FESTA DE SÃO PEDRO
E SÃO PAULO
Ano – A; Cor –
Vermelho; Leituras: At 3,1-10; Sl 18a (19); Gl 1,11-20; Jo 21,15-19.
“TU ÉS PEDRO, E
SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA.” (Mt 19,18).
Diácono
Milton Restivo
O dia
comemorativo de São Pedro é 29 de junho, enquadrado que é nas festas juninas,
mas por ser uma festa de suma importância para a Igreja, comemora-se litúrgica
e festivamente no primeiro domingo que o precede. Este ano coincide a data da
festa com um domingo.
Considerando
que a tradição atesta que Pedro e Paulo, as colunas mestras da Igreja de Jesus
Cristo foram martirizados no mesmo dia, então a Igreja festeja a memória dos
dois Apóstolos no mesmo dia. Hoje vamos colocar em foco a pessoa de Pedro.
Além daquilo
que é citado nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos pouco se sabe sobre a vida
de Pedro e dos demais Apóstolos. O livro dos Atos dos Apóstolos só narra a
morte de Tiago, irmão de João e filho de Zebedeu, no ano 44: “Nesse tempo, o
rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja, e mandou matar à
espada Tiago, irmão de João.” (At 12,1).
As informações,
fora das Sagradas Escrituras acerca dos apóstolos são abundantes, e nem sempre
meritórias de crédito. Temos que considerar que quando um escritor se propõe a
escrever sobre um personagem, no caso um santo, o autor sempre carrega nas
cores, fazendo com que os seus escritos sejam admirados pelas ações do
personagem que ele focaliza, admira e, possivelmente, de quem é devoto, e a
história sempre é uma escolha inspirada por uma ideologia ou crença ou uma
devoção. Por isso, quando falamos dos Apóstolos, não podemos sair da revelação,
que é a própria Sagrada Escritura, e sempre levando em consideração a tradição
dos primeiros padres (pais) da Igreja, como Clemente de Roma em sua Epístola aos
Coríntios (escrita cerca de 95-97 dC), que fala sobre a morte de Pedro.
Pedro
apaixonado, mas em quem não era seguro confiar, Jesus o transformou em um forte
apoio na pregação do Evangelho. O caráter impulsivo e emocional de Pedro faz
dele um estudo interessante. Pedro era um discípulo cujo coração estava no
lugar certo, mas que cometia muitos erros. A história de Pedro nos ajuda a
entender, principalmente, o papel das emoções na vida cristã.
Que Pedro era casado não há dúvida,
considerando que os Evangelhos sinóticos citam sua sogra, que morava com ele, omitindo
sua esposa: “E logo ao sair da sinagoga (Jesus) foi à casa de Simão e
de André, com Tiago e João. A sogra de Simão (Pedro) estava de cama com
febre, e eles imediatamente o mencionaram a Jesus. E Jesus aproximando-se,
tomou-a pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e ela se pôs a
servi-los.” (Mc 1,29-31; Mt 8,14-15; Lc 4,40-41).
Também Paulo
diz que Pedro era casado e que levava sua mulher nas viagens apostólicas e
missionárias: “Não temos o direito de nos fazer acompanhar por uma esposa
cristã, como os demais apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas (Pedro)?” (1Cor 9,5 – Bíblia do Peregrino).
Das Sagradas
Escrituras colhem-se os seguintes dados sobre Pedro: seu pai chamava-se Jonas
no Evangelho de Mateus (Mt 16,17) ou João no Evangelho de João (Jo 1,42;
21,15). Tinha por irmão André (Mt 10,2), ambos pescadores de profissão (Mt
4,18; Mc 1,16). Pedro nasceu em Betsaida, uma aldeia pesqueira na costa
nordestina do Mar da Galiléia. Betsaida, que significa Casa de Pesca,
foi um lugar em que, mais tarde, Jesus operou muitos milagres, (Jo 1,44), mas
Pedro morava na cidade de Cafarnaum quando conheceu Jesus (Mc 1,29; Lc 4,38). O
primeiro encontro com Jesus foi à beira do mar da Galiléia onde Pedro e seu
irmão André estavam pescando “... jogando a rede no mar, pois eram
pescadores. Jesus disse para eles: ‘Sigam-me’, e eu farei de vocês pescadores
de homens’. Eles deixaram imediatamente as redes, e seguiram a Jesus.” (Mt
4,18-20).
