MADRE TERESA DE CALCUTÁ SE TORNOU
SANTA COM MILAGRE BRASILEIRO
Em um domingo, dia 19 de
outubro de 2003, o finado Papa João Paulo II destacou na cerimônia de
beatificação que Madre Teresa de Calcutá representava “o mais profundo
significado da palavra serviço” por ter dedicado sua vida aos “famintos,
sedentos, estranhos, desnudos, doentes e prisioneiros”. Neste domingo, diante
de cem mil pessoas, a beata foi elevada ao status de santa menos de duas
décadas após a sua morte, e graças a um milagre brasileiro.
— Durante sua vida, Madre Teresa
apenas aceitou reconhecimento para chamar atenção para as necessidades dos mais
pobres — disse Kathryn Spink, biógrafa autorizada da nova santa. — Certamente,
este é o reconhecimento máximo de sua total dedicação ao próximo, e a melhor
maneira de garantir que a mensagem sobre a necessidade desse serviço continue.
Pelas regras da Igreja, uma
pessoa só se torna santa após a comprovação de dois milagres. O primeiro
aconteceu em 5 de setembro de 1998, com a indiana Monica Besra, que afirma ter
sido curada de um câncer por uma “luz cegante” vinda de uma fotografia da
religiosa, morta exatamente um ano antes. O segundo salvou a vida do brasileiro
Marcilio Haddad Andrino.
Natural de Santos, em São Paulo,
Andrino esteve perto da morte ao ser diagnosticado com oito abscessos no
cérebro, que formaram um quadro de hidrocefalia. No dia 9 de dezembro de 2008,
os médicos recomendaram uma cirurgia de emergência, que por motivos
burocráticos e de saúde, teve que ser adiada. No dia seguinte, Andrino acordou
sem dores, o líquido no cérebro havia escoado e os abscessos, diminuído. Sem
explicações científicas, a cura foi atribuída aos pedidos da esposa de
Marcilio, Fernanda Nascimento Rocha, à Madre Teresa.
A equipe médica constatou que
era algo extraordinário — disse Dom Roberto Lopes, delegado da Causa dos Santos
da Arquidiocese do Rio, que acompanhou o trâmite de apuração do milagre no
país. — O processo do Marcilio foi analisado por quase nove anos e os laudos
constataram um fato excepcional, sem explicação pela medicina.
Multidão
acompanhou cerimônia
Pelo apelo popular, a cerimônia
que tornará Madre Teresa santa será concorrida. De acordo com o porta-voz do
Vaticano, Greg Burke, os cem mil bilhetes para a missa na Praça de São Pedro
foram distribuídos, mas uma multidão deve acompanhar a canonização pelas ruas
do entorno. A Santa Sé estima que meio milhão de pessoas acompanharão o ritual.
Até a sexta-feira, 15 delegações oficiais haviam confirmado presença, sendo 13
lideradas por chefes de Estado, e 600 jornalistas foram credenciados.
Nascida em agosto de 1910 em
Skopje, na época uma cidade albanesa e atual capital da Macedônia, Anjezë
Gonxhe Bojaxhiu ingressou aos 18 anos na Ordem Irmãs de Nossa Senhora de
Loreto, com sede em Dublin, na Irlanda, onde passou a ser chamada Irmã Maria
Teresa. Após alguns meses no convento, foi enviada a Calcutá, na Índia, onde se
tornou professora de uma escola religiosa para meninas. Em 1937, professou seus
votos perpétuos e passou a ser conhecida como Madre Teresa.
Em setembro de 1946, durante uma
viagem de trem entre Calcutá e Darjeeling para um retiro anual, Madre Teresa
recebeu seu “chamado dos chamados”. Nos meses seguintes, relatou visões com
Jesus Cristo, que teria revelado sua dor pela negligência aos pobres e pedido à
religiosa dedicação aos “mais pobres entre os pobres”. Em 1948, Madre Teresa
vestiu o sari branco com detalhes em azul pela primeira vez, deixou a ordem de
Loreto e foi viver em bairros pobres.
Nas favelas, cuidou de crianças
desnutridas e de adultos famintos e doentes. Seu trabalho começou a atrair
algumas de suas ex-alunas e, em outubro de 1950, a Congregação das Missionárias
da Caridade foi oficialmente fundada na Arquidiocese de Calcutá. Hoje, o grupo
religioso criado por Madre Teresa tem cerca de 4.500 membros espalhados por
mais de cem países.
— Por seu trabalho, ela se tornou
uma personalidade. Num mundo tão injusto, ela se voltou para aqueles que são as
maiores vítimas, mostrou o amor cristão aos que não podiam dar nada em troca —
analisa Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da
PUC-Rio.
Em 1979, Madre Teresa foi
reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz. Em 1997, quando morreu, seu caixão foi
carregado pela mesma carruagem usada na cerimônia fúnebre de Mahatma Gandhi.
O mais conhecido foi o jornalista
britânico Christopher Hitchens, morto em 2011, autor do livro “The Missionary
Position: Mother Teresa in Theory and Practice”, que acusa a religiosa de ser
uma fraude por romantizar a pobreza para propagandear suas crenças contrárias
ao aborto, a métodos contraceptivos e ao divórcio, além de supostamente manter
relações com ditadores e aceitar doações de fontes questionáveis.
Até o primeiro milagre, da
indiana Monica Besra, é contestado. Em 2002, Partho De, ex-ministro da Saúde do
estado de Bengala Ocidental, onde a paciente foi tratada, refutou a intervenção
divina:
— A senhora Besra se livrou do
tumor graças aos medicamentos e aos tratamentos — declarou. — Não quero faltar
com respeito à Madre Teresa, mas é uma deformação da verdade dizer que foi um
milagre dela.dedicou a vida aos pobres.
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