quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 

PORQUE SÓ OS CRISTÃOS CATÓLICOS FAZEM O SINAL DA CRUZ?

 

O símbolo do cristianismo, lembra o teólogo americano John Stott, poderia ser a “manjedoura”, para simbolizar a encarnação de Jesus, a “carpintaria”, para dignificar o trabalho manual de Jesus ou a “toalha”, para lembrar o lava-pés de Jesus.

Mas todos foram ignorados em favor da cruz, o que é totalmente extraordinário, porque, na cultura greco-romana da época, a cruz era objeto de vergonha. Para John Julius Scott, professor de Bíblia e teologia no Wheaton College, nos Estados Unidos, “a cruz é um diamante multifacetado”; a cruz “é a demonstração suprema do amor que Deus tem pelo homem pecador”.

A cruz era um instrumento de tortura e morte usado durante o tempo do Império Romano, sendo usado para aplicar a pena de morte a indivíduos que eram condenados pelas autoridades. Alguns anos depois da crucificação de Jesus, os romanos baniram esta forma de punição por considerarem que era muito cruel.

A cruz cristã é o mais conhecido símbolo religioso do cristianismo.

É a representação do instrumento da crucificação de Jesus, a hora esperada por Jesus e está relacionada ao crucifíxo (cruz que inclui uma representação do corpo de Jesus) e à família mais ampla dos símbolos em forma de cruzes.

A cruz representou em diversas sociedades a interseção do plano material e do transcendental em seus eixos perpendiculares. Por exemplo, era insígna de Serápis no Egito.

Ao ser apropriado pelo cristianismo, este símbolo enriqueceu e sintetizou a história da salvação e paixão de Jesus, significando também a possibilidade de ressurreição.

A prática de fazer o sinal da cruz é o que há de mais visível na Igreja Católica Romana, mas é também praticado pelas Igrejas Ortodoxa Oriental e Episcopal.

A história do sinal da cruz remonta a Tertuliano, o pai da igreja primitiva que viveu entre 160 e 220 d.C. Tertuliano escreveu, recomendando o uso do sinal da cruz por parte dos cristãos nas mais variadas situações da vida: : “Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da Cruz.” (Tertuliano, De Corona Militis 3).

A respeito da cruz, Paulo escreve:“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6,14-15); "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma força divina" (1Cor 1,18);  “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo” (Gl 2,19); “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,12.14); “… anunciar o  Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a Cruz de Cristo” (1Cor 1,17).

Em várias passagens dos Evangelhos Jesus se refencia à cruz, dizendo: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10,38); “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24); “E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

No  Novo Testamento a Cruz é símbolo da virtude da penitência, domínio das paixões desregradas e do sofrer por amor de Cristo e da Igreja pelas salvação do mundo. Seria preciso apagar muitos versículos do Novo Testamento para dizer que a Cruz é um símbolo introduzido no século IV na vida dos cristãos, como afirmam cristãos de seguimento protestante.

O sinal da Cruz é o sinal dos cristãos ou o sinal do Deus vivo, de que fala o  livro do Apocalipse: “Vi também outro Anjo que vinha do outro lado, onde o sol nasce, , trazendo o selo do Deus vivo. [...] Vamos anotes marcar a fronte dos servos do nosso Deus” (Apo 7,2.3), fazendo eco ao que disse Ezequiel no seu livro: “Um anjo gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: “Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus” (Ez 9,4).

Os primeiros cristãos poderiam receber um prêmio como publicitários, por terem criado a cruz como “logotipo de identidade corporativa” da Igreja.

Uma das primeiras perguntas de um antigo catecismo para crianças: “Qual é o sinal do cristão?” A resposta era: “o sinal do cristão é a cruz“.

Todas as instituições, hoje especialmente, têm um logotipo que representa sua imagem corporativa.

Os primeiros cristãos deveriam receber um prêmio como publicitários, por terem criado a cruz como logotipo de identidade corporativa da Igreja: é difícil encontrar uma imagem mais simples e mais “compreensiva”, em intensidade e extensão, da visão, missão e valores da Igreja, do que a cruz. Na simples cruz estão condensados o passado, o presente e o futuro da instituição divina da Igreja em favor dos homens.

Ao mesmo tempo, a cruz representa a caminhada diária do cristão: “Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz de cada dia e me siga” (Lc 23).

Quando o cristão faz o sinal da cruz, ele não está praticando a magia, nem um exorcismo, como pensam alguns protestantes, mas está expressando, com um gesto simples, todo o ideal da sua vida, indicando que quer carregar a cruz de Cristo nesse dia, em sua cabeça, em seus lábios e em seu coração, com toda a sua alma e sua mente e, além disso, realizando um ato de fé na Trindade, pronunciando “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Por tudo isso, muitas igrejas e lugares cristãos são presididos e coroados com a imagem da cruz ou de Cristo crucificado, querendo representar o momento culminante da história no qual a humanidade foi resgatada por Jesus para Deus Pai.


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