VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
“EM PRIMEIRO LUGAR BUSQUEM O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA, E DEUS DARÁ
A VOCÊS, EM ACRÉSCIMO, TODAS ESSAS COISAS.” (Mt 6,33).
Diácono
Milton Restivo
A presença do
profeta Isaias é uma constante nas leituras de nossas liturgias, principalmente
quando o amor de Deus é colocado em pauta e exaltado.
Na primeira
leitura desta liturgia Isaias enaltece o amor de mãe que é tão grande e tão
bonito que chega a ser comparado, na Bíblia, com o próprio amor de Deus: “Pode a mãe se esquecer do seu nenê, pode
ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas?” (Is 49,15a).
Para justificar
o sucesso do homem, costuma-se dizer que, por trás de um homem realizado há
sempre a figura de uma grande mulher e, com mais definição, quando essa mulher
é a mãe.
As Sagradas
Escrituras nos mostram exemplos disso.
O grande
profeta e juiz israelita Samuel não teria sido o que foi se não fossem as
insistentes orações para ter um filho, de sua mãe, Ana, que era estéril, isto
é, não podia ter filhos.
A oração de
agradecimento a Yahweh de Ana por ter tido um filho, encontra-se no primeiro
livro de Samuel, 2,1-10. Além de muitos outros exemplos, as Sagradas Escrituras
também citam os de Sara, a mulher de Abraão, em favor de seu filho Isaac (cf Gn
21,8-10) e de Rebeca, esposa de Isaac a favor de seu filho Jacó (cf Gn 27).
O amor de mãe é
tão importante e indispensável na vida e na formação de um filho que, para se
fazer homem, o Filho de Deus quis ter uma mãe para ser gerado como homem: “Quando, porém, chegou à plenitude do tempo,
Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher...” (Gl 4,4) e, por isso,
por ter escolhido entre os humanos uma mãe e ter nascido de mulher, podemos
dizer que “é em Cristo que habita, em
forma corporal, toda plenitude da divindade” (Cl 2,9) e, ainda mais, que
Isabel reconheceu em Maria a mãe de um Deus que se fez homem: “Você é bendita entre as mulheres, e é
bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha
me visitar?” (Lc 1,42-43).
O amor materno
de Maria para com Jesus foi tão grande que, nos estertores da morte, foi à sua
mãe que Jesus se dirigiu pela última vez na cruz, transferindo, para a pessoa
de João, que representava toda a humanidade naquele momento, todo amor maternal
que Maria lhe dedicou em toda a sua vida terrena.
A mãe é a face
feminina de Deus no lar e tem a consciência de ser a colaboradora desse mesmo
Deus na geração de novos filhos. A mãe sabe que seus filhos são uma benção de
Deus e se torna responsável pela educação cristã de sua família.
Quantas vezes
somos esquecidos por amigos, parentes ou quem sabe, até pelo cônjuge que não se
lembra de datas importantes da nossa vida como, por exemplo, de aniversário e
de casamento, mas a mãe responsável jamais se esquece de qualquer coisa que
deixa o seu filho feliz.
Não foi por
acaso que o profeta Isaias, para demonstrar o grande amor que Deus tem por nós,
recorre à figura materna com os seus cuidados e amor em relação aos seus
filhos: “Pode a mãe se esquecer do seu
nenê, pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas?” (Is
4915a).
Isaias não para
por ai, vai além, e chega ao âmago do amor extremado de Deus por seus filhos: “Ainda que ela se esqueça, eu não me
esquecerei de você” (Is 49,15b).
Pena que a
citação de Isaias, na leitura, parou por ai. O que vem a seguir e que não
consta da leitura desta celebração é tão forte e envolvente como o que está
contido no versículo 15. Yahweh continua declarando o seu amor e diz: “Eu tatuei você na palma de minha mão”
(Is 49,16a).
Gravar ou
tatuar é colocar uma imagem de uma pessoa amada, permanente, indelével e
impossível de ser apagada. A pessoa que tem alguém tatuado em sua pele tem por
objetivo manifestar o seu amor e para jamais se esquecer da pessoa retratada na
tatuagem.
E Deus tatuou a
cada um de nós na palma de sua mão para não ter como se esquecer de nós. Pode
haver lugar do corpo mais visível para a própria pessoa do que a palma da mão?
E é na palma de sua mão que Yahweh diz ter tatuado o nosso nome e o nosso
semblante. Maior do que o amor de mãe, só o amor do Pai, amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta” (1Cor 13,7).
As Sagradas
Escrituras também comparam o amor de Deus aos seus filhos ao amor da ave pelos
seus filhotes: “Como águia que cuida de
seu ninho e revoa por cima dos filhotes, ele o tomou, estendendo as suas asas,
e o carregou em cima de suas penas” (Dt 32,11).
