PAPA FRANCISCO EXPLICA A “GRAÇA DA
SANTA VERGONHA”
A tentação que leva a ‘falar mal
do outro’ e a ‘se promover’...
Que o Senhor nos dê a graça da ‘santa vergonha’ diante da
tentação da ambição que envolve todos, inclusive os bispos e as paróquias. Foi
a exortação do Papa na homilia da missa matutina da terça-feira (21/02), na
Casa Santa Marta.
Francisco recordou que quem quer ser o primeiro, seja o
último e o servidor de todos.
“Todos seremos tentados”: é o ponto de partida da homilia,
inspirada nas leituras do dia. A primeira lembra que quem quer servir o Senhor
se deve preparar para a tentação. Já o Evangelho fala de Jesus quando anuncia
aos discípulos a sua morte, eles não entendem e têm medo de interrogá-lo. “Esta
é a tentação de não cumprir a missão”, disse o Papa. “Jesus também foi tentado:
no deserto, três vezes pelo diabo, e depois por Pedro, ante o anúncio da sua
morte.
Mas há outra tentação narrada no Evangelho: os discípulos
discutem sobre quem deles é o maior e se calam quando Jesus os interpela sobre
o motivo da discussão. Calam-se porque se envergonham:
“Mas eram pessoas boas, que queriam seguir o Senhor, servir
o Senhor, mas não sabiam que o caminho do serviço ao Senhor não era assim tão
fácil, não era como filiar-se numa organização, numa associação de
beneficência, para fazer o bem. Não, é outra coisa. Eles temiam isso. E depois,
a tentação da mundanidade: desde o momento que a Igreja é Igreja e até hoje
isto aconteceu, acontece e acontecerá. Por exemplo, as lutas nas paróquias. ‘Eu
quero ser presidente desta associação, quero me promover um pouco’. Quem é o
maior, aqui? Quem é o maior nesta paróquia? Não, eu sou mais importante do que
ele; aquele não porque fez aquilo… e assim por diante… a corrente dos pecados”.
A tentação que leva a ‘falar mal do outro’ e a ‘se
promover’… Francisco fez outros exemplos concretos para explicar esta tentação:
“Algumas vezes nós, padres, dizemos com vergonha, nos
presbitérios: ‘Eu gostaria daquela paróquia… Eu queria aquela…’. É o mesmo:
este não é o caminho do Senhor, mas o caminho da vaidade, da mundanidade.
Inclusive entre nós, bispos, acontece o mesmo: a mundanidade chega como
tentação. Muitas vezes ‘Eu estou nesta diocese mas estou de olho naquela,
porque é mais importante, e articulo buscando influências, faço pressão,
empurro neste ponto para chegar lá’. ‘Mas o Senhor está lá’. O desejo de ser
mais importante nos leva ao caminho da mundanidade.
O Papa exortou a pedir sempre ao Senhor ‘a graça de nos
envergonharmos’ quando nos encontrarmos nestas situações:
Jesus inverte aquela lógica. Sentado entre eles, lhes
recorda que ‘quem de vocês quer ser o primeiro, seja o último e o servidor de
todos’. E pega um menino e o coloca no meio deles.
O Papa pediu
para rezar pela Igreja, ‘por todos nós’, para que o Senhor nos defenda ‘das
ambições, da mundanidade e de nos sentirmos maiores do que os outros’:
“Que o
Senhor nos dê a graça da vergonha, aquela santa vergonha, quando nos
encontrarmos nesta situação, diante da tentação. ‘Sou capaz de pensar assim?
Quando vejo meu Senhor na cruz e quero usar o Senhor para me promover? E nos dê
a graça da simplicidade de uma criança: entender que somente o caminho do
serviço… E ainda, imagino ainda outra pergunta: ‘Senhor, eu te servi toda a
vida, fui o último toda a vida. E agora, o que nos diz o Senhor?’. ‘Diga de
você mesmo: ‘sou um servo inútil’.
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