SEXTA-FEIRA SANTA
“PERTO DA CRUZ PERMANECIAM, DE PÉ, SUA MÃE...” (Jo, 9,25).
Diácono Milton Restivo
“Na minha angústia invoquei a Yahweh, ao meu Deus lancei o meu grito; do seu Templo ele ouviu a minha voz, meu grito chegou aos seus ouvidos.” (Sl 18 (17), 7).
“Ele não tinha aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos conhecimento dele. Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado. Mas ele estava sendo traspassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós. Todos nós estávamos perdidos como ovelhas, cada qual se desviava por seu próprio caminho, e Yahweh fez cair sobre ele os crimes de todos nós. Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; tal como cordeiro ele foi levado para o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca. Foi preso, julgado injustamente; e quem se preocupou com a vida dele? Pois foi cortado da terra dos vivos e ferido de morte por causa da revolta do meu povo.A sepultura dele foi colocada junto com a dos ímpios, e seu túmulo junto com o dos ricos, embora nunca tivesse cometido injustiça, e nunca a mentira estivesse em sua boca. No entanto, Yahweh queria esmagá-lo com o sofrimento: se ele entrega a sua vida em reparação pelos pecados, então conhecerá os seus descendentes, prolongará a sua existência e, por meio dele, o projeto de Yahweh triunfará. (Is 53,2-10).
Nos momentos em que nos sentimos sozinhos, mesmo estando no meio da mais barulhenta multidão, devemos elevar o nosso pensamento ao Senhor Nosso Deus e Pai e, nos recolhendo dentro de nós mesmos, nos entregarmos à oração.
Nesses momentos em que sentimos que a solidão bate forte em nosso coração, devemos voltar a nossa atenção a todos aqueles que estão tristes, acabrunhados, arrasados, explorados; todos aqueles que se sentem abatidos, desesperados, injustiçados...
Nesses momentos, quando nos sentimos desamparados, devemos nos unir em oração e nos colocar na presença de Deus Pai que muito nos amou e nos ama e suplicar a mediação do Senhor Jesus que “... foi obediente até a morte e morte de cruz...” (Fl 2,8), esse mesmo Senhor Jesus que nos disse: “Eu dou a minha vida por minhas ovelhas.” (Jo, 10,15). João, o Apóstolo amado, na sua primeira carta nos adverte, dizendo: “Nisso conhecemos o amor: ele deu a sua vida por nós, e nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos.” (1Jo, 3,16).
Imaginemos a cruz de Jesus, o Cristo, a cruz onde ele se imolou por nós.
“Vejam! Tão desfigurado estava que não parecia mais gente, tinha perdido toda a sua aparência humana”. (Is 52,14). “Ele não tinha aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos conhecimento dele”. (Is 53,2-3).
Coloquemos-nos inteiramente na presença do Senhor Nosso Deus e, num ato de humildade, peçamos: “Senhor, aqui estamos, com nossas fraquezas, com nossos fracassos, com nossas angústias e sofrimentos. Ó Senhor, vê a nossa miséria e nossa dor, e, na sua bondade, tem compaixão de nós e releve todas as nossas faltas, as nossas ingratidões, os nossos desamores”.
Prestemos atenção: na nossa mentalização no sofrimento do Senhor Jesus, o Cristo, no Calvário, observemos lá, junto da cruz onde Jesus está suspenso entre o céu e a terra nas mais terríveis e angustiantes dores, uma figura abatida, desolada, sofrida: Maria, a mãe de Jesus: “Perto da cruz de Jesus permaneciam, de pé, sua mãe...” (Jo, 19,25).
A mãe ama todos os filhos, indistintamente, e, a cada um se dedica de coração e sem reservas. Não temos dúvidas, a mãe não exita em se sacrificar, em perder horas e horas de sono para ali estar, atenciosa e orante junto à cama do filho enfermo e, sempre aflita, partilhando da dor do filho. A mãe tem sempre uma palavra de ânimo, de conforto, de esperança. Dificilmente encontramos a mãe nas noites de festas, mas, no leito de dor do filho a presença da mãe é uma constante, sempre humilde e serviçal, com seu olhar materno, com seu carinho, com seu amor, com sua dedicação extrema e com a sua participação na dor do filho...
Maria de pé, perto da cruz... E, quando o Senhor Jesus, nos estertores da morte, pressentiu que havia chegado o momento derradeiro de voltar para o Pai, num gesto de amor extremo, transfere a maternidade de Maria para o seu apóstolo mais querido, João: “Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo que amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho! ’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’!”. (Jo, 19,26-27).
A experiência nos faz entender que o sofrimento é sempre difícil de ser aceito e, por vezes, a tentação do desespero, da vingança, do revide, pode estar batendo à porta do nosso coração.
Pode ser forte até a tentação do ódio. Mas, não devemos entrar nessa...
Não vamos permitir que a descrença e a desilusão ofusquem a nossa fé e a nossa esperança... Por isso devemos permanecer em oração!
São benditas as lágrimas que lavam os olhos, purificam o coração e nos faz ver melhor a vida por outro prisma. Não devemos nos desesperar; somos pessoas humanas, não somos anjos...
