BATISMO DO SENHOR – ANO “C”
Cor: branco – Leituras: Is
42,1-4.6-7; Sl 28; At 10,34-38; Lc 3,15-16.21-22.
“TU ÉS O MEU FILHO AMADO QUE
MUITO ME AGRADA” (Lc 3,22).
Diácono
Milton Restivo
A festa do Batismo de Jesus faz parte das celebrações da manifestação
do Senhor: Natal, Epifania, Batismo, Apresentação de Jesus aos discípulos por João
Batista e as bodas de Caná, e é também o Primeiro Domingo do Tempo Comum.
Em todas as manifestações de Jesus a todos os homens houve festa, houve
alegria, houve participação; muitas pessoas foram convidadas para essas
manifestações de alegria e esperança.
Quando Jesus nasceu no curral à beira da estrada, na cidade de Belém os
Anjos vieram dos céus porque os céus também estavam em festa, e a alegria nos
céus era tamanha que transbordou, derramou sobre a terra e os Anjos que
participavam dessa festa nos céus, radiantes de alegria, desceram cantando,
alegres e felizes, anunciando a Boa Nova que a humanidade esperava desde o
início dos tempos:
·
“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz
na terra aos homens de boa vontade.” (Lc 2,14).
Depois houve a grande festa na visita dos magos, servindo-se, como guia
desses homens sábios, uma reluzente estrela no firmamento enviada pelo Senhor
Nosso Deus para conduzi-los até onde estava o menino Jesus, e chegaram
perguntando:
·
“Onde está o rei dos judeus que acaba de
nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).
E os magos manifestaram a sua alegria em presentes porque, quem ama dá presentes.
A terceira manifestação pública de Jesus, antes de iniciar a sua
evangelização, também foi uma grande festa, tão grande que o céu se abriu, o
Espírito Santo manifestou-se e o próprio Pai identificou quem era Jesus:
·
“Ora, aconteceu que recebendo o batismo todo
o povo, batizado também Jesus, e estando em oração, abriu-se o céu, e desceu
sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea como uma pomba; e ouviu-se do céu
esta voz:” “Tu és meu filho dileto;
em ti pus as minhas complacências.” (Lc 3,21-22).
Segundo Lucas no seu Evangelho, “Jesus
tinha cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública” (Lc 3,23)
e a tradição cristã atribui a Jesus essa idade quando dirigiu-se às margens do
rio Jordão ao encontro do João Batista para se deixar batizar. E foi nessa
oportunidade que nova manifestação de alegria se realiza nos céus: o batismo de
Jesus, quando, novamente, os céus se tornam pequenos demais para conter a
Trindade e, bem por isso, a Unidade Trina manifesta-se nas margens do rio
Jordão: o Pai Eterno falando das nuvens: “Tu
és o meu filho dileto...” (Lc 3,22), referindo-se a Jesus que acabara de
ser batizado por João Batista e o Espírito Santo se faz visível “em forma corpórea como uma pomba” (Lc
3,22), e paira sobre a cabeça de Jesus.
Manifestou-se assim, de forma admirável, visível e audível, pela primeira
vez aos homens, a Santíssima Trindade: Deus Filho sendo batizado, o Espírito
Santo como uma pomba, e o Pai fazendo-se ouvir do mais alto dos céus: era o
Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestando-se e apresentando aos homens
aquele que viera para a salvação de
·
“todos os homens de boa vontade.” (Lc 2,14).
As Sagradas Escrituras revelam que o povo do Antigo Testamento, antes
da vinda de Jesus, desconhecia a Trindade.
Antes de Jesus o Senhor Nosso Deus era conhecido e chamado pelos judeus
apenas de “Yahweh”, que quer dizer, conforme o próprio Senhor revelou-se a
Moisés:
·
“Eu sou aquele que sou”. “Moisés disse a
Deus: Eis que eu irei aos filhos de Israel, e lhes direi: O Deus de vossos pais
enviou-me a vós. Se eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei de
responder? Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’. E disse: Assim dirás
aos filhos de Israel: Aquele que é enviou-me a vós. Este é o meu nome por toda
a eternidade, e com ele serei recordado de geração em geração.” (Ex 3,13-14.15).
Através do profeta Isaias, Yahweh diria:
·
“Eu
sou Yahweh; este é o meu nome.” (Is 42,8).
