V DOMINGO DA
QUARESMA
“SE ALGUÉM QUER SERVIR A MIM, QUE ME
SIGA. E ONDE EU ESTIVER, AÍ TAMBÉM ESTARÁ O MEU SERVO”. (Jo 12,26).
Diácono Milton Restivo
Nos Evangelhos Jesus, como sempre fez, não esconde
nada de ninguém e para ninguém.
Jesus jamais disse alguma coisa se referindo ao plano
de Deus referente aos homens e dizendo como se deve viver uma vida
verdadeiramente voltada para Deus e para o próximo, onde escondesse alguma
coisa para não chocar seus ouvintes. Sempre
que falava de como se deve viver para pertencer ao Reino de Deus, Jesus era
claro, preciso e objetivo e jamais usou de meias palavras ou termos dúbios. Jesus
jamais obrigou alguém a seguí-lo, prova disso está nessa sua afirmativa: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23).
Jesus não obriga; ele respeita o livre arbítrio de
cada um e diz: “Se alguém quer vir após
mim...”; e ainda em João: “Se alguém quer servir a mim, que me siga”. (Jo
12,26).
Jesus deixa a decisão para cada um. É necessário “querer” ir após ele, e isso é uma atitude
de livre e espontânea vontade. Mas, mesmo deixando para cada um a escolha de segui-lo ou não, Jesus não se omite quanto às consequências que recairá sobre
as atitudes dos que a tomam, sejam boas ou más: “Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder
a sua vida por causa de mim, esse a salvará.” (Lc, 9, 24).
O velho Simeão, quando da apresentação de Jesus ainda
bebê nos braços sua mãe no Templo de Jerusalém, profetizou: “Eis que este menino foi colocado para a
queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de
contradição.” (Lc 2,34); para a queda daqueles que virariam as costas para
os seus ensinamentos e para o soerguimento dos que aderissem às suas mensagens
e as vivessem intensamente, e, como um sinal de contradição, pois que, Jesus
mesmo afirmou: “Não pensem que vim trazer
paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Vim trazer a divisão entre o filho
e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra.” (Mt 10,34). E, por
essa maneira dura de falar, é que os escribas e fariseus diziam: “Está possuído por Beelzebu.” (Mc 3,22).
Por jamais omitir qualquer coisa e sempre dizer a
verdade, considerando que a verdade, para quem não a assume e a nega incomoda e
dói, Jesus já previa qual seria o seu fim: “O
Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos
sacerdotes e pelos escribas, ser morto...” (Mc 8,31), e acrescenta em João:
“Se o grão de trigo não cai na terra e
não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz fruto. Quem tem apego à sua
vida, vai perdê-la; quem despreza sua vida neste mundo, vai conservá-la para a
vida eterna”. (Jo 12,24-25).
Todos aqueles que se propuserem a seguir Jesus terão o
mesmo destino que ele, e isso Jesus jamais escondeu de ninguém e orientou seus
seguidores, quando disse: “Eu envio vocês
como ovelhas no meio de lobos. Sejam, pois, prudentes como as serpentes, mas
simples como as pombas. Cuidado com os homens. Eles entregarão vocês a seus
tribunais e lhes açoitarão em suas sinagogas. Por minha causa vocês serão
conduzidos diante dos governadores e dos reis. Assim vocês servirão de
testemunho para eles e para os pagãos. [...] O irmão entregará o
seu irmão à morte, e o pai entregará o seu filho. Os filhos levantar-se-ão
contra seus pais e os matarão. Vocês serão odiados por todos por causa do meu
nome.” (Mt 10,16-22).
Jesus é realmente motivo de contradição, conforme
profetizou o velho Simeão; é incrível acreditar que, alguém que seja perseguido,
injuriado, maltratado e açoitado seja bem-aventurado.
Mas é exatamente isso que Jesus afirma: “Bem-aventurados serão vocês, quando lhes
insultarem, quando, por minha causa, lhes perseguirem e disserem falsamente
todo o mal contra vocês. Alegrem-se e exultem, porque será grande a sua
recompensa nos céus.” (Mt 5,11-12), e complementa: “E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou
mãe, ou filhos, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará
a vida eterna.” (Mt 19,29). E, bem por isso, Jesus determina as condições
para quem quiser seguí-lo: “Se alguém
quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois
aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida
por causa de mim e do Evangelho, irá salvá-la. Com efeito, o que aproveita ao
homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua vida? Pois o que daria o homem em
troca de sua vida? De fato, aquele que, nesta geração adúltera e pecadora, se
envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se
envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos e anjos”.
(Mc 8,34-38).
Renunciar-se a si mesmo significa não se preocupar
tanto com os próprios problemas, que talvez não sejam tão grandes e graves como
se imagina; é ir ao encontro do irmão que se encontra no seu leito de dor e o
tira do convívio da sociedade e, às vezes, até do convívio de seus familiares.
