ASCENSÃO DO SENHOR
Ano – A; Cor –
Branco; Leituras: At 1,1-11; Sl 46 (47); Ef 1,17-23; Mt 28,16-20.
“EU ESTAREI COM
VOCÊS TODOS OS DIAS, ATÉ O FIM DO MUNDO”. (Mt 28,20).
Diácono Milton
Restivo
Ainda dentro do
Tempo Pascal a Igreja comemora a Ascensão do Senhor Jesus aos céus.
A primeira
leitura é extraída do livro dos Atos dos Apóstolos, aliás, o seu início.
Atribui-se a
autoria dos Atos dos Apóstolos a Lucas, discípulo de Paulo e médico, como disse
o próprio Paulo: “Lucas,
o amado médico” (Cl 4,14).
As únicas referências, nas
Sagradas Escrituras que temos de Lucas, constam das cartas de Paulo: “Lucas, o amado médico” (Cl
4,14); “colaborador” (Fm 1,24); “Somente Lucas está comigo” (2Tm
4,11).
Também é atribuído a Lucas o
terceiro Evangelho sinótico, onde o Evangelista deixa claro que, em Jesus, Deus
visitou o seu povo, quando Jesus chora sobre Jerusalém: “Eles esmagarão você
e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não
reconheceu o tempo em que
Deus veio visitá-la.” (Lc 19,44).
Os Atos dos
Apóstolos retratam o início da história da Igreja e a Era Apostólica.
A preocupação
de Lucas, neste livro, é retratar a ação do Espírito Santo nas primeiras
comunidades cristãs e, por elas, no mundo inteiro. O interessante é que, apesar
do nome, este livro não narra os atos de todos os apóstolos, mas se atém
somente em Pedro e muito mais em Paulo, sendo que João e Tiago entram apenas
como figurantes.
O livro dos
Atos dos Apóstolos é a continuação ininterrupta do Evangelho de Lucas.
Se pegarmos o
final do Evangelho segundo Lucas e o início do livro dos Atos dos Apóstolos,
veremos isso, ou seja, Lucas começa o livro de Atos dos Apóstolos com o mesmo
fato com que havia terminado o seu Evangelho: a ascensão de Jesus Cristo aos
céus.
O Evangelho
atribuído a Lucas é o único em que há indicações de um destinatário: Teófilo
(Lc 1,3), o mesmo do livro dos Atos dos Apóstolos (At 1,3). Lucas começa o seu
Evangelho com uma dedicatória a Teófilo, como da mesma forma, no início dos
Atos dos Apóstolos ele faz a dedicatória ao mesmo destinatário.
No Evangelho: “Muitos empreenderam compor uma história dos
acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-lo transmitiram aqueles
que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente
investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem,
excelentíssimo Teófilo, para que
conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido’. (Lc 1,1-4).
No livro dos
Atos dos Apóstolos: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que
Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado
mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi
elevado às alturas”. (At
1,1-2).
Lucas dedicou seu Evangelho ao "excelentíssimo
Teófilo", e nos Atos dos
Apóstolos repete a dedicatória. Até hoje não se sabe quem seja “Teófilo”.
Muitas explicações tem-se dado a respeito.
Muitos defendem a tese
de que Teófilo teria sido um personagem importante entre as autoridades da
época. Outros levantam a hipótese que seria um nobre convertido pelo próprio
Lucas. Mas não existe amparo para nenhuma das teses.
Teófilo, em grego significa "Amigo de
Deus", (Théou-philos). A expressão literária pode estar referindo-se a alguém, a uma comunidade ou
a todos os que se enquadrarem ao termo.
A conclusão
lógica, mas não definitiva que se poderia chegar, seria que Lucas teria escrito
o seu Evangelho para todos os Teófilos, “amigos de Deus”, ou seja, para
todos os que aderiram com fé, confiança e responsabilidade à mensagem de Jesus
Cristo, todos os convertidos ou os que se convertem todos os dias. Todos são
“Théou philos”, todos são amigos de Deus. Nos meus escassos conhecimentos das
Escrituras e das coisas de Deus, aceito mais essa tese, embora, absolutamente
não seja a definitiva.
A ascensão de
Jesus Cristo desempenha, assim, nos escritos de Lucas, um papel de articulação,
pois encerra o Evangelho e dá início aos Atos dos Apóstolos, ou seja, o término
da história de Jesus que se realizou na terra (o Evangelho) e o início da
história da Igreja (Atos).
A Ascensão faz
parte da glorificação e exaltação de Jesus.
