XI DOMINGO DO TEMPO COMUM
ANO – C; COR – VERDE; LEITURAS: 2Sm 12,7-10.13; Sl 31 (32); Gl
2,16.19-21; Lc 7,36 - 8,3).
“TEUS PECADOS ESTÃO PERDOADOS”. (Lc 7,48).
Diácono
Milton Restivo.
A liturgia de
hoje é muito rica do perdão de Deus. Na primeira leitura Yahweh perdoa crimes
horrendos do rei Davi. Na segunda leitura Paulo mostra que somos justificados e
perdoados por Jesus Cristo e, no Evangelho, Jesus perdoa a pecadora arrependida
que lava-lhe os pés com lágrimas e os enxuga com seus cabelos.
A figura de
destaque da primeira leitura é um profeta: o profeta Natã. O profeta Natã
esteve presente nos reinados de Davi (cf Eclo 47,1) e Salomão (cf 2Cr 9,29). Natã
teve a coragem e o destemor de repreender energicamente ao rei Davi pelo grave
pecado de adultério com Betsabéia, mulher de seu general Urias, e pelo covarde assassinato
do próprio Urias, para ficar com a sua mulher (cf 2Sm 11,2-18). Para entender a
mensagem da primeira leitura e o porque o profeta Natã está advertindo ao rei
Davi, se faz necessário que seja lido o contido no livro segundo de Samuel,
11,2-18, senão a leitura fica obscura. Betsabéia era esposa de Urias, um guerreiro heteu que
estava a serviço do rei Davi. Passeando uma tarde pelo terraço do palácio, Davi
ficou impressionado com a beleza de Betsabéia, que estava se banhando em sua
casa. Davi a seduziu e chegou ao cúmulo de expor seu marido, o general Urias, à
morte em uma batalha, ordenando, por carta, que foi levada em mãos pelo próprio
Urias aos seus comandantes, para que o colocassem a combater em local de
extremo risco, com o objetivo de que Urias não tivesse chance de sobreviver ao
combate, para ficar com a sua esposa Betsabéia e, realmente, Urias sucumbiu em
combate (2Sm 11,14-17).
A primeira leitura, portanto, mostra o
destemor do profeta Natã ao chamar a atenção do rei Davi, considerando que “Yahweh mandou o profeta Natã falar com
Davi” (2Sm 12,1) e, depois de contar uma parábola ao rei Davi sobre o homem
rico que tinha “muitos rebanhos de
ovelhas e bois”, mas, para agradar uma visita, rouba a ovelha única e muito
querida de seu visinho pobre “e a
preparou para a sua visita” (cf 2Sm 12,1-6). Betsabéia tornou-se uma das
esposas de Davi e teve mais quatro filhos, entre eles Salomão, que sucedeu ao
rei Davi no trono. (1Cro 3,5).
Pena que, nem de longe, a liturgia insinua
ou sugere o motivo da reprimenda do profeta Natã ao rei Davi, esclarecendo qual
tenha sido o motivo da indignação de Yahweh, mas, devemos levar em consideração
que a liturgia deste domingo fala do perdão de Deus sem se preocupar em colocar
em destaque o pecado que mereceu a misericórdia divina, tanto o pecado de Davi
como o pecado da mulher do Evangelho que lava os pés de Jesus com suas lágrimas
e os enxuga com seus cabelos.
Na sequência da primeira leitura o rei Davi
se arrepende de seu pecado: “Pequei
contra o Senhor”, e Natã transmite-lhe a mensagem de perdão de Yahweh: “De sua parte, o Senhor perdoou o seu
pecado, de modo que você não morrerá! Entretanto, por você ter ultrajado o
Senhor com seu procedimento, o filho que lhe nasceu morrerá”. (2Sm 12,13).
Betsabéia engravidou de Davi, mas a criança morreu por juízo de Yahweh (2Sm 12,15-19).
Além da
advertência destemida feita ao rei Davi, o profeta Natã surge em mais dois
acontecimentos distintos e importantes onde desempenha um papel preponderante.
