A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO, REFLETIDA POR SÃO JOÃO PAULO II
Cada um dos homens é esse filho pródigo. E cada um dos homens é também
aquele irmão mais velho.
São
João Paulo II reflete sobre uma das
obras-primas do arrependimento, da misericórdia e da reconciliação: a parábola do filho
pródigo (Lc 15, 11-32). Eis a reflexão do Santo Padre:
O homem — cada
um dos homens — é este filho pródigo: fascinado pela tentação de se separar do
Pai para viver de modo independente a própria existência; caído na tentação;
desiludido com o nada que o tinha deslumbrado como miragem; sozinho, desonrado
e explorado no momento em que tenta construir um mundo só para si; atormentado,
no mais profundo da própria miséria, pelo desejo de voltar à comunhão com o
Pai. Como o pai da parábola, Deus fica à espreita do regresso do filho, o
abraça à sua chegada e põe a mesa para o banquete do novo encontro, com que se
festeja a reconciliação.
Mas a parábola
faz entrar em cena também o irmão mais velho, que se recusa a ocupar o seu
lugar no banquete. Reprova ao irmão mais novo os seus extravios e ao pai o
acolhimento que lhe dispensou, enquanto a ele, morigerado e trabalhador, fiel
ao pai e à casa, nunca foi permitido — diz ele — fazer uma festa com os amigos.
Sinal de que não compreende a bondade do pai. Enquanto este irmão, demasiado
seguro de si mesmo e dos próprios méritos, ciumento e desdenhoso, cheio de
azedume e de raiva, não se converteu e se reconciliou com o pai e com o irmão,
o banquete ainda não era, no sentido pleno, a festa do encontro e do convívio
recuperado.
O homem — cada
um dos homens — é também este irmão mais velho. O egoísmo o torna ciumento,
endurece o seu coração, o cega e o leva a se fechar aos outros e a Deus.
A parábola do
filho pródigo é, antes de mais, a história inefável do grande amor de um Pai.
[…] E ao evocar, na figura do irmão mais velho, o egoísmo que divide os irmãos
entre si, ela se torna também a história da família humana. […] Ela retrata a
situação da família humana dividida pelos egoísmos, põe em evidência a
dificuldade em secundar o desejo e a nostalgia de uma só família reconciliada e
unida; apela para a necessidade de uma profunda transformação dos corações,
pela redescoberta da misericórdia do Pai e pela vitória sobre a incompreensão e
a hostilidade entre irmãos.
(São João Paulo II, na exortação apostólica “Reconciliação
e Penitência”)
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