V DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO “C”
“FAREI DE VOCÊS PESCADORES DE HOMENS”.
Diácono
Milton Restivo
No domingo
passado a liturgia da Palavra versou sobre o chamamento e a vocação do profeta
Jeremias. A primeira leitura da liturgia deste domingo focaliza a vocação do
profeta Isaías. Isaías narra uma visão aterradora, do “Senhor sentado num trono de grande altura; o seu manto estendia-se
pelo templo. Havia serafins de pé a seu lado; cada um tinha seis asas”. (Is
6,1-2).
É somente nesta
passagem de Isaias que é mencionado, na Bíblia, especificamente, a figura dos
serafins: “De pé, acima dele, estavam serafins...” (Is 6,2).
As Sagradas Escrituras nada mais dizem a respeito
de serafins, senão o que se contém nesta passagem: “Cada um deles tinha seis
asas: com duas cobria a face, e com outras duas cobriam os pés e com duas
voavam. E clamavam um para o outro, e diziam: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus
dos Exércitos cheia está toda a terra da sua glória”, (Is 6,2-3).
Com estas palavras os serafins louvavam a Deus por
sua perfeita Santidade.
João, ao escrever o Apocalipse, setecentos anos
depois desses acontecimentos, narra uma visão que teve, semelhante a essa, com
quatro seres vivos, sem dizer que eram serafins, e “cada um dos quatro seres vivos tem seis asas e são cheios de olhos ao
redor e por dentro. Dia e noite sem parar, eles proclamam: ‘Santo! Santo!
Santo! Senhor Deus todo poderoso! Aquele-que-é, que-era e que-vem!” (Apo
4,8).
Santo quer dizer “separado”: separado do impuro e
do profano. Santo quer dizer: essencialmente puro, soberanamente perfeito.
Yahweh já havia admoestado o povo israelita,
dizendo: “Eu sou Yahweh, o Deus de vocês.
E vocês foram santificados e se tornaram santos, porque eu sou santo. [...]
Eu sou Yahweh , que os tirei do Egito,
para ser o Deus de vocês; sejam santos, porque eu sou santo”. (Lv 11,44.45;
19,2).
A mãe de Samuel, Ana, que era estéril, quando fica
grávida de seu filho, agradece, dizendo: “Ninguém é santo como Yahweh, não existe Rocha como o nosso Deus”. (1Sm
2,2).
Jesus, nos seus ensinamentos, ratificaria essa
admoestação de Yahweh: “Portanto, sejam
santos como o vosso Pai celeste é santo”. (Mt 5,48), o que Pedro repetiria
na sua primeira carta: “Assim como é
santo o Deus que os chamou, também vocês tornem-se santos em todo o
comportamento, porque a Escritura diz: ‘sejam santos porque eu sou santo’.”
(1Pd 1,15-16).
Quando, nas Sagradas Escrituras, o adjetivo é repetido
por três vezes consecutivas, é como se empregasse o grau superlativo absoluto
sintético, ou seja, como se dissesse: “Santíssimo”,
adjetivo esse que só é empregado à divindade.
Esta fórmula a Igreja a utiliza na sua liturgia,
no prefácio da Santa Missa: “Santo, Santo, Santo, Santo, Senhor
Deus do universo. O céu
e a terra proclamam a Vossa glória. Hossana nas alturas. Bendito o que
vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas.”, utilizando a primeira parte de Isaias e do
Apocalipse e a segunda parte da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, como
vemos em Lucas, 19,38.
Diante de tanta magnetude, Isaias temeu pela sua
própria vida, e não era para menos, porque os ensinamentos mosaicos chamavam a
atenção de que homem nenhum poderia ver Yahweh face a face e continuar vivo,
conforme disse o próprio Yahweh para Moisés: “Você não poderá ver o meu rosto, porque ninguém poderá vê-lo e
continuar com vida. [...] Quando a
minha glória passar, eu colocarei você na fenda da rocha e o cobrirei com a
palma da mão, até que eu tenha passado. Depois tirarei a palma da mão e me
verás pelas costas. Minha face, porém, você não poderá ver.” (Ex 33,20.22).
