XXII DOMINGO DE TEMPO COMUM
“QUEM SE ELEVA SERÁ HUMILHADO E QUEM SE HUMILHA SERÁ EXALTADO”. (Lc
14,11).
Diácono
Milton Restivo
A primeira
leitura da liturgia de hoje é tirada do livro do Eclesiástico, também chamado
“Sirácida”, “Sirácide” ou ainda, “Sabedoria de Jesus, filho de Sirac” em
algumas tradições da Bíblia. Na Igreja primitiva Latina o Eclesiástico era
chamado “Livro da Igreja” porque era utilizado com frequência para a instrução,
a catequese dos fiéis. Está relacionado entre os “livros sapicienciais” da
Bíblia como o Eclesiastes, com o qual não se confunde, além de Salmos,
Provérbios, Cântico dos Cânticos, Jó e Sabedoria.
Desde os
primeiros séculos do Cristianismo o nome mais comum para designar este livro foi
“Eclesiástico” (do latim “Ecclesiasticus liber”), o que significa o livro da
igreja ou da assembléia.
São
Cipriano (200-258), bispo da cidade de Cartago e mártir, parece ter sido
o primeiro a usar esse nome, devido ao uso que dele se fazia na Igreja primitiva
para a catequese dos catecúmenos, ou seja, dos que estavam sendo preparados
para o batismo.
Com efeito, de
entre os Livros Sapienciais, é o Eclesiástico o mais rico de ensinamentos
práticos, apresentados de um modo paternal e persuasivo.
Apesar de se
lhe chamar também, como vimos acima, de “Sirácide” ou “Sirácida”, derivado de
uma forma alternativa de “Sirac”, os principais manuscritos gregos usam o
título de “Sabedoria de Jesus, filho de Sirac” (Eclo 50,27) ou então, simplesmente,
“Sabedoria de Sirac”: “Jesus, filho de
Sirac de Jerusalém, escreveu neste livro uma doutrina de sabedoria e ciência, e
derramou nele a sabedoria de seu coração. Feliz aquele que se entregar a essas
boas palavras; aquele que as guardar no coração será sempre sábio; pois, se ele
as cumprir, será capaz de todas as coisas, porque a luz de Deus guiará os seus
passos”. (Eclo 50,29-31).
Este livro não
consta da Bíblia protestante, considerado por esses nossos irmãos queridos como
livro apócrifo, isto é, não revelado, mas, contrariando essa postura, o Livro
do Eclesiástico é citado centenas de vezes nos livros do Novo Testamento.
Podemos citar
alguns exemplos das centenas que ali existem: Tg 1,19; “Vocês já sabem, meus queridos irmãos: cada um seja pronto para ouvir,
mas lento para falar...”; = Eclo 5,11:
“Esteja pronto para ouvir e lento para dar a resposta”; Mt 11,29: “Aprendam de mim, porque sou manso e humilde
de coração” = Eclo 51,23ss: “Aproximem-se
de mim, vocês que não tem instrução”; Lc 1,52: “Derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” = Eclo 10,14: “O Senhor derruba o trono dos poderosos e
faz os humilhados assentarem-se no lugar deles”; Ef 6,1: "Filhos, obedecei a vossos pais segundo
o Senhor: porque isto é justo”. = Eclo 3,2: “Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que
sejais salvos”.
Os Evangelhos
segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos, as cartas paulinas
e as cartas dos outros apóstolos estão repletos de citações do livro do
Eclesiástico, o que coloca por terra a alegação dos nossos queridos irmãos que
negam o livro do Eclesiástico como sendo revelado.
Nos Evangelhos
muitas passagens do livro do Eclesiástico são usadas por Jesus nos seus
ensinamentos. Mas, que benefício nos traz em querer discutir quantos livros tem
uma e outra Bíblia se não lemos nem uma e nem outra e ignoramos e não seguimos
os seus ensinamentos? Seria pelo prazer de discutir e de dizer que se sabe mais
do que os outros? O egocentrismo, o culto ao “eu” se infiltra onde a Palavra de
Deus é deixada de lado e, com isso, é deixado de lado o amor para com o irmão e
o relacionamento íntimo com Jesus Cristo. Não se convive mais com a Sagrada
Escritura. E a caridade, onde ficou?
