OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAIS
As obras de misericórdia são quatorze. Sete delas são chamadas de
obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a
quem tem sede; Vestir os nus; Dar abrigo aos peregrinos; Assistir aos enfermos;
Visitar os presos; Enterrar os mortos. Sobre elas explanamos no artigo do mês
anterior. E sete são chamadas obras de misericórdia espirituais: instruir;
aconselhar, consolar, confortar, perdoar, suportar com paciência e rogar pelos
vivos e pelos mortos.
A seguir nos deteremos sobre as obras espirituais.
- Instruir (ensinar os que não sabem)
Instruir não é simplesmente transmitir conhecimentos, é
também corrigir os que erram, doutrinar, ensinar os valores do Evangelho, formar na doutrina e nos bons costumes éticos
e morais.
A história da salvação é sem dúvida uma instrução contínua e
interrupta da parte de Deus para com a humanidade.
Deus se revela e instrui o povo pelos patriarcas, profetas e
plenamente em Jesus Cristo.
Com muita dificuldade o ser humano é chamado a compreender os
desígnios de Deus, porém nem sempre se consegue. O próprio Jesus Cristo
escolheu pessoalmente doze homens, para que, os pudesse instruir, no entanto já
no final de sua convivência afirma: “Há muitas coisas para vos revelar, mas que
não poderias compreender agora, por isso vos mandarei o Espírito da verdade que
vos levará à plena verdade.” (Jo
16, 12-13a)
Cada pessoa tem sua hora de encontrar a “verdade”. É a partir
disto que nasce a missão de instruir da
Igreja, dos pais, dos catequistas e de todos nós.
No principio de Jesus Cristo não há pessoas que sejam casos
perdidos, e que tenhamos o direito de desistir.
Evangelizar é também instruir para a verdade, a luz que vem de
Jesus Cristo.
À comunidade de Colossenses Paulo diz: “A palavra de Cristo
permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais
instruir e exortar-vos mutuamente.” (Col 3, 16a)
Lembremos que toda instrução que brota da caridade, oração e paciência gera
frutos em abundancia.
- Aconselhar (dar bons conselhos aos que necessitam)
É o dom de orientar e ajudar a quem precisa.
Jesus nos orientou e aconselhou a não sermos cegos guinando cegos Mt 15, 14), e também a
primeiro tirarmos a trave do nosso olho, para depois tirar o cisco do olho do
irmão (Lc 6, 39). Apesar
da força deste conselho e alerta de Jesus, não podemos nos eximir de dar bons
conselhos àqueles que necessitam.
Reforço, dar bons conselhos e não qualquer conselho. Para que isto
aconteça é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo, para perceber os
sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão dos fatos e discernimento da
vida.
Perigosos são os conselhos quando dados sem uma vida de oração.
Destrutivos são os conselhos recebidos nas mesas de botequins ou grupos de
fofoqueiras.
O Salmista nos convida a rezar: “Bendito o Senhor que me
aconselha, mesmo de noite a consciência me admoesta (Sl 16, 7).
Na história do povo de Deus, no Antigo Testamento, um mau conselho
dado ao rei de Israel por parte de um falso profeta custou ao posso um
massacre, invasão e cativeiro (Nm
31, 16).
Por conselhos desprovidos da luz de Deus muitas amizades foram
desfeitas, casamentos destruídos e guerras iniciadas.
São Paulo Apóstolo, também sofreu um naufrágio por não terem
escutado seu conselho e disso ele se queixa em Atos 27, 21ss.
Aconselhar não é profetizar o futuro, muito menos projetar nossas
angustias; é antes de tudo, à luz da oração e do conhecimento da vontade de
Deus sobre a humanidade, ajudar aos que nos pedem um discernimento nas opções e
decisões a serem tomadas.
Aconselhar é ajudar a lançar luz no caminho de quem hoje pisa em
sombras.
- Consolar (Aliviar o sofrimento dos aflitos)
Nosso Senhor Jesus Cristo deu-nos muitos exemplos de consolação,
lembremos principalmente, seu empenho em consolar Marta e Maria na morte de
Lázaro (Jo 11, 19).
