SANTA
CECÍLIA
Certa vez, o
cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns assim definiu a arte musical:
"A música, que eleva a palavra e o sentimento até a sua última expressão
humana, interpreta o nosso coração e nos une ao Deus de toda beleza e
bondade".
Podemos dizer
que, na verdade, com suas palavras ele nos traduziu a vida da mártir santa
Cecília. A sua vida foi música pura, cuja letra se tornou uma tradição cristã e
cujos mistérios até hoje elevam os sentimentos de nossa alma a Deus.
Era de família
romana pagã, nobre, rica e influente. Estudiosa, adorava estudar música,
principalmente a sacra, filosofia e o Evangelho.
Desde a
infância era muito religiosa e, por decisão própria, afastou-se dos prazeres da
vida da Corte, para ser esposa de Cristo, pelo voto secreto de virgindade. Os
pais, acreditando que ela mudaria de idéia, acertaram seu casamento com
Valeriano, também da nobreza romana.
Ao receber a
triste notícia, Cecília rezou pedindo proteção do seu anjo da guarda, de Maria
e de Deus, para não romper com o voto.
Após as
núpcias, Cecília contou ao marido que era cristã e do seu compromisso de
castidade. Disse, ainda, que para isso estava sob a guarda de um anjo.
Valeriano
ficou comovido com a sinceridade da esposa e prometeu também proteger sua
pureza. Mas para isso queria ver tal anjo. Ela o aconselhou a visitar o papa
Urbano, que, devido à perseguição, estava refugiado nas catacumbas.
O jovem esposo
foi acompanhado de seu irmão Tibúrcio, ficou sabendo que antes era preciso
acreditar na Palavra. Os dois ouviram a longa pregação e, no final,
converteram-se e foram batizados. Valeriano cumpriu a promessa.
Depois, um
dia, ao chegar em casa, viu Cecília rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda.
Entretanto a denúncia de que Cecília era cristã e da conversão do marido e do
cunhado chegou às autoridades romanas. Os três foram presos, ela em sua casa,
os dois, quando ajudavam a sepultar os corpos dos mártires nas catacumbas.
Julgados, recusaram-se a renegar a fé e foram decapitados.
Primeiro,
Valeriano e Turíbio, por último, Cecília.
O prefeito de
Roma falou com ela em consideração às famílias ilustres a que pertenciam, e
exigiu que abandonassem a religião, sob pena de morte.
Como Cecília
se negou, foi colocada no próprio balneário do seu palacete, para morrer
asfixiada pelos vapores. Mas saiu ilesa. Então foi tentada a decapitação.
O carrasco a
golpeou três vezes e, mesmo assim, sua cabeça permaneceu ligada ao corpo.
Mortalmente ferida, ficou no chão três dias, durante os quais animou os
cristãos que foram vê-la a não renegarem a fé. Os soldados pagãos que
presenciaram tudo se converteram.
O seu corpo
foi enterrado nas catacumbas romanas.
Mais tarde,
devido às sucessivas invasões ocorridas em Roma, as relíquias de vários
mártires sepultadas lá foram trasladadas para inúmeras igrejas.
As suas,
entretanto, permaneceram perdidas naquelas ruínas por muitos séculos. Mas no
terreno do seu antigo palácio foi construída a igreja de Santa Cecília, onde
era celebrada a sua memória no dia 22 de novembro já no século VI.
Entre os anos
817 e 824, o papa Pascoal I teve uma visão de santa Cecília e o seu caixão foi
encontrado e aberto. E constatou-se, então, que seu corpo permanecera intacto.
Depois, foi fechado e colocado numa urna de mármore sob o altar daquela igreja
dedicada a ela.
Outros séculos
se passaram. Em 1559, o cardeal Sfondrati ordenou nova abertura do esquife e
viu-se que o corpo permanecia da mesma forma. A devoção à sua santidade avançou
pelos séculos sempre acompanhada de incontáveis milagres.
Santa Cecília
é uma das mais veneradas pelos fiéis cristãos, do Ocidente e do Oriente, na sua
tradicional festa do dia 22 de novembro. O seu nome vem citado no cânon da
missa e desde o século XV é celebrada como padroeira da música e do canto
sacro.
São
comemorados também neste dia: Santos Marcos e Estevão (mártires de Antioquia da
Pisídia), Santa Afia e Santo Filemon (mártires – a Filemon São Paulo escreveu a
mais breve de suas cartas), São Pragmácio e São Tomás Réggio.
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