PAZ... O QUE É PAZ?
Às vezes, em
muitas circunstâncias da vida, como os apóstolos estavam se sentindo após a
crucificação e morte de Jesus, nos sentimos sozinhos, abandonados, isolados. Nesse
isolamento sentimos um vazio intenso e o silêncio grita alto dentro de nós
todas aquelas coisas que gostaríamos que se tornassem conhecidas e aceitas para
provar que somos humanos, que acertamos algumas vezes e erramos outras tantas;
e o silêncio explode dentro de nosso cérebro, dentro do nosso peito, dentro do
nosso coração, ressoando fortemente em nossa alma e, desesperadamente, buscamos
paz, procuramos a paz, lutamos pela paz, desejamos ardentemente a paz... paz...
paz...
Como
necessitamos de paz. Como procuramos a paz, como desejamos a paz. Paz interior.
Paz de espírito. Paz na alma. Paz onde vivemos. Paz onde trabalhamos. Como
procuramos a paz.
Mas como a
procuramos nos lugares mais equivocados, nos lugares onde, absolutamente, ela
não está, não se encontra, e, nessa busca desenfreada pela paz mais nos
confundimos, mais nos desesperamos, mais nos perdemos, mais nos equivocamos.
Mas, o que é
paz? Se procurarmos no dicionário encontraremos que paz é ausência de guerra, é
tranquilidade, serenidade, sossego, descanso, ausência de hostilidade,
silêncio... Mas a paz que o nosso espírito, o nosso coração, a nossa alma busca
não é somente ausência de guerra, nem tranquilidade, nem o que tudo o mais que
o dicionário pressupõe.
A paz que
buscamos, a paz verdadeira é estarmos de bem conosco mesmos e com Deus, mesmo
que à nossa volta haja confusão, guerra, incompreensão, agressões... A paz
verdadeira vem de Deus, somente de Deus; paz interior, paz de consciência, paz
de espírito, paz na alma, paz no coração... A paz que buscamos não é essa paz
que é sinônimo de tranquilidade, mesmo contrariando a definição de paz que nos
dão os dicionários da nossa língua portuguesa.
Realmente, a paz que vem de
Deus não pode ser sinônimo de tranquilidade, porque, por um paradoxo, o Senhor
Nosso Deus nos dá a sua paz exatamente para não nos deixar em paz, para não nos
deixar tranquilos, porque, quem tem a paz que vem do Senhor não pode estar
tranquilo ao conviver com tantas injustiças, tantas mentiras, agressões,
infidelidades, falsidades, desumanidade, desamor, tantos interesses escusos e
mesquinhos que existem entre as pessoas, e o pior, pessoas que se dizem
cristãs, e isso em quaisquer seguimentos cristãos e no mundo inteiro.
Quem tem a paz que vem do
Senhor não pode se acomodar, não pode se tranquilizar, porque a paz que o
Senhor nos dá não é a mesma paz que o mundo transmite: “A minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe
nem se intimide o vosso coração.” (Jo 14,27).
Quem tem a paz
que vem do Senhor Nosso Deus não pode se omitir ao ver tantas e tantas faltas e
falhas, tantos pecados imperarem nos locais que, por força das circunstâncias e
princípios, deveriam ser santos; não podem concordar com aqueles que deveriam
se postar em defesa dos oprimidos e dos injustiçados se calarem criminosa e
covardemente; não podem ter repouso ao presenciar tantas agressões covardes
contra aqueles que não podem e não sabem e nem tem condições de se defender,
tanto física quanto moral, psicológica e até religiosamente.
Por isso, a
paz não é e nem pode ser sinônimo de tranquilidade.
O Senhor nos
dá a paz, mas não nos deixa em
paz... A paz que vem do Senhor é aquela que deve nos
desalojar do nosso comodismo da mesma maneira como aconteceu com Maria, a mãe
de Jesus que, após receber em seu coração e no seu ventre a Paz Personificada
no Filho de Deus, não se acomodou e partiu para uma longa viagem ao tomar
conhecimento, pela boca do Anjo que viera lhe trazer a Boa Nova da vinda do
Messias, que a sua parenta Isabel, mulher já de idade avançada, necessitava de
sua ajuda, de sua presença para auxiliá-la nos preparativos dos últimos dias de
sua gravidez temporã, conforme narra Lucas, 1,26-27.
