NOSSA
SENHORA APARECIDA – RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL
“FAÇAM O QUE
ELE MANDAR” (Jo 2,5).
Diácono Milton Restivo
O nosso povo pobre, simples e humilde ama Maria, e
Maria se faz presente no sofrido povo brasileiro com o título de Nossa Senhora
Aparecida; Nossa Senhora Aparecida é a nossa Maria, a Maria brasileira, a Maria
humilde, pobre e simples do povo pobre, simples e humilde.
Só olhando de perto é que a gente percebe que na
Bíblia Maria é pobre, simples e humilde, muito semelhante à maioria do nosso
povo.
A Bíblia fala muito pouco de Maria, mas o pouco que
fala é muito importante. É o suficiente para a gente poder conhecer a grandeza
de sua simplicidade e a riqueza de sua pobreza. (assim escreve Carlos Maesters
no seu livro “Maria, a Mãe de Jesus”). Ignoramos o que Maria fez e faz por nós,
por isso não a amamos como deveríamos amá-la e como ela merece ser amada.
São Maximiliano Maria Kolbe, grande devoto de Maria,
fundador da Milícia da Imaculada, sempre dizia a seus frades: “Ame Maria o quanto você quiser e mais do
que você puder”.
Como encontramos nos escritos de grandes santos e
fiéis devotos de Maria coisas maravilhosas a respeito de Maria. Todos bebem de
sua simplicidade, de sua humildade, de sua fé, de sua entrega total nas mãos de
Deus e de sua participação no plano de amor e salvação de Deus.
Carlos Maesters, Maximiliano Maria Kolbe, Teresinha do
Menino Jesus, Luiz Maria Grignon de Montfort, Afonso Maria de Ligório e
centenas e centenas de santos marianos falam maravilhas de Maria. Maria nasceu
para servir e, servindo, ela deu à luz à “Palavra
que se fez homem e veio habitar entre nós. E nós contemplamos a sua glória:
glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,14).
Maria é do povo. Mas, infelizmente, muitos não
entendem a humildade, a simplicidade, a pureza de Maria, e a afasta do povo
simples e humilde.
Para conhecermos bem Maria, para encontrarmos em sua
humildade todo o esplendor da graça que Deus Pai sempre a cumulou, além dos
Santos Evangelhos, precisamos ler muito sobre o que os santos que amaram de
verdade Maria disseram e dizem a respeito dela, e como eles descobriram e
descobrem nela virtudes incalculáveis, tesouros com valores infinitos e
proteção materna que só Maria, sendo a Mãe de Deus e nossa Mãe pode ter e nos
dar.
São Maximiliano Maria Kolbe nos orienta sobre a
devoção a Maria, dizendo: “Quando você
procurar ler alguma coisa sobre Maria, não se esqueça que você está entrando em
contato com uma pessoa viva, que lhe ama e que é perfeita e sem mancha alguma.”
A história de Maria é uma história que ainda não
terminou; a história de Maria continua até hoje nas pequenas e grandes
histórias do povo.
Maria, moça pobre, simples e humilde de uma
cidadezinha do interior da Palestina é saudada até hoje por milhares e milhões
de pessoas; o povo todo a invoca e a venera. Maria mesmo previu isso quando
disse à sua prima Isabel: “De hoje em
diante todas as nações vão me chamar de bem-aventurada.” (Lc 1, 48).
Todas as nações, todos os povos de todos os tempos e
lugares, desde todo o sempre, chamam Maria de bem-aventurada e a veneram como a
eleita de Deus, e ainda hoje, como sempre, o povo simples, o povo humilde, o
povo pobre continua chamando Maria de bem-aventurada.
Carlos Maesters afirma e reafirma que Maria é do povo,
do povo pobre, do povo simples, do povo humilde, mas, além de ser do povo,
Maria é também de Deus, totalmente de Deus, e Deus estava, está e sempre estará
em Maria, como Maria jamais deixou de estar em Deus.
Ser do povo é ser de Deus, e Maria é do povo, e o povo
pobre e humilde é de Maria.
Estes dois pontos marcam a vida de Maria, e é por isso
que o povo a venera com entusiasmo, invocando por todo o sempre o seu nome. Para
poder ser do povo tem que ser de Deus; para poder ser de Deus, tem que ser do
povo. É assim que Deus e o povo desejam: ser de Deus e do povo.
São esses os dois grandes retratos que as Sagradas
Escrituras tiraram de Maria e que a Igreja conserva até hoje em seu álbum. Maria
soube unir em sua vida o seu amor a Deus e ao povo.
Mas, desde quando Jesus nos deu Maria por mãe até os
nossos dias, o tempo andou estragando a imagem que o povo simples e humilde tem
de Maria.