A passagem do
Livro do Eclesiástico lida nesta liturgia vai de encontro com os ensinamentos
de Jesus nos Evangelhos. Fala da mansidão, da generosidade, da humildade e do
poder do Senhor que é glorificado pelos humildes. Combate o mal do orgulhoso e
orienta que “quanto mais importante você
for, tanto mais seja humilde, e encontrará favor diante do Senhor. Pois o poder
do Senhor é grande, mas ele é glorificado pelos humildes. [...] Um coração orgulhoso acabará mal, e quem ama
o perigo nele cairá.” (Eclo 3,18-20.25).
Não foi isso
que Jesus falou quando orava em voz alta, no meio do povo, para agradecer ao
Pai por ter revelado as suas maravilhas aos pequeninos e humildes e as ocultado
aos que se consideravam e consideram sábios e entendidos? “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes estas
coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai,
porque assim foi do teu agrado”. (Lc 10,21; Mt 11,25).
O Salmo
responsorial demonstra o grande amor que Deus tem pelos humildes,
discriminados, desamparados: “Pai dos
órfãos, protetor das viúvas, assim é Deus em sua morada santa. Deus dá aos
marginalizados uma casa, liberta os cativos e os enriquece. [...] Derramaste sobre tua herança, ó Deus, uma
chuva copiosa, aliviando a terra esgotada, e o teu rebanho habitou na terra que
tua bondade, ó Deus, preparou para o pobre. [...] Bendito seja o Senhor a cada dia! Deus leva nossas cargas. Ele é o
nosso salvador.” (Sl 68 (67),6-7.10-11.20).
Toda a Liturgia
da Palavra se encaminha na direção da frase dita por Jesus no Evangelho: “Quem se eleva será humilhado e quem se
humilha será exaltado”. (Lc 14,11).
Nos nossos dias
esse ensinamento soa como ridículo. Todos querem aparecer, se destacar entre os
demais, ser melhores que os outros.
O mundo à nossa
volta enaltece quem se destaca numa telenovela, no futebol, na loteria, na
sociedade, nos clubes, nos negócios e até nos grandes escândalos que a mídia
notifica a cada dia que passa, uns maiores que o outro.
As colunas
sociais das revistas e jornais estão cheias de senhores e madames que possuem
conta bancária abarrotada de dinheiro, mas de coração e espírito vazios da presença de Deus e da solidariedade para
com o próximo. Todos querem abrir um grande sorriso para as luzes estonteantes
das máquinas fotográficas e televivas para exibirem os seus momentos de
vanglória ou glória vã, usando perfumes, roupas, sapatos e jóias que compraram
à custa do suor e do sangue dos seus empregados a quem pagam um mísero salário,
o salário da fome.
Ninguém quer
olhar para o pequenino, para aquele que sofre, nem mesmo para aquele que se
apaga para que outros brilhem.
E assim vai o
mundo... “Vaidade das vaidades, tudo é
vaidade. Que proveito tira o homem de todo trabalho com que se afadiga debaixo
do sol?” (Ecl 1,2-3).
Cheio de orgulho,
cheio de vaidade, e tudo isso sugere hipocrisia.
A hipocrisia
entre aqueles que se dizem cristãos e que professam a Jesus Cristo como Senhor
e Salvador continua a ser um obstáculo para aqueles que gostariam de crer.
O problema,
provavelmente, nunca foi dito de maneira tão clara e objetiva do que quando
disse Mahatma Ghandi, de religião hindu, a respeito da cristandade: “Gosto do Cristo deles, mas não gosto dos
cristãos. Eles são tão pouco parecidos com seu Cristo”. Essas palavras de
Ghandi são dirigidas diretamente a cada um de nós: nos dizemos cristãos mas
estamos longe de nos parecermos com o Cristo que pregamos.
Desde o início
da realização de seu plano de salvação para todos os homens, o Senhor nosso
Deus buscou os simples e humildes, os rejeitados, os discriminados, aqueles que
se humilhavam diante de Deus e eram por Deus exaltados.