Um desses acontecimentos está relacionado com a pretensão de Davi em construir
um Templo para Yahweh. Inicialmente Natã deu a sua aprovação, mas, mais tarde
recebeu uma revelação de que deveria ser o filho de Davi, Salomão, que deveria construir
o referido templo (2Sm 7,1-17).
Outro
acontecimento, onde o profeta Natã assume um papel importante, está relacionado
com a sucessão de Davi no trono. Neste episódio, Natã alia-se a Betsabéia e ao
seu filho Salomão, com o objetivo de ser este, e não Adonias, filho de Davi com
outra mulher e mais velho que Salomão (cf 1Cro 3,1-5 e 1Rs 1,11-32) a suceder
ao pai como rei.
Ao longo de
toda a Bíblia um tema ocorre com muita frequência: Deus fala com o povo através
de seus profetas, e o povo aceita ou rejeita o que é dito. Evidentemente, ao
rejeitar as palavras dos profetas, o povo não está rejeitando os profetas, mas
aquele que os enviou, Yahweh.
Os profetas
foram homens escolhidos por Yahweh para serem canais da manifestação de sua
vontade ao povo israelita. Instrumento poderosamente usado e, através dos
profetas, a glória de Yahweh, por diversas vezes, foi manifestada. Profeta é um homem,
ou mulher, cheio do Espírito de Deus, que à luz da fé enxerga a situação em que
vive; anuncia a Palavra de Deus e denuncia o pecado do povo ou do indivíduo.
Ser profeta não é profissão ou cargo.
Ser profeta é
vocação e missão na comunidade. Ser profeta não sugere mordomias, mas
compromisso e, na maioria das vezes, sofrimento. No livro do Deuteronômio Yahweh
faz um esclarecimento do que seja profeta, e uma advertência: “Do meio dos
irmãos deles, eu farei surgir para eles um profeta como você. Vou colocar
minhas palavras em sua boca, e ele dirá para eles tudo o que eu lhe mandar. Se
alguém não ouvir as minhas palavras, que esse profeta pronunciar em meu nome,
eu mesmo pedirei contas a essa pessoa. Contudo, se o profeta tiver a ousadia de
dizer em meu nome alguma coisa que eu não tenha mandado, ou se ele falar em
nome de outros deuses, tal profeta deverá ser morto. Talvez você se pergunte:
‘Como vamos distinguir se uma palavra não é palavra de Yahweh? ’ Se o profeta
fala em nome de Yahweh, mas a palavra não se cumpre e não se realiza, trata-se
então de uma palavra que Yahweh não disse. Tal profeta fala com presunção, Não
tenha medo dele”. (Dt 18,18-22).
Jesus Cristo
não é um profeta: Jesus Cristo é o Profeta por excelência: “Um grande Profeta surgiu entre nós. Deus voltou os olhos para seu
povo” (Lc 7,16).
O Salmo
responsorial é uma confissão e um agradecimento e exaltação a Yahweh por quem
teve seus pecados perdoados: “Feliz o
homem cuja ofensa é absolvida, cujo pecado é coberto. Feliz o homem a quem
Yahweh não aponta delito. [...] Eu
disse: ‘vou a Yahweh confessar a minha culpa! ’ E tu absolveste o meu delito”. (Sl
32 (31),1-2.5b).
A segunda
leitura nos mostra Paulo irritado com os gálatas que se deixaram ser seduzidos
pelos judaizantes (os judeus convertidos ao cristianismo, mas que não
abandonaram a Lei de Moisés) que ensinavam que a Lei de Moisés estava acima do
sacrifício, da graça e da fé em Jesus Cristo. Estavam ignorando a misericórdia e
a graça de Deus e se apegando à Lei do Antigo Testamento, e Paulo é taxativo na
sua afirmativa de plena entrega e confiança na misericórdia e no perdão que o
Pai dá aos homens por Jesus Cristo: “Aliás,
foi em virtude da lei que eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Com
Cristo, eu fui pregado na cruz. Eu vivo, mas não sou eu que vivo, é Cristo que
vive em mim. Esta
minha vida presente, na carne, eu a vivo crendo no Filho de Deus, que me amou e
por mim se entregou. Eu não desprezo a graça de Deus”. (Gl 2,19-21a).
