domingo, 28 de fevereiro de 2016

“EU SOU AQUELE QUE SOU”. (Ex 3, 14)

III DOMINGO DA QUARESMA – ANO “C”

“EU SOU AQUELE QUE SOU”.  (Ex 3, 14)


Diácono Milton Restivo

Não devemos entender o livro do Êxodo como apenas um relato de um fato que se passou séculos atrás. Neste livro encontramos um modelo inspirador da busca da liberdade, o amor que Deus tem por seu povo Israel, e como esse povo lutou para encontrar seu espaço e se tornar realmente um povo, e mais do que isso, o povo eleito de Yahweh. O livro do Êxodo continua existindo e aberto para todos os tempos e lugares onde possa existir um povo com o mesmo anseio de libertação, como disse Pedro na sua carta: “Mas vocês são a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo conquistado da escravidão, para que anunciem as virtudes daquele que chamou vocês das trevas para a sua maravilhosa luz”. (1Pd 2,9). Acredito que todos conhecem a história do povo israelita no Egito, como chegaram até lá, como foram recebidos lá, como lá se estabeleceram, e quais foram as consequências do seu crescimento em terras estrangeiras.
Todos conhecem, também, o período de escravidão desse povo no Egito: “Ai nessa terra eles ficarão como escravos e serão oprimidos durante quatrocentos anos.” (Gn 15,13), e mais: “A estada dos filhos de Israel no Egito durou quatrocentos e trinta anos. No mesmo dia em que terminaram os quatrocentos e trinta anos, os exércitos de Israel saíram do Egito”. (Ex 12,40-41).
A história de Moisés está intrinsecamente vinculada a esses acontecimentos.
Devido ao crescimento vertiginoso dos israelitas em terras egípcias, e a preocupação das autoridades de que aumentando demais o povo israelita esse pudesse dominar os egípcios, o faraó ordenou às parteiras que poupassem somente as meninas quando nascessem, devendo sacrificar os meninos: “O rei do Egito ordenou às parteiras dos hebreus, que se chamavam Sefra e Fuá: ‘Quando vocês ajudarem as hebréias a dar à luz, observem se é menino ou menina: se for menino, matem; se for menina, deixem viver’ [...] ‘Joguem no rio Nilo todo menino que nascer; e se for menina, deixem viver’. (Ex 1,16.22). Pelo menos, desta feita, vemos as mulheres serem preferidas e tirarem vantagens aos homens nas Sagradas Escrituras, principalmente no Antigo Testamento. 
      No seu nascimento Moisés foi poupado dessa macabra determinação, mas, como se tornou impraticável criá-lo com sua família, foi colocado, em um cesto de papiro vedado com betume e piche, à deriva, nas águas do rio Nilo, de onde foi tirado e depois criado pela filha do Faraó (Ex 2,1-12). Então, devemos entender que, se Moisés foi adotado pela filha do Faraó, que era uma princesa do Egito, ele também se tornou príncipe do Egito. Os anos se passaram, mas o sangue que corria nas veias de Moisés era do povo oprimido, escravizado, e isso clamou mais forte quando Moisés se certificou da opressão que o seu povo, o povo de seus pais, estava sendo submetido, e cometeu um desvario, matando um guarda egípcio que maltratava um israelita (Ex 2,11-15). Com medo da represália, que fatalmente sofreria, Moisés fugiu deixando para trás as mordomias, honrarias e nobreza e, de príncipe do Egito que era, tornou-se um fugitivo e pastor do deserto (Ex 2,16-22).
É nessa situação que a nossa liturgia de hoje vai encontrar Moisés. 
De príncipe do Egito, Moisés torna-se um fugitivo, busca refúgio no deserto, é acolhido por um sacerdote de Madiã e pastor que tinha sete filhas.  Moisés casa-se com uma delas e torna-se pastor (Ex 2,15-22). As Sagradas Escrituras não declinam de qual divindade esse pastor era sacerdote, mas o mostram como um homem de coração generoso.
Durante o pastoreio no deserto apareceu, para Moisés, o Anjo de Yahweh numa chama de fogo, no meio de um arbusto; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, mas não se consumia.
O fogo é um dos símbolos da presença de Deus: coluna de fogo (Ex 13,21); línguas de fogo no Pentecostes (Atos 2,3); as velas no altar. Moisés ficou observando e não entendeu porque o arbusto queimava, mas não se consumia. É comum, no deserto, devido o calor de certas horas do dia, um arbusto ressequido pelo sol se inflamar espontaneamente. Isso não era novidade para Moisés, pois ele já deveria ter visto muitos nessas condições. Mas, o arbusto que pegava fogo e não se consumia, isso ele nunca tinha visto. Moisés não tinha idéia do que ia acontecer, que teria a sua vida inteiramente modificada e se sentiu atraído por aquela visão. A curiosidade falou mais alto que a cautela; “então Moisés pensou: ‘vou chegar mais perto e ver essa coisa estranha: por que será que a sarça não se consome?”.  (Ex 3,3). Vendo o Senhor que Moisés se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: “Moisés! Moisés! Ele respondeu: Aqui estou!”. (Ex 3,4).