Mais tarde
Jesus usaria o mesmo exemplo, a mesma metáfora para queixar-se da ingratidão
dos homens: “Jerusalém, Jerusalém, que
mata os profetas e apedreja os que foram enviados a você! Quantas vezes eu quis
reunir seus filhos como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você
não quis” (Mt 23,37). O profeta Oséias compara a ira do Senhor contra quem
fere os seus filhos à selvageria da ursa de quem roubaram os filhotes: “... vou atacá-los como a ursa da qual
roubaram os filhotes... (Os 13,8a).
Como foi feliz
o salmista ao reconhecer a presença e o amor de Deus na vida de cada um de nós:
“Yahweh, tu me sondas e me conheces. Tu
conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe penetras o meu pensamento.
Examinas o meu andar e o meu deitar, meus caminhos todos são familiares a ti. A
palavra ainda não se achegou à língua, e tu, Yahweh, já a conheces inteira. Tu
me envolves por trás e pela frente, e sobre mim colocas tua mão. [...] Para onde irei longe do teu sopro? Para onde
fugirei longe de tua presença? Se subo ao céu, tu ai estás. Se me deito no
abismo, ai te encontro. Se levanto vôo para as margens da aurora, se imigro
para os confins do mar, ai me alcançará a tua esquerda, e tua direita me
sustentará. [...] Sim, porque tu
formaste meus rins, tu me teceste no seio materno. Eu te agradeço por tão
grande prodígio, e me maravilho com as tuas maravilhas. [...] Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração!
Prova-me, e conhece os meus sentimentos! Vê se não ando por um caminho fatal, e
conduze-me pelo caminho eterno!” (Sl 139 (138), 1-5.7-10.13-14.23-24).
Pedro, na sua
carta, aconselha a todos os seus discípulos a se colocarem totalmente nas mãos
do Senhor, porque é ele quem cuida de cada um: “Coloquem nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é ele quem cuida
de vocês” (1Pd 5,7).
Paulo Apóstolo
afirma que, pelo Espírito Santo, que é amor supremo entre o Pai e o Filho, que somos
envolvidos na filiação divina e, sendo filhos, somos herdeiros do Pai por Jesus
Cristo: “Todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus. E vocês não receberam um Espírito de
escravos para recair no medo, mas receberam um Espírito de filhos adotivos, por
meio do qual clamamos Abba! Pai! O próprio Espírito assegura ao nosso espírito
que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros
de Deus, herdeiros junto com Cristo, uma vez que, tendo participado dos seus
sofrimentos, também participaremos de sua glória”. (Rm 8,14-17).
Precisamos mais
provas para acreditar no grande amor de Deus por cada um de nós? “Pode a mãe se esquecer do seu nenê, pode
ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça,
eu não me esquecerei de você. Eu tatuei você na palma de minha mão” (Is
49,15-16a). Por isso, cantemos com o salmista: “Quanto a nós, esperamos por Yahweh. Ele é o nosso auxílio e o nosso
escudo. Nele se alegra o nosso coração, no seu Nome santo confiamos. Yahweh,
esteja sobre nós o teu amor, como está em ti a nossa esperança”. (Sl 34
(33), 20-22).
O Salmo que
cantamos nesta liturgia fala sobre a tranquilidade, a entrega total e o conforto
de quem confia no amor de Yahweh: “Só em
Deus a minha alma repousa, porque dele vem a minha salvação. Só ele é a minha
rocha e a minha salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado! [...] De Deus depende a minha salvação e minha
fama, Deus é o meu forte rochedo. Deus é o meu refúgio. Povo de Deus, confie
nele em qualquer situação, desafogue o coração na presença dele, porque Deus é
o nosso refúgio”. (Sl 61 (62), 6-9).
O Evangelho
lido e meditado nesta liturgia continua apresentando Jesus durante os seus
ensinamentos no que é conhecido por “Sermão da Montanha”.
Jesus deixa
claro o imenso amor que Deus tem pelos homens, mas esse amor exige
exclusividade porque “Deus é ciumento” (Ex
20,3; Dt 4,24; 5,9; 6,15), e Jesus é categórico: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o
outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e
a riqueza”. (Mt 6,24).
Aos que amam ao
Senhor Deus Jesus os chama de “pobres em
espírito” e “mansos”, e diz que,
aos primeiros pertence “o Reino dos Céus”
e, aos segundos, “herdarão a terra”,
(cf Mt 5,3-4), ou seja, os que amam a Deus vivem a vida de Deus e a vida que é
vivida no céu e têm domínio completo sobre a terra, e nenhuma riqueza ou
atração do mundo os afasta do amor de Deus porque sabem que tudo o que têm e são,
receberam das mãos de Deus.