No Evangelho
uma mulher anônima, de fama duvidosa, “conhecida
na cidade como pecadora”, adentra em uma casa onde Jesus era convidado para
uma refeição, e unge seus pés: “... ela,
porém, ungiu meus pés com perfume” (Lc 7,45b). Lucas não
dá nome a essa mulher, a deixa anônima, para que, no lugar do nome dela
possamos colocar o nosso próprio nome e dizer que esta mulher pode ser qualquer
um de nós: pode ser eu, pode ser você quando, não importando o pecado que
tivermos cometido, se arrependidos, voltarmos para Deus implorando a sua
misericórdia e seu perdão. A mulher ungiu os pés de Jesus. Segundo o
Dicionário Teológico, “unção é untar
com óleo sagrado. Através deste
ato, eram separados os que, pela vontade de Deus, passariam a exercer as
funções veterotestamentárias: rei, sacerdote e profeta”, e, segundo o
Dicionário da Bíblia católica, edição ecumênica, Barsa – 1964, “unção é uma cerimônia religiosa na qual
se derrama óleo sobre uma pessoa ou coisa escolhida. No Antigo Testamento,
os profetas eram ungidos para a sua missão. A palavra Christos em grego
significa Ungido (Sl 2,2). Os fiéis são considerados ungidos de Deus (2Cor 1,21;
1Jo 2,10.27)”.
Jesus, no
início de sua vida pública quando, pela primeira vez toma a palavra diante de
ouvintes, inaugurando a sua pregação, já se diz ungido, repetindo o que Isaias
havia profetizado a respeito dele próprio: “O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para
anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos
presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos...”. (Lc
4,18). O nome hebraico “Messias” e o grego “Christos” quer dizer exatamente
“Ungido”; quando falamos “Jesus Cristo”, dizemos “Jesus, o Ungido pelo Pai”. Cristo
é o ungido, o escolhido de Deus.
Em Israel,
sacerdotes (Ex 40,15), reis (1Sm 9,16) e profetas (1Rs 19,16) eram ungidos; era
um símbolo que indicava que Deus os havia separado para alguma obra em relação
ao seu povo. Todos estes, sacerdotes, reis e profetas, porém, falharam, mas
Deus nos apresenta o seu Cristo, o seu Ungido, o seu Sacerdote, Profeta e Rei,
que cumpriu plenamente o propósito de Deus. “Cristo” é o nome que fala-nos daquele
que o Pai escolheu. Um importante detalhe que pode ser observado nas Escrituras
Sagradas: somente homens foram ungidos. Em momento algum, nenhuma mulher foi
ungida para uma tarefa na área espiritual. Não há nenhuma referência de
mulheres sendo ungidas, seja para o serviço sacerdotal ou para reinar.
Somente homem
ungia homem. No caso de Jesus, além de ele ser ungido com o Espírito do Senhor:
“Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me consagrou com a unção” e de ter sido declarado pelo próprio Pai
como Filho bem amado: “Este é meu Filho
amado em quem me comprazo”. (Mt 3,71; 17,5; Mc 1,11; Lc 3,22), e da
declaração de fé de Pedro, chamando-o de Cristo e Filho de Deus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt
16,16b), e, em Lucas, Pedro diz taxativamente: “O Messias de Deus”. (Lc 9,20), nenhum homem ungiu Jesus; apenas as
mulheres o ungiram. O que será que ele quis nos dizer com isso e que nós anda
não entendemos?