Paulo, fiel apóstolo de Jesus, começa sua segunda carta aos
Coríntios dizendo: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o
Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas
tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por
Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!” (2Cor 1, 3-4).
Todos nós passamos na vida momentos de aflições e sofrimentos,
algumas vezes em conseqüência de nossos próprios erros, em outras por perdas, enfermidades, problemas
pessoais ou familiares. Nesses momentos precisamos
de consolação. Da parte de Deus ela vem com certeza, pois consolar é atributo
de Deus. Em Isaías encontramos Deus comparado à uma mãe: “Como uma criança que a mãe
consola, sereis consolados em Jerusalém” (Is
66,13). Mas, aliviar, diminuir
dor, ou sofrimento moral e espiritual deve acontecer também da parte dos irmãos, como
recomenda São Paulo: “Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros.”
(1Tes 5, 11).
Porém, o mundo está cada vez mais povoado. Pessoas vão e vêem
trombando umas nas outras,
nas ruas, repartições e elevadores, mas quase ninguém se conhece muitos menos
partilham suas experiências. Solitários em meio à multidão, pouco falamos de
nossos sentimentos e, menos ainda, ouvimos os outros. Não há tempo. Não
queremos arrumar tempo,
pois ouvir compromete.
A atitude de consolar apresentada como uma obra de misericórdia,
mais do que nunca, torna-se uma virtude cristã a ser exercitada no cotidiano.
Exercitar os olhos para as tragédias alheias; aguçar os ouvidos
para escutar os soluços dos que sofrem; oferecer o ombro para deixar
reclinar quem chora; estender a mão para levantar quem tropeça e cai.
Hoje consolamos, amanhã seremos consolados.
- Confortar (Fortalecer os
angustiados e abatidos)
Deus conforta os humildes (2Cor
7, 6). Também assim devemos agir, aperfeiçoando
nossas virtudes.
Estando prisioneiro, muitas vezes, Paulo conforta as comunidades
em suas tribulações, tristezas e sentia-se confortado por elas (At 16,40.20,1; 2Cor 2,7; Col
2,2).
Assim como Paulo, outros personagens da Sagrada Escritura tiveram
momentos de angustia, medo, tristeza, desânimo e foram confortados.
O próprio Jesus, no Getsêmani passou por estes momentos (Mt 26, 37ss), e foi confortado por um anjo do céu (Lc 22, 43).
Atualmente o desanimo,
a angustia tem minado a vida de muitas pessoas, abatendo-as e levando-as até a
um estado de depressão. É nosso dever cristão confortar os que necessitam. E,
confortar não significa
apenas dar o que é material, ou simplesmente
tentar fazê-los esquecer o motivo de seu desânimo, mas estar ao lado deles em
seu desânimo, tornando esses momentos mais amenos, revigorando-os na fé.
Muitos de nós não estamos dispostos a nos colocar ao lado de quem
está abatido e
desanimado, achamos que essas pessoas nos põe para baixo. Não nos
sensibilizamos com a fraqueza do outro, estamos preocupados somente com nossos
interesses e pensamos apenas em nós mesmos, sobre isto nos alerta São Paulo na
Carta aos Filipenses (Fl 2,
4).
Coloquemo-nos à disposição do Espírito Santo de Deus, para que Ele
nos inspire e nos use para confortar aqueles que precisam.
- Perdoar (as injustiças de boa vontade)
O perdão é uma exigência do Evangelho, e uma condição para entrar
no Reino. Jesus nos dá essa lição ao ensinar a oração do Pai Nosso: “Se
perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.” (Mt 6, 14-15)
Se nós não perdoamos, impedimos que o perdão de Deus chegue a nós.
São Paulo também nos exorta: “Suportai-vos uns aos outros e
perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixas contra os outros. Como o
Senhor vos perdoou, assim perdoai também
vós” (Col 3, 13).
Pedir perdão a Deus é fácil, mas conceder o perdão aos outros na
maioria das vezes é difícil, e agimos como o servo mau que foi perdoado no
muito que devia, e não soube perdoar seu próximo no pouco que lhe era devido (Mt 18, 23-35).
