SÃO PEDRO E SÃO PAULO
RECONHECER E TESTEMUNHAR QUE JESUS É O
MESSIAS
Ano – B; Cor – Vermelho; Leituras: At
12,1-11; Sm 33; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19.
Diácono Milton Restivo
Celebramos, neste domingo, a festa dos Apóstolos que
consideramos as duas colunas mestras da nossa Igreja: Pedro e Paulo. Para
ambos, o chamamento de Cristo para o apostolado foi diferente, em épocas
diferentes, de modo diferente e viveram seus apostolados de maneira diferente,
mas com todo o fervor, culminando por dar a sua vida para testemunharem os
ensinamentos de Cristo e o grande amor que Jesus teve por todos e cada um de
nós, e isso para confirmar a desigualdade dentro da unidade da Igreja de Jesus
Cristo.
Conheçamos Pedro.
Pedro, inicialmente pescador da Galiléia, se tornou
discípulo e depois apóstolo de Jesus, quando Jesus “andava à beira do mar da Galiléia, quando viu dois irmãos, Simão,
também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando a rede no mar, pois
eram pescadores. Jesus disse para eles: ‘Sigam-me, e eu farei de vocês
pescadores de homens’. Eles deixaram imediatamente as redes e seguiram a
Jesus”. (Mt 4,18-20).
Não temos dados quanto à data de seu nascimento e as
principais fontes de informação sobre sua vida são os quatro Evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João). Pedro é sempre abordado com destaque em todas
as narrativas evangélicas, nos Atos
dos Apóstolos, nas epístolas de
Paulo, tendo escrito duas epístolas. Pedro, filho de Jonas (cf Mt 16,17)
e irmão do apóstolo André (cf Mt 4,18), seu nome original era Simão tendo
Jesus, no encontro inicial mudado esse nome para Pedro: “Jesus olhou bem para Simão e disse: “Você é Simão, o filho de Jonas.
Você vai se chamar Cefas (que quer dizer Pedra = Pedro).” (Jo 1,42).
Jesus, além de mudar-lhe o nome, o escolheu como chefe
da cristandade toda, o primeiro Papa da Igreja, tendo sida mantida a sucessão
apostólica petrina até os dias de hoje na pessoa do papa Francisco: “E eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobre a
terra, será ligado também nos céus” (Mt 16,18-19).
Na época de seu encontro com Jesus, Pedro morava na
cidade de Cafarnaum com a família de sua mulher: “Jesus saiu da sinagoga e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão
estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela.” (Lc 4,38).
Chamado ao discipulado e apostolado por Jesus,
despontou como líder dos doze apóstolos: “Pedro
levantou-se no meio dos irmãos, e falou...” (At 1,15). Foi o primeiro a perceber em Jesus o filho de Deus: “Simão Pedro respondeu:
‘Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.” (Mt 16,16).
Junto com seu irmão André e os irmãos Tiago e João
Evangelista, fez parte do círculo íntimo de Jesus entre os doze, participando
dos mais importantes milagres do Mestre sobre a terra, como, por exemplo, na
transfiguração: “Seis dias depois, Jesus
tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou sozinhos a um lugar à
parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante deles.” (Mt
17,1-8; Mc 9,2,8; Lc 9,28-36); na oração final do Getsêmani: Eles chegaram a um lugar chamado Getsêmani. Então Jesus disse aos
discípulos: ‘Sentem-se aqui, enquanto eu vou rezar’. Jesus levou consigo Pedro,
Tiago e João, e começou a ficar com medo e angústia” (Mt 26,37-46; Mc
14,32-42).
Teve, também, seus momentos controvertidos, como
quando usou a espada para defender Jesus quando o prendiam, muito embora os
evangelhos não citem o nome do ofendido, mas, pela sua impetuosidade, a
tradição atribuiu esse gesto a Pedro: “Nesse
momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da espada, e feriu
o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha”. (Mt 26,51; Mc 14,47;
Lc 22,50) e na passagem da tríplice negação: “Eles prenderam e levaram Jesus, e o conduziram à casa do sumo
sacerdote. Pedro seguia Jesus de longe. Acenderam uma fogueira no meio do
pátio, e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada
viu Pedro sentado perto do fogo. Encarou-o bem, e disse: ‘Este aqui também
estava com Jesus’. Mas Pedro negou: ‘Mulher, eu nem o conheço’. Pouco depois,
outro viu Pedro, e disse: ‘Você também é um deles’. Mas Pedro respondeu:
‘Homem, não sou, não’. Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: ‘De
fato, este aqui também estava com Jesus, porque é galileu.’ Mas Pedro
respondeu: ‘Homem, não sei do que está falando.’ Nesse momento, enquanto Pedro
ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E
Pedro se lembrou do que o Senhor lhe havia dito: ‘Hoje, antes que o galo cante,
você me negará três vezes. Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.”