Esta foi a terceira manifestação de Jesus para dar início à sua vida
pública e antes de iniciar a sua missão de transmitir as verdades eternas e dar
poder aos apóstolos e discípulos de evangelizar a todos os homens e que
terminou com o envio dos apóstolos a todas as gentes:
·
“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a
toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer,
será condenado.” (Mc 16,15).
Esta, além de ser a terceira manifestação pública de Jesus antes de
começar o seu ministério foi, também, uma manifestação pública da Santíssima Trindade.
Mas, trinta anos antes, no silêncio de uma pobre e humilde casa de
Nazaré, a Santíssima Trindade já havia se manifestado, já havia se revelado em
silêncio a uma jovenzinha virgem chamada Maria, quando Gabriel, o Anjo
Mensageiro, lhe veio anunciar o nascimento do Messias:
·
“O Espírito Santo descerá sobre ti e a
virtude do Altíssimo (o Pai) te cobrirá com a sua sombra; por isso mesmo
o Santo que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus (o Filho).” (Lc 1,35).
Assim se manifestou a Trindade: o Espírito Santo desceu sobre Maria, o
Pai a cobriu com a sua sombra, e o Filho tornou-se homem, assumiu a natureza
humana no seu ventre.
Segundo as Escrituras essa foi a primeira manifestação da Trindade na
simplicidade, na pobreza, no silêncio e no clima de oração que reinava na
humilde e pobre casa de uma humilde, pobre, pura e virgem jovenzinha de Nazaré.
O que aconteceu em Maria que deu origem à sua gravidez, foi obra do
Espírito Santo, conforme disse o Anjo em sonhos a José:
·
“José, filho de Davi, não temas receber em
tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é obra do Espírito
Santo.” (Mt 1,20).
Quando falamos de Santíssima Trindade dizemos que “é um mistério”.
Mas, antes de ser um mistério é um segredo: o segredo do amor que tem
como centro um Deus-Comunidade, um Deus-Família que se ama infinitamente e esse
amor transborda e é derramado sobre todos os homens. Se não é possível
desvendar esse mistério, pelo menos é possível descobrir um segredo, mesmo
porque, o segredo do grande amor que Deus tem por nós se faz presente nos
corações dos homens de boa vontade.
A nossa alegria, a nossa salvação consiste em crer nesse amor, descobri-lo
dentro de nós, retribuí-lo, revelá-lo e distribuí-lo a todos os irmãos.
A festa do Batismo de Jesus, além da manifestação palpável e audível da
Trindade, é densa de ensinamentos sobre Jesus e sua missão, como também sobre
nosso batismo.
Muitos se perguntam:
·
“Mas se Jesus é o Filho de Deus, é Deus,
havia necessidade de ser batizado, considerando que o batismo de João era um
batismo de conversão e para se arrepender dos pecados, e Jesus não tinha
pecados?”
Não, Jesus não precisava ser batizado, pois, repito, o batismo de João
era para a conversão. Jesus não necessitava desse batismo porque Jesus, ao
assumir a natureza humana, era em tudo igual a nós, menos no pecado. Nessa
atitude de procurar João Batista nas margens do rio Jordão para ser batizado:
·
“Jesus veio da Galiléia para o rio Jordão, a
fim de se encontrar com João e ser batizado por ele” (Mt 3,13).
Jesus se faz igual a todos os homens, não assumindo os pecados, mas sim,
sobre si, assumindo toda a iniquidade da humanidade e, nessa oportunidade,
santifica as águas, para que o futuro batismo que ele vai determinar aos seus
discípulos e apóstolos, purifique todos os homens dos pecados e a eles dê o
Espírito Santo:
·
“Toda a autoridade foi dada a mim no céu e na
terra. Portanto, vão e façam com que
todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a
vocês.” (Mt 28,18-20).
·
“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a
toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer,
será condenado.” (Mc 16,15 ).
Nesse momento de entrega de Jesus ao mundo para a redenção, o Pai o
identifica e o declara:
·
“Este é o meu Filho amado no qual ponho todo
o meu agrado” (Mt 3,17).
Esta afirmativa nos remonta à primeira leitura desta liturgia, onde o
profeta Isaias se antecipa, dizendo:
·
“Assim fala o Senhor: ‘Eis o meu servo – eu o
recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre
ele, ele promoverá o julgamento das nações.” (Is 42,1).
