BEATA LINDALVA JUSTO DE OLIVEIRA – MÁRTIR BRASILEIRA
religiosa Filha da Caridade
Lindalva nasceu em 20 de outubro de 1953, no pequeno
povoado Sítio Malhada da Areia, município de Açu, Rio Grande do Norte. Filha do
segundo matrimonio de João Justo da Fé (viúvo) e Maria Lúcia da Fé, de cujas
núpcias nasceram 12 filhos.
Lindalva, a sexta filha do casal, já dava sinais de uma
especial predestinação divina, pois entregava-se com naturalidade ás práticas
de piedade.
Cresceu como menina normal, de aspecto gracioso, piedosa e
muito sensível para com os pobres, de tal forma que ainda jovem surpreendeu a
família doando as próprias roupas aos necessitados. Transferindo-se para Natal,
estudava e trabalhava para se manter e ajudar a família, e todos os dias
visitava os idosos do Instituto Juvino Barreto.
Após concluir o segundo grau passou a cuidar do pai, idoso
e doente, com todo carinho e paciência. Quando este faleceu, Lindalva, aos 33
anos, entrou para a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo:
queria servir a Cristo nos pobres.
Não foi fácil adaptar-se à nova vida, mas com a graça de
Deus foi progredindo na sua caminhada espiritual, passo a passo, renúncia após
renúncia. Dizia sempre: “Amo mais a Jesus Cristo do que a minha família”.
Foi superando as etapas de sua formação religiosa na
prática das virtudes, no amor à oração, à obediência alegre, sincera e
compreensiva. Lutava para corrigir seus próprios defeitos e crescer no caminho
da perfeição. Suas superioras estavam muito contentes com ela, notando sua
disponibilidade e grande amor aos pobres.
Terminado o período do noviciado foi enviada para o Abrigo
Dom Pedro II, em Salvador, Bahia, recebendo o ofício de coordenar uma
enfermaria com 40 idosos, sendo responsável pela ala do pavilhão masculino.
Fez curso de Enfermagem para poder dedicar-se melhor aos
seus doentes e idosos. À caridade unia o zelo espiritual por seus assistidos,
procurando levá-los para Cristo pela boa palavra.
Sua conduta era impecável, alegre, pura, modesta e caridosa
para com todos. Encontrava ainda tempo para visitar os pobres à domicílio, e
procurava meios para suprir suas necessidades materiais. Lindalva sentia-se
feliz e realizada no seu trabalho.
Seu martírio
Toda santidade passa pelo crisol do sofrimento. Em 1993,
devido a uma recomendação, o abrigo acolheu entre os anciãos Augusto da Silva
Peixoto, homem de 46 anos. Ele passou a assediar Ir. Lindalva, e chegou até
mesmo a manifestar-lhe suas intenções.
A irmã Lindauva começou a ter medo, e procurou afastar-se o
mais que pode. Confidenciou-se com outras irmãs e refugiava-se na oração. Seu
amor aos velhinhos a mantiveram no abrigo, e chegou a dizer a uma irmã:
“prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”.
Por não ser correspondido, Augusto foi à Feira de São
Joaquim na Segunda-feira Santa e comprou uma peixeira, que amolou ao chegar no
abrigo. Não dormiu na noite de quinta para sexta-feira santa.
De manhã, Irmã Lindalva havia participado da Via-Sacra, ao
raiar da aurora, na paróquia da Boa Viagem. Ao regressar, foi servir o café da
manhã aos idosos. Subiu as escadarias da enfermaria, como se estivesse subindo
para o calvário, e pôs-se a servir pão com café e leite para os internos da ala
masculina. Todos eles estavam em fila, esperando a vez.
A irmã, compenetrada com o café, tinha a cabeça baixa
quando sentiu um toque no ombro: virou-se e teve tempo apenas de ver o rosto
enraivecido do homem que conhecera havia poucos meses... Em seguida, foram
dezenas de facadas, pontilhadas por todo o corpo. Tudo diante do semblante
horrorizado dos velhinhos que assistiam à cena bem em frente à mesa de café.
Um senhor ainda tentou evitar a tragédia, avançando sobre o
assassino. Mas Augusto Peixoto estava decidido e, ameaçou de morte quem ousasse
se aproximar.
Terminado o crime, foi esperar a polícia sentado em um
banco na frente da casa. Do abrigo, ele foi para Casa de Detenção e,
posteriormente, parou no Manicômio Judiciário.
Passados dez anos, os laudos psiquiátricos indicam que ele
já não apresenta mais perigo à sociedade. Mas Augusto não tem para onde ir, e o
manicômio é sua única casa. Hoje se diz arrependido, e não sabe como foi capaz
de fazer aquilo.
Os médicos legistas contaram no corpo de Ir. Lindalva 44
perfurações.
Naquela sexta-feira santa, enquanto Cristo morria na cruz,
ela morria na sua enfermaria. Cristo levou 39 açoites, e com as 5 chagas, dos
pés, mãos e costado, ao todo 44, unia simbolicamente a morte de
Lindalva à sua paixão, que um pouco antes ela acabara de celebrar na Via-Sacra.
Com impressionante realismo ela agora podia repetir as palavras de Cristo no
Evangelho: “Não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em
resgate de muitos” (Mt 20, 28).
À noite, a procissão do Senhor Morto, que todos os anos
passava por aqueles quarteirões, parou na Capela do abrigo. O caixão com corpo
de Ir. Lindalva foi trazido e colocado entre o féretro do Senhor Morto e a
estátua de Nossa Senhora das Dores.
Por toda aquela noite ali compareceu uma multidão de fiéis,
padres, religiosos, pessoas de todas as condições sociais, e até mesmo
evangélicos, vindos de toda a cidade.
Pela manhã do Sábado Santo Dom Lucas Moreira Neves, então
Cardeal Primaz de Salvador, celebrou as exéquias. Na missa do domingo in
albisele comentou que poucos anos de vida religiosa foram suficientes
para que ela recebesse a graça do martírio, pois deu a sua vida por amor, como
São Maximiliano Maria Kolbe, também mártir. E evocando as “sugestões que o seu
nome encerra”, disse: “Linda alva é a branca veste que ela, como cada cristão,
recebeu no seu batismo; Linda alva é o seu hábito azul de Irmã de Caridade,
agora alvejado no Sangue do Cordeiro (Ap. 7, 14) ao qual se misturou o seu
sangue; Linda alva é a límpida aurora da Páscoa de Jesus, que raiou para ela
três dias depois da sua trágica sexta-feira santa. Límpida aurora – linda alva
– da sua própria Páscoa!”
Oração para
suplicar a canonização
“Pai Santo, vosso amor seduziu o coração de Irmã Lindalva que
se deixou guiar pelo dever de cuidar do seu pai e, em seguida, pela
obediência da fé, escolher a Vida Consagrada. No Carisma Vicentino, dedicação
plena aos mais abandonados, sua vida ganhou, também na Sexta-feira Santa, a
coroa do martírio. Seu hábito azul de Filha da Caridade, tingido de Sangue,
tornou-se Linda Alva no Sangue do Cordeiro. Concedei-nos, vos pedimos, a graça
de sua canonização afim de que ela, na Igreja, inspire a oferta de muitos e
seja a testemunha perene da límpida aurora da Páscoa de Jesus, o Filho Amado,
que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.”
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