Tinha razão Isaias quando, no seu desespero,
disse: “Ai de mim, estou perdido! Sou
apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos
exércitos.” (Is 6,5), pelo que Yahweh havia dito:“ninguém poderá vêr o meu rosto e continuar com vida.”
Apesar dessa
observação, o Antigo Testamento revela que somente Moisés tinha o privilégio de
ver o rosto de Yahweh e com ele conversar face a face: “Yahweh falava com Moisés face a face, como um homem fala com o amigo.”
(Ex 33,11). Mais tarde Jesus dirá que “ninguém
jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único que está junto ao
Pai.” (Jo 1,18).
Tendo Isaias confessado ser homem pecador, de
lábios impuros, continua sua narração, dizendo que “um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa que retirara do
altar com um tenaz, e tocou minha boca, dizendo: Assim que isso tocou teus
lábios, desapareceu tua culpa, e teu pecado está perdoado”. (Is 6,6-7). Isaías
recebe do serafim o toque que o purifica.
Assim como
Isaias, o profeta Jeremias, no seu chamamento ao profetismo, também recebeu o
toque de Deus, quando atesta: "Yahweh
estendeu a mão, tocou em minha boca e me disse: ‘Veja, estou colocando minhas
palavras em sua boca." (Jr 1,9).
Depois de
Isaias ter sido purificado com o toque da brasa em seus lábios pelo serafim, estava
pronto para desempenhar o ministério que receberia do Senhor.
Apesar da
atitude inusitada do serafim de tocar seus lábios com uma brasa, Isaias deve
ter voltado à calma, quando ouviu “a voz
do Senhor que dizia: ‘Quem enviarei? Quem irá por nós’?” (Is 6,8). Era o
chamamento ao profetismo. E Isaias responde prontamente: “Aqui estou! Envia-me!” (Is 6,8).
Da mesma forma,
no Evangelho, e de forma inusitada, Jesus também convoca seus discípulos, na
pessoa de Pedro, para o profetismo, para vestirem a camisa do time do Pai: “Não tenha medo. De hoje em diante você será
pescador de homens.” (Lc 5,10).
Através dos
Santos Evangelhos Jesus demonstra um cuidado especial, fora do comum para
todos, especialmente para com as pessoas que acreditam em sua mensagem.
Muitas vezes
Jesus dirige-se às multidões e, outras vezes, aos seus discípulos em particular
para, de uma maneira especial, conscientizá-los e instruí-los a fim de que,
depois que retornasse à casa do Pai, dessem continuidade à sua missão.
Existem certas
passagens nos Santos Evangelhos que, quando as meditamos, nos dão a impressão de
que estamos inseridos no contexto e no cenário dos acontecimentos evangélicos.
Para
entendermos muitas passagens dos Evangelhos faz-se necessário tornar-nos participantes
e procurar sentir aquilo que o povo, os discípulos e os apóstolos de Jesus
sentiam quando presenciavam as maravilhas operadas pelo Divino Mestre.
Grande parte
dos ensinamentos evangélicos de Jesus deu-se às margens do lago de Genesaré.
Nas margens
desse lago permanecem lembranças de maravilhas operadas pelo Divino Mestre.
Faz-se necessário
conhecer o palco dos acontecimentos que nos narra a liturgia de hoje.
Segundo alguns
historiadores, esse lago recebe vários nomes como Mar da Galiléia, Lago de
Genesaré, mar de Tiberíades e até mar Quinerete (Nm 34,11). O rio Jordão o atravessava de norte para o
sul e suas águas se encontram a 194 metros abaixo do nível do mar. Trata-se de
um pequeno lago de mais ou menos vinte quilômetros de cumprimento por nove até
onze de largura. Sua profundidade máxima chega a 250 metros .
Jesus, com seus
discípulos, atravessou de barco várias vezes esse lago, e, foi nesse lago que Jesus
andou sobre as águas (Mt 14,22-33; Mc 6,45-52; Jo 6,16-21).
Foi nas margens
desse lago que Jesus convidou, para segui-lo, os seus primeiros discípulos, depois
apóstolos, Pedro, seu irmão André, Tiago e seu irmão João. (Mt 4,18-22).