Quer pessoa
mais humilde para ser a mãe de seu Filho Unigênito, senão uma virgem? “E o nome da virgem era Maria”. (Lc
1,26c).
E essa virgem
revela toda a sua confiança e se entrega nas mãos de Deus e declara toda sua
humildade e nada ser se não for por vontade de Deus, e Deus a enaltece sobre
todas as gerações: “Minha alma glorifica
o Senhor, e exulta meu espírito em Deus, meu salvador, porque ele olhou para a
humildade de sua serva. De hoje em diante todas as gerações me chamarão
bem-aventurada, porque o Senhor realizou em mim grandes coisas.” (Lc 1,46-49).
Por que será
que todas as gerações que se identificam como cristãs ainda não a tem como
bem-aventurada? E através da humildade dessa virgem “Deus fez-se homem para que o homem pudesse se tornar Deus”. Isso
não é para nos deixar exuberantes de alegria?
Quando do
nascimento do seu Filho, a quem Deus Pai se propôs anunciar a magnitude desse
evento? Aos homens e mulheres da alta sociedade, aos intocáveis de Belém ou de
Judá? Aos sacerdotes elitisados que cumpriam, como que por obrigação, como
profissionais do altar como tantos sacerdotes ainda hoje, o seu turno no Templo
de Jerusalém? Ao sumo sacerdote que vivia no seu palácio rodeado de servidores
e mordomias? Às pessoas que se julgavam santas e devotas, como os fariseus, e
que tinham o povo e os pastores dos rebanhos como ignorantes por não conhecerem
e nem poderem conhecer, como eles, a Lei de Moisés, e bem por isso estavam
destinados à condenação eterna?
Não! O Pai não
escolhe nenhum desses para anunciar o maior acontecimento da história da
humanidade: a encarnação de um Deus no seio de uma virgem e o seu nascimento
num curral de animais como um excluído, um rejeitado, um pária da sociedade.
O povo simples
e humilde, os pobres, os pastores eram tidos pelos “sábios” fariseus como “malditos por não conhecerem a Lei”: “Esse
povo que não conhece a Lei, são uns malditos”. (Jo 7,49). E o Pai anuncia o
nascimento de seu Filho Unigênito precisamente para esse povo, considerado
pelos “santos e sábios” como
malditos: os pastores, os ignorantes, os pobres, os excluídos da sociedade da
época e de hoje também...
Que coisa
desconcertante.
E o Pai,
exatamente com os pastores, os rejeitados e discriminados, dá início a série
das desconcertantes surpresas e novidades evangélicas. Os últimos tornam-se os
primeiros, e a sociedade hipócrita e podre, que se julgava e se julga a
primeira, torna-se a última.
E quanto ao rei
Herodes, como será que ele deveria saber do nascimento daquele que,
ironicamente, teria sobre sua cabeça na cruz o título de “rei dos judeus”?
Afinal das
contas, Herodes havia reconstruído o Templo de Jerusalém onde os sacerdotes
ofereciam sacrifícios e o povo adorava a Yahweh, mas, por que? Por motivos
políticos. Herodes só queria ser o primeiro.
Herodes queria
destacar-se no meio do povo e na história.
Ah! Esses
políticos atuais... Aprenderam tanto com Herodes...
Para que
Herodes tomasse conhecimento do nascimento do Filho Unigênito do Pai outros
marginalizados lhe trouxeram a notícia; gente de povos estrangeiros e desprezados
pelos judeus porque não comungavam a mesma crença, a mesma fé; eram pagãos,
eram gentios... Os magos... Vieram de fora, vieram de longe, e Herodes só teve
conhecimento do nascimento do Salvador através da boca desses estrangeiros
considerados pagãos pelos judeus.
Os humildes
continuam sendo exaltados e o Pai coloca na boca dos rejeitados, dos humildes e
desprezados a notícia da redenção do gênero humano.
E qual foi a
atitude de Herodes? E quais são as atitudes dos Herodes dos nossos dias?
Dinheiro na meia, dinheiro na cueca, dinheiro na bolsa, dinheiro nos paraísos
fiscais, e os pobres que se danem...
