NASCIMENTO DE SÃO
JOÃO BATISTA, O PRECURSOR DO MESSIAS.
A Igreja
comemora, do dia 24 de junho, a festa do nascimento do João Batista, exatamente
três meses depois da Anunciação do Anjo a Maria, e a Encarnação da Palavra no
ventre de Maria, e seis meses antes do Natal, nascimento de Jesus. João Batista
é o único santo, excluindo Jesus e Maria, que a Igreja comemora o dia do
nascimento e de sua morte: nascimento em 24 de junho e seu martírio em 29 de
agosto.
Os demais
santos são comemorados no dia de sua morte. João Batista teve seu nascimento e
ministério anunciado por Isaias, setecentos anos antes do nascimento de Jesus: “Uma
voz grita: ‘Abram no deserto um caminho para Yahweh; na região da terra seca,
aplainem uma estrada para o nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, e todo
monte e colina sejam nivelados; que o terreno acidentado se transforme em
planície, e as elevações em lugar plano. Então se revelará a glória de Yahweh,
e todo mundo junto a verá, pois assim falou a boca de Yahweh’.” (Is
40,3-5), No seu Evangelho Mateus confirma a veracidade dessa profecia, quando
afirma: “Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da
Judéia: ‘Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo’. João foi anunciado
pelo profeta Isaias, que disse: ‘Esta é a voz daquele que grita no deserto:
Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas’.” (Mt 3,1-3), o que
foi ratificado no Evangelho segundo Lucas 3,4-6.
O profeta
Malaquias também anuncia o precursor do Messias: “Vejam, estou mandando o
meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente.” (Ml 3,1).
Lucas, no seu
Evangelho, é o único a relatar a vocação de João Batista antes mesmo de seu
nascimento. Relata-nos Lucas a conversa que o Anjo Gabriel teve com o pai de
João Batista, o sacerdote Zacarias, quando este exercia suas funções
sacerdotais no Templo (cf Lc 1,5-20).
O Anjo Gabriel
trouxe uma mensagem de Deus para Zacarias, dizendo que sua esposa, Isabel,
mulher já bastante avançada em anos, ficaria grávida mesmo na sua velhice.
A aparição
aconteceu no momento da queima de incenso, no lugar chamando santuário dentro
do Templo de Jerusalém onde os sacerdotes ofereciam sacrifícios ao Senhor.
Zacarias não acreditou na possibilidade de sua esposa ficar grávida na velhice
e duvidou da palavra do Anjo: “Como vou saber se isso é verdade? Sou velho e
minha mulher é de idade avançada” (Lc 1,18), recebendo como reprimenda a
perda total da sua voz: “Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus, e
ele me mandou dar esta boa notícia para você. Eis que você vai ficar mudo, e
não poderá falar, até o dia em que essas coisas acontecerem, porque você não
acreditou nas minhas palavras, que se cumprirão no tempo certo.” (Lc
1,19-20).
Na conversa
que o Anjo Gabriel teve com Zacarias, praticamente estava definida a vida de
João, o que ele seria e qual seria a sua missão, senão vejamos: fala do seu
nascimento e o seu nome já estava definido: Sua esposa Isabel vai ter um
filho e você lhe dará o nome de João. [...] Ele vai ser grande diante do
Senhor.” Lc 1,13.15).
Gabriel diz a
Zacarias que João seria um nazireu, isto é, um homem consagrado a Deus para lhe
pertencer de modo especial, devendo, para isso, abster-se de diversas coisas: “Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada...”
(Lc 1,15b).
O nazireu,
também, não podia cortar os cabelos (Jz 13,5; 1Sm 1,11). Para saber mais sobre
os votos e recomendações do nazirato, leia Números, 6,1-8.
O anjo Gabriel resumiu qual seria a obra de
João e da importância que teria para desempenhar a tarefa de ser o precursor do
Messias: “Ele reconduzirá muitos do
povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o
poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os
rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem
disposto”. (Lucas 1,16-17). Depois do nascimento de João seu pai, o
sacerdote Zacarias, depois de ter recuperado a voz, confirma a predição do
Anjo: “E a você, menino, chamarão profeta
do Altíssimo, porque irá à frente do Senhor, para preparar-lhe os caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação, o perdão dos pecados”. (Lc 1,76-77).
Maria, a mãe
de Jesus, depois de haver recebido a visita e a anunciação do anjo Gabriel de
que seria a mãe do Messias, ao saber da gravidez de risco de sua parenta
Isabel, se colocou a caminho e foi para a região montanhosa, dirigindo-se às
pressas, a uma cidade da Judéia, onde morava Isabel. Maria grávida de Jesus e
Isabel grávida de João, o que seria o Batista.
Este foi o
primeiro encontro de Jesus e João Batista, ainda nos ventres de suas mães, e
João é santificado e recebe o Espírito Santo ainda no ventre de sua mãe,
reconhece o Messias e o aponta através da exclamação de sua mãe Isabel: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a
criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um
grande grito exclamou: ‘Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto
de seu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?
Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no
meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o
Senhor lhe prometeu”. (Lc 1,41-45).
