sábado, 26 de outubro de 2013

PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano C; Cor Verde; Leituras: Eclo 35,15-17.20-22; Sl 33 (34); 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14.

“MEU DEUS, TEM PIEDADE DE MIM, QUE SOU PECADOR”. (Lc 18,9-14).

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Diácono Milton Restivo

A liturgia de hoje continua a incentivar para a oração e prega a igualdade, a fraternidade e a ser benevolente para com os pobres e desamparados.
A primeira leitura, tirada livro do Eclesiástico, diz: “O Senhor é juiz e não faz diferença entre as pessoas. Ele não dá preferência a ninguém contra o pobre. Pelo contrário, atende a súplica do oprimido. Ele não despreza a súplica do órfão, nem a viúva que desafoga as suas queixas. Será que as lágrimas da viúva não lhe descem pela face, e o grito dela não se levanta contra quem a faz chorar? Quem serve ao Senhor será recebido com benevolência, e sua súplica chegará até as nuvens. A súplica do pobre penetra as nuvens, e ele não sossega, enquanto ela não chegar até lá. Ele não desiste, até que o Altíssimo intervenha para fazer justiça aos justos e realize o julgamento. O Senhor não tardará...”. (Eclo 35,15-19a).
        Deus não faz nenhuma diferença entre os homens. Deus não dá preferência a ninguém; ama com igualdade a todos. Apenas é agradável a Deus aquele que pratica a justiça e o teme: “Pedro começou a falar: ‘De fato, estou compreendendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, seja qual for a nação a que pertença”. (At 10,34-35). No livro do Deuteronômio encontramos: “Porque Yahweh seu Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, valente e terrível, que não faz diferença entre as pessoas, nem aceita subornos. Ele faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o imigrante, dando-lhe pão e roupa”. (Dt 10,17-18). E no livro de Jó: “Deus não é parcial a favor dos poderosos, nem favorece o rico contra o pobre, porque todos são obras de suas mãos”. (Jó 34,19).
Deus não faz distinção entre pobres e ricos, brancos e negros, baixos ou altos, brasileiros, japoneses ou de quaisquer outras nacionalidades, entre doutores e analfabetos, entre patrões e empregados. “De fato, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo”. (Gl 3,26-28).
Deus é Pai de todos e trata a todos com igualdade, atuando na vida de todos e de cada um. Deus ouve as súplicas de todos sem dar preferência a quem quer que seja, pois todos são seus filhos amados e todos são obras de suas mãos”.
A oração agradável a Deus começa com a vida de amor e respeito entre os irmãos. Não se pode agradar a Deus se há desavenças entre irmãos: “Se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar que seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe a oferta ai diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois volte para apresentar a oferta”. (Mt 5,23-24).
Deus vê o coração sem se preocupar com o valor ou o tamanho da oferta. O amor e a humildade são a primeira condição para ser atendido por Deus.
O Salmo responsorial é uma oração: oração de agradecimento que é feita no meio da comunidade dos pobres: “Vou bendizer a Yahweh o tempo todo, seu louvor estará sempre em minha boca. [...] Este pobre gritou, Yahweh ouviu, e o salvou de todos os apertos. [...] Provem e vejam como Yahweh é bom: feliz o homem que nele se abriga. Tema Yahweh, povo consagrado a Yahweh, pois nada falta aos que o teme. [...] Yahweh cuida sempre dos justos, e ouve atentamente seus clamores. [...] Os justos gritam, Yahweh escuta, e os liberta de todos os apertos”. (Sl 33 (34),2.7.9.16.18).
A carta que Paulo escreve a Timóteo, segunda leitura, demonstra esperança, otimismo e entusiasmo a todos aqueles que assumiram com responsabilidade as mensagens de Jesus e vê os seus dias terminarem: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.” (2Tm 4,7-8).
Paulo faz uma retrospectiva de sua vida. Utiliza linguagem militar, que aponta para um soldado combatente e vencedor: “Combati o bom combate”.
Como um atleta perseverante e lutador, Paulo utiliza linguagem olímpica, que aponta para um atleta cruzando a linha de chegada: “completei a corrida” e, como um servo fiel, Paulo utiliza linguagem administrativa “guardei a fé”.
O mordomo, ou, depositário fiel, era uma pessoa de confiança que guardava os bens confiados pelo seu senhor. Paulo foi um depositário fiel das coisas que recebeu do Senhor.
Nesta afirmativa Paulo, já no fim de sua vida, preso, velho e cansado fisicamente, praticamente já condenado à morte, mostra-se um gigante espiritual que acabou de completar a maior luta, a grande corrida da vida e a perseverança na fé: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7).
Na certeza de que tudo o que fizera havia alcançado o objetivo de expandir a Igreja do Cristo para todo o mundo conhecido da época, Paulo finaliza: “Mas o Senhor esteve ao meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente e ouvida por todas as nações. [...] O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu reino celeste”. (2Tm 4,17.18).
