PAPA FRANCISCO APROVA A
CANONIZAÇÃO DE 30 NOVOS SANTOS BRASILEIROS
Padres André de
Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, além de 28 leigos, serão santificados
O Papa
Francisco anunciou que a canonização de 30 novos santos brasileiros foi
aprovada. Em decreto publicado nesta quinta-feira, a Santa Sé incluiu os
mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte, na lista de beatos que
serão santificados. Com a decisão, os padres André de Soveral e Ambrósio
Francisco Ferro, junto a Mateus Moreira e outros 27 leigos, entrarão no rol de
adoração da Igreja Católica.
O
processo de canonização estava na Congregação para a Causa dos Santos, no
Vaticano, desde o segundo semestre de 2015, por indicação do próprio Papa
Francisco. De acordo com a Arquidiocese de Natal, em outubro do ano passado, o
Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’ Aniello, esteve na região e
conheceu os locais dos martírios, e pode presenciar a devoção aos beatos.
— É com
sentimento muito elevado que recebemos a canonização dos nossos mártires.
Trata-se de um processo que há muito vinha se desenvolvendo, e que tomou corpo
definitivamente a partir da beatificação — disse Dom Jaime Vieira Rocha,
arcebispo de Natal.
Os
mártires foram vítimas de dois assassinatos em massa cometidos em 1645, durante
as invasões holandesas. O primeiro massacre aconteceu no dia 16 de julho
daquele ano, durante uma missa dominical numa capela no Engenho de Cunhaú, no
atual município de Canguaretama.
Segundo relatos históricos, após o padre André
de Soveral dar início à cerimônia, Jacob Rabbi, um alemão a serviço da
Companhia das Índias Ocidentais Holandesas, trancou as portas da igreja e, com
uma tropa de índios Tapuias e soldados, ordenou a matança de todos os fiéis.
O
segundo massacre aconteceu três meses depois, no dia 3 de outubro, em Uruaçu,
hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante. Com as notícias sobre o
ocorrido em Cunhaú, alguns católicos buscaram refúgio numa fortificação
construída no pequeno povoado de Potengi, mas foram atacados pelas tropas de
Rabbi. Eles resistiram, mas acabaram se rendendo e foram massacrados às margens
do rio Uruaçu. Entre os mortos estavam o padre Ambrósio Francisco Ferro e o
camponês Mateus Moreira.
De
acordo com os relatos históricos, os invasores holandeses ofereceram aos fiéis
católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram o martírio.
Foram dezenas de mortos nos dois episódios, mas apenas 30 tiveram o processo de
beatificação aberto em maio de 1988. No dia 5 de março de 2000, na Praça de São
Pedro, no Vaticano, o então Papa João Paulo II beatificou os 28 leigos e dois
sacerdotes.
—
Naquele imenso país, não foram poucas as dificuldade de implantação do
Evangelho — disse o Pontífice, na ocasião. — André de Soveral, Ambrósio
Francisco Ferro e 28 companheiros leigos pertencem a esta geração de mártires
que regou o solo pátrio, tornando-o fértil para a geração de novos cristãos. Um
deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, teve arrancado o coração pelas
costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia
dizendo: Louvado seja o Santíssimo Sacramento.
Por que mártires podem virar santos
Normalmente,
o processo de canonização é demorado, composto por quatro etapas. Primeiro, o
postulante se torna um “Servo de Deus”, com a abertura do procedimento. Se ele
apresentar as virtudes necessárias, é proclamado “Venerável”, sem dias festivos
ou igrejas em sua homenagem, mas pode ter rezas e materiais impressos em seu
nome. Caso se prove um milagre por sua graça, o postulante pode ser
beatificado, e ser adorado pela diocese local. A canonização acontece com a
comprovação de um segundo milagre. Ao se tornar santo, o postulante é inserido
no calendário universal da igreja e pode ser adorado em todo o mundo.
Mas os
mártires podem ter esse caminho abreviado, por um decreto papal conhecido como
canonização equipolente. Por esse instrumento, o Papa pode elevar um postulante
ao status de santo sem a necessidade de comprovação de milagres, desde que três
requisitos sejam cumpridos: a prova da antiguidade e constância do culto ao
candidato a santo, o atestado histórico de sua fé católica e de suas virtudes,
e a amplitude da devoção. Foi por esse instrumento que o Padre José de Anchieta
foi canonizado em 2014.
— O Papa
Francisco, muito sensível a causas de martírio, determinou que iria canonizar
os mártires mais antigos, dispensando o milagre — explicou Dom Jaime Vieira. —
Em casos de martírio, após a comprovação histórica, pode-se dispensar o
milagre. O Papa tem essa prerrogativa.
A data
para a cerimônia de canonização será definida no próximo consistório (reunião
de cardeais com o Pontífice). A expectativa de Dom Jaime Vieira é que a
canonização aconteça ainda este ano, provavelmente no Vaticano, já que a
elevação ao status de santo é realizada com a presença do Papa.
—
Certamente não demorará tanto, esperamos que aconteça ainda neste ano — disse
Dom Jaime Vieira. — O Papa Francisco é muito célere nessa decisão.
Atualmente,
os mártires de Cunhaú e Uruaçu são celebrados em duas datas: 16 de julho, numa
cerimônia na capela da Nossa Senhora das Candeias, onde o massacre de Cunhaú
aconteceu; e no dia 3 de outubro em Uruaçu, onde os mártires foram mortos pelos
índios e soldados holandeses.
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