar a fé de
novos discípulos do Filho. Como em seu início, ela continua a ajudar a Igreja a
avançar na missão. Ela continua a cuidar da qualidade de nosso seguimento,
pois, segundo o Documento de Puebla (290), “enquanto peregrinamos, Maria será a
mãe e a educadora da fé (LG 63). Ela cuida que o Evangelho nos penetre
intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de
santidade.” “Todo serviço que Maria presta aos homens consiste em abri-los ao
Evangelho e convidá-los a obedecer-lhe: ‘Fazei o que Ele vos disser’ (Jo 2, 5 –
DP 300). Ou, no dizer de São Marcelino Champagnat, fundador dos maristas,
“Maria nos conduz sempre a Jesus, porque o leva sempre nos braços ou no
coração”.
O Documento de
Santo Domingo (15) proclama-a, por isto, por ser mulher de fé, plenamente evangelizada,
como a mais perfeita discípula e evangelizadora; modelo de todos os discípulos
e evangelizadores por seu testemunho de oração, de escuta da Palavra de Deus e
de pronta e fiel disponibilidade ao serviço do Reino até a cruz. O Concílio
Vaticano II, no documento sobre a Igreja (LG 65) diz que ela refulge para toda
a comunidade como exemplo de virtudes.
Quatro
comparações ressaltam a missão de Maria de orientar-nos para Cristo. Antiga
tradição a invoca como “Estrela da manhã”: anuncia a chegada de um novo dia com
o despontar do sol, que para nós é Cristo. Outra a invocação é “Estrela do
mar”: Maria guia os navegantes em sua travessia perturbada por ventos
contrários e tempestades. O Papa Paulo VI a declarou “Estrela da
Evangelização”: sua razão de ser é apontar para Cristo. A estrela indicou o
caminho aos sábios (reis magos) do Oriente para chegarem ao Menino em Belém.
Maria é a estrela que ajuda as pessoas a se encontrarem com Ele. Alguns
místicos a compararam com a lua porque recebe a luz de Cristo, o Sol da
justiça, e a reflete para a humanidade.
Por sua atitude
fundamental de abertura e acolhida ao chamado do Pai, por sua fidelidade e
colaboração com Cristo, Maria é figura inspiradora para o/a discípulo/a de
Jesus. Com ela, segundo o cardeal vietnamita François Xavier Nguyen Van Thuan
(obra citada, p. 210), aprende a realizar com exatidão o perfil que o Concílio
Vaticano II dela elaborou:
viver
plenamente no Mistério: amor acolhido;
ser comunhão em
todos os aspectos de sua vida: amor correspondido;
abrir-se ao
mundo em missão: amor compartilhado.
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