Moisés estava sendo levado por uma experiência mística nas proximidades do Monte Horeb, que também será conhecido mais tarde como monte Sinai, a montanha do Senhor, onde Yahweh chama Moisés para libertar o seu povo, e mais tarde vai concluir a Aliança e proclamar a Lei (Êxodo, dos capítulos 20 a 24).  Do meio da sarça ardente Moisés ouviu uma voz: era a voz de Elohim, o Deus da eternidade; era a voz de Yahweh, o Deus que provê.
Yahweh chama Moisés pelo nome; Deus conhece cada um e todos pelo próprio nome. Deus, quando chama alguém, e o chama pelo nome, é porque este alguém já é íntimo seu.
 Deus deixa clara a sua preocupação de afirmar que conhece a cada um desde antes de habitar o ventre materno, e antes de lá sair, ele escolheu e o consagrou para o seu serviço: “Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei” (Jr 1,1-5). Certamente Yahweh tinha planos mais ousados para Moisés. E Yahweh continuou: “Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está pisando é um lugar sagrado.” (Ex 3,5). Aquele era um momento solene acontecendo num lugar sagrado.
Situação idêntica aconteceu com Josué, muitos anos mais tarde, quando Yahweh também dirigiu a palavra a Josué: “Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está pisando é lugar sagrado.” (Js 5,16). Na festa do dia da expiação os judeus vão descalços à sinagoga. Nos paises orientais é costume e obrigação ritual tirar o calçado para o culto para entrar na mesquita.
Tirar os sapatos dos pés é apresentar-se totalmente desarmado e desprovido diante de Deus. Desarmado de todos os vícios e tendências ao mal e desprovido de toda autoconfiança “porque sem mim nada podereis fazer” (Jo 15,5b) vai nos dizer Jesus mais tarde.
Yahweh disse mais para Moisés: “Eu sou o Deus dos seus antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. (Ex 3,6). Isso quer dizer que, apesar dos quatrocentos e trinta anos que o povo israelita estava sendo submetido à escravidão no Egito (Ex 12,40-41), Yahweh não havia se esquecido da promessa que havia feito a Abraão quando o tirou da casa de seus pais para dele fazer um grande povo: “Sai de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e o abençoarei; tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma benção. Abençoarei os que abençoarem você e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem. Em você, todas as famílias da terra serão abençoadas.” (Gn 12,1-3), e mais, para encorajar Abraão, dando-lhe todo apoio necessário para que a promessa se tornasse realidade: “Não tenha medo, Abrão, eu sou o seu escudo, e sua recompensa será muito grande” (Gn 15,1).  Mais tarde, nos seus escritos, Paulo confirmaria a fidelidade de Yahweh: “É fiel o Deus que os chamou à comunhão...” (1Cor 1,9).
Ao ouvir a voz que saia do meio da sarça ardente e que não se consumia, Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus: era o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó que lhe estava falando. Continuou falando Yahweh: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel.” (Ex 3,7-12). Deus conhece o sofrimento dos seus filhos. Moisés estava ali ganhando uma missão: a de libertar o povo do sofrimento, da humilhação e da escravidão do Egito. Mas, a partir daí, entra a descrença, a desconfiança, a insegurança, o medo e a tentativa de se eximir da responsabilidade que lhe estava dando Yahweh. Isso aconteceu com muitos profetas.
O profeta Jonas ao receber o chamado de Deus para conscientizar a cidade de Nínive que estava vivendo em pecado, “partiu, então, com a intenção de escapar da presença de Yahweh”. (Jn 1,3). O profeta Jeremias tentou se safar do chamado de Deus, dizendo-se criança: “Ah, Senhor Yahweh, eu não sei falar, porque sou criança”. (Jr 1,6). Mas Yahweh não admite recusa: “Não diga ‘sou jovem’, porque você irá para aqueles a quem eu mandar, e anunciará aquilo que eu lhe ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo. [...] Não tenha medo; senão eu é que farei você ter medo deles.” (Jr 1,7-8.17).