Só os valentes
têm essa paz verdadeira. Os valentes que assumem de corpo e alma os preceitos
emanados das Sagradas Escrituras e ditados pelo Senhor Nosso Deus e que se
sintonizam com a vontade divina para servirem de instrumentos nas mãos do Pai a
fim de dar continuidade ao plano de salvação iniciado por Jesus Cristo e que se
prolonga na luta do dia-a-dia de sua Igreja.
E o resultado
dessa paz nem sempre é uma velhice tranquila ou uma aposentadoria sem lutas e
abastada como todos desejariam que fossem, como aconteceu com a irmã Dóroty.
O resultado
dessa paz é, muitas vezes, a incompreensão dos homens e do mundo, é uma coroa
de espinhos, são flagelos, chacotas, indiferenças e dores que, muitas vezes,
terminam ao se ver o mundo do alto, mas do alto de uma cruz, como aconteceu com
o Senhor Jesus, e isso não é novidade pois que, o Senhor Jesus já nos alertava
a respeito disso: “Não existe discípulo
superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor. Basta que o discípulo se
torne como o mestre e o servo como o seu senhor.” (Mt 10,24-25).
Essa paz que
buscamos desesperadamente somente a encontramos, e gratuitamente, nos é
transmitida, através dos apóstolos e discípulos, pelo Senhor Jesus: ”A paz esteja com vocês”. (Lc 24,36; Jo
20,21.26), e “Eu deixo para vocês a paz,
eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo
dá. Não fiquem perturbados , nem tenham medo.” (Jo 14,27).
Por incrível
que possa parecer, vemos que todos aqueles que receberam a paz diretamente do
Senhor Jesus e, estando em pleno gozo dessa paz, foram perseguidos, caluniados,
flagelados, assassinados, martirizados. E ai nos vem a pergunta: “Que tipo
de paz é essa que, para gozá-la plenamente, passa-se por todas essas
privações?”.
Essa é a paz verdadeira que vem do Senhor Nosso Deus nos dando
plena segurança de que vale à pena ser perseguido injustamente pelo mundo e
incompreendido pelos homens e até por aqueles que amamos de verdade; vale à
pena, desde que permaneçamos fieis às observâncias dos preceitos evangélicos
transmitidos por Jesus Cristo e consolados por sua exortação: “Bem-aventurados os que são perseguidos
por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados são
vocês, quando lhes injuriarem e lhes perseguirem e, mentindo, disserem todo o
mal contra vocês por causa de mim. Alegrem-se e regozijem-se, porque será
grande a recompensa de vocês nos céus, pois foi assim que perseguiram os
profetas, que vieram antes de vocês.” (Mt 5,10-12).
A paz que recebemos do
Senhor Nosso Deus nos traz alegria interior. A paz que o mundo nos oferece se
transforma em remorso.
O Senhor faz
bem-aventurados todos aqueles que vivem na sua paz e a sua paz e as
bem-aventuranças evangélicas são o conforto que o Senhor dá aos que vivem na
sua paz.
Bem-aventurados
os que buscam a paz no Senhor, os que vivem plenamente essa paz e que a
transmitem a todos os que o cercam. Precisamos dessa paz, buscamos essa paz e
somente essa paz porá fim ao silêncio gritante que ecoa em nossos corações
pelas indecisões que a vida nos traz.
No Evangelho
de João, na oportunidade dessa mesma narrativa, Jesus transmite a paz
juntamente com o envio dos apóstolos para o mundo, transmitindo a eles o
Espírito Santo que ele havia prometido durante quase toda a sua pregação, além
de lhes facultar uma atitude que só a Deus pertence: a de perdoar pecados: “Jesus
disse de novo para eles:A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou eu
também envio vocês. Tendo falado isso Jesus soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito
Santo.. os pecados que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados que vocês
não perdoarem, não serão perdoados.” (Jo 20,21-23).
A presença do
Espírito Santo transmitido à Igreja de Jesus Cristo só pode trazer e transmitir
a paz, não a paz do mundo, “a paz
que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá”.
A presença do Espírito Santo na Igreja
patrocina o perdão pleno e irrestrito dos pecados.
A presença do Espírito Santo transmitido por
Jesus ao soprar sobre os seus apóstolos, deve ser materializada no amor,
porque, como disse João na sua carta: “Filhinhos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo
aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a
Deus, porque Deus é amor. [...]
“Nós reconhecemos o amor que Deus
tem por nós e acreditamos nesse amor. Deus é amor: quem permanece no
amor permanece em Deus, e Deus permanece nele.” 1Jo 4,7-8.16).
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