Foi nas águas
desse lago que se precipitou a manada de porcos tomada pelos demônios que Jesus
expulsara de dois endemoniados. (Mt 8,28-34).
Foi nas
cercanias desse lago que Jesus curou “...
coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros... de modo que as multidões
ficaram espantadas ao ver os mudos falando, os aleijados sãos, os coxos andando
e os cegos a ver. E renderam glória ao Deus de Israel.” (Mt 15,29-31).
Foi na
travessia desse lago que, enquanto Jesus dormia no fundo do barco, “houve uma grande agitação, de modo que o
barco era varrido pelas ondas...”, tendo os discípulos e apóstolos entrado
em pânico e acordado a Jesus que, a seguir
“pondo-se de pé, conjurou severamente os ventos e o mar. E houve uma grande bonança.
Os homens ficaram espantados e diziam: ‘Quem é este a quem até os ventos e o
mar obedecem’?” (Mt 8,23-27).
Foi nesse lago
que “Naquele dia, saindo Jesus de casa,
sentou-se à beira-mar. Em torno dele reuniu-se uma grande multidão. Por isso,
entrou num barco e sentou-se, enquanto a multidão estava em pé na praia. E
disse-lhes muitas coisas em parábolas...” (Mt 13,1-3).
Foi às margens
desse lago que Jesus, depois de morto e ressuscitado, apareceu aos seus apóstolos,
promoveu mais uma pesca milagrosa, comeu peixes com eles, e fez aquela,
pergunta a Pedro, por três vezes: “Simão,
filho de João, tu me amas mais do que estes?”, tendo Pedro, pela
insistência do Mestre se entristecido porque sabia de suas falhas, tendo o
Mestre lhe dito: “Apascenta as minhas
ovelhas!” (Jo 21,1-23).
Muitas outras
passagens evangélicas se deram à margem desse lago. Podemos dizer, sem receio
de cometer equívocos, que foi nas margens desse lago o cenário natural onde o
Divino Mestre costumava e gostava de transmitir os seus ensinamentos.
Foi nesse lago
que os pescadores tiravam o sustento para a sua sobrevivência e de sua família.
E é nesse lago que vamos encontrar com Jesus na nossa meditação de hoje: “Certa vez em que a multidão se comprimia
ao redor dele para ouvir a palavra de Deus, à margem do lago de Genesaré, viu
dois pequenos barcos parados à margem do lago; os pescadores haviam
desembarcado e lavavam as redes. Subindo num dos barcos, o de Simão, pediu-lhe que
se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava do barco às
multidões.” (Lc 5,1-3).
Interessante
essa passagem do Evangelho; estavam dois barcos na praia onde os pescadores haviam
desembarcado e lavavam as suas redes após uma infrutífera pescaria de uma noite
inteira.
Dois barcos; um
deles era de Simão Pedro. O outro não sabemos quem era o seu proprietário cujo
nome permanece anônimo no Evangelho.
E Jesus escolhe
o barco de Pedro para pregar às multidões.
Eram dois os
barcos, e Jesus escolhe exatamente o de Pedro. Isso quer dizer alguma coisa?
Claro que sim.
É da barca de
Pedro que Jesus convoca todos os homens de boa vontade para serem herdeiros do
Reino de Deus.
É da barca de
Pedro, a Igreja de Jesus Cristo, que o Senhor congrega a sua família para
alimentá-la com a palavra de vida eterna e com o “... o alimento que permanece até a vida eterna... o pão da vida... porque
o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.” (Jo 6,27.35.33).
Entre os dois
barcos Jesus escolhe o de Pedro para dali pregar à multidão e, “Quando acabou de falar, disse a Simão: Avance
para as águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.” (Lc 5,4). Pedro,
a essa ordem do Mestre, deve ter sorrido ironicamente, porque ele, Pedro, era
um pescador profissional, antigo e experimentado e, afinal das contas, aquela
era a sua profissão desde sua mais tenra idade, e o que Jesus entendia de pesca
se ele era um carpinteiro e tinha pouca afinidade com a pesca? Afinal, quem era
este carpinteiro para ensinar quatro pescadores profissionais como pescar?
Esse
carpinteiro, obviamente, não sabia que era melhor pescar de noite, e não de dia?