Assim como
Herodes mandou matar as crianças de Belém (cf Mt 2,13-18), os que assim ainda agem
hoje matam a expectativa de um povo que ainda busca na fé a realização de suas
esperanças...
Mas Jesus não
desistiu dessas investidas do Pai.
Ao iniciar a
sua missão, Jesus escolhe doze. Doze discípulos, doze amigos que depois vieram
a ser chamados de apóstolos, que foram os primeiros a receber a mensagem de
salvação, mas se tornaram os últimos a entender o sacrifício do Cristo porque
não participaram com ele da sua paixão e morte: covardemente fugiram,
debandaram, se esconderam “estando
fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das
autoridades dos judeus.” (Jo 20,19). E isso sem contar que foi, dentre
esses doze, que traiu Jesus, vendendo-o por doze moedas de prata, o preço que se
pagava por um escravo.
E a seguir
seriam esses os primeiros chefes da Igreja de Jesus Cristo.
Mas, qual deles
ajudou Jesus a carregar a sua cruz? Nenhum! Nem Pedro, nem João, nem Tiago...
Muito pelo contrário; se acovardaram e fugiram na hora em que Jesus mais precisava
deles.
Esses foram os
primeiros dirigentes da nossa Igreja, e assim começou a nossa Igreja... Para
complicar ainda mais, foi um desses doze que traiu Jesus, entregando-o aos
inimigos, à morte...
Quem ajudou
Jesus a carregar a sua cruz? Um marginalizado, um estrangeiro, um homem que
veio de fora... Um cirineu... O último, que não fora chamado para ser seu
discípulo, passa a ser o primeiro a ajudar a Jesus a carregar o seu pesado
madeiro... O último, novamente, foi o primeiro.
E depois, para
levar a sua mensagem além das fronteiras da Judéia, de quem Jesus lançou mão?
De uma mulher que não pertencia à raça israelita, uma mulher cuja conduta não
era das mais recomendáveis e nem muito exemplar... A samaritana... A última, a
desprezada, a marginalizada, a olhada com desprezo, passa a ser a primeira a
levar a mensagem de Jesus ao seu povo.
Depois Jesus
teve necessidade de transmitir por parábola um “novo mandamento”, de quem ele
lançou mão para ser seu personagem? Não foi de um sacerdote, nem de um levita, nem
de um fariseu que se julgava santo e devoto, mas de um excomungado pelo povo
judeu: um samaritano, a quem a tradição costumou chamar de “o bom samaritano”.
O último passa
a ser o primeiro a transmitir e a vivenciar o novo mandamento do amor.
Não termina ai
a escolha do Pai pelos rejeitados e que Jesus os escolhe para pertencer ao
Reino que ele veio trazer. Quem foi o primeiro que Jesus recebeu no seu reino?
Não foi um ladrão? Não foi aquele que
burlava a Lei? E a ele Jesus agonizante na cruz, disse: “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso”. (Lc
23,43). O último de todos passa a ser o primeiro a entrar no Reino dos Céus.
Toda a mensagem
de Jesus foi no sentido de que os seus discípulos não se encharcassem de
vanglória, de honrarias, de riquezas que os ladrões roubam e a traça come e a
ferrugem corroi (cf Mt 6,20; Mt 19,21; Lc 12,33) porque “onde está o seu tesouro , ai estará também o seu coração” (Lc
12,34).
Entre os
próprios apóstolos de Jesus surgiu a ganância e a vaidade de quem seria o
primeiro, o manda-chuva, quem mandaria nos demais, e isso gerou uma discussão
entre eles.
E, para dirimir
qualquer dúvida, Jesus chama uma criança e ensina algo fundamental, não somente
para os seus discípulos e apóstolos, mas para toda a sua Igreja.
Este ensino,
contudo, se revela por meio de três momentos de suma importância.
Em primeiro
lugar, por meio de uma pergunta desconcertante. A pergunta de Jesus é simples: “sobre o que vocês discutiam no caminho?”
(Mc 9,33b). Depois de Jesus haver dito que o Filho do Homem deveria padecer nas
mãos dos homens, os discípulos ficaram intrigados. Eles não entendiam muito bem
sobre o que Jesus estava falando: “O
Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão”. (Mc
9,32). E era exatamente sobre isso que os apóstolos estavam discutindo. E se Jesus
morresse como estava dizendo, quem deles seria o substituto? Quem, dentre eles,
seria o maior? Esta era a discussão.
