sexta-feira, 15 de abril de 2016

NOSSA SENHORA DAS DORES

NOSSA SENHORA DAS DORES


Todo cristão, filho de Maria e que a ama realmente, já, desde a manhã a tem no pensamento e a venera como a Rainha do Céu, Rainha da terra e Rainha de todos os lares. 
E nesta Semana Santa, mais do que em qualquer outro tempo do ano, devemos venerar Maria como a Mãe das Dores e, nesta semana santa devemos acompanhar passo a passo o sofrimento de uma mãe condenada a assistir a crucificação e morte de seu próprio filho. 
Quando um Anjo do Senhor perguntou à Maria se ela aceitava ser a mãe do Salvador, Maria bem sabia que estava sendo convidada a trilhar um caminho repleto de espinhos e lágrimas. Maria conhecia os homens, Maria conhecia o seu povo, Maria conhecia  os dirigentes de sua nação, Maria conhecia o coração dos homens. 
Maria sabia que estava unindo a sua sorte à sorte do Filho de Deus. E a profecia do velho Simeão nos portais do templo, quando da apresentação do Menino Jesus, ainda ressoava em seus ouvidos e Maria, trinta anos depois, ainda ressoava em seus ouvidos as palavras do velho profeta que dizia e repetia sem cessar: “Uma espada de dor traspassará teu coração” (Lc 2,3).            
Naquela oportunidade Maria poderia ter-se surpreendido pela franqueza e honestidade de um homem temente a Deus, mas aquela profecia, de maneira nenhuma desencorajou Maria e nem tão pouco lhe deu razões para temer alguma coisa no futuro, porque ela já tinha se colocado inteiramente nas mãos de seu Deus e Senhor quando havia dito: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua vontade.” 
O seu Divino Filho viera para pregar a Boa Nova, para formar um novo povo de Deus.
        As palavras de Jesus sobre a justiça, sobre o amor fraterno, a maneira como ele falava que o primeiro deveria ser o último e quem tinha poder de mando era para servir e não para dominar o irmão; aquela multidão de oprimidos que corria até ele e a ele se agarrava como sendo a única esperança, tudo isso teve uma reação fulminante por parte dos grandes do povo que viram a sua posição privilegiada ameaçada pelos ensinamentos de justiça de Jesus; e ai o Filho de Maria foi preso, foi flagelado, tudo injustamente e injustamente condenado à morte.
Assim a sociedade agia e reagia; quando se viam ameaçados os poderosos procurava dar um fim naquele que colocava em risco a sua sede de poder; e hoje a sociedade dos poderosos não mudou nada, continua tentando dar um fim a todos aqueles que se colocam no seu caminho e põem em risco a sua sede de poder. Condenando o Filho, condenaram também a Mãe... 
Todos nós sabemos que, quando maltratamos Jesus, maltratamos também Maria; quando crucificamos Jesus, crucificamos também Maria. E hoje a figura de Maria se reflete em todas as mães condenadas a ver o sofrimento de sua família pela incompreensão dos ricos e poderosos. 
A figura de Maria, a Mãe das Dores,  se reflete nas mães desesperadas que se encontram na cabeceira de um filho doente e agonizante, nas mães que carregam a cruz da pobreza e da miséria, nas mães que pedem esmolas para comprar um pão ou um litro de leite  para o seu filhinho que dorme de fraqueza em seus braços, nas mães abandonadas pelos maridos, nas mães abandonadas pelos filhos. 
A figura de Maria, a Mãe das Dores, também se reflete nas mães que se vendem para não verem os seus filhos chorarem de fome ou morrerem na miséria. Maria, a mulher forte. Condenada a assistir a morte de Jesus, Maria permanece de pé, junto da cruz de seu Divino Filho agonizante. 
Chorando, é claro, sofrendo desesperadamente, mas essa atitude de Maria dizia a todos que o seu gesto era o mesmo de Jesus, e ali estava Maria disposta a entregar-se também, para, a exemplo de Jesus,  ser também crucificada, se preciso for, para a salvação de todos os homens. E Maria permanece de pé, junto da cruz, até que tudo esteja consumado.
E Maria acompanha, com o coração traspassado não por sete, mas por milhões de espadas de dores, o último suspiro de seu adorado Filho. Pessoas amigas retiraram o corpo inerte e massacrado de Jesus da cruz. Maria recebe aquele corpo dilacerado com amor infinito e o cobre de beijos, passando suavemente sua virginal mão pela fronte ensanguentada de seu Filho, tentando ajeitar o cabelo já duro pelo sangue ressecado que já grudou na testa e no couro cabeludo. Maria aperta aquele corpo inerte contra o seu peito, e o comprime contra o seu coração de mãe. 
Nos braços de Maria, morto,  está o autor da vida. Maria é o retrato fiel  de todas as mães que vêem seus filhos morrerem  injustamente por razões  que elas mesmas não entendem. Maria é o retrato fiel das mães de todos aqueles que morreram nos incêndios de tantos prédios e casas, de todos aqueles que morrem nas enchentes do centro-oeste e do sul e na seca do norte e nordeste; Maria é o retrato fiel das mães de todos aqueles que morrem nas mãos dos sequestradores, marginais, e até, pela própria polícia; Maria é o retrato fiel das mães de todos aqueles que morrem todos os dias, às centenas, no transito, nos acidentes de trabalho ou pela negligência, inoperância e irresponsabilidade dos médicos e do sistema de saúde do governo, tanto municipal, como estadual e federal. 
Maria, com o seu Filho morto nos braços, é o retrato fiel da dor, de uma dor que não tem consolo, e, se existe consolo, o único consolo para essa dor é saber que em tudo isso está sendo cumprida a vontade do Pai para a salvação de todos os homens. Jesus está morto nos braços de Maria, mas o sofrimento de Maria continua, a crucificação de Maria  permanece sem fim. 
E numa situação dessa, o que devemos fazer? O  que poderemos fazer? Devemos nos achegar a Maria e lhe dizer carinhosamente e dolorosamente: “Virgem Mãe Maria, o que poderíamos fazer neste momento senão chorar com a Senhora uma injustiça que nós mesmos cometemos? Como pode a Senhora nos receber como filhos se fomos nós mesmos que lhe causamos todas essas dores, todos esses sofrimentos? Foram os nossos pecados que crucificaram  e mataram o seu Divino Filho, e a Senhora, com todo o amor que tem em seu coração, ainda nos acolhe como filhos. 
Não dá para entender, Senhora. 
Somente um amor que vem de Deus é que pode refletir tanta misericórdia. Perdão doce Mãe, perdão pelo sofrimento que lhe causamos e, nesses momentos de dor, queremos permanecer com a Senhora junto da cruz de seu Divino Filho para podermos chorar os nossos pecados, as nossas ingratidões. Senhora, dê a nós o discernimento para que possamos entender o grande amor que Deus Pai tem por todos nós a ponto de nos dar o seu próprio Filho para que morresse por nossos pecados, e que morte mais dolorosa e violenta... a morte de cruz... 
Se não tem jeito de consolar a Senhora nesse momento, permita, pelo menos, que possamos chorar com a Senhora essa tão terrível dor...

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