Continuemos em oração e mentalizando a cruz de Cristo; Jesus está ali, no mais terrível dos sofrimentos. Tanto que o Senhor Jesus amou a todos, tanto bem que Jesus fez: “os cegos recuperam as vistas, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.” (Mt, 7,47). Jesus perdoou pecados: “Por esta razão eu lhe digo, seus numerosos pecados lhe estão perdoados... Seus pecados estão perdoados.” (Lc 7,47.48). Jesus amou e acariciou as criancinhas; “Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o reino dos céus.” (Mc, 10,14). Jesus amou e respeitou os velhos e as viúvas: “Pois todos os outros deram do que lhes sobrava, ela (a viúva), porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.” (Mc, 12,44). Jesus acolheu os pobres: “Ao ver a multidão, teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelha sem pastor.” (Mt, 9,36). Jesus alimentou os famintos: “Não é preciso que vão embora. Daí-lhes vós mesmos de comer.” (Mt, 14,16). Jesus curou os doentes: “Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes.” (Mt, 14,14). Jesus expulsou os demônios: “Logo que saíram, eis que lhe trouxeram um endemoniado mudo. Expulsou o demônio, o mudo falou.” (Mt, 9,32-33) e “Os demônios lhe imploravam, dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” Jesus lhes disse: “Ide.” (Mt, 8,32-33)
Até os mortos se levantavam ao ouvirem a palavra de Jesus: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te.” E o morto sentou-se e começou a falar.” (Lc, 7,14-15). e “Lázaro, vem para fora.” O morto saiu com os pés e as mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse: “Desatem-no e deixem-no ir embora.” (Jo, 11,43-44)., e ainda mais: “Tomando a mão da criança, disse-lhe: “Talita kûm” - que significa: “Menina, eu lhe digo, levante-se.” No mesmo instante a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos.” (Mc, 5,41-42).
Jesus era um homem tão cheio de Deus; era o próprio Deus caminhando conosco neste vale de lágrimas: “... quem me viu, viu o Pai. Como podes dizer: “Mostre-nos o Pai?”Você não crê que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que lhes digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, realiza suas obras. Creiam-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim.” (Jo 14,9-11).
Na sua infinita sabedoria, Jesus nos deixa uma regra de ouro: “Tudo aquilo, portanto, que vocês quiserem que os homens lhes façam, façam vocês a eles, pois esta é a lei e os profetas.” (Mc, 7,12). Sabemos que o Senhor Jesus gostava muito de dar atenção aos mais esquecidos, aos abandonados, aos doentes, aos desamparados, aos injustiçados, aos que se sentiam sozinhos, aos mais pobres.
Jesus amava os pecadores, pois assim ele afirmou: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Vão, pois, e aprendam o que significa: “Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício. “Com efeito, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores.” (Mt, 9,12-13). O Senhor Jesus sabia e sabe perdoar, sabe acolher os corações mais esmagados, mais dilacerados; e são para nós, que temos o coração sofrido, as palavras acolhedoras e reconfortantes do Senhor Jesus: “Venham a mim todos os que estão cansados, sob o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso... Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para as suas almas, pois o meu jugo e suave e o meu fardo é leve.” (Mt, 11,28-30).
Voltemos à cruz, voltemos a meditar na cruz.
Mentalizemos novamente Jesus pendente na cruz, na eminência da morte, e aprendamos com ele a perdoar os que nos fazem mal, como ele perdoou os seus algozes, pedindo o perdão do Pai para os seus carrascos: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.” (Lc, 23,24).
E, mesmo no meio das mais violentas dores imagináveis, Jesus ouviu a súplica do ladrão condenado e crucificado no mesmo local: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade eu lhes digo, hoje você estará comigo no paraíso.” (Lc, 23,42-43).
Estas atitudes de amor e perdão do Divino Mestre não nos deixam perder as esperanças.
O Senhor Nosso Pai nos ama do jeito que somos: pecadores, cheios de falhas, imperfeitos, e muitas vezes inconsequentes...
Nos orgulhosos, nos prepotentes a fé é muito difícil.
Nos humildes, nas pessoas como nós, a fé é possível; basta que creiamos e tenhamos coragem de assumirmos e vivermos as verdades ensinadas pelo Divino Mestre.
Os braços abertos de Jesus na cruz também estão abertos para mim, para você, para todos nós, e não podemos nos esquecer que “Jesus morreu de pé e de braços abertos para que não ficássemos sentados e de braços cruzados”.
Por isso tudo devemos abrir o nosso coração ao Senhor Jesus, ouvindo o Apóstolo Pedro: “Com efeito, para isso é que fomos chamados, pois que também Cristo sofreu por vocês, deixando-lhes um exemplo, a fim de que sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado; mentira nenhuma foi achada em sua boca. Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa na mão daquele que julga com justiça. Por suas feridas vocês foram curados, pois vocês estavam desgarrados como ovelhas, mas agora vocês retornaram ao pastor e supervisor de suas almas.” (1Pd, 2,21-25).
Não nos desesperemos. Não busquemos desforras. Não aumentemos o mal que já fez tanto mal a tanta gente. Acreditemos em Deus. “Tudo é possível àquele que crê.” (Mc, 9,23).
O Senhor Jesus está conosco. Ele permanece conosco todos os dias em cumprimento à sua promessa: “E eis que eu estou com vocês todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt, 28,20), e isso nos transmite uma paz celestial.
O importante é a paz no coração, a paz do coração, não a paz que o mundo nos dá, mas aquela paz que o Senhor Jesus desejou e derramou sobre os seus discípulos e apóstolos dizendo: “A paz esteja com vocês.” (João 20, 19), e “Deixo-lhes a paz, a minha paz lhes dou; não a dou como o mundo dá. Não se perturbe nem se intimide o seu coração.” (Jo, 14,27). Descubramos o nosso coração ao Senhor Jesus e reconfortemos-nos com a sua palavra de vida eterna: “É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo. Aquele que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles: Nunca mais terão fome, nem sede, o sol nunca os afligirá, nem qualquer calor ardente; pois o cordeiro que está no meio do trono os apascentará, conduzindo-os até as fontes de água da vida. E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos.” (Apo, 7, 15, 17).
Olá Diácono Milton!
ResponderExcluirMe responda uma pergunta.
Porque na sexta-feira santa não pode se comer carne.