Não sabia que os peixes estavam em outra parte do lago, já que Pedro e os
outros profissionais haviam pescado a noite inteira sem sequer encontrá-los
nesta região? Pedro, pela sua experiência, sabia que aquela era uma ordem
absurda, mesmo porque ele e sua equipe haviam pescado durante a noite toda e
peixe nenhum havia sido pego, e exatamente, naquela ocasião ele, Pedro, e sua
equipe, estavam desolados pelo insucesso da pesca e procuravam afastar a
frustração lavando as redes, tirando delas todo enrosco, pedaços de paus e toda
sujeira que foi apanhada na rede durante a pesca desalentadora da noite. Mas
Pedro, apesar do riso irônico e da descrença natural de pescador experimentado
que havia tentado a noite toda e nada pescado, reconsidera sua atitude, e por
ser o Mestre que estava determinando, responde: "Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas porque
mandas, lançarei as redes." (Lc 5,5).
Afinal das
contas, Pedro já conhecia a Jesus. Foi este carpinteiro que Pedro viu expulsar
um demônio da sinagoga em Cafarnaum usando apenas a sua palavra (Lc 4,36).
Depois, foi este mesmo carpinteiro que havia curado a sogra dele e muitas
outras pessoas (Lc 4,38-41).
Por conhecer a
Jesus e o poder de sua palavra, Pedro se segurou no meio de sua objeção e
disse, “mas porque mandas, lançarei as redes.” (Lc 5,5).
Pedro e seus
companheiros de barco, tendo Jesus a bordo, afastaram-se um pouco da margem e,
mesmo descrentes e a contragosto, lançaram a rede na certeza que seria uma
atitude inútil, como durante a noite, agora também nada pescariam, mas,
surpresa: “Fizeram isso e apanharam
tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. Fizeram então sinais
aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os
dois barcos, a ponto de quase afundarem.” (Lc 5,6-7).
Com certeza,
Pedro ficou pasmo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo. A uma
ordem do Mestre de lançarem a rede, na certeza absoluta de que seria uma
tentativa inútil, tiveram de pedir ajuda aos companheiros do outro barco porque
apanharam tamanha quantidade de peixes que a rede ameaçava se romper por não
estar suportando o peso, e encheram os dois barcos de peixes a tal ponto que os
barcos ficaram na iminência de afundar.
Quantas vezes
isso acontece na nossa vida. Trabalhamos dias inteiros, noites inteiras e não
conseguimos nada para as nossas realizações e o nosso crescimento espiritual. Continuamos
sempre vazios como a barca de Pedro quando voltou da noite de pesca frustrada e
desanimados como os pescadores que haviam pescado a noite inteira e nada haviam
pescado.
Assim é a nossa
vida.
Quantos
problemas temos tentado resolver durante a vida toda. Quantas angústias
trazemos nos nossos corações e não sabemos como lidar com elas, como nos livrar
delas. Como às vezes nos sentimos cansados, desiludidos, sem forças mais para
lançar a rede e tentar novamente pegar algum peixe. As nossas barcas estão
sempre vazias de esperança, de confiança, de paz, de amor, de certezas, de
consolo, de conforto...
Mas, de
repente, aparece Jesus e, sem avisar, sobe no barco de nossa vida e manda-nos
fazer a mesma coisa que durante toda a vida tentamos fazer inutilmente e sem
sucesso, e ele manda-nos fazer no mesmo lago, nas mesmas circunstâncias da
vida, mas em locais, maneiras e horários diferentes. E, muitas vezes, caímos na
tentação, de fazer como fez Pedro: sorrir ironicamente da ordem dada por Jesus.
Se tentamos a vida inteira e nada conseguimos para melhorar a situação, agora
vem Jesus e nos determina que façamos a mesma coisa que sempre fizemos sem
sucesso, mas, como fez Pedro, nós também dizemos: “Ora essa, Senhor, há quanto tempo estou tentando, estou trabalhando,
estou me sacrificando e nada consegui até agora, continuo sem nada, continuo
vazio, sem esperanças e desanimado, até sem forças para continuar... Mas, como
é o Senhor que está pedindo, está determinando, não custa nada tentar mais uma vez...”
