NOSSA SENHORA DAS
DORES
Todo cristão,
filho de Maria e que a ama realmente, já, desde a manhã a tem no pensamento e a
venera como a Rainha do Céu, Rainha da terra e Rainha de todos os lares.
E
nesta Semana Santa, mais do que em qualquer outro tempo do ano, devemos venerar
Maria como a Mãe das Dores e, nesta semana santa devemos acompanhar passo a
passo o sofrimento de uma mãe condenada a assistir a crucificação e morte de
seu próprio filho.
Quando um Anjo do Senhor perguntou à Maria se ela aceitava
ser a mãe do Salvador, Maria bem sabia que estava sendo convidada a trilhar um
caminho repleto de espinhos e lágrimas. Maria conhecia os homens, Maria
conhecia o seu povo, Maria conhecia os
dirigentes de sua nação, Maria conhecia o coração dos homens.
Maria sabia que
estava unindo a sua sorte à sorte do Filho de Deus. E a profecia do velho
Simeão nos portais do templo, quando da apresentação do Menino Jesus, ainda
ressoava em seus ouvidos e Maria, trinta anos depois, ainda ressoava em seus
ouvidos as palavras do velho profeta que dizia e repetia sem cessar: “Uma espada de dor traspassará teu coração” (Lc
2,3).
Naquela oportunidade
Maria poderia ter-se surpreendido pela franqueza e honestidade de um homem
temente a Deus, mas aquela profecia, de maneira nenhuma desencorajou Maria e
nem tão pouco lhe deu razões para temer alguma coisa no futuro, porque ela já
tinha se colocado inteiramente nas mãos de seu Deus e Senhor quando havia dito:
“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em
mim segundo a tua vontade.”
O seu Divino Filho viera para pregar a Boa
Nova, para formar um novo povo de Deus.
As palavras de Jesus sobre a justiça,
sobre o amor fraterno, a maneira como ele falava que o primeiro deveria ser o
último e quem tinha poder de mando era para servir e não para dominar o irmão;
aquela multidão de oprimidos que corria até ele e a ele se agarrava como sendo
a única esperança, tudo isso teve uma reação fulminante por parte dos grandes
do povo que viram a sua posição privilegiada ameaçada pelos ensinamentos de
justiça de Jesus; e ai o Filho de Maria foi preso, foi flagelado, tudo
injustamente e injustamente condenado à morte.
Assim a sociedade agia e reagia;
quando se viam ameaçados os poderosos procurava dar um fim naquele que colocava
em risco a sua sede de poder; e hoje a sociedade dos poderosos não mudou nada,
continua tentando dar um fim a todos aqueles que se colocam no seu caminho e
põem em risco a sua sede de poder. Condenando o Filho, condenaram também a
Mãe...
Todos nós sabemos que, quando maltratamos Jesus, maltratamos também
Maria; quando crucificamos Jesus, crucificamos também Maria. E hoje a figura de
Maria se reflete em todas as mães condenadas a ver o sofrimento de sua família
pela incompreensão dos ricos e poderosos.
A figura de Maria, a Mãe das
Dores, se reflete nas mães desesperadas
que se encontram na cabeceira de um filho doente e agonizante, nas mães que
carregam a cruz da pobreza e da miséria, nas mães que pedem esmolas para
comprar um pão ou um litro de leite para
o seu filhinho que dorme de fraqueza em seus braços, nas mães abandonadas pelos
maridos, nas mães abandonadas pelos filhos.
A figura de Maria, a Mãe das Dores,
também se reflete nas mães que se vendem para não verem os seus filhos chorarem
de fome ou morrerem na miséria. Maria, a mulher forte. Condenada a assistir a
morte de Jesus, Maria permanece de pé, junto da cruz de seu Divino Filho
agonizante.
Chorando, é claro, sofrendo desesperadamente, mas essa atitude de
Maria dizia a todos que o seu gesto era o mesmo de Jesus, e ali estava Maria
disposta a entregar-se também, para, a exemplo de Jesus, ser também crucificada, se preciso for, para
a salvação de todos os homens. E Maria permanece de pé, junto da cruz, até que
tudo esteja consumado.
E Maria acompanha, com o coração traspassado não por
sete, mas por milhões de espadas de dores, o último suspiro de seu adorado
Filho. Pessoas amigas retiraram o corpo inerte e massacrado de Jesus da cruz. Maria
recebe aquele corpo dilacerado com amor infinito e o cobre de beijos, passando
suavemente sua virginal mão pela fronte ensanguentada de seu Filho, tentando
ajeitar o cabelo já duro pelo sangue ressecado que já grudou na testa e no
couro cabeludo. Maria aperta aquele corpo inerte contra o seu peito, e o
comprime contra o seu coração de mãe.
Nos braços de Maria, morto, está o autor da vida. Maria é o retrato
fiel de todas as mães que vêem seus
filhos morrerem injustamente por
razões que elas mesmas não entendem. Maria
é o retrato fiel das mães de todos aqueles que morreram nos incêndios de tantos
prédios e casas, de todos aqueles que morrem nas enchentes do centro-oeste e do
sul e na seca do norte e nordeste; Maria é o retrato fiel das mães de todos
aqueles que morrem nas mãos dos sequestradores, marginais, e até, pela própria
polícia; Maria é o retrato fiel das mães de todos aqueles que morrem todos os
dias, às centenas, no transito, nos acidentes de trabalho ou pela negligência,
inoperância e irresponsabilidade dos médicos e do sistema de saúde do governo,
tanto municipal, como estadual e federal.
Maria, com o seu Filho morto nos
braços, é o retrato fiel da dor, de uma dor que não tem consolo, e, se existe
consolo, o único consolo para essa dor é saber que em tudo isso está sendo
cumprida a vontade do Pai para a salvação de todos os homens. Jesus está morto
nos braços de Maria, mas o sofrimento de Maria continua, a crucificação de
Maria permanece sem fim.
E numa situação
dessa, o que devemos fazer? O que
poderemos fazer? Devemos nos achegar a Maria e lhe dizer carinhosamente e
dolorosamente: “Virgem Mãe Maria, o que poderíamos fazer neste momento senão
chorar com a Senhora uma injustiça que nós mesmos cometemos? Como pode a
Senhora nos receber como filhos se fomos nós mesmos que lhe causamos todas
essas dores, todos esses sofrimentos? Foram os nossos pecados que crucificaram e mataram o seu Divino Filho, e a Senhora,
com todo o amor que tem em seu coração, ainda nos acolhe como filhos.
Não dá
para entender, Senhora.
Somente um amor que vem de Deus é que pode refletir
tanta misericórdia. Perdão doce Mãe, perdão pelo sofrimento que lhe causamos e,
nesses momentos de dor, queremos permanecer com a Senhora junto da cruz de seu
Divino Filho para podermos chorar os nossos pecados, as nossas ingratidões. Senhora,
dê a nós o discernimento para que possamos entender o grande amor que Deus Pai
tem por todos nós a ponto de nos dar o seu próprio Filho para que morresse por
nossos pecados, e que morte mais dolorosa e violenta... a morte de cruz...
Se
não tem jeito de consolar a Senhora nesse momento, permita, pelo menos, que
possamos chorar com a Senhora essa tão terrível dor...
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