IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Ano: A – Cor: Branco – Leituras: Gn 3,9-15.20; Sl 97
(98); Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38.
“ALEGRA-TE, CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR ESTÁ CONTIGO”. (Lc 1,28).
Diácono Milton Restivo
A festa da
Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi definida como uma festa
universal em 28 de fevereiro de 1476 pelo Papa Sisto IV.
A Imaculada
Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula
“Ineffabilis Deus” em 8 de Dezembro de 1854. Na Bula “Ineffabilis Deus”, o Papa
diz: “Nós declaramos, decretamos e
definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial privilégio
de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do
gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do
pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e
deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os
fiéis” (Tm, p. 305).
Desde o início do
cristianismo diversos Padres da Igreja defenderam a Imaculada Conceição da
Virgem Maria, tanto no Oriente como no Ocidente.
No Século IV Santo
Efrém da Síria (306-373), diácono, teólogo e compositor de hinos sacros,
propunha que só Jesus Cristo e sua mãe, Maria são limpos e puros de toda a
mancha do pecado.
Já no Século VII
se celebrava a festa litúrgica da Conceição Imaculada de Maria aos 8 de
dezembro, exatamente nove meses antes da festa de sua natividade, do seu
nascimento, comemorada no dia 8 de setembro.
Quando a Igreja
afirma, e nossa fé adere total e incondicionalmente aos ensinamentos da Igreja,
que a conceição de Maria foi imaculada, isto é, desde a concepção no útero de
sua mãe, não sofreu os efeitos adjacentes da herança do pecado a que todos os
seres humanos estão sujeitos, está afirmando que Maria, desde a sua concepção
foi isenta do pecado, por isso ela é Imaculada.
Nenhum ser
humano é isento do pecado e das tentações. Por isso Deus preparou uma mulher
para ser livre do pecado para que seu Filho fosse também isento de culpa. Desta
forma o Senhor antecipou para Maria, a escolhida entre todas as mulheres, a
graça da Redenção que seu Filho conquistaria com seu sacrifício supremo.
A Imaculada
Conceição de Maria foi o primeiro fruto que Jesus conquistou com sua morte. E
Maria foi concebida no seio de sua mãe, sem a mancha do pecado.
São Cirilo de
Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja, faz um questionamento que dá o
que pensar: “Que arquiteto, erguendo uma
casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?”
Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo tocasse naquela em que ele seria
gerado homem.
Deus, na sua
sabedoria infinita, não poderia permitir que o Santo dos Santos, o Rei dos
Reis, o Filho do Altíssimo, assumisse a natureza humana e tivesse como mãe uma
mulher que, nem que fora por apenas um segundo, tivesse sido submetida aos
caprichos do demônio.
Aonde Deus se
faz presente, esse lugar, por dedução, não é somente Santo, mas Santíssimo.
A carne de Jesus,
que foi açoitada durante o julgamento e perfurada na cruz, o sangue derramado
para a remissão do gênero humano, foram gerados e formados no seio puríssimo da
Virgem Maria então, também, por extensão eram carne e sangue virginais de Maria
assim como a carne o e sangue do filho são carne e sangue da mãe.
A carne e o
sangue de Jesus eram imaculados, sem mancha, sem pecado. Como poderiam, então, serem
formados em uma mulher que tivesse a carne e o sangue impuros, sujeitos ao
pecado?
A carne de Jesus
é a mesma carne de Maria e seu sangue é o mesmo de Maria; logo, a honra do
Filho de Deus exige uma Mãe Imaculada. Se é pelo fruto que se conhece a árvore
(Mt 7,16-20), então, como o Cordeiro foi sempre imaculado, sempre pura também
foi sua Mãe.
A partir do
momento em que o primeiro casal, que vivia uma felicidade plena no jardim do Éden,
deixou-se tentar e se deixou levar pela pretensão de se tornar igual a Deus,
conforme lhe disse o tentador: “Mas Deus
sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se abrir,
e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3,5),
Deus promete a salvação. A partir desse momento, Maria começa a habitar os
pensamentos de Deus: “Porei ódio entre ti
e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). Se foi a primeira mulher a que levou a
humanidade para a inimizade com o seu Criador, deveria ser, também, uma mulher
que reataria com o Pai essa amizade perdida pela ganância, desobediência e
soberba.