A nossa fé nos
diz que o Cristo ressuscitado e glorificado entrou na glória de Deus Pai: “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita
de Deus Pai” depois de ter “aparecido
a Cefas e depois aos doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de
uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram.
Posteriormente apareceu a Tiago, e depois a todos os apóstolos. Em último,
apareceu também a mim (Paulo) como a um abortivo”. (1Cor 15,5-8).
No nosso ato de
fé proclamamos: “ressuscitou ao terceiro
dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso”.
Comemoramos, na
festa litúrgica da Ascensão de Jesus, a sua elevação ao céu, quarenta dias após
a sua ressurreição, que acontece na quinta-feira da quinta semana após a Páscoa,
mas que é celebrada no domingo que a segue.
O Salmo
responsorial retrata essa realidade: “Por entre aclamações Deus se elevou, o
Senhor subiu ao toque da trombeta. [...] Porque Deus é o grande Rei de
toda a terra, ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus reina sobre
todas as nações, está sentado no seu trono glorioso” (Sl 47 (46), 6.10b).
Na segunda
leitura Paulo enaltece a glória de Deus Pai que manifestou a sua força em
Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos
céus: “Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e
o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder,
potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear, não somente neste
mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele,
que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude
daquele que possui a plenitude universal. (Ef 1,20-23).
Jesus já havia
cumprido a sua missão. Aquilo que o Pai lhe ordenara fazer, ele o fizera com
extrema dedicação e amor. O ponto alto de sua missão, primeiro, foi se
preocupar com a justiça com todos, para todos e entre todos como vemos, por
ocasião do seu batismo, que foi contestado por João Batista: “Eu preciso ser batizado por ti, e você vem
a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Por enquanto, deixa como está, porque nós
devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3,14-15) e, segundo, declarar o
mandamento novo: o mandamento do amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo:
amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos
outros. Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês
são meus discípulos.” (Jo 13,34-35).
Jesus não só
falou, mas mostrou como se faz: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos
outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida por
seus amigos.” (Jo 15,12-13). E assim ele fez quando chegou a sua hora.
Inserido no
mandamento do amor, está o perdão: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que
estão fazendo.” (Lc 23,34). Agora ele já vencera a morte: “Morte, onde
está a sua vitória? Morte, onde está o teu ferrão?” (1Cor 15,55).
Era a hora de
retornar ao Pai, não para ausentar-se deste mundo e deixar órfãos os seus
queridos, mas para permanecer com eles “todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt
28,20b).
Nessa
oportunidade, todos viram a sua vitória sobre a morte e a sua glória: “E nós
contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e
fidelidade.” (Jo 1,14b), e “todos prostraram-se diante dele” (Mt
28,17a).
Jesus contempla
a todos com carinho e misericórdia porque sabe de qual barro foi feito o homem,
tendo em vista que: “ainda assim alguns duvidaram.” (Mt 28,17b). Jesus
lhes dirige a palavra: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra.”
(Mt 28,18).
Desse momento em diante Jesus é a
única autoridade e o elo entre o Pai e os homens, confirmando aquilo que ele
havia dito no discurso da última ceia: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” complementando: “eu estou no Pai
e o Pai está em mim.” (Jo 14,6.11) e, “por isso, Deus o exaltou
grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que
ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda
língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Fl 2,9-11), tendo o Apóstolo Paulo
entendendo muito bem isso e ensinado que “Isso
é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador. Ele quer que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só
Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou para
resgatar a todos” (1Tm 2,3-6a).
A
semente já havia sido jogada na terra: “Eu garanto a vocês: se o grão de
trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz muito
fruto.” (Jo 12,24).
A
semente já havia sido jogada na terra e lá ficado por três dias. A partir daí, “...
se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninho em seus
ramos.” (Mt 13,32). Era o momento da árvore gerada por essa semente
estender seus galhos por todo o mundo para alimentar a todos os homens com os
seus frutos que não são, senão “... o pão da vida. Quem vem a mim, não terá
mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede. [...] Eu sou o
pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá para sempre.” (Jo
6,35.51a).
Chegara
a hora de fazer o envio de seus discípulos para levar a sua mensagem e fazer
todos os homens serem membros da grande família do Pai para serem alimentados
pelo fruto dessa árvore: “... vão e façam discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-lhes a observai tudo o que eu
ensinei a vocês.” (Mt 28,19-20a).
Para
dar segurança ao seu envio, Jesus promete: “Eu estarei com vocês todos os
dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20b).
E
assim termina o Evangelho de Mateus...
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