Jesus tem um
ensinamento a dar e o faz, em segundo lugar, por meio de uma afirmação
conclusiva: “Se alguém quer ser o
primeiro, deve ser o último, e aquele que serve a todos”. (Mc 9,35b). Jesus
inverte totalmente os valores do mundo.
Em um lugar
onde o primeiro é servido, ele exige que o primeiro sirva.
Em uma sociedade
em que a honra, a hierarquia, a mordomia é algo de suma importância, Jesus
estabelece outro critério para mostrar superioridade: o serviço, a diaconia.
A Igreja parece
que ainda não compreendeu isso.
É por isso que
sempre buscamos as honras, os melhores lugares, a companhia dos poderosos, a
complacência dos tiranos, a aprovação dos governantes deste mundo.
Mas a palavra
de Jesus continua atual: “Mas entre vocês
não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o
servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o
servo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio
para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos.” (Mc
10,42-45).
O sinal de
superioridade nos seguidores de Jesus Cristo será, a partir de agora, o
serviço.
O maior será o
que serve e não o que é servido.
Finalmente, e
terceiro, a lição que Jesus quer ensinar é dada por meio de uma atitude
reveladora: “Quem recebe uma criança, tal
como esta... a mim me recebe” (Mc 9,37).
Em uma
sociedade como a nossa, em que as crianças e os velhos são desprezados porque
não são seres produtivos e porque só dão despesas, as palavras de Jesus são
importantíssimas. Acolher as crianças se torna um sinal de acolhimento do Cristo
e do Reino.
Nossa atenção
não deve estar voltada para os poderosos, mas para os fracos. Não para os reis
e governantes, mas para os fracos e indefesos. Nestes, Jesus se revela com
muito mais propriedade e força e se identifica nos fracos, pobres e oprimidos: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um
dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mt 25,40).
O que aconteceu
na última ceia, quando Jesus reuniu os seus discípulos e apóstolos para
despedir-se deles? O espanto foi geral: “Jesus
se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura.
Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a
toalha que tinha na cintura.” (Jo 13,4-5).
Ao pegar a
bacia e toalha, Jesus agia como um escravo.
Pior: exercia
uma atividade que um judeu, mesmo na condição de servo, não aceitava fazer
porque, afinal de contas, aquela era a obrigação de um escravo.
Pedro reagiu a
seu modo: “O senhor não vai lavar os meus
pés nunca”. (Jo 13,8). Pedro só aceitou a contra gosto, quando viu que não
ia convencer Jesus do contrário.
Depois Jesus
afirmou: “Vocês me chamam de Mestre e
Senhor; e dizem bem, pois eu o sou…” (Jo 13,13). E ai vem o ensinamento
básico: “Pois bem, eu que sou o Mestre e
o Senhor lavei seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu
lhes dei o exemplo, vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. [...] Se vocês
compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática”. (Jo
13,14-15.17).
É essa
preocupação que os discípulos do Divino Mestre devem ter sempre em mente: “Quem se eleva será humilhado e quem se
humilha será exaltado”. (Lc 14,11).
Quantos
cristãos não vivem exercendo formas de poder baseadas na força e na arrogância?
Quantos, com um “cargozinho” ou missão dentro da comunidade, não se comportam
como se tivessem “um rei na barriga”? Quantos porque assumiram funções de
ministérios extraordinários leigos, ou de coordenação de grupos ou pastorais, acham
que são os donos da igreja e olham a todos os irmãos por cima? Menosprezam, querem
honras e reconhecimento.
E o mundo perde
a oportunidade de reconhecer, nestes cristãos, o Jesus extraordinário,
revolucionário, libertador do Evangelho. Porque enfraquecemos as palavras de
Jesus, os gestos de Jesus com nosso contra-testemunho.
E aqui volta o
que disse Mahatma Ghandi a respeito da cristandade: “Gosto do Cristo deles, mas não gosto dos cristãos. Eles são tão pouco
parecidos com seu Cristo”.
Que pena...
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