Jesus Cristo
foi ungido em duas ocasiões, por mulheres, com óleo perfumado. Uma vez
aconteceu na casa de certo fariseu, na Galiléia, conforme nos narra o Evangelho
de hoje: “Ela trouxe um frasco de
alabastro com perfume e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as
lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de
beijos, e os ungia com o perfume”. (Lc 7,37b-38), e outra vez foi no lar de
Simão, o leproso, em Betânia: “Então
Maria levou quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com
ele os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos”. (Jo 12,3; Mt 26,7; Mc
14,3). Nos dois casos o óleo caro foi derramado dum vaso de alabastro. O
alabastro, de que foram feitos os vasos, era como se fosse uma porcelana, uma
pedra preciosa semelhante ao mármore, porém, muito sensível, e era exatamente
dessa pedra que era produzido jarros para colocar perfumes.
A primeira
mulher a ungir Jesus ficou anônima no Evangelho de Lucas, sendo identificada
apenas como “conhecida na cidade como
pecadora” [...] “Se esse homem fosse
um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora.”
(Lc 7,37.39b).
A segunda
mulher tem identidade: era Maria, a irmã de Lázaro e Marta: “Então Maria levou quase meio litro de
perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou
com seus cabelos”. (Jo 12,3). Esta segunda unção Jesus a interpretou como
se fosse uma preparação para o seu sepultamento, que estava prestes a
acontecer: “Deixe-a. Ela guardou esse
perfume para me ungir no dia do meu sepultamento”. (Jo 12,7; Mc 14,8; Mt
26,12).
Voltemos ao
Evangelho deste domingo, Lucas 7,36 – 8,3. A mulher que tinha uma vida não em
conformidade com a moral e os bons costumes da época, ou ainda, de hoje, soube
da presença de Jesus na cidade e na casa de quem ele se encontrava: na casa de
um fariseu que “convidou Jesus para uma
refeição”. Lucas declina o nome do anfitrião de Jesus como sendo Simão e
diz era um fariseu. Fariseu era alguém importante no seguimento da religião
judaica e que se considerava santo e se vangloriava por não ser igual aos demais
do povo. Basta ler a parábola do publicano e do fariseu contada pelo próprio
Jesus para ver a arrogância e o orgulho desmedido de um fariseu que se compara
santo na sua oração em frente a um publicano que bate no peito reconhecendo-se
pecador: “Ó Deus, eu te agradeço porque
não sou como os outros homens que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como
esse publicano. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a
minha renda’. O publicano ficou à distância, e nem se atrevia levantar os olhos
para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou
pecador”. (Lc 18,9-14).
Em outra
ocasião Jesus bate pesado nas atitudes dos fariseus, dirigindo contra eles oito
“ai de vocês” e maldições e
chamando-os várias vezes de “hipócritas” (Mt
23,13.15.23.25.27a.29), e de “condutores
cegos [...] Insensatos e cegos” (Mt
23,16.17.19.24.26); “sepulcros caiados” (Mt
23,27b), ‘serpentes, raça de víboras”
(Mt 23,33).
Há necessidade
de se dizer alguma coisa mais a respeito dos fariseus? E dos fariseus que,
garbosamente ocupam os bancos das nossas igrejas? Então, vemos que o fariseu era alguém que,
por suas atitudes escrupulosas, hipócritas e orgulhosas da prática religiosa,
julgava que já havia adquirido a passagem e a entrada para o céu, enquanto os
demais queimariam no fogo do inferno, como existem muitos cristãos que, ainda
hoje, assim agem, pensam e julgam... A mulher ignorou todo tipo de convenção ou
boas maneiras ao adentrar naquela casa cheia de fariseus que se julgavam santos
e superiores a todos os demais. Pela lei de Moisés e pelos ensinamentos
farisaicos, um fariseu jamais receberia ou permitiria que uma mulher
considerada pelo povo como pecadora, adentrasse os umbrais de sua porta. Mas a
mulher demonstra coragem e ousadia e, acima de tudo, fé. Entrou na casa do
fariseu trazendo consigo um vaso de alabastro cheio de caro perfume. Passou por
todos que estavam atônitos ao ver a audácia da mulher, e se dirige diretamente
a Jesus e “... ficando por detrás,
chorava aos pés de Jesus, com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés,
enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos, e os ungia com o perfume"
(Lc 7,38). Apesar das mulheres do tempo de Jesus usarem cabelos presos e
cobertos com um véu, essa mulher não se importou com o que iriam dizer, mas,
com os próprios cabelos, que estavam soltos, enxugou os pés de Jesus. As
mulheres judias honestas jamais usariam cabelos soltos.