No Evangelho de hoje Lucas transmite a parábola do fariseu e do publicano, que só se encontra no seu Evangelho, que estão em oração no Templo, narrada por Jesus.
A citação chave sobre a missão de Jesus no nosso meio está contida em Lucas 19,10: “De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
Ao apresentar Jesus como aquele que o Pai enviara para “procurar e salvar o que estava perdido”, Lucas inclui passagens no seu evangelho de pessoas discriminadas que não são narradas nos demais evangelhos, como o relato da mulher considerada pecadora que adentra a casa de um fariseu durante uma refeição para lavar os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugar com seus cabelos (Lc 7,36-50); a parábola do fariseu e o publicano que se dirigem ao Templo para rezar, que meditaremos hoje (Lc 18,9-14); a história do publicano Zaqueu que queria ver Jesus, (Lc 19,1-10), e o perdão do ladrão na cruz, (Lc 23,39-43). Essas narrativas só se encontram no Evangelho segundo Lucas.
No Evangelho de Lucas Jesus está sempre se relacionando com publicanos, pecadores, doentes, leprosos, mulheres, gentios, samaritanos, viúvas, pobres ou crianças, que eram menosprezados, discriminados e considerados, pelos fariseus e doutores da Lei como malditos por não terem acesso à Lei de Moisés que somente era conhecida pela classe elitizada: “Maldito seja aquele que não mantém as palavras desta Lei, não pondo-as em prática”. (Dt 27,26; Gl 3,10).
Todas essas classes de pessoas eram desprezadas pela sociedade elitizada judaica que achava simplesmente um absurdo que um mestre judeu se preocupasse em estar na presença e companhia de algumas dessas pessoas, e se escandalizavam quando Jesus delas se aproximava: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam Jesus, dizendo: ‘Esse homem acolhe pecadores e come com eles”. (Lc 15,1-2). Os publicanos eram os judeus que coletavam impostos dos seus conterrâneos e os entregava a Roma, Os publicanos eram, portanto, os cobradores de impostos do povo opressor.
No tempo de Jesus a Palestina estava sendo dominada e pertencia ao Império Romano. Por isso, os judeus pagavam impostos ao Imperador e, como Roma não os pagava pelo trabalho, eles tinham que cobrar a mais para tirar daí o seu saldo e, por isso, eram odiados pelos judeus porque cobravam impostos de seus compatriotas em favor dos seus dominadores. Aproveitavam-se, muitas vezes, da sua função para impor multas desonestas, roubando o povo. Por isso, eram odiados e tidos como ladrões.
O sistema de recolhimento de impostos era sujeito a abusos. Roma franqueava ao cobrador de impostos, também chamado “publicanos”, uma determinada área geográfica, pela qual eles seriam responsáveis para arrecadarem impostos, estipulando-lhe a quantia anual que deveria ser recolhida, mas estes cobravam taxas bem superiores ao estipulado ficando com o excedente. Alguns coletores aceitavam suborno dos ricos diminuindo a taxa deles e sobrecarregando os pobres para compensar.
O povo sentia-se massacrado com tantos impostos. Os judeus não aceitavam o fato de que um irmão estivesse trabalhando para os usurpadores. Além do mais, carregaram a triste fama de que cobravam acima do devido para beneficiar-se, pelo qual João Batista os admoesta: “não cobrem nada além da taxa estabelecida” (Lc 3,13). Os judeus os consideravam fora do padrão religioso, por terem muito contato com gentios e traidores da nação; por estas razões eram extremamente menosprezados social e religiosamente.
Os publicanos, para os judeus, eram o que de pior, de menos moral se podia encontrar. Mas Jesus era amigo deles porque “as pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes”. (Lc 5,31). Aqueles a quem os mestres judeus consideravam como castigados, desprezados, ou desvalorizados por Deus eram justamente para eles a quem Jesus investia seu tempo porque: “De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (Lc 19,10). Os fariseus e doutores da Lei ficaram ainda mais irritados quando Jesus, corajosamente lhes diz: “Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu”. (Lc 21,31b).
Em uma conversa que teve com os fariseus sobre a missão de João Batista, Jesus enaltece a conversão dos cobradores de impostos que aceitaram a proposta de salvação, e condena a hipocrisia e a intolerância dos fariseus e dos doutores da Lei que se julgavam santos e sábios e desprezavam os demais e se fecharam para o projeto de Deus: “Todo o povo, e até mesmo os cobradores de impostos deram ouvidos à pregação de João. Reconheceram a justiça de Deus, e receberam o batismo de João. Mas os fariseus e os doutores da Lei, rejeitando o batismo de João, tornaram inútil para si mesmos o projeto de Deus”. (Lc 7,29-30). Por isso os fariseus e mestres da Lei estavam em constante conflito com Jesus, porque ele mostrava amizade, amor e respeito a quem eles, os fariseus e doutores da Lei, achavam que não tinham valor algum.
