domingo, 1 de junho de 2014

ASCENSÃO DE JESUS

ASCENSÃO DO SENHOR
Ano – A; Cor – Branco; Leituras: At 1,1-11; Sl 46 (47); Ef 1,17-23; Mt 28,16-20.

“EU ESTAREI COM VOCÊS TODOS OS DIAS, ATÉ O FIM DO MUNDO”. (Mt 28,20).


Diácono Milton Restivo

Ainda dentro do Tempo Pascal a Igreja comemora a Ascensão do Senhor Jesus aos céus.
A primeira leitura é extraída do livro dos Atos dos Apóstolos, aliás, o seu início.
Atribui-se a autoria dos Atos dos Apóstolos a Lucas, discípulo de Paulo e médico, como disse o próprio Paulo: “Lucas, o amado médico” (Cl 4,14).
As únicas referências, nas Sagradas Escrituras que temos de Lucas, constam das cartas de Paulo: “Lucas, o amado médico” (Cl 4,14); “colaborador” (Fm 1,24); “Somente Lucas está comigo” (2Tm 4,11).
Também é atribuído a Lucas o terceiro Evangelho sinótico, onde o Evangelista deixa claro que, em Jesus, Deus visitou o seu povo, quando Jesus chora sobre Jerusalém: “Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio visitá-la.” (Lc 19,44).
Os Atos dos Apóstolos retratam o início da história da Igreja e a Era Apostólica.
        A preocupação de Lucas, neste livro, é retratar a ação do Espírito Santo nas primeiras comunidades cristãs e, por elas, no mundo inteiro. O interessante é que, apesar do nome, este livro não narra os atos de todos os apóstolos, mas se atém somente em Pedro e muito mais em Paulo, sendo que João e Tiago entram apenas como figurantes.
O livro dos Atos dos Apóstolos é a continuação ininterrupta do Evangelho de Lucas.
Se pegarmos o final do Evangelho segundo Lucas e o início do livro dos Atos dos Apóstolos, veremos isso, ou seja, Lucas começa o livro de Atos dos Apóstolos com o mesmo fato com que havia terminado o seu Evangelho: a ascensão de Jesus Cristo aos céus.
O Evangelho atribuído a Lucas é o único em que há indicações de um destinatário: Teófilo (Lc 1,3), o mesmo do livro dos Atos dos Apóstolos (At 1,3). Lucas começa o seu Evangelho com uma dedicatória a Teófilo, como da mesma forma, no início dos Atos dos Apóstolos ele faz a dedicatória ao mesmo destinatário.
No Evangelho: “Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-lo transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido’. (Lc 1,1-4).
No livro dos Atos dos Apóstolos: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas”. (At 1,1-2).
Lucas dedicou seu Evangelho ao "excelentíssimo Teófilo", e nos Atos dos Apóstolos repete a dedicatória. Até hoje não se sabe quem seja “Teófilo”. Muitas explicações tem-se dado a respeito.
Muitos defendem a tese de que Teófilo teria sido um personagem importante entre as autoridades da época. Outros levantam a hipótese que seria um nobre convertido pelo próprio Lucas. Mas não existe amparo para nenhuma das teses.
Teófilo, em grego significa "Amigo de Deus", (Théou-philos). A expressão literária pode estar referindo-se a alguém, a uma comunidade ou a todos os que se enquadrarem ao termo.
A conclusão lógica, mas não definitiva que se poderia chegar, seria que Lucas teria escrito o seu Evangelho para todos os Teófilos, “amigos de Deus”, ou seja, para todos os que aderiram com fé, confiança e responsabilidade à mensagem de Jesus Cristo, todos os convertidos ou os que se convertem todos os dias. Todos são “Théou philos”, todos são amigos de Deus. Nos meus escassos conhecimentos das Escrituras e das coisas de Deus, aceito mais essa tese, embora, absolutamente não seja a definitiva.
A ascensão de Jesus Cristo desempenha, assim, nos escritos de Lucas, um papel de articulação, pois encerra o Evangelho e dá início aos Atos dos Apóstolos, ou seja, o término da história de Jesus que se realizou na terra (o Evangelho) e o início da história da Igreja (Atos).
A Ascensão faz parte da glorificação e exaltação de Jesus.
A nossa fé nos diz que o Cristo ressuscitado e glorificado entrou na glória de Deus Pai: “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus Pai” depois de ter “aparecido a Cefas e depois aos doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente apareceu a Tiago, e depois a todos os apóstolos. Em último, apareceu também a mim (Paulo) como a um abortivo”. (1Cor 15,5-8).