Mais tarde
Jesus diria ao jovem rico: “Se você quer
ser perfeito, vá, vende tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá
um tesouro no céu”. (Mt 19,21). Mas, esse jovem, preferiu os atrativos do
mundo e amar as riquezas, virando as costas para Deus e “foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”. (Mt 19,22)
e, por isso, Jesus afirma: “Vocês não
podem servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16,13b; Mt 6,24b).
Jesus insiste
em que os seus discípulos abandonem-se à providência de Deus: “não fiquem preocupados com a vida, com o
que comer; nem com o corpo, nem o que vestir. Afinal, a vida não vale mais do
que a comida? E o corpo não vale mais do que a roupa?” (Mt 6, 25); “O Pai bem sabe que vocês têm necessidade
dessas coisas. Portanto, busquem o Reino dele, e Deus dará a vocês essas coisas
em acréscimo. Não
tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o
Reino”. (Lc 12,30b-32).
Para mostrar o
amor de Deus, Jesus dá o exemplo dos pássaros que “não semeiam e nem colhem nem estocam em armazéns. No entanto,
o Pai que está no céu os alimenta”. (Mt 6,26a).
Jesus lança mão
de fatos com os quais convivemos todos os dias, mas que não paramos para
observar: os pardais, as pombas, as aves silvestres não trabalham, não semeiam
e nem colhem e jamais elas se extinguem por falta de abrigo, inanição ou fome:
o Pai cuida delas.
Em troca disso,
elas enfeitam a natureza com as suas cores e deleitam os nossos ouvidos com os
seus trinados e cantos melodiosos. E Jesus complementa, dizendo: “Será que vocês não valem mais que os
pássaros?” (Mt 6,26b). Se Deus faz isso para as suas criaturas silvestres,
o que não fará para o homem, que foi feito à sua imagem e semelhança e a quem
ele deixou um novo mandamento, o mandamento do amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como
eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns
pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos”. (Jo
13,34-35).
Quem vive o
ensinamento do amor, vive a vida de Deus, porque “Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus
permanece nele”. (1Jo 4,16b). Por isso somos mais que os pássaros.
Jesus não para
por ai. Ele quer que os seus discípulos entendam o grande amor que o Pai tem
por todos porque “Deus amou de tal forma
o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não
morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16); “Mas Deus demonstra o seu amor para conosco porque Cristo morreu por
nós quando ainda éramos pecadores”. (Rm 5,8) e Jesus evoca o exemplo dos
lírios do campo que “não trabalham nem
fiam. Eu, porém, lhes digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se
vestiu como um deles”. (Mt 6,28-29).
Para que você
saiba sobre a riqueza de Salomão, leia o capítulo 10 do primeiro livro dos Reis.
“Ora, se Deus assim veste a erva do campo,
que hoje existe e amanhã é queimada no forno, muito mais ele fará por vocês,
gente de pouca fé”. (Mt 6,30). E Jesus volta, novamente, a insistir para que
seus discípulos se entreguem à providência divina: “Portanto, não fiquem preocupados dizendo: ‘O que vamos comer? O que
vamos beber? O que vamos vestir? Os pagãos é que ficam procurando todas essas
coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso”.
(Mt 6,31-33). E, finalmente, Jesus dá a receita infalível para quem quer
viver a vida de Deus, o amor do Pai e a familiaridade da Trindade: “Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o
reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas
coisas.” (Mt 6,33), e arremata, dizendo: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá as
suas próprias preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade”. (Mt
6,34).
A respeito
disso, Tiago, na sua carta, alerta: “Agora
vamos aos que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos ai um ano
negociando e ganhando dinheiro’. E, no entanto, nem sabem o que vai acontecer
amanhã! O Que é a vida para vocês? Uma neblina que aparece um pouco e logo
desaparece”. (Tg 4,13-14), e o livro dos Provérbios: “Não se glorie do amanhã, porque você não sabe o que o dia de hoje vai
gerar”. (Pr 27,1), e Jesus conta a parábola do rico insensato em Lucas: “A terra de um homem rico deu uma grande
colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha
colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e
construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os
meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom
estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas,
Deus, lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua
vida. E as coisas que você preparou, para quem vai ficar?’ Assim acontece com
quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.” (Lc
12,16-21).
É por isso que
Jesus, demonstrando o grande amor que o Pai tem por seus filhos, diz: “Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o
reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas
coisas.” (Mt 6,33), e arremata, dizendo: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá as
suas próprias preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade”. (Mt
6,34). “Pelo contrário, em primeiro lugar
busquem o reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo,
todas essas coisas.” (Mt 6,33).
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