O Espírito Santo é enviado pelo Pai e, definitivamente, passa a ser o seu
guia.
Jesus caminhará na força do Espírito. As ações de Jesus, sua intimidade
com o Pai, seu poder de curar serão sempre movidas pelo Espírito, como vemos
logo a seguir ao batismo:
·
“Então Jesus, foi levado pelo Espírito para o
deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1).
O Batismo é para Jesus o assumir público da sua missão como Filho do
Pai e Servo de Yahweh. A voz do céu confirma a sua opção de vida.
O Pai confirma reconhecer Jesus, desde o início do seu ministério
público, como seu Filho, seu bem-amado, objeto da sua predileção:
·
“Você é o meu filho, eu
hoje o gerei”. (Sl 2,7).
O Filho amado é o servo que implantará a justiça, será centro de
aliança do povo e luz das nações:
·
“Eu, Yahweh, chamei você para a justiça,
tomei-o pela mão, e lhe dei forma, e o coloquei como aliança de um povo e luz
para as nações. Para você abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da
cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro”. (Is 42,6-7).
Sua palavra é revelação do Pai e de seu Reino.
Ao ser batizado, está revelando que será necessário passar pelas águas
para ser filho e ungido pelo Espírito, como ele o foi. Depois que Jesus sai das
águas, abrem-se os céus. Jesus é o caminho para o céu de onde vem a voz do Pai
e é enviado o Espírito.
O batismo que João dá a Jesus não é o que recebemos, pois o batismo de
João é de água para a conversão:
·
“Eu batizo vocês com água para a conversão” (Mt 3,11).
Jesus batiza no Espírito, como disse João Batista:
·
“Ele é quem batizará vocês com o Espírito
Santo e com fogo”. (Lc 3,16).
O batismo de Jesus por João Batista é a inauguração de seu ministério,
sua unção pelo Espírito. Nesse batismo o Pai declara todo seu amor por esse
Filho e lhe põe o Espírito como guia. Este Filho amado é o servo que implantará
a justiça, será centro da aliança e luz das nações:
·
“O povo que andava na escuridão viu uma
grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. (Is 9,1).
Sua missão de fazer o bem é universal. Esse batismo revela-nos a missão
do Filho. Deus o unge com o Espírito para o anuncio da Palavra para a redenção
de todo homem e do homem todo. Sua missão está voltada para os necessitados: “...
para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere
os que vivem nas trevas.” (Is 42,7).
Como disse o Redentorista, Padre Luiz Carlos de Oliveira:
·
“foi manifestada, no batismo de Jesus, a sua
carteira de identidade; no seu Batismo, Jesus é manifestado a todo o povo e
mostra a sua identidade como Filho amado do Pai; é declinada a sua profissão: a
de anunciar, pois o Pai diz a todos; Escutai-o. É fornecido o seu endereço:
onde se faz o bem, s/n. É tornado público o seu robby: seguir a pombinha, o
Espírito Santo que o conduz; seu time: doze pernas de pau, chamados apóstolos”.
A cena do batismo de Jesus
revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia
ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos homens.
Como verdadeiro Filho, ele
obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos
homens, solidariza-se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles,
refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e
conduz os homens ao encontro da vida em plenitude.
Da atividade de Jesus, o Filho de
Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova
humanidade.
O episódio do batismo de Jesus
coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-se com o homem,
partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho
de liberdade e de vida plena.
No batismo Jesus tomou
consciência da sua missão (essa missão que o Pai lhe confiou), recebeu o
Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a
testemunhar o projeto libertador do Pai.
Na segunda leitura, Pedro,
tomando a palavra, disse:
·
“Vocês
sabem o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do
batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o
Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo demônio porque Deus estava com ele.” (At
10,37-38).
E isso Jesus confirma depois, no
início de sua missão:
·
“Jesus
voltou para a Galiléia, com a força do Espírito [...] Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem (de Isaias) onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos
cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um
ano de graça do Senhor.” (Lc 4,14.17-19).
Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso
batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do
mundo que Deus quer; um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz.
O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente
de criação, fazendo crescer o Reino dele, que “já está no meio de nós” (Mc 1,14).
Nenhum comentário:
Postar um comentário