E, a mando de
Jesus, fazemos mais uma tentativa, lançamos as redes e, desta vez, a nossa rede
vem cheia da graça de Deus, cheia de fé, esperança, amor ao próximo e, a partir
daí vemos que, sem Jesus nada somos e nada podemos, e passamos a acreditar no
que ele nos diz: "Sem mim você nada
pode fazer." (Jo 15,5).
Muitas vezes
Jesus Cristo não espera ser convidado: ele determina. Sobe no nosso barco e dai
organiza a nossa vida. Basta que tenhamos a boa vontade de abrir os nossos
ouvidos, os nossos corações para ouvir a sua voz, as suas determinações, os seus
mandamentos e colocá-los em prática; tudo se modifica, tudo melhora. Basta que
ouçamos o que Jesus tem a nos dizer e colocarmos em prática o que ele nos
disser. Não foi assim com os pescadores? Eles pescaram a noite toda, sem
sucesso. Jesus entrou no barco e ordenou que lançassem a rede. A princípio eles
relutaram em aceitar esse conselho, ou mais que um conselho, uma ordem, mas,
por ser o Mestre quem determinava, lançaram a rede e o resultado... já o
conhecemos...
Assim é a nossa
vida. Precisamos ter a certeza de que Jesus está em nosso barco, na nossa vida,
e confiar na sua palavra e lançar as redes no local e na hora que ele nos
determinar; ai veremos as nossas redes voltarem cheias de fé, esperança,
caridade, amor e confiança, consolo, conforto, e de tudo o mais que Jesus nos
dá e oferece para alcançarmos a paz
interior, tão necessária para os dias atribulados que vivemos...
O que não devemos
é continuar acomodados nas águas rasas e tranquilas, enquanto a missão exige
que nos lancemos para águas profundas e atender ao convite de Jesus para levar
o nosso barco para águas mais profundas: “Avance
para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.” (Lc 5,4), e, a
partir daí, aguardemos os resultados: já não depende mais de nós o sucesso da
pescaria; é Jesus quem vai agir.
Logo que Pedro
assistiu a cena da pesca abundante, não se conteve e, perto da santidade e
divindade, em contraste com a fragilidade e o pecado humano, ele sentiu-se
indigno de estar na presença do Mestre e exclama, em tom até de uma súplica
angustiada, atirando-se aos pés de Jesus: “Senhor,
afasta-te de mim, porque sou um pecador.” (Lc 5,8).
A reação de
Pedro indica claramente que ele acreditava estar na presença do Divino.
Da mesma forma
em que a luz cria sombra, a proximidade da santidade põe em relevo a sombra do
pecado humano. Jesus não atende ao pedido de Pedro porque foi exatamente por
sermos pecadores que ele veio! Pelo contrário, fala para Pedro não ter medo nem
da sua fraqueza, nem da sua natureza pecaminosa, nem das suas falhas.
Jesus chama
Pedro tal como ele é. Jesus nos quer do jeito que somos: pecadores,
imperfeitos, cheios de manias...
Jesus nos ama,
não como gostaríamos e pensamos que somos, mas como somos de fato.
Não devemos ter
medo da nossa realidade humana e pecadora, pois todos nós carregamos “um tesouro em vaso de barro” (2Cor
4,7), mas podemos caminhar com confiança porque “se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós?” (Rm 8,1).
Somos chamados a seguí-lo do jeito que somos.
Séculos antes,
quando o Senhor apareceu a Isaías para chamá-lo para a sua missão, o profeta
teve o mesmo impulso, dizendo: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um
homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos
exércitos.” (Is 6,5).
À vista do
milagre desta pesca, algo como nenhum destes pescadores profissionais jamais
havia presenciado, Simão Pedro se prostrou aos pés de Jesus, o adorando. E
Jesus o tranquiliza, dizendo: “Não tenha
medo! De hoje em diante você será pescador de homens.” (Lc 5,10).
Da mesma forma que haviam sido treinados para pescar
peixes, se seguissem as instruções de Jesus, ele iria treiná-los para “pescar”
homens. Admirados com o poder da palavra de Jesus, os pescadores: “levaram as barcas para a margem, deixaram
tudo, e seguiram Jesus” (5,11).
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