(Lc 22,54-62; Mt 26,69-75; Mc 14,66-72; Jo,18,15-18.25-27).
Apesar de, em situações normais e que não ofereciam
riscos, Pedro demonstrar uma coragem aparente e inconsequente, nos momentos que
eram exigidas essa coragem, Pedro fraquejou, como aconteceu na tríplice negação
e depois da prisão e morte de Jesus, juntamente com os demais, fugiram e se
esconderam de medo dos judeus: “Então,
todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.” (Mt 26,56); “À tarde do mesmo dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas onde se achavam os discípulos, por medo dos judeus,
Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse: ‘A paz esteja convosco.’ [...]
“Oito dias depois, achavam-se os
discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as
portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco.’” (Jo
20,19-21.26).
Após a Ascensão de Jesus, Pedro presidiu a assembléia
dos apóstolos que escolheu Matias para substituir Judas Escariotes (At
1-15-26), fez seu primeiro sermão no dia de Pentecostes (2,14-36), e peregrinou
por várias cidades.
Pedro batizou e incluiu na Igreja de Jesus Cristo o
primeiro pagão e toda a sua família, o centurião Cornélio, conforme constatamos
nos Atos dos Apóstolos, capítulo 10.
Fundou as linhas apostólicas de Antioquia e Síria (as
mais antigas sucessões do Cristianismo, precedendo as de Roma em vários anos)
que sobrevivem em várias ortodoxias Sírias.
Escreveu duas Epístolas e, provavelmente, foi a fonte
de informações para que Marcos escrevesse seu Evangelho. Encontrou-se com Paulo
Apóstolo em Jerusalém (cf Gl 1,19; 2,9), e apoiou a iniciativa de Paulo de
Tarso de incluir os não judeus na fé cristã, sem obrigá-los a participarem dos
rituais de iniciação judaica.
Após esse encontro, foi preso por ordem do rei Agripa
I, encaminhado à Roma durante o reinado de Nero, onde passou a viver. Ali
fundou e presidiu à comunidade cristã, base da Igreja Católica Apostólica
Romana, e, por isso, segundo a tradição, Pedro foi executado por ordem do
imperador de Roma, Nero.
Conta-nos a tradição que Pedro pediu aos carrascos
para ser crucificado de cabeça para baixo, por se julgar indigno de morrer na
mesma posição de Cristo Salvador, a quem havia negado por três vezes. O túmulo
de Pedro se encontra sob a catedral de São Pedro, no Vaticano, e é autenticado
por muitos historiadores.
Conheçamos Paulo.
Paulo se chamava também Saulo (At 13,9), nome hebraico
derivado de Saul, o primeiro
rei dos israelitas, que significa pedido. Era judeu por descendência e romano devido à
importância de sua cidade natal no Império (At 16,37; 22,25-30).
Paulo era seu nome romano, considerando a sua
cidadania romana, derivado do latim Paulus, que significa pequeno:
“Então Saulo, também chamado Paulo...” (At 13,9).
Paulo nasceu em Tarso, cidade principal da Cilícia (At
21,39), possivelmente entre os anos 5 e 10 dC e é conhecido como o grande
apóstolo dos gentios, povos não judeus. Descendia de uma família hebréia da
tribo de Benjamin (At 23,6; Fl 3,5), que havia obtido a cidadania romana, de
grandes posses e prestígio político. Seus pais, sendo como eram, fiéis à lei
mosaica, o mandaram logo para Jerusalém para ser educado lá e onde moravam sua
irmã e seu sobrinho (At 23,16; 26,4). Tal mudança deve ter ocorrido por volta
dos treze anos de idade de Paulo, quando todo judeu deveria se apresentar no
templo judaico.