Perdoar de coração deveria nos levar a esquecer toda injustiça
sofrida, mas nem sempre conseguimos, e
nem sempre voltamos a
um relacionamento normal com a pessoa perdoada, isso não deve nos impedir de, à
luz do Espírito Santo, exercitar e aprimorar o perdão, pois nem sempre e na
maioria das vezes um ato de
vontade pode eliminar uma lembrança.
No dialogo com Pedro, Nosso Senhor Jesus ensina que devemos
perdoar sempre e sem limites (Mt
18, 21-22).
Negar o perdão nos leva um ato de injustiça com Deus, conosco e
com os irmãos.
- Suportar com paciência (as adversidades e fraquezas do próximo)
Para viver o evangelho de Jesus é preciso ser paciente. Esta obra
espiritual nos exorta a suportar com paciência os que estão próximos a nós, com
todos as suas limitações, fraquezas, defeitos, adversidades e
misérias.
Isto não quer dizer que devemos nos omitir de orientar, encorajar, oferecer
oportunidades e servir de suporte, para que, essas limitações e fraquezas sejam
superadas.
Neste sentido São Paulo escreve: “Pedimo-vos, porém, irmãos,
corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende
paciência para com todos”(1Tes 5, 14).
Ainda, segundo São Paulo, quando
estamos fortes, devemos suportar as fraquezas
dos que são fracos, e não agir a nosso modo. (Rm
15, 1). Ajamos então
como discípulos de Jesus, que
tomou sobre si as nossas fraquezas e carregou nossas dores (Is 53, 4).
São Pedro nos diz: “Que mérito teria alguém se suportasse
pacientemente os açoites por ter praticado o mal? Ao contrário, se é por ter
feito o bem que sois maltratados, e se o suportardes pacientemente, isto é
coisa agradável aos olhos de Deus” (1Pd
2, 20).
Sejamos acolhedores e pacientes com todos.
- Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos
Na oração sacerdotal Jesus rogou a Deus pelos seus e por todos que
em todos os tempos viriam a ser seus discípulos, isto é por todos nós (Jo 17). Em várias outras passagens dos
Evangelhos Jesus retirava-se para rezar, entre
elas cito:
Mt14, 23; Mt
26,36; Mc
6,46; Lc
3,21; Lc 5,16.
Na Carta aos Efésios, São Paulo recomenda que se intensifiquem as suplicas e pede por ele oração (Ef 6, 18-19).
Podemos até identificar uma pessoa pela oração que ela faz, a oração egoísta, indica um espírito egoísta.
Orações que mais parecem lista de compras ou de presentes: Senhor quero isto,
isto e aqulo.
O ser humano, é sempre mais preocupado com suas próprias
necessidades, mas através desta obra de misericórdia espiritual, somos
exortados a rezar pela humanidade, rezar por aqueles que nem conhecemos; rezar
pela reparação e expiação dos pecados do mundo; pela conversão dos
pecadores; pelo Papa e
ministros ordenados que conduzem a Igreja de Deus; pelas vocações sacerdotais e
leigas; pelas autoridades; pelos que sofrem e pelos que se recomendam às orações.
Rezar pelos mortos: Este ensinamento se apóia, também,na prática
da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: "Eis
por que ele [Judas Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos
que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mc 12,46).
Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e
ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de
que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja
recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor
dos defuntos (CIC 1032).
A Igreja não tem dúvida desta realidade por isso, desde o primeiro
século reza pelo sufrágio das almas do Purgatório.
As almas merecem a lembrança
e orações dos seus. As orações que fazemos por elas, as ajudam a alcançar o repouso eterno, o refrigério e a luz
que não se apaga.
Ao socorrer com oração as almas do Purgatório praticamos a
caridade em toda sua extensão.
Rezar pelas almas é o melhor meio de salvar a nossa, pois como nos
ensinou Santo Ambrósio "Tudo o que damos por caridade às almas do
Purgatório converte-se em graças para nós, e, após a morte, encontramos o seu
valor centuplicado".
Que as obras de misericórdia corporais e espirituais nos ajudem a
sermos mais perfeitos e assim construirmos um mundo novo e bem melhor.
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