Moisés relutou em aceitar a missão que Yahweh estava lhe dando: “Meu Senhor, eu não tenho facilidade para falar, nem ontem, nem anteontem, nem depois que falaste ao teu servo; minha boca e minha língua são pesadas.” [...] “Não meu Senhor, envia o intermediário que quiseres.” (Ex 4,10.13). Assim aconteceu com Moisés que tenta achar justificativas para não assumir a missão que lhe estava destinada: “Quando eu me dirigir aos filhos de Israel, eu direi: ‘O Deus dos antepassados de vocês me enviou até vocês’; e se eles perguntarem: ‘Qual é o nome dele?’ O que eu vou responder?”. (Ex 3,13). Foi a maneira que Moisés achou para se eximir da responsabilidade que Yahweh lhe estava transmitindo, como se dissesse: Quem sou eu para ir ao faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?”
A princípio, Yahweh ignorou essa disfarçada recusa de Moisés, e: “Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou”. (Ex 3,14). Deus está falando de si mesmo e por isso afirma: “Eu Sou fazendo uso da primeira pessoa ou “Eu sou aquele que é cujo significado é: “Eu sou o existente”.
Ao seu povo, Israel, Deus revelou-se, dando-lhe a conhecer o seu nome: “Sou aquele que é”. Ele é o único Deus que tem existência real. A revelação do nome inefável “Eu sou aquele que sou contém, pois, a verdade de que “só Deus é” (CIC 213).
Deus é a plenitude do Ser e de toda perfeição. Nele não há começo e nem fim. Trata-se, portanto, de uma analogia de atribuição, pois o nome “Eu sou Aquele que é ou “Eu sou Aquele que Sou refere-se ao próprio Deus. Como mistério foge a qualquer tentativa de conceituação.
Assim, Deus ao se revelar ao Israel como “Aquele que é”, comunica-se também como Aquele que é Amor e Verdade, que através de suas obras se mostrou fiel à aliança com o seu povo.
O nome exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido de sua vida. Deus tem um nome. (CIC 203). O nome de Deus é misterioso como Deus é mistério e ao mesmo tempo um nome revelado e como a recusa de um nome.
O Catecismo da Igreja Católica, 206, diz: “Ao revelar seu nome misterioso de Yahweh, “Eu sou aquele que é” ou “Eu sou quem sou”, Deus declara quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Esse nome divino é misterioso como Deus é mistério. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime de melhor forma a realidade de Deus como ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: ele é o “Deus escondido” (Is 45,15), seu nome é inefável, e ele é o Deus que se faz próximo dos homens”. O nome de Deus revela sua fidelidade de sempre para sempre: no passado: “Eu Sou o Deus de teus pais” (Ex 3,6); no futuro: “Eu estarei contigo” (Ex 3, 12); no presente: “Eu Sou”. Deus que se revela como “Eu Sou” é um Deus que está presente junto ao seu povo para salvá-lo (CIC 207).
Em hebraico, o nome de Deus é I H W H, impronunciável, que costumamos mencionar como sendo I A H W E H. Conhecer o nome pessoal de Deus equivale conhecer o seu caráter.
Ao revelar o seu caráter ao homem, Deus se revela de uma forma bem íntima e pessoal.
A palavra I H W H, ou melhor, o nome de Deus, torna-se conhecido ao seu povo só quando Deus se revela a Moisés no Monte Horeb (Ex 3,14), significando que Deus é imutável, eterno; I H W H é o verdadeiro "EU SOU". I H W H aparece 6.823 vezes no Antigo Testamento; é o mesmo nome que é ordenado por Deus, para que não seja pronunciado em vão: “Não pronuncie em vão o nome de Yahweh seu Deus, porque Yahweh não deixará sem castigo aquele que pronunciar o nome dele em vão.” (Ex 20,7). E na constituição do seu povo, Yahweh não o deixa esquecer de tudo o que ele fez para esse povo, quando afirma: “Eu sou Yahweh, seu Deus, que fiz você sair da terra do Egito, da casa da escravidão.” [...] “Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu, Yahweh, seu Deus, sou um Deus ciumento.” (Ex 20,2.5).
João, no seu Evangelho, identifica Jesus com Yahweh e coloca na boca de Jesus várias vezes a afirmativa de Yahweh: Eu sou”, que é o próprio nome de Yahweh. Jesus se coloca em igualdade com o Pai. João gosta de ressaltar como Jesus se referia a si mesmo e, nestas referências, como usava o “Eu sou.”. Quando o barco com os discípulos estava à deriva sob a tempestade no meio do lago, Jesus vai a seu socorro e, diante do medo expressado pelos discípulos, Jesus os tranqüiliza: “Sou eu, não tenhais medo”. (Jo 6,20b). Jesus se dá a conhecer com a utilização do título divino do Êxodo “Eu sou aquele que sou.” “Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que é’. E continuou: ‘Você falará assim aos filhos de Israel: Eu sou me enviou até vocês.” (Ex 3,14); Eu sou Iahweh. Esse é o meu nome.” (Is 42,8). Eu sou, põe em evidência o caráter divino de Jesus: “Se vocês não acreditam que Eu sou, vocês vão morrer nos seus pecados.”  (Jo 8,24).