Judeu e fariseu fervoroso (Gl 1,14; At 22,3; 26,4-5)
foi circuncidado ((Fl 3,5.7.9a) e recebeu o nome de Saulo e teve como professor
e preceptor um dos mais sábios e notáveis rabinos daquele tempo, o grande
Gamaliel (At 22,3), neto do ainda mais famoso Hilel, de quem recebeu as lições
sobre os ensinos do Antigo Testamento (At 22,3). Foi este Gamaliel, cujo
discurso está contido nos Atos dos Apóstolos 5,34-39, que aconselhou o Sinédrio
a não tentar contra a vida dos apóstolos. Saulo tornou-se um fariseu convicto e
extremamente zeloso (Gl 1,14).
Pela análise de todos os textos por ele escritos,
entende-se que a família de Saulo era influente. Paulo mesmo chegou a possuir
algum nível de autoridade política e religiosa em Jerusalém. É discutido se
Paulo tivesse participado do Sinédrio ou simplesmente de uma sinagoga, onde
votava contra os cristãos (At 26,10), mas, ter feito parte ou não do Sinédrio
inexiste citação nos textos sagrados. Parte de sua instrução foi o aprendizado
da confecção de tendas, ofício que mais tarde lhe serviria como fonte de renda
em algumas viagens.
Paulo falava e escrevia corretamente o grego (At
21,37), a língua comum (koiné) das cidades e do comércio. Falava também o
hebraico (At 21,40; 26,14), a língua na qual foi escrita a maior parte do
Antigo Testamento e que ainda se usava nas sinagogas. Falava o aramaico do povo
da Palestina, língua materna de Jesus.
Não se sabe se Paulo falava o latim de Roma, mas, com certeza, sim,
considerando ser um cidadão romano por adoção.
Primeira vez que Saulo aparece nas Sagradas
Escrituras: no apedrejamento de Estevão: “As testemunhas depuseram seus
mantos aos pés de um jovem chamado Saulo.” (At 7,58); “Saulo era um daqueles que aprovavam a morte de
Estevão. Naquele dia desencadeou-se uma grande perseguição contra a igreja de
Jerusalém. E todos os apóstolos se espalharam pelas regiões da Judéia e da
Samaria”. (At 8,1); “Saulo,
porém, devastava a igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e
mulheres, para colocá-los na prisão.” (At 8,3).
A perseguição de Saulo serviu apenas como fermento
para a difusão da mensagem de Jesus Cristo: “E aqueles que se dispersaram
iam de um lugar para outro anunciando a Palavra”. (At 8,4). Pode um homem
que perseguiu e torturou cristãos tornar-se também um cristão? O que faz com
que o perseguidor dê meia-volta em sua vida e passe a ser perseguido? Existe esperança para alguém que blasfema o
nome de Deus e odeia os que seguem a Jesus?
“Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor.
Ele apresentou-se ao sumo sacerdote, e lhe pediu cartas de recomendação para as
sinagogas de Damasco, a fim de levar presos para Jerusalém todos os homens e
mulheres que encontrasse seguindo o CAMINHO.
Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, Saulo se viu
repentinamente cercado por uma luz que vinha do céu. Caiu por terra e ouviu uma
voz que lhe dizia: ‘Saulo, Saulo, por que você me persegue? ’ Saulo perguntou: ‘Quem és tu, Senhor? ’ A
voz respondeu: ‘Eu sou Jesus, a quem você está perseguindo. Agora se levante,
entre na cidade, e ai dirão o que você deve fazer’.” (At 9,1-6).
Esta é a história da conversão de Saulo de Tarso.
Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?”
A sua primeira pergunta de Saulo não foi: “Senhor,
o que queres que eu faça?”, mas, sim, “Senhor,
quem és Tu?” Porque cristianismo não é somente fazer. Cristianismo é
descobrir, em primeiro lugar, quem é Jesus, apaixonar-se por Ele, amá-Lo com
todo o coração, viver uma vida de comunhão com esse maravilhoso “quem”. Só
depois que Jesus reproduziu seu caráter na vida de Paulo, é que ele aprendeu a
fazer as coisas que devem ser feitas: os “quês” e “porquês” do cristianismo. E
Jesus diz a Saulo: “... levanta-te, e
entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” (At 9,6)
Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, Paulo,
conforme ele mesmo escreveu, converteu-se sem a pregação do evangelho por parte
de outro homem: “Irmãos, eu declaro a vocês: o Evangelho por mim anunciado
não é invenção humana. E, além disso, não o recebi nem aprendi através de um
homem, mas por revelação de Jesus Cristo”. (Gl 1,11-12).
