PROCESSO PARA BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO
O Brasil tem
70 candidatos a santos
Mais de 70
pessoas têm boas chances de se tornarem santos no Brasil, sendo que 30 delas se
tornaram beatas coletivamente, por terem sido brutalmente mortas durante uma
missa no interior do Rio Grande do Norte, em 1645.
O
levantamento foi obtido junto ao Vaticano pela freira Célia Cadorin, 86,
responsável pelo processo de beatificação de Madre Paulina e Frei Galvão. A
postuladora ou "advogada dos santos", hoje aposentada, que
pertence à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada por Madre
Paulina em 1890, já viajou o Brasil todo atrás de milagres que provassem a
santidade de seus "clientes" e viveu na Itália durante 14 anos para
pesquisar a vida deles.
"O
postulador é um religioso do local onde a pessoa nasceu que é indicado pela
Igreja para defender o processo de canonização", explica irmã Célia.
"Ele é a alma de toda a causa. Se ele se empenha, a causa anda",
avalia ela.
Além de
postuladora, irmã Célia é uma das miraculadas de Madre Paulina, nome dado àquele
que recebe um milagre. Quando tinha 13 anos, teve complicações no pulso direito
após sofrer uma queda no convento de Nova Trento (SC). Depois de colocar no
machucado um cravo tirado do caixão de Madre Paulina por uma tia de irmã
Célia, que era freira da mesma congregação, seu pulso foi curado, desinchando
em menos de 24 horas.
ETAPAS PARA A SANTIDADE
Servo de Deus
Título
recebido logo que a causa é iniciada. A vida do servo de Deus é minuciosamente
investigada a fim de se comprovar sua fama de santidade.
Venerável
O candidato
recebe o decreto de "virtudes heróicas" ou "martírio". A
vida continua sendo pesquisada para se encontrar milagres ou comprovar que a
morte foi santa.
Beato
Se ao menos
um milagre é comprovado pelo postulador e reconhecido pelo Vaticano, o
venerável é beatificado.
Santo
Se dois
milagres, ou mais, forem comprovados, o beato é finalmente canonizado e se
torna um santo.
Processo para beatificação
Em
entrevista ao UOL, no convento onde também viveu Madre Paulina quando
morou em São Paulo, a religiosa explica o processo que envolve a beatificação.
Segundo ela,
uma causa começa a partir do momento em que uma pessoa ganha fama de santa na
região onde viveu e morreu. É o caso, por exemplo, de Nhá Chica, cujo túmulo
era frequentado por muitos devotos antes mesmo de uma causa ser iniciada.
"Então um bispo, um padre ou uma associação verifica se há fundamentos
para a abertura de uma causa e entra com o pedido junto à Congregação para a
Causa dos Santos, no Vaticano, com uma descrição biográfica sobre a vida, as
virtudes e a fama de santidade", disse.
Feito isso,
o Vaticano dá uma resposta negativa ou um nihil obstat, que indica que
"nada impede" que a causa seja iniciada, o que dá início então à fase
diocesana, quando um bispo diocesano local instala um tribunal eclesiástico
para investigar a vida do candidato a santo e provar que ele merece o título.
Uma comissão
histórica é formada para recolher documentos sobre a vida da pessoa.
"Nessa fase são ouvidos aqueles que conheceram, conviveram ou ouviram
falar dele para provar que tem fama de santidade", explicou irmã Célia,
que diz gostar de professoras aposentadas para fazer essa parte do trabalho. Os
documentos são classificados em religiosos, referentes à família e ao trabalho,
arquivos civis e escolares, entre outros.
Na hora de
dar os depoimentos, as testemunhas fazem um juramento de dizer a verdade,
inclusive se o candidato a santo tinha defeitos. "Tudo é muito esmiuçado e
muito sério. Não é faz de conta. É tudo científico, tem que ser provado",
disse.
Duas vias de
todos os documentos são entregues pelo postulador à Congregação dos Santos, no
Vaticano, que, após análise, publica o primeiro decreto de validade do
processo, o que torna a pessoa uma serva de Deus.
"Começa,
então, a fase romana, mais longa e difícil", afirmou a religiosa, quando
os documentos passam por uma comissão de historiadores do Vaticano, uma
comissão de teólogos e uma comissão de bispos e cardeais. "Por fim, é
marcada uma audiência com o papa."
Para
confirmar o milagre atribuído ao candidato, médicos sem ligação com o Vaticano
pedem exames e analisam documentos sobre o diagnóstico (constatação da doença),
o prognóstico (como a doença evoluiria), a terapia recomendada e se ela
precisou ser ou não seguida. Outra comissão, a teológica, analisa os mesmos
itens somados à invocação feita para se alcançar a cura.
"Para
ser considerada um milagre, a cura deve ser rápida, duradoura e sem
sequelas", lembra irmã Célia. "Se os médicos concluírem que a cura
não tem explicação científica nenhuma e se os teólogos constatarem que a graça
foi alcançada por intermédio do venerável, o papa publica um terceiro decreto e
ele passa a ser beato."
Quando um
segundo relato de milagre passa por todo esse processo e é aprovado, o beato é
finalmente canonizado e vira santo.
Anos atrás,
o Vaticano exigia dois milagres para beatos e quatro para santos. No entanto,
isso foi alterado por decreto de João Paulo 2º, que chegou a afirmar durante o seu
papado que "o Brasil precisa de muitos santos". Com as novas regras,
as chances dos candidatos brasileiros à canonização aumentaram. "O que foi
ótimo, pois quem faz um milagre faz dois", brinca irmã Célia.
(De UOL
Notícias – Cotidiano).
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