PAPA FRANCISCO: QUARESMA, TEMPO DE DIZER NÃO À INDIFERENÇA
O Papa Francisco celebrou a missa, na tarde desta Quarta-feira de
Cinzas (1º/03), na Basílica de Santa Sabina, no Aventino, em Roma.
O Santo Padre iniciou a homilia com uma passagem do Profeta Joel:
«Voltem para mim de todo o coração, e se convertam ao Senhor».
Este é o grito com o qual o profeta se dirige ao povo em nome do
Senhor; ninguém podia sentir-se excluído: «Chamem os idosos, reúnam os jovens e
crianças de peito, (…) o esposo (…) e a esposa». Todo o povo fiel é convocado
para se pôr a caminho e adorar o seu Deus, porque «Ele é piedade e compaixão,
paciente e rico em misericórdia».
“Queremos também nós fazer ecoar este apelo, queremos voltar ao
coração misericordioso do Pai. Neste tempo de graça que hoje iniciamos, fixemos
mais uma vez o nosso olhar em sua misericórdia”, sublinhou Francisco.
Quaresma, vitória da misericórdia
A seguir, o Papa disse: “A Quaresma é um caminho que nos conduz
para a vitória da misericórdia sobre tudo o que procura esmagar-nos ou
reduzir-nos a qualquer coisa que não corresponda à dignidade de filhos de Deus.
A Quaresma é a estrada da escravidão para a liberdade, do sofrimento para a
alegria, da morte para a vida. O gesto das cinzas, com que nos colocamos a caminho,
nos lembra a nossa condição original: fomos tirados da terra, somos feitos de
pó. Sim, mas pó nas mãos amorosas de Deus, que soprou o seu espírito de vida
sobre cada um de nós e quer continuar fazendo; quer continuar nos dando aquele
sopro de vida que nos salva de outros tipos de sopro: a asfixia sufocante
causada pelos nossos egoísmos, asfixia sufocante gerada por ambições mesquinhas
e silenciosas indiferenças; asfixia que sufoca o espírito, estreita o horizonte
e anestesia o palpitar do coração.
O sopro da vida que provém de Deus nos salva
desta asfixia que apaga a nossa fé, resfria a nossa caridade e cancela a nossa
esperança. Viver a Quaresma é ter anseio por este sopro de vida que o nosso Pai
não cessa de nos oferecer na lama da nossa história”.
Para Francisco, o sopro de vida que vem de Deus “nos liberta
daquela asfixia de que muitas vezes nem estamos conscientes, habituando-nos a
«olhá-la como normal», apesar de seus efeitos que se fazem sentir; parece-nos
«normal», porque nos habituamos a respirar um ar em que a esperança é
rarefeita, ar de tristeza e resignação, ar sufocante de pânico e hostilidade”.
Quaresma, tempo de dizer não
“A Quaresma é o tempo para dizer não. Não à asfixia do espírito
pela poluição causada pela indiferença, pela negligência de pensar que a vida
do outro não me diz respeito; por toda a tentativa de banalizar a vida,
especialmente daqueles que carregam na sua própria carne o peso de tanta
superficialidade. A Quaresma significa não à poluição intoxicante das palavras
vazias e sem sentido, da crítica grosseira e superficial, das análises
simplistas que não conseguem abraçar a complexidade dos problemas humanos,
especialmente os problemas de quem mais sofre. A Quaresma é o tempo de dizer
não; não à asfixia duma oração que nos tranquilize a consciência, duma esmola
que nos deixa satisfeitos, dum jejum que nos faça sentir bem. A Quaresma é o
tempo de dizer não à asfixia que nasce de intimismos que excluem, que querem
chegar a Deus esquivando-se das chagas de Cristo presentes nas chagas dos seus
irmãos: espiritualidades que reduzem a fé a culturas de gueto e exclusão.”
Quaresma, tempo de memória
O Papa disse ainda que “a Quaresma é tempo de memória. É o tempo
para pensar e nos perguntar: Que seria de nós se Deus nos tivesse fechado as
portas? Que seria de nós sem a sua misericórdia, que não se cansou de nos
perdoar e sempre nos deu uma oportunidade para começar de novo? A Quaresma é o
tempo para nos perguntarmos: Onde estaríamos nós sem a ajuda de tantos rostos
silenciosos que nos estenderam a mão de mil modos e, com ações muito concretas,
nos devolveram a esperança e ajudaram a recomeçar?”
“A Quaresma é o tempo para voltar a respirar, é o tempo para abrir
o coração ao sopro do Único capaz de transformar o nosso pó em humanidade. É o
tempo não tanto para rasgar as vestes frente ao mal que nos rodeia, mas
sobretudo para dar espaço na nossa vida a todo o bem que podemos realizar,
despojando-nos daquilo que nos isola, fecha e paralisa. A Quaresma é o tempo da
compaixão para dizer com o salmista: «Dai-nos [, Senhor,] a alegria da tua
salvação, sustentai-nos com um espírito generoso», a fim de proclamarmos com a
nossa vida o teu louvor e que o nosso pó – pela força do teu sopro de vida – se
transforme em «pó enamorado».
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