Muitos publicanos se converteram, e os mais famosos são Mateus, que foi chamado a ser apóstolo de Jesus (Mt 10,3; Lc 5,27-32) e Zaqueu (Lc 19,1-10), confirmando aquilo que Jesus dissera: “Eu não vim para chamar justos, e sim pecadores para o arrependimento”. (Lc 5,32). Estes eram os publicanos, os cobradores de impostos, ou ainda, os pecadores públicos.
E os fariseus, quem eram? Os fariseus eram homens religiosos, que viviam no tempo de Jesus. Eram muito orgulhosos e se con­sideravam perfeitos e “santos” por cumprirem as determinações da Lei de Moisés que orientava a religião judaica. Gostavam de discutir sobre assuntos espirituais. Estavam sempre em litígio com Jesus. Consideravam suas interpretações como as únicas certas e não admitiam que alguém pudesse saber da Lei de Moisés mais do que eles. Eram vaidosos pela antiguidade de sua seita religiosa. Tratavam os partidários das outras crenças e seitas com ódio e desprezo, como, infelizmente, temos ainda no nosso meio seitas que se dizem cristãs combatendo e odiando seitas que se autodenominam cristãs. Achavam que “religião” era somente a prática de cerimônias nas sinagogas e no Templo.
Templo só havia um, o de Salomão, em Jerusalém. Os fariseus eram, quase sempre, cheios de vícios e erros, mas, fingiam, por palavras e atitudes, que eram corretos e santos. Para o fariseu Deus não era um pai misericordioso, mas um fiscal que escreve nos seus livros todos e cada um dos méritos, que ele, fariseu, tinha como fruto do seu esforço e da sua observância legal.
Além da característica mais marcante de um fariseu, que Jesus mencionou muitas vezes – a hipocrisia –, ainda havia outra coisa que era própria de um fariseu: sua grande erudição, seu enorme conhecimento sobre a Lei de Moisés. Mas, ao invés desse enorme conhecimento conduzi-los à verdade, grande parte deles seguia por um caminho totalmente errado. Tanto é que Paulo, o maior fariseu de todos os tempos, reconheceu esse fato depois de ter-se convertido para o cristianismo, tendo escrito aos coríntios: “o conhecimento envaidece; é o amor que constrói”. (1Cor 8.1b).
Os fariseus tinham uma visão própria da Lei e do que é conforme ou contrário a ela, e consideravam condenados e irremediavelmente perdidos todos os que não se conformavam com sua rígida interpretação da Lei.
Os pecadores, em resumo, eram para os fariseus todos os que não seguiam suas tradições e imposições, que foram violentamente condenadas por Jesus, principalmente nos “ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas”, proferidos por Jesus contra eles, que se encontram no Evangelho segundo Mateus, 23,13-36 que, para entender melhor, seria bom ler essa passagem.
Quantos fariseus hipócritas temos no nosso meio que, por cumprirem rituais e julgar serem conhecedores da lei, desprezam o irmão que, como ele, não teve oportunidade de se aperfeiçoar nas coisas de Deus e continuam nos seus erros por omissão daqueles que, ao invés de criticá-los, deveriam ser luz para iluminar os seus caminhos.
Esclarecido isso e conhecendo o que seja o publicano ou cobrador de impostos e o fariseu, a intenção de Jesus nessa parábola torna-se mais clara. E Jesus começa essa parábola se dirigindo aos fariseus, conforme narra Lucas: “Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola...”. (Lc 18,9).
O termo “desprezavam os outros” quer dizer literalmente “consideravam os outros como nada”. E Jesus inicia a parábola, dizendo: “Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro era cobrador de impostos”. (Lc 18,10).
Os dois homens são representantes de duas classes distintas e antagônicas: o fariseu representando os arrogantes, os que se julgam conhecedores, defensores e praticantes da Lei, os que se julgam santos, os que desprezam os outros que não agem como ele; o publicano ou cobrador de impostos, os transgressores da lei, os desprezados, os pecadores públicos, os que já estão, antecipadamente, condenados à danação eterna. E Jesus sabia que os seus ouvintes entendiam dessa maneira. O fariseu, colocando-se em atitude de dignidade, de superioridade e de supremo orgulho, “de pé, rezava no seu íntimo”, isto é, rezava de si para si próprio.