Renunciar a si mesmo é parar de reclamar do alto custo
das roupas que se usaria para ir ao baile do clube para ouvir o irmão que
reclama do alto preço do arroz, da carne, do pão, que, pelo seu baixo salário,
o deixa sem condições de abastecer a sua mesa com o mínimo necessário para a
manutenção e o sustento decente de sua família.
Renunciar a si mesmo significa esquecer-se um pouco de
si próprio para se lembrar do irmão necessitado e carente de... Deus...
Renunciar a si mesmo significa abandonar-se à
Providência Divina: “Por isso lhes digo:
não se preocupem com a sua vida quanto ao que haverão de comer, nem com o seu
corpo quanto ao que haverão de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o
corpo mais do que a roupa? Olhem as aves do céu: não semeiam nem colhem, nem
ajuntam em celeiros. E,
no entanto, vosso Pai Celeste as alimenta. Ora, não vocês não valem mais do que
elas? Quem dentre vocês, com as suas preocupações, pode acrescentar um só minuto
à duração da sua vida? E com a roupa, porque andam preocupados? Aprendam dos
lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E no entanto eu lhes asseguro que
nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste
assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará
ele mesmo mais por vocês, homens fracos na fé? Por isso, não andem preocupados,
dizendo: ‘Que iremos comer?’ Ou, ‘Que
iremos beber?’ Ou, ‘que iremos vestir?’ De fato, são os gentios que estão à
busca de tudo isso: o vosso Pai Celeste sabe que vocês têm necessidade de todas
essas coisas. Busquem, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Não se preocupem, portanto, com o
dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia
basta o seu mal.” (Mt 6,25-34).
Para cada dia bastam as suas próprias preocupações, e
cada dia tem as preocupações próprias, por isso Jesus orienta para preocuparmos
com o hoje, com o agora, com o minuto presente, pois que, o próximo minuto já
poderá não nos pertencer.
Se quisermos seguir Jesus, é necessário que tomemos a
nossa cruz de cada dia.
Geralmente achamos a nossa cruz pesada, e sempre
reclamamos disso. E, bem a propósito, vale aqui registrar uma pequena estória.
Certo cidadão vivia reclamando dos seus problemas, da sua cruz. Achava que a
sua cruz era pesada demais e que as dos outros não se comparavam com a sua por
considerá-las leves. Determinado dia foi reclamar com Jesus sobre o peso de sua
cruz, e Jesus, em sua infinita misericórdia e paciência, o leva até um campo
onde estavam depositadas milhares de cruzes, e diz ao reclamante que escolhesse
uma para si. Ele se pôs a procurar uma bem leve, passando por entre gigantescas
cruzes de todos os tamanhos e pesos, até encontrar uma bem pequenina que se
encontrava num canto. Feliz da vida a pega e diz para Jesus: “Senhor eu
troco a minha cruz por essa.” Jesus, então, lhe diz: “Não há como
trocar, meu filho, essa cruz é a sua mesmo, da qual você tanto reclama. Veja
como os seus irmãos têm cruzes muito mais pesadas que a sua, e nenhum deles vem
aqui reclamar de seus pesos porque as aceitam com resignação e amor, e esses
terão a sua recompensa no céu”.
Isso é apenas uma pequena ilustração, mas que serve
para aqueles que só sabem reclamar dos seus problemas, ignorando os problemas dos
irmãos, que resignadamente, aceitam as suas cruzes.
Aceitar o dia como ele é. Problemas, preocupações,
desilusões, sempre as teremos. Faz parte
do nosso dia-a-dia. A nossa cruz de cada dia é a nossa própria vida vivida
minuto a minuto, com todas as suas alegrias e tristezas, realizações e
frustrações, saúde e doença, felicidade e desilusões, e tudo o mais o que a
vida nos oferece a cada momento.
A nossa cruz de cada dia apresenta-se de muitas
maneiras, de vários modos, tamanhos e lugares diversos; mas, qualquer que seja
o seu tamanho e o seu peso, devemos tomá-la com amor, sem reclamar, assim como
fez o próprio Jesus, e, como Jesus, devemos carregá-la rumo ao nosso Calvário,
porque, se não passarmos pelo Calvário, jamais chegaremos à glória da ressurreição.
Pedro, Apóstolo, sem dúvida, estava inspirado pelo
Espírito do Pai quando escreveu: “É
louvável que alguém suporte aflições, sofrendo injustamente por amor de Deus.
Mas que glória há de suportar com paciência, se vocês são bofeteados por terem
errado? Ao contrário, se, fazendo o bem, vocês são pacientes no sofrimento,
isso sim constitui uma ação louvável diante de Deus. Com efeito, para isto é
que vocês foram chamados, pois que também Cristo sofreu por vocês, deixando-lhes
um exemplo, a fim de que vocês sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum
pecado; mentira nenhuma foi achada em sua boca. Quando
injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa nas
mãos daquele que julga com justiça. Sobre o madeiro, levou os nossos pecados em
seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os nossos pecados, vivêssemos para
a justiça. Por suas feridas vocês foram curados, pois estavam desgarrados como
ovelhas, mas agora vocês retornaram ao Pastor e Supervisor de suas almas.”
(1Pd 2,19-25).
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