Em outra ocasião, Jesus diz que ele existia antes de Abraão e teve que se esconder para não ser apedrejado: “Eu garanto a vocês: antes que Abraão existisse, Eu sou. Então eles pegaram pedras para atirar em Jesus, Mas Jesus se escondeu e saiu do Templo”. (Jo 8,58-59).
Só Deus poderia dizer Eu sou. Judeu algum pode dizer “Eu sou. Veja que após esta declaração de Jesus, os judeus tentam apedrejá-lo (pena de morte para a heresia de se dizer Deus). 
A fórmula “Eu sou” como a vemos no livro do Êxodo quando Deus se apresenta à Moisés dizendo Eu sou aquele é”, é própria do Criador, no entanto Jesus toma posse desta expressão para auto-definir-se: “Eu sou o pão da vida.”  (Jo 6,35); Eu sou o pão que desceu do céu.” (Jo 6,41); “Eu sou o pão vivo descido do céu.” (Jo 6,51); “Eu sou a luz do mundo.” (Jo 8,12); Se vocês não acreditam que Eu sou, vocês vão morrer nos seus pecados.”  (8,24); “Quando vocês levantarem o Filho do Homem, saberão que Eu sou e que não faço nada por mim mesmo, pois falo apenas aquilo que o Pai me ensinou.” (Jo 8,28); “Eu garanto a vocês: antes que Abraão existisse, Eu sou. Então eles pegaram pedras para atirar em Jesus.” (Jo 8,58). “Enquanto eu estou no mundo, Eu sou a luz do mundo.” (Jo 9,5); Eu sou a porta das ovelhas.” (Jo10,7.9); Eu sou o bom pastor.” (Jo 10,11.14); Eu sou a ressurreição e a vida.” (Jo 11,25); Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. (Jo 14,6); Eu sou a videira, e meu Pai é o agricultor.” (Jo 15,1.5).
Como Jesus falou em aramaico, deve ter ficado bem claro o nome de Deus para os judeus.
Os judeus nem sequer pronunciavam o nome de Deus, mas Jesus vai além e o aplica a si.
João mostra no início do seu Evangelho que Jesus é o próprio Deus, encarnado: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. [...] E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade.” (1,1-4.14).  João desenvolve este tema por todo o seu evangelho. E, no seu último livro das Sagradas Escrituras, o Apocalipse, vai mostrar Jesus dizendo isto a seu próprio respeito: Eu sou o Alfa e o ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o fim.” (Apo 22,13).
Passando para o Evangelho desta liturgia Jesus narra a parábola da figueira; da figueira sem frutos, uma frustração para o agricultor: “Já faz três anos que venho procurando figos nessa figueira e nada encontro. Corta-a! Porque está ela inutilizando a terra?” (Lc 13,7).
Jesus andou durante três anos pelas estradas ensolaradas e empoeirentas da Palestina, percorrendo de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, ensinando, pregando, e não gostou do que viu: um povo consagrado que não produzia frutos. Crentes vivendo sem testemunho, como se não acreditassem. Na parábola, alguém vem em socorro da figueira: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás”. (Lc 13,8-9).
Moisés ouviu a voz do Eu Sou”, tornou-se testemunha de Yahweh. Deus ganhou visibilidade em Moisés. E se Moisés não tivesse levado a sério? Com certeza, Deus teria escolhido outro substituído em lugar de Moisés.
Da mesma forma, quando não levamos a sério o nosso chamamento, somos cortados, substituídos. Quem deixa de dar testemunho por palavras e ações, comportamento e comprometimento, é substituído, é uma figueira sem fruto que deve ser arrancada para não ocupar espaço; a presença de Deus deixa de ser visível na pessoa infrutífera, e ele busca outra.
E estamos no Tempo da Quaresma que é um tempo oportuno para uma reflexão sobre a nossa vida cristã. É claro que todos somos pecadores, e estamos em permanente necessidade de conversão.
A parábola da figueira nos anima diante das nossas fraquezas, pecados e tropeços na caminhada, pois Deus é compassivo, e em Jesus sempre nos convida a voltar ao bom caminho.
Por outro lado, a Quaresma também deve nos estimular para que busquemos na verdade caminhos de conversão, descobrindo onde e como somos "figueiras sem frutos", buscando o "adubo" da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, da Campanha da Fraternidade, para que voltemos a produzir os frutos devidos a verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus.

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