O nome de
nascença de Pedro era Simão, abreviatura de Simeão, nome hebraico que significa
“famoso”. Jesus lhe deu um novo nome: Pedro. Não lhe bastaria ser “famoso”.
Precisava ser firme e inabalável. Afinal, firmeza era o que mais lhe faltava
naqueles primeiros anos de serviço ao Mestre. Em seus momentos de debilidade,
era chamado de “Simão” (Lc 22,31;
Mc 14,37; Jo 21,15-17). Era o “velho homem” em ação, com
toda a sua fraqueza natural.
Desde o seu
primeiro encontro com Jesus, Simão recebeu o apelido de “kefa”, que em aramaico
significa “rocha” ou “pedra”, traduzido para o português como “Cefas” (Jo
1,42), de onde vem “Pedro” nome este que foi traduzido para o grego como “Petros”,
que também significa "pedra" ou "rocha", e posteriormente
passou para o latim como “Petrus”, também através da palavra “petra”, de mesmo
significado.
Devido ao uso
de mais de um idioma falado na Palestina e, em particular, na Judéia, era comum
as pessoas possuírem mais de um nome: um hebraico, outro grego; ou um em latim,
outro em aramaico, ou até mesmo dois nomes numa mesma língua. A mudança de seu
nome por Jesus, bem como seu significado, ganha importância como vemos no
Evangelho de Mateus, quando Jesus lhe diz: “Você é Pedro (pedra), e
sobre essa pedra construirei a minha igreja, e o poder da morte nunca poderá
vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu, e o que você ligar na terra
será ligado no céu, e o que você desligar na terra será desligado no céu.” (Mt
16,18-19).
Mais tarde,
antes de voltar para o Pai, Jesus determina por três vezes a Pedro: “Cuide
de minhas ovelhas.” (Jo 21,15-17).
Pedro recebeu
a responsabilidade pelo futuro Reino; poderá ligar e desligar, não apenas
instruir, mas também organizar e julgar, e isso diz respeito à remissão dos
pecados. Os demais apóstolos participam do mesmo poder (cf Mt 18,17), mas
somente Pedro é a rocha, o fundamento da comunidade de Deus. Essas
determinações de Jesus, construindo sobre Pedro “pedra” a sua Igreja, e dando a
ele as chaves do Reino e o poder de ligar e desligar as coisas da terra ao céu
e o cuidado de suas ovelhas, se fazem presentes na pessoa do sucessor de Pedro
na Igreja de Jesus Cristo, hoje, o Papa Francisco.
Juntamente com
João e seu irmão Tiago, Pedro foi um discípulo privilegiado de Jesus que pode
presenciar a glória de Jesus na ressurreição da filha de Jairo: “Jesus não
deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João.” (Mc
5,37), quando da transfiguração de Jesus: “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago
e seu irmão João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta
montanha. E transfigurou-se diante deles.” (Mc 9,2) e na humilhação de
Jesus no Getsêmani: “Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a
ficar com medo e angústia.” (Mc 14,33).
Pedro
demonstra a sua fraqueza humana no momento em que Jesus mais precisava
dele, negando-o por três vezes (Mt 26,69-75).
É muito comum,
nos Evangelhos, Pedro ser colocado em destaque, em primeiro plano: na profissão
de fé e na entrega das chaves da Igreja (Mt 16,13-19). Foi nessa oportunidade
que Pedro pronunciou a mais célebre profissão de fé e declaração dita por um
discípulo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16,16).
Por outro
lado, quando Jesus antecipava a sua paixão e morte, alertando seus discípulos, Pedro
cometeu grave erro ao repreender o Mestre dizendo: “Deus não permita tal
coisa, Senhor. Que isso nunca te aconteça.” (Mt 16,22). Imediatamente, Pedro ouviu
a mais severa repreensão de Cristo dita para um de seus apóstolos: “Fique
longe de mim, Satanás!” (Mt 16,23).