O próprio Ananias, indicado por Jesus para socorrer
Paulo, ficou temeroso quando Deus lhe enviou a orar por aquele que era
conhecido como o grande perseguidor da Igreja: “Ananias respondeu: “Senhor,
já ouvi muita gente falar desse homem e do mal que ele fez aos teus fiéis em Jerusalém. E aqui em
Damasco ele tem plenos poderes que recebeu dos chefes dos sacerdotes, para
prender todos os que invocam o teu nome”. (At 9,10 ss).
Paulo foi ousado demais e, depois de convertido,
passou a falar de Jesus por onde passasse. A ousadia com que Paulo passou a
anunciar Jesus acabou por incomodar muita gente. Em Damasco o perseguidor
começa a ser perseguido. Os cristãos não o aceitavam porque tinham medo dele
(At 9,19-22). Os judeus, inconformados pela conversão de Paulo, combinaram em
matá-lo (At 9,23-25).
Nem os seguidores de Jesus que estão em Jerusalém
acreditam em Paulo, exceto Barnabé, homem iluminado, que tenta aproximar Paulo
dos demais apóstolos (9,26).
Saulo tentou se aproximar dos discípulos de Jesus, mas
tinham medo dele (At 9,28). Saulo discutia com os helenistas (gregos), e estes
projetaram matá-lo (At 9,29). A partir daí, Saulo desaparece por um tempo de
cena, só aparecendo, novamente, de At 11,25 em diante.
Nesse período, possivelmente, Saulo esteve por cinco
anos de silêncio em Tarso, e, durante esse período de tempo (três anos?) em
retiro no deserto (na Arábia, cf Gl 1,17).
A conversão tirou Saulo de uma posição na sociedade e
o colocou em outra bem inferior. Ao invés de empregador, dono de uma oficina de
confecção de tendas, com seus empregados e escravos, acabou, sendo ele mesmo,
um empregado, um trabalhador assalariado com aspecto de escravo: “Por
causa dele perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, e
estar com ele.”. (Fl 3,8-9). Mal e mal ganhava o suficiente para
poder sobreviver: “E quando passei
necessidade entre vocês, não fui pesado a ninguém... Em tudo evitei ser pesado
a vocês e continuarei a evitá-lo”. (2Cor 11,9).
A conversão para Cristo criou para Paulo uma situação
nova, imprevista. De um lado, cortado da comunidade judaica, perdeu o círculo
de amizades que tinha. Deve ter perdido, também, a clientela entre os judeus,
pois eles passaram a odiá-lo a ponto de querer matá-lo. (At 9,23).
Por outro lado, enviado para a missão pela comunidade
de Antioquia (At 13,2-3), levou vida errante, durante mais de doze anos, sem
domicílio, sem oficina e sem a possibilidade de montar uma clientela fixa. Essa
nova situação o obrigou a buscar uma nova maneira de sobreviver.
O nome “Saulo” permanece até At 13,9: “Então Saulo, que também se chamava
Paulo...”.
Fora da Palestina, Paulo começa a tentar evangelizar
os judeus que “encheram-se de inveja e
com blasfêmia contradiziam o que Paulo falava”. (At 13,45). Paulo, então,
voltou-se para os gentios, os povos não judeus. “Então, com mais coragem ainda, Paulo e Barnabé declararam: ‘Era
preciso anunciar a palavra de Deus, em primeiro lugar para vocês, que são
judeus. Porém, como vocês a rejeitam, e não se julgam dignos da vida eterna,
saibam que nós vamos dedicar-nos aos pagãos. Porque esta é a ordem que o Senhor
nos deu: Eu coloquei você como luz para as nações, para que leve a salvação até
aos extremos da terra”. (At 13,46-47). “Então o Senhor me disse: ‘Vá! É
para longe, é para os pagãos que eu vou enviar você’”. (At 22,21).
Depois de sua conversão, Paulo descobre que Jesus o
amou antes até que ele próprio conhecesse Jesus, chegando ao cúmulo de Jesus
dar a sua vida por ele: “E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gl 2,20b) e “...Cristo
morreu por nós quando ainda éramos pecadores.” (Rm 5,8b).
Paulo joga para o alto tudo o que ele tinha vivido até
então como fariseu, deixando bem claro isso na sua carta aos Filipenses: “Por
causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro agora considero
como perda. E mais ainda: considero tudo uma perda diante do bem superior que é
o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo.
Por causa dele perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar
Cristo, e estar com ele. (Fl 3,7-9a).