O menino, que
seria o Batista, no oitavo dia após o seu nascimento, seguindo a Lei de Moisés,
foi circuncidado, recebendo o nome de João (Lc 1,59-63). A circuncisão era a
marca que toda pessoa do sexo masculino e pertencente ao povo israelita trazia
no corpo como sinal de pertença ao Deus único e verdadeiro. Sobre a circuncisão
leia Gênesis 17,9-14. Jesus também foi circuncidado (Lc 2,21).
Ato contínuo à
circuncisão de João, seu pai, Zacarias, recuperou a voz que havia perdido e
ficado mudo por duvidar da mensagem de Gabriel (Lc 1,18-20), louvou a Deus e
anunciou João como o precursor do Messias (Lc 1,67-70) e, cheio do Espírito
Santo, recitou uma oração de adoração, profecia e agradecimento que a
conhecemos como “Benedictus” (Lc 1,67-79) e que é recitada todos os dias na
oração da Igreja, que é a Liturgia das Horas. Lucas faz uma breve referência
sobre a infância e adolescência de João (Lc 1,80).
Lucas
corrobora a suposição de que João tenha nascido seis meses antes de Jesus (Lc
1,36). Apesar de seu pai ser sacerdote por ser da tribo de Levi e descendente
de Aarão, a tradição evangélica deixa transparente que João não exerceu a
função sacerdotal, que era hereditária, mas aparece como pregador de penitência
no deserto: “João viveu no deserto até o
dia em que se manifestou a Israel.” (Lc 1,80b; 3,1-18).
Segundo
Mateus, João Batista, como anunciara o profeta Isaias, aparece já adulto
vivendo e pregando a penitência no deserto da Judéia: “naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia:
‘Convertam-se, porque o Reino de Deus está próximo”. (Mt 3,1-2).
Mateus
descreve a indumentária primitiva e rústica de João Batista e do que se
alimentava: “João usava roupa feita de
pelos de camelo, e cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel
silvestre”. (Mt 3,4). Com relação às suas roupas, Mateus identifica João
Batista com o profeta Elias, a quem João Batista também é comparado: “Ele, (Elias), estava vestido com roupa de pelos e usava um cinto de couro”. (1Rs
1,8).
Mateus,
inclusive, coloca na boca de Jesus a afirmativa que o Batista é o mesmo Elias: “E se vocês o quiserem aceitar, João é Elias
que devia vir”. (Mt 11,14).
Em outra
oportunidade os discípulos perguntam a Jesus sobre a possível volta de Elias e
novamente Jesus afirma que Elias já viera na pessoa de João Batista: “Os discípulos de Jesus lhe perguntaram: ‘O
que querem dizer os doutores da Lei, quando falam que Elias deve vir antes’?
Jesus respondeu: ‘Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês:
Elias já veio e não o reconheceram’. [...] Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista”. (Mt
17,10-12.13).
Jesus
apresenta João Batista como o maior dentre os profetas: “... e Jesus começou a falar às multidões a respeito de João: ‘O que é
que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que vocês foram
ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas aqueles que vestem roupas finas
moram em palácios de reis. Então, o que é que vocês foram ver? Um profeta? Eu
lhes afirmo que sim: alguém que é mais do que um profeta. É de João que a
Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai
preparar o teu caminho diante de ti’. Eu garanto a vocês: de todos os homens
que já nasceram, nenhum é maior que João Batista”. (Mt 11,7-11).
A mensagem de
João no deserto era corajosa e veemente: “Convertam-se,
porque o Reino de Deus está próximo”. (Mt 3,2).
Aos fariseus,
que se julgavam donos da religião judaica, e aos saduceus, pessoas da elite
judaica e latifundiários, ambas as classes que exploravam o povo, João dirigiu
palavras duras e destemidas: “Raça de
cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas
que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: ‘Abraão é
nosso pai’. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer
filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore
que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”. (Mt 3,7-12). Como
fazem falta os “João Batista” nos nossos dias... João Batista também chama a
atenção para os atos de caridade e misericórdia e para o cumprimento dos
deveres de estado de cada um: “As
multidões perguntavam a João: ‘O que é que devemos fazer’? Ele respondia: ‘Quem
tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma
coisa’. Alguns cobradores de impostos também foram para ser batizados, e
perguntaram: ‘Mestre, o que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não cobrem nada
além da taxa estabelecida’. Alguns soldados também perguntaram: ‘E nós, o que
devemos fazer?’ Ele respondeu: ‘Não maltratem ninguém; não façam acusações falsas,
e fiquem contentes com o salário de vocês”. (Lc 3,10-14).
O grande
argumento de João era a vinda do Messias; o discurso principal de João era a
respeito da vinda do Messias. Esperado com ansiedade por todos os judeus, o
Messias era a fonte de todas as esperanças desse povo em restaurar a sua
dignidade como nação independente.
Os judeus
defendiam a idéia da sua nacionalidade ter iniciado com Abraão, e que esta
atingiria o seu ponto culminante com a chegada do Messias.
João advertia
aos judeus e convertia gentios, e isto tornou-o amado pelo povo e desprezado
pelos dirigentes da religião e da política judaica.