No nosso ato de fé proclamamos: “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso”.
Comemoramos, na festa litúrgica da Ascensão de Jesus, a sua elevação ao céu, quarenta dias após a sua ressurreição, que acontece na quinta-feira da quinta semana após a Páscoa, mas que é celebrada no domingo que a segue.
O Salmo responsorial retrata essa realidade: “Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta. [...] Porque Deus é o grande Rei de toda a terra, ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso” (Sl 47 (46), 6.10b).
Na segunda leitura Paulo enaltece a glória de Deus Pai que manifestou a sua força em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus: “Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear, não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal. (Ef 1,20-23).
Jesus já havia cumprido a sua missão. Aquilo que o Pai lhe ordenara fazer, ele o fizera com extrema dedicação e amor. O ponto alto de sua missão, primeiro, foi se preocupar com a justiça com todos, para todos e entre todos como vemos, por ocasião do seu batismo, que foi contestado por João Batista: “Eu preciso ser batizado por ti, e você vem a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Por enquanto, deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3,14-15) e, segundo, declarar o mandamento novo: o mandamento do amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,34-35).
Jesus não só falou, mas mostrou como se faz: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos.” (Jo 15,12-13). E assim ele fez quando chegou a sua hora.
Inserido no mandamento do amor, está o perdão: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo.” (Lc 23,34). Agora ele já vencera a morte: “Morte, onde está a sua vitória? Morte, onde está o teu ferrão?” (1Cor 15,55).
Era a hora de retornar ao Pai, não para ausentar-se deste mundo e deixar órfãos os seus queridos, mas para permanecer com eles “todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20b).
Nessa oportunidade, todos viram a sua vitória sobre a morte e a sua glória: “E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade.” (Jo 1,14b), e “todos prostraram-se diante dele” (Mt 28,17a).
Jesus contempla a todos com carinho e misericórdia porque sabe de qual barro foi feito o homem, tendo em vista que: “ainda assim alguns duvidaram.” (Mt 28,17b). Jesus lhes dirige a palavra: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra.” (Mt 28,18).
Desse momento em diante Jesus é a única autoridade e o elo entre o Pai e os homens, confirmando aquilo que ele havia dito no discurso da última ceia: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” complementando: “eu estou no Pai e o Pai está em mim.” (Jo 14,6.11) e, “por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Fl 2,9-11), tendo o Apóstolo Paulo entendendo muito bem isso e ensinado que “Isso é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador. Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou para resgatar a todos” (1Tm 2,3-6a).
A semente já havia sido jogada na terra: “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz muito fruto.” (Jo 12,24).
A semente já havia sido jogada na terra e lá ficado por três dias. A partir daí, “... se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninho em seus ramos.” (Mt 13,32). Era o momento da árvore gerada por essa semente estender seus galhos por todo o mundo para alimentar a todos os homens com os seus frutos que não são, senão “... o pão da vida. Quem vem a mim, não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede. [...] Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá para sempre.” (Jo 6,35.51a).
Chegara a hora de fazer o envio de seus discípulos para levar a sua mensagem e fazer todos os homens serem membros da grande família do Pai para serem alimentados pelo fruto dessa árvore: “... vão e façam discípulos meus  todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-lhes a observai tudo o que eu ensinei a vocês.” (Mt 28,19-20a).
Para dar segurança ao seu envio, Jesus promete: “Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20b).
E assim termina o Evangelho de Mateus...

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