Para
entendermos a importância de Pedro e a sua ascendência sobre os demais
apóstolos, na cidade de Cafarnaum os fiscais de impostos se dirigiram
diretamente a Pedro (Mt 17,24-27); Jesus escolheu a barca de Pedro para pregar
às margens do lago de Genesaré (Mt 5,3.10); Pedro tomando a palavra por todos
os Apóstolos quando Jesus pergunta se eles também não o querem abandonar: “Para
quem iremos nós, Senhor. Tu tens as palavras da vida eterna.” (Jo 6,68): quando Jesus tentou
lavar-lhe os pés (Jo 13,6-10); quando Jesus coloca, definitivamente, suas
ovelhas aos cuidados de Pedro (Jo 21,15-17).
Pedro foi
agraciado com uma aparição especial de Jesus ressuscitado: “Realmente, o
Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24,34), e conforme atestou
Paulo: “... apareceu a Pedro e depois aos Doze.” (1Cor 15,5). Na
nascente comunidade cristã de Jerusalém Pedro assumiu a coordenação,
providenciando a substituição do apóstolo traidor Judas por Matias (At 1,15-26)
e, depois do envio do Espírito Santo por parte de Jesus, quando reunidos em
Jerusalém,
Pedro foi o
primeiro a tomar a palavra em nome da Igreja recém-nascida (At 2,14ss). Ao ser
instrumento de Jesus na cura de um paralítico, Pedro dirige a palavra a todos
os frequentadores do Templo de Jerusalém (At 3,1-26). Foi Pedro quem falou diante
das autoridades civis e religiosas dos judeus quando foi preso por curar o
paralítico e falar sobre Jesus no Templo (4,1-22) e diante do sinédrio (At
5,29-32). Foi Pedro quem pronunciou a sentença para o casal Ananias e Safira,
que tentou ludibriar a ação do Espírito Santo na Igreja nascente, tentando
tirar partido do dom de Deus (At 5,1-13). Foi Pedro o apóstolo que primeiro
introduziu e batizou a primeira família pagã, não cristã, para a Igreja de
Jesus Cristo, a família do centurião romano Cornélio (At 10,1-13); foi Pedro o
primeiro apóstolo que levou a Palavra aos gentios e os catequizou, dizendo que:
“na verdade eu me dei conta que Deus não
faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, em qualquer nação, quem o teme
e pratica a justiça é agradável a ele” (At 34ss).
Simão Pedro sempre
saía na frente dos discípulos em qualquer situação, fosse para errar ou
acertar. Com isso, conseguia grandes elogios e também repreensões por parte de
Jesus. Pedro teve experiências ímpares, maravilhosas, e também fracassos
vergonhosos.
Citemos
algumas experiências maravilhosas: andou sobre as águas (Mt 14,29); testemunhou a
ressurreição da Filha de Jairo (Lc 8,51);
testemunhou a transfiguração de Cristo (Mt
17,1); testemunhou a agonia de Cristo no Getsêmani (Mt 26,37); pescou um peixe que tinha
uma moeda na boca (Mt 17,27);
coordenou a eleição da escolha de Matias que ficaria no lugar de Judas (At
1,15-25); pregou no dia de Pentecostes (At
2); curou um paralítico na porta do Templo (At 3); enfermos foram curados sob a
sua sombra (At 5,15);
mediante a sua palavra, morreram Ananias e Safira (At 5,1-10); curou um paralítico (At 9,34); ressuscitou a discípula Tabita (At 9,40).
Pedro também
teve seus momentos de descrença. Quando Jesus foi ao encontro dos discípulos em
alto mar com o barco fustigado por uma tempestade, Pedro duvidou: “’Senhor,
se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água’. Jesus
respondeu: ‘Venha’! Pedro desceu da barca, e começou a andar sobre a água em
direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando a
afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me’. Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro,
e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, por que você duvidou’? (Mt 14,22-31).