Por sua austeridade e fidelidade à sua
missão, João é confundido com o próprio Messias, mas, imediatamente, retruca: “Eu não sou o Messias, mas fui enviado na
frente dele. [...] É preciso que ele
cresça e eu diminua” (Jo 3,28.30).
Quando seus discípulos hesitavam, sem saber
se continuariam seguindo a João ou passariam a seguir Jesus, João apontava em
direção ao único caminho, demonstrando o rumo certo a seguir, exclamando: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo”. (Jo 1,29) e, a partir daí, dois dos discípulos de João passaram
a seguir Jesus e foram os seus dois primeiros apóstolos: João e seu irmão
Tiago, que convidaram depois os dois irmãos André e Pedro, que depois
convidaram Filipe que convidou Natanael, que foram os primeiros discípulos e
depois apóstolos de Jesus (cf Jo 1,35-51), tudo isso partindo de João Batista.
Para deixar
claro ao povo de que ele não era o Messias, João revelou toda a sua fé na vinda
do Messias e toda a sua humildade ao se declarar indigno até de desamarrar as
correias de suas sandálias: “O povo
estava esperando o Messias. E todos perguntavam a si mesmos se João não seria o
Messias. Por isso, João declarou a todos: ‘Eu batizo vocês com água. Mas vai
chegar alguém mais forte que eu. E eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das
sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo. Ele
terá na mão uma pá; vai limpar sua eira, e recolher o trigo no seu celeiro; mas
a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga”. (Lc 3,15-17).
João não se
contentou em chamar a atenção apenas dos fariseus e saduceus. João foi além:
repreendeu também e abertamente ao rei Herodes que vivia com a mulher de seu
irmão e “porque tinha feito muitas outras
maldades” (Lc 3,19). Isso custou a liberdade de João porque “Herodes mandou prender João” (Lc 3,20);
“De fato, Herodes tinha mandado prender
João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a
mulher de seu irmão. Porque João dizia a Herodes: ‘Não é permitido você se
casar com ela”. (Mt 14,304), e, mais tarde, custou também a cabeça de João,
considerando que Herodes mandou decapitá-lo na prisão (cf Mt 14,3-12).
Os discípulos
de João trataram do sepultamento do seu corpo e de anunciar a sua morte a
Jesus. Hoje em dia os que pregam a mensagem de Jesus e dizem seguí-lo, não
imitam João Batista na coragem e na veemência das palavras, porque têm medo de
perder a cabeça como aconteceu com o Batista.
Ainda na
prisão João procura esclarecer seus discípulos a respeito do Messias e
mandou-os perguntar ao próprio Jesus se era ele mesmo o Messias que viria ou
deveriam esperar por outro e Jesus lhes dá uma resposta para pensar: “João estava na prisão. Quando ouviu falar
das obras do Messias, enviou a ele alguns discípulos, para lhe perguntarem: ‘És
tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro’? Jesus respondeu: ‘Voltem e
contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os
paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos
ressuscitam, e aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E feliz aquele que não se
escandaliza por causa de mim”. (Mt 11,2-6; Lc 7,18-28).
O primeiro
encontro de João Batista com Jesus, quando adultos, narrado pelos Evangelhos,
se deu às margens do rio Jordão, quando Jesus o procurou para ser batizado com
o batismo de João.
O batismo de
João não é o mesmo que Jesus deixou para os seus apóstolos quando da sua
despedida: “Vão e façam com que todos os
povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês”. (Mt
28,19-20).
O batismo de
João era de conversão dos pecados e não de filiação divina.
Na religião
israelita a imersão na água era tida como meio de purificação legal.
No caso de
João Batista, o batismo era para aqueles que se reconheciam pecadores, se
arrependiam de seus pecados e, simbolicamente, eram lavados com água para
começar uma vida nova, e podiam ser batizados quantas vezes fossem necessárias.
Por outro lado, o batismo deixado por Jesus, o recebemos apenas uma vez.
Por isso é que
João, a princípio, tentou se negar a batizar Jesus, porque sabia que ele não
precisaria desse tipo de batismo: “Mas
João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por você, e
você vem a mim’? Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está!
Porque devemos cumprir toda justiça’. E João concordou”. (Mt 3,14-15).
E João Batista
testemunha que o verdadeiro batismo será o deixado por Jesus: “No dia seguinte, João viu Jesus que se
aproximava dele. E disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do
mundo Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou na
minha frente, porque existia antes de mim’. Eu também não o conhecia. Mas vim
batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel’. E João testemunhou:
‘Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. Eu também
não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me
disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem
batiza com o Espírito Santo. Eu vi e dou testemunho que este é o Filho de
Deus”. (Jo 1,29-34).
João Batista
é, com Maria, a mãe de Jesus, repito, o único santo que é celebrado no
calendário litúrgico não só pelo seu martírio, decapitado que foi por Herodes
(cf Mt 14,3-12), cuja festa é celebrada no dia 29 de Agosto, mas também pelo
seu nascimento, 24 de Junho. Entre todos
os santos e santas, João Batista é o único do qual a Liturgia celebra o
nascimento e sua morte; dos demais santos e santas celebra apenas o dia da
morte.
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