Jesus não fez qualquer atitude de repulsa
contra a mulher. Ele sabia que, pela Lei de Moisés, quem se deixasse tocar por
uma pessoa pecadora, ficaria impuro como ela. Pelo contrário, Jesus amou
profundamente aquela mulher; não a recriminou, não a interrompeu, perdoou-a, salvou-a
e despediu-a com a sua paz, porque “Deus
amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que, todo o que
nele acredita, não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu
Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo
por meio dele”. (Jo 3,16-16), e: “Todos
aqueles que o Pai me dá, virão a mim. E eu nunca rejeitarei aquele que vem a
mim...” (Jo 3,36-37). Com essa atitude da mulher, que era
considerada pecadora e indigna de adentrar na casa de um pretenso “santo”, o
fariseu deixou transparecer revolta e grande perturbação, tendo a ousadia de
colocar em cheque a integridade e a missão de Jesus e, em pensamento, julgou: “Se este homem fosse um profeta, saberia que
tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora” (Lc 7,39b),
ignorando que a missão de Jesus era exatamente para achar o que estava perdido,
e que ele não viera para os que se consideravam “santos” e sim para os que se
sabiam pecadores: “Com efeito, o Filho do
Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10); “Haverá no céu mais alegria por um só
pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de
conversão. [...] “Os anjos de Deus
sentem a mesma alegria por um pecador que se converte” (Lc 15,7.10).
Jesus, que é
Deus, onisciente, com certeza conhecia o coração do fariseu e sabia o porque da
sua revolta, e lê o seu pensamento, conta-lhe a parábola dos dois devedores,
mostrando que, quem peca mais e é perdoado será aquele que mais amará quem o
perdoou, e, na sequência, mostra ao fariseu a falta de educação que ele tinha demonstrado
ao recepcionar um convidado, no caso o próprio Jesus, e que a mulher havia
suprido aquela deselegância: “Simão,
estás vendo esta mulher? Quando entrei na tua casa, tu não me ofereceste água
para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os
seus cabelos. Tu não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que
entrei, não parou de beijar meus pés. Tu não derramaste óleo na minha cabeça;
ela, porém, ungiu meus pés com perfume. e lhe dá uma lição de amor e perdão:
“Por essa razão, eu te declaro: os muitos
pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela mostrou muito amor’. E Jesus disse à mulher: ‘Teus pecados estão
perdoados’.” (Lc 7,47-48). Jesus coloca mais minhocas e indignações na
cabeça dos fariseus, que se julgavam “santos” e protestam: “Quem é este que até perdoa pecados?”(Lc 7,49b). Jesus ignora essa
observação de repúdio dos fariseus “pseudos-santos”. E Jesus se volta para a
mulher, e lhe diz: “Tua fé te salvou. “Vai
em paz” (Lc 7,50b).
Muitos grandes
santos foram também grandes pecadores. Exemplo disse temos nas próprias
Sagradas Escrituras, como o exemplo da mulher samaritana que de grande pecadora
que era, transformou-se numa das primeiras missionárias e evangelistas ao
chamar o povo da cidade para ir ao encontro e ouvir a Jesus Cristo que lhe
tinha dito maravilhas (Jo 4,4-30).
O grande
pecador de hoje pode ser o missionário do Evangelho de amanhã.
Não conhecemos
os caminhos nem os pensamentos de Deus: “Porque
os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os
meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a
terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os
meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos”. (Is 55,8-9).
Cuidemos, portanto,
para que as nossas posições não nos coloquem no lado oposto às atitudes de
Jesus.
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