Pedro, com
João e Tiago, dorme no maior momento de angústia vivido por Jesus (Mt 26,
36-46). Pedro promete a Jesus que jamais o abandonaria em momento algum: “Ainda
que eu tenha que morrer contigo, mesmo assim não te negarei” (Mc 14,29-31)
e, no momento em que Jesus
mais precisava dele, negou Jesus por três vezes (Mt 26,69-75; Mc 14,66-72).
Quando da
prisão de Jesus, Jesus chama a atenção de Pedro por ter desembainhado a espada
e ferido a orelha de um dos que o prendiam (Jo 18,10-11). Com todos os demais
apóstolos, Pedro foge e se esconde durante a prisão, julgamento e crucificação
de Jesus (Jo 20,19).
A tradição da
Igreja confirma que os Apóstolos Barnabé e Paulo fundaram a Igreja de Antioquia
no ano 42, aproximadamente, e que Pedro foi o seu primeiro Bispo, tendo
permanecido na sua direção durante oito anos, de 45 a 53. Foi na cidade de
Antioquia que os primeiros seguidores de Jesus Cristo foram chamados de
cristãos (At 11,26).
O Apóstolo
Paulo também não perdeu a oportunidade de chamar a atenção de Pedro por uma
atitude anti-cristã que ele tomara na comunidade de Antioquia. Foi em Antioquia
que ocorreu o incidente entre Pedro e Paulo sobre a necessidade da circuncisão
para conversão, tendo Paulo batido de frente com Pedro que vacilara entre a Lei
de Moisés e a graça trazida por Jesus através do seu Evangelho: Pedro estava do
lado daqueles judaizantes (judeus convertidos ao cristianismo) que diziam que,
para ser cristão, era necessário antes ser circuncidado, conforme a Lei de
Moisés, e Paulo não mede palavras para chamar a atenção de Pedro: “Quando
Pedro foi a Antioquia, eu o enfrentei em público, porque ele estava claramente
errado. [...] Quando vi que eles não estavam agindo direito, conforme a
verdade do Evangelho, eu disse a Pedro na frente de todos: ‘Você é judeu, mas
está vivendo como os pagãos e não como os judeus. Como pode então obrigar os
pagãos a viverem como judeus?” (Gl 2,11.14).
Após
permanecer oito anos em Antioquia, Pedro foi para Roma onde foi o primeiro Bispo.
Ainda, segundo
a tradição cristã, Pedro foi preso nos primeiros meses de 67, acusado de ser cúmplice
do incêndio que devastou a cidade de Roma. Foi condenado à morte de cruz.
A execução foi
consumada na colina do Vaticano, no mesmo dia em que Paulo foi decapitado,
conforme carta de Clemente, bispo de Roma, escrita em 95, que se encontra no Arquivo
do Vaticano: “Por zelo e astúcia o maior e a maioria dos discípulos íntegros
(da Igreja) sofreram perseguição e foram levados à morte. Coloquemos diante de
nossos olhos o bom Apóstolo São Pedro, o qual foi submetido a um tratamento
injusto e cruel, sofrendo numerosas misérias, e assim, tendo dado testemunho do
Senhor, foi martirizado, e entrou no lugar merecido da glória”.
A seguir, Clemente
menciona Paulo e vários outros eleitos que juntos ou isoladamente, sofreram o
martírio “entre nós”.
Ainda relativo
à maneira da morte de Pedro, possuímos uma tradição, atestada por Tertuliano ao
término do segundo século, e por Orígenes (conforme História Eclesiástica, II,
Eusebius Pamphilus, Bispo de Caesarea – 265/339), afirmando que Pedro foi
crucificado.
Orígenes disse:
“Pedro foi crucificado em Roma com a
cabeça para baixo, como ele tinha desejado morrer”.
O dia do
martírio de Pedro também é desconhecido; 29 de junho foi o dia escolhido para a
sua festa desde o quarto século, todavia, não existe uma prova concreta de que
foi exatamente no dia 29 de junho que Pedro foi martirizado.
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