Carlos Maesters diz que ladrões vieram e roubaram a
sua beleza, a sua pureza, as suas jóias espirituais, tentando cumulá-la de
jóias naturais e artificiais e mantos de veludo. Já não é tão fácil reconhecer em
Maria toda a beleza, toda humildade que Deus, o artista supremo, colocou em
Maria, quando disse: “Eis ai a sua mãe”
(Jo 19,27).
Quando a imagem da Aparecida surgiu das águas do rio,
a sua pela era negra, e continua negra. Suas vestimentas eram simples, pobres,
assemelhando-se às vestes das escravas da época, considerando que, no Brasil,
no ano de 1717, a escravatura do povo negro era uma realidade.
Maria veio em socorro a esse povo africano escravizado
na nossa terra. Talvez, ela quisesse continuar com sua pele negra e suas
vestimentas pobres e humildes, assemelhando-se ao povo pobre e humilde. Mas os
ricos não suportaram tanta humildade e colocaram-lhe um manto de veludo que
escondeu totalmente suas roupas pobres e humildes que se assemelhavam às roupas
das escravas e colocaram em sua cabeça uma grande coroa para mais esconder sua
pele negra. Que pena.
Como disse Carlos Maesters, colocam mantos de veludos
em seus ombros e coroas riquíssimas em sua cabeça, dando-lhe uma riqueza que
ela nunca teve e nunca pretendeu ter, porque ela sempre foi a humilde serva do
Senhor. Essa riqueza material nada significa para Maria: a riqueza de Maria
está no coração, na humildade, na pobreza, na simplicidade, no silêncio,
igualando-se em tudo ao povo pobre, simples e oprimido.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida é pequena,
pequenina mesmo, coberta de um manto azul, manto bonito e ricamente enfeitado. Presente
do povo; isso mesmo, presente do povo, porque o povo gosta de enfeitar e
enriquecer a quem ele ama de verdade, muito embora ele continue pobre, simples
e humilde. Mas, o manto azul, bonito e ricamente enfeitado, acabou escondendo
grande parte da imagem brasileira de Maria, imagem que, originariamente é
pobre, simples, humilde e... Preta. Só olhando de perto é que a gente percebe
que, no Brasil, Maria é preta, porque o manto que lhe colocaram no ombro e a
grande coroa que lhe colocaram na cabeça esconde até a cor da cútis de Maria:
preta.
O manto é bonito, isso é bom; o manto não pode ser
jogado fora, mas a gente não pode se esquecer que a imagem de Nossa Senhora
Aparecida é preta, pretinha, igual a tantas Marias e Cidas que a gente encontra
pelas ruas e suas roupas originais se assemelham às das escravas da época.
Aquilo que aconteceu com a sua imagem, aconteceu com a
própria Maria: glorificada pelo povo e pela Igreja como Mãe de Deus, Maria
recebeu um manto de glória; presente de fé do povo.
Mas o manto de glória acabou escondendo grande parte
da semelhança que Maria tem conosco, o povo simples e humilde. O manto
ricamente enfeitado fez de Maria uma pessoa diferente e a gente quase esquece
que Maria foi e ainda é uma moça pobre e simples do povo.
Se fosse possível restaurar e renovar a imagem de
Maria sem destruí-la, sem deformá-la.
Restaurar a imagem de Maria de tal maneira que nela
transparecesse melhor a imagem de Deus, a mensagem de Deus ao povo, e que
aparecesse bem claramente aos olhos de todos os homens e mulheres o testemunho
que Maria nos deu da sua fé em Deus e da sua dedicação à vida.
Renovar a imagem de Maria de tal maneira, para que
essa imagem voltasse a ser um espelho limpo e não embaçado para que o povo
pobre e simples pudesse contemplar a sua cara de gente, o seu rosto de criatura
obra prima do Senhor, a sua cara de filha de Deus, pobre, humilde e simples,
como o seu povo pobre, simples e humilde, e pudesse, através disso tudo,
descobrir a missão de Maria no mundo de hoje.
Se fosse possível limpar esse espelho. Um dia esse
sonho vai se tornar realidade.
Mesmo que por ora não sejamos capazes de enxergar toda
a beleza da qual o Senhor Nosso Deus cumulou Maria, a gente sabe e imagina que,
dentro dessa beleza um segredo muito importante para a vida. Por isso o povo
pobre e humilde carrega consigo, por onde for, a devoção e o amor a Maria. E
esse dia, quando chegar, transformará a sexta-feira santa no domingo de Páscoa
e a procissão do Senhor morto numa procissão festiva de ressurreição e vida.