Ao perceber, ao seu lado, a presença do publicano, o fariseu assumiu uma atitude de superioridade, e começou uma oração encharcada de orgulho que jamais alcançaria os ouvidos de Deus, como que se dissesse: eu sou o bom, eu sou o melhor, eu sou o santo, porque: “eu não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros” e, olhando para o lado onde estava o publicano: “nem como esse cobrador de impostos” que é um infeliz, pecador, condenado ao fogo eterno. E continuando na sua oração, começa a colocar um rosário de coisas que fazia como que para obrigar a Deus a ficar seu devedor: ‘Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda”. Será que ainda existem fariseus nos nossos dias? Os que julgam que rezam o terço todos os dias, que não perdem uma reunião de grupo, que não faltam às missas dominicais, os que pagam religiosamente o dízimo, e que se julgam que já estão salvos por isso, e que Deus tem a obrigação de atendê-los porque, afinal das contas, com isso, eles têm crédito com Deus?
Assim agiu o fariseu da parábola: cheio de orgulho, de pretensão, porque ele não era um homem de se misturar com a multidão de adoradores que não foram feitos para merecer a sua companhia. A atitude do fariseu foi a de desfilar os seus pretensos méritos diante de Deus e informando aos céus as suas virtudes e o débito que Deus tinha com ele: “Ò Deus, eu te agradeço por que não sou como os outros homens...”.
Não havia nenhum sentimento de humildade do que ele devia a Deus, nem agradecimento por tudo o que Deus fizera ou fazia por ele. O fariseu demonstrava uma atitude orgulhosa, primeiro de tudo pela sua postura. Estava em pé, sem dúvida, tinha olhado rapidamente ao redor de si para ter certeza de que alguém estava perto para observar a sua postura e ouvir como ele era maravilhoso.
Não somente estava de pé, mas, como Jesus o descreve: “orava assim no seu íntimo”, ou seja, de si para si mesmo. Ele estava mais preocupado em lembrar-se de suas virtudes, e com aqueles que o ouviam, do que estava em falar com Deus.
Por sua vez, o publicano, cabisbaixo, em atitude de humildade, de contrição, mantendo-se afastado porque sentia-se indigno de unir-se ao resto dos adoradores no Templo, e batia no peito.
Na cultura judaica, bater no peito era um sinal externo de demonstrar a dor na alma. O publicano reconhecia sua natureza pecaminosa e estava angustiado por isso.
O fariseu chegou diante do Senhor falando de sua vida e de como ele era bom e de quantas boas obras tinha feito. O publicano veio, com mãos vazias, confessou sua vida cheia de erros. Ele não tinha nada para apresentar. Somente uma coisa ele queria: perdão pelos seus pecados e salvação que só Deus pode dar.
A posição do publicano era tímida e humilde e o seu pensamento não era outro senão se colocar na presença de Deus “e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu” e recitar um ato de contrição: “eu pecador me confesso a Deus todo Poderoso...” porque estava dolorosamente consciente de sua culpa, seu pecado e envergonhado de suas ações.
O publicano não tinha nenhum mérito a exibir; a única coisa clara que ele tinha é a consciência do seu pecado, e expressa isso, como Davi, se sentindo o maior dos pecadores que suplica ao Senhor: “Tem piedade de mim, ó Deus, por teu amor! Por tua grande compaixão, apaga a minha culpa! Lava-me da minha injustiça e purifica-me do meu pecado! Porque eu reconheço a minha culpa, e o meu pecado está sempre na minha frente; pequei contra ti, somente contra ti, praticando o que é mau aos teus olhos”. (Sl 51 (50),3-6a). Mas, o publicano apenas disse em sua oração: “Meu Deus, tem piedade de mim que eu sou um pecador’. (Lc 18,13).
Se formos contar as palavras ditas pelo fariseu e pelo publicano em suas orações, vamos ficar estupefatos. Na tradução da Bíblia edição Pastoral, que tenho em mãos neste momento, contei trinta e nove palavras do fariseu na sua oração cheia de orgulho e prepotência. Em contrapartida, na oração do publicano, contei apenas nove... Não são o número de palavras que usamos nas nossas orações que farão com que Deus seja propício aos nossos rogos; são, sim, as palavras sinceras.
A respeito disso Jesus já nos chamou a atenção: “Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostas de rezar de pé nas sinagogas e nas esquinas para serem vistos pelos homens. Eu garanto a vocês: já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai que vê o escondido, recompensará você”. (Mt 6,5-6).
No final da parábola Jesus define quem saiu justificado do Templo. Não foi o fariseu que recitou trinta e nove palavras apenas para se vangloriar e deixar subentendido que Deus lhe era devedor, pois que ele fazia mais do que a Lei de Moisés pedia.
Foi, sim, o publicano que de cabeça baixa, batendo no peito, se sentindo o último dos mortais, pedindo clemência ao Senhor e se reconhecendo pecador que, com apenas nove palavras foi ouvido em sua prece.
E Jesus termina a parábola com uma frase que todos conhecemos, mas relutamos em pô-la em prática: “Quem se eleva será humilhado e quem se humilha será exaltado”. (Lc 18,14b).

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