Paulo fez sua confissão sincera: “Eu também antes
acreditava ser meu dever combater com todas as forças o nome de Jesus, o
Nazareu. E foi isso que eu fiz em Jerusalém: prendi muitos cristãos com
autorização dos chefes dos sacerdotes, e dei o meu voto para que fossem
condenados à morte. Em todas as sinagogas eu procurava obrigá-los a blasfemar
por meio de torturas e, no auge do furor, eu os caçava até em cidades
estrangeiras”. (At 26,9-11). Paulo
tinha consciência de que Cristo era aquele que veio para a salvação da
humanidade: “Certamente vocês ouviram falar do que eu fazia quando
estava no judaísmo. Sabem como eu perseguia com violência a Igreja de Deus e
fazia de tudo para arrasá-la. Eu superava no judaísmo a maior parte dos
compatriotas da minha idade, e procurava seguir com todo o zelo as tradições
dos meus antepassados”. (Gl
1,13-14).
Nos seus escritos, Paulo se autodenomina Apóstolo: Paulo,
apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de Deus...” (1Cor 1,1); “Por
acaso não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi nosso Senhor?”(1Cor 9, 1). “Paulo,
apóstolo de Jesus Cristo por ordem de Deus nosso Salvador e de Jesus Cristo
nossa esperança, a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé; graça misericórdia e
paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor”. (1 e 2Tm 1,1-2).
Porque “apóstolo”? O Apóstolo era aquele que, conforme Pedro, quando se
propuseram a substituir Judas, teria seguido Jesus desde o seu batismo até a
ascensão aos Céus, conforme Pedro afirma em At 1,21-22: “Há outros homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o
Senhor vivia no meio de nós, desde o batismo de João até o dia em que foi
levado ao céu (ascensão do
Senhor). Agora é preciso que um deles se
junte a nós para testemunhar a ressurreição.”.
Paulo se enquadra nesse perfil? Não. Mas Paulo se
justifica: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de
Deus..”. (1Cor 1,1); “Por acaso não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi
nosso Senhor?” (1Cor 9, 1); “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por ordem
de Deus nosso Salvador e de Jesus Cristo nossa esperança, a Timóteo, meu
verdadeiro filho na fé; graça misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de
Jesus Cristo nosso Senhor”. (1 e 2Tm 1,1-2). “Não da parte dos homens,
nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai”. (Gl
1,1).
Paulo considera-se a si mesmo como apóstolo e
testemunha, embora não tenha sido testemunha da ressurreição do Mestre: “Em
último lugar apareceu a mim, que sou um aborto. De fato, eu sou o menor dos
apóstolos e não mereço ser chamado apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus. Mas
aquilo que sou, eu o devo à graça de Deus; e sua graça dada a mim não foi
estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de
Deus que está comigo. Portanto, ai está o que nós pregamos, tanto eu como eles;
ai está aquilo no qual vocês acreditaram”. (1Cor 15,8-11); “Deus, porém,
me escolheu antes de eu nascer e me chamou por sua graça”. (Gl 1,15). “Então
o Senhor me disse: Vá! É para longe, é para os pagãos que eu vou enviar
você”. (At 22,21); “Pelo que
vejo, Deus reservou o último lugar para nós que somos apóstolos, como se
estivéssemos condenados à morte, porque nos tornamos espetáculo para o mundo,
para os anjos e para os homens”. (1Cor 4,9).
Os sofrimentos de Paulo não foram poucos e ele mesmo
os narra para se defender dos ataques daqueles que diziam que ele era um
impostor: “São ministros de Cristo? Falo como louco: eu o sou muito mais.
Muito mais pelas fadigas; muito mais pelas prisões; infinitamente mais pelos
açoites; freqüentemente em perigo de morte; dos judeus recebi cinco vezes os
quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado;
três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto mar. Fiz muitas viagens.
Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte de
meus irmãos de raça, perigo por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no
deserto, perigos no mar, perigos par parte dos falsos irmãos. [...] “Mais
ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome e sede, muitos jejuns,
com frio e sem agasalho. E isso para não contar o resto: a minha preocupação
cotidiana, a atenção que tenho por todas as igrejas. Quem fraqueja, sem que eu
também me sinta fraco? Quem cai, sem que eu me sinta com febre? Se é preciso
gabar-me, é de minha fraqueza que vou me gabar. O Deus e Pai do Senhor Jesus,
que é bendito para sempre, sabe que não minto”. (2Cor 11,22-31).
Paulo teve muitos problemas nas comunidades que
fundara trazidos pelos judeus convertidos ao cristianismo, conhecidos como
“judaizantes”.