São Luiz Maria Grignon de Montfort, em seu livro
“Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, nos dá uma verdadeira
lição do conhecimento que tem sobre Maria e como devemos amá-la, e escreve: “Deus fez um lago muito grande de água, e o
chamou mar; depois fez um mar de graças, e o chamou Maria.”.
E, para demonstrar a tão grande ligação que existe
entre Jesus e Maria, esse santo até faz uma comparação absurda, quando diz: “Maria está tão intimamente unida a Jesus,
que seria mais fácil separar a luz do sol e o calor do fogo do que separar
Maria de Jesus; “seria mais fácil separar
os anjos e santos de Jesus do que separar Maria de Jesus, “porque Maria ama mais ardentemente a Jesus e
o glorifica mais perfeitamente que todas as criaturas juntas.”
São Bernardo, em uma das orações mais lindas dedicadas
à Maria, diz: “Jamais se ouviu dizer que
alguém que tivesse recorrido à proteção de Maria, tivesse deixado de ser por
ela atendido.”
Santa Terezinha do Menino Jesus dizia sempre que, o
caminho mais perto e mais curto para se chegar até Jesus, é Maria. E quantas
mais citações de santos e santas que amaram de verdade Maria poderíamos
declinar aqui.
E como seria bom se, a exemplo de São Luiz Maria
Grignon de Montfort, repetíssemos todos os dias: “Sou todo vosso, ò minha amada Mãe e Senhora, e tudo o que tenho vos
pertence.”
O filho que ama verdadeiramente sua mãe, jamais se
cansa de falar sobre ela, de conversar com ela, de viver a sua vida a exemplo
da vida dela...
É pelas mãos imaculadas de Maria que chegaremos ao
conhecimento pleno de todas as verdades, porque é pelas mãos imaculadas de
Maria que chegaremos a Jesus, e Jesus é a verdade suprema...
São Bernardo sempre aconselhou aqueles que queriam
chegar à perfeição, dizendo: “Quando você
quiser oferecer alguma coisa à Deus, ofereça sempre essa coisa pelas mãos
imaculadas de Maria; se você fizer a sua oferta pelas mãos agradabilíssimas e
puríssimas de Maria, você jamais será repelido da presença de Deus.”
São Luiz Maria Grignon de Montfort pensa da mesma
maneira que São Bernardo e nos dá um exemplo de como devemos oferecer tudo a
Deus pelas mãos imaculadas de Maria e nos dá um exemplo dizendo que Maria
embeleza as nossas ofertas, adornando-as com seus merecimentos e virtudes, e
escreve: “É como se um lavrador, querendo
ganhar a amizade e a benevolência do Rei, fosse até a Rainha e entregasse a ela
uma maçã que é toda a fortuna do lavrador, e suplicando à Rainha que entregasse
o seu presente, a maçã, ao Rei. A Rainha, tendo recebido o pobre presentinho do
lavrador, colocaria a maçã em uma grande e bela bandeja de ouro e a
apresentaria ao Rei em nome do camponês; deste modo a maçã, ainda que indigna
em si de ser ofertada a um soberano, iria se tornar um presente digno de sua
Majestade por causa da bandeja de ouro e da pessoa por quem seria apresentada.”
Assim são nossas pobres orações oferecidas a Deus por meio de Maria.
Por meio de Maria, Jesus chegou até nós. Por meio de
Maria, chegaremos a Jesus.
Quem está com Maria, não está longe de Deus...
Os verdadeiros filhos de Maria “terão na boca a espada de dois gumes da palavra de Deus; em seus
ombros carregarão o estandarte ensanguentado da cruz, na mão direita terá o
crucifixo e na esquerda o rosário e no coração os nomes sagrados de Jesus e
Maria, e em toda a sua conduta terão a modéstia e mortificação de Jesus” (Montfort).
E, neste momento, cheio de amor à Virgem, me dirijo a
ela, dizendo, como tantos santos que a amaram disseram: “Maria, vós que sois a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja e a nossa Mãe, nós
que somos o povo humilde e pobre que se coloca sob vossa proteção e que confia
em vós, vos pedimos que nos mostrais o vosso verdadeiro rosto de “escrava do
Senhor”, e deixe transparecer toda a beleza espiritual com que o Senhor vos
cumulou. Atendei aos nossos apelos e apresentai-nos ao vosso filho, Jesus, para
que ele nos receba como seus discípulos e para fazermos tudo aquilo que ele nos
ordenar fazer para a maior glória de Deus”.
E não nos esqueçamos de que “NÃO PODE ESPERAR A MISERICÓRDIA DE DEUS QUEM OFENDE A SUA MÃE.” (Montfort).
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