Os judaizantes: quem eram? “Chegaram alguns homens
da Judéia (fariseus que haviam se convertidos para o cristianismo) e
doutrinavam os irmãos de Antioquia, dizendo: “Se não forem circuncidados, como
ordena a Lei de Moisés, vocês não poderão salvar-se” Isso provocou uma grande
discussão entre Paulo e Barnabé. Então ficou decidido que Paulo e Barnabé e
mais alguns iriam a Jerusalém para
tratar dessa questão com os Apóstolos (Pedro, Tiago e João) e anciãos. (Em
Jerusalém) alguns daqueles que haviam pertencido ao partido dos fariseus e que
haviam abraçado a fé intervieram, declarando que era preciso circuncidar os
pagãos e mandar que eles observassem a Lei de Moisés.” (At 15, 1-2.5)
Criou-se, ai, a necessidade
uma reunião em Jerusalém, com Pedro Tiago e João e anciãos de Jerusalém para
discutirem esse assunto, reunião essa que participaram Paulo e Barnabé (At
15,6-21) e que passou a ser conhecida como o primeiro concílio da Igreja. Os cristãos de Antioquia tinham costumes diferentes
dos cristãos de Jerusalém que eram todos judeus e por muito tempo agiram como
judeus (At 21,17). Os Apóstolos e anciãos de Jerusalém se reuniram para tratar
desse assunto. Pedro faz um discurso. (At 15,7-11). “Paulo e Barnabé contam
a todos os sinais e prodígios que Deus havia realizado por meio deles entre os
pagãos.” (At 15,12). Tiago faz um discurso. (At 15,13-21).
Dessa reunião em Jerusalém confeccionou-se a chamada
carta conciliar (At 15,22-29), tendo se
chegado às seguintes conclusões: Primeiro: Acolhida dos irmãos que
vieram do paganismo. Segundo: Reprovação contra os judaizantes; Terceiro: Envio
de Paulo, Barnabé, Judas, chamado Barsabás e Silas para transmitirem
pessoalmente a decisão do Concílio; Quarto: Não colocar fardos sobre os
neo-convertidos do paganismo ao cristianismo, que deveriam abster-se da carne
sacrificada aos ídolos, do sangue das carnes sufocadas e das uniões ilícitas e
ficando livre da observância da Lei de Moisés e da circuncisão.
Para criar as comunidades, a estratégia pastoral de
Paulo é bastante clara: privilegiava os grandes centros urbanos, fundando ai um
núcleo cristão. Esse pequeno grupo, que se reunia nas casas, sentia, ao crescer
em número, a necessidade de dar origem a outros grupos, na mesma cidade, ou nas
cidades menores da periferia. Dessa forma, aos poucos, Paulo crê atingir as
aldeias, numa evangelização que pode ser chamada “em rede”.
O relacionamento entre Paulo e Pedro nem sempre foi um
mar de rosas.
Quando Pedro vai a Antioquia, Paulo lhe chama a
atenção por dar mau exemplo: Paulo se opõe a Pedro, que se colocou do lado dos
judaizantes da turma de Tiago, desmascarando-lhe a hipocrisia (2,11-14), por
ocasião da visita de Pedro à comunidade de Antioquia: “Mas quando Cefas (Pedro) veio a
Antioquia, eu o enfrentei abertamente porque ele se tinha tornado digno de
censura. Com efeito, antes de chegarem alguns vindos da parte de Tiago, ele
comia com os gentios, mas quando chegaram, ele se subtraia e andava retraído,
com medo dos circuncisos. Os outros judeus começaram, também , a fingir junto
com ele, a tal ponto que até Barnabé se deixou levar por sua hipocrisia. Mas quando vi que não
andavam retamente segundo a verdade do evangelho, eu disse a Pedro diante de
todos: se tu sendo judeu, vives a maneira dos gentios e não dos judeus, porque
forças os gentios a viverem como judeus?”(Gl 2,11-14).
A tradição nos diz que Pedro
e Paulo morreram no mesmo dia, na cidade de Roma, sob o império de Nero, entre
os anos 64-67, por ocasião do incêndio de
Roma causado pelo imperador Nero. Paulo, como cidadão romano que era, foi morto
pela espada.
Pedro, por sua vez, como era estrangeiro cuja terra
era dominada pelos romanos, foi morto na cruz, que era o suplício dos inimigos
dos romanos, marginais, terroristas, e todos os que contrariavam a lei romana.
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