O primeiro
pecado do homem criou um abismo intransponível entre a criatura e seu Criador.
A partir daí o Criador começou a pensar numa ponte que suplantaria a distância
imensa e profunda que separava Criador e criatura, através da qual viria a
salvação. E essa ponte tem nome: Maria.
Quando chegou a
plenitude dos tempos em que a salvação deveria ser uma realidade entre os
homens e para os homens “Deus enviou Seu
Filho ao mundo nascido de uma mulher” (Gl 4,4), conforme disse o Apóstolo
Paulo. Paulo afirma: “Não foi Adão o
seduzido, mas a mulher” (1Tm 2,14); portanto, devia ser também por meio da
mulher que a salvação chegasse à terra.
O Evangelho
desta comemoração é o de Lucas que, magistralmente inspirado pelo Espírito
Santo, é o único evangelista que narra com pormenores a conversa, na intimidade
de sua casa, entre Maria e o Anjo Gabriel, o Mensageiro do Pai, que viera
consultar Maria sobre a missão que lhe estava reservada, a de ser, não somente
a portadora da Salvação, mas aquela que, através da maternidade, formaria no
seu ventre aquele que “... será grande,
será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai
Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc
1,32-3).
O Anjo Gabriel
saúda Maria, dizendo: “Alegra-te Maria,
cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Ao dizer “cheia de graça, o Senhor está contigo” está
subentendido que Maria é isenta do pecado porque uma pessoa cheia de graça é a
morada de Deus, e Deus só reside em quem não está sob o domínio do pecado, do
maligno.
Se Maria é “cheia de graça” mesmo antes de Jesus
ter vindo ao mundo, é porque desde sempre ela foi toda pura, toda bela, sem
mancha alguma; isto é, Imaculada.
“Cheia de graça!” A todos os outros santos a graça
é dada em parte, contudo, à Maria foi dada em toda a sua plenitude.
Partindo desse
princípio, diria Santo Tomás de Aquino: “a
graça santificou não só a alma, mas também a carne de Maria, a fim de que com
ela revestisse depois o Verbo Eterno”.
Maria é cheia de
graça, cheia do Espírito de Deus, da bondade de Deus, cheia da ternura de Deus. Se já na criação, quando as coisas
eram feitas, afirmava o Criador que tudo era bom: “Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era bom.” (Gn 1,31).
Se o Senhor
nosso Deus achou que tudo o que fizera era bom, o que se poderá então dizer da
Santa Virgem Maria? Maria é a mais formosa entre as mulheres (Ct 1,8; 5,9; 6,1);
Maria é aquela para quem Deus olhou (Lc 1,48); Maria é bendita entre as
mulheres (Lc 1,28-42); Maria é a repleta do Espírito Santo e da força do
Altíssimo (Lc 1,35); Maria é a Mãe do Filho de Deus (Lc 1,35; Gl 4,4); Maria é
o grande sinal de Deus. (Apo 12,1). Quem será digno de louvar a Santa Mãe de
Deus?
Tudo é obra do
Senhor, tudo é obra do amor e somente o amor e pelo amor se compreende as
criaturas de Deus. “Os olhos não viram,
os ouvidos nunca ouviram, nem o coração humano jamais imaginou o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam.” (1Cor 2, 9).
No tempo de
Maria, como hoje, deveriam existir mulheres que se destacavam na sociedade, na
política, no poder, na riqueza. Mulheres que, sem dúvida, poderiam oferecer ao
Filho de Deus um palácio com todas as mordomias, ao invés de uma gruta úmida e
fria. Poderiam oferecer um berço de ouro, ao invés de um cocho de animal como
primeiro leito, aquecedores de ar ao invés do respirar quente dos animais para
aquecer o recém-nascido. Mulheres
que poderiam providenciar e determinar para que as primeiras visitas ao Filho
de Deus recém-nascido fossem os mais ricos e poderosos monarcas que existiam na
terra naquele tempo, ao invés de as primeiras visitas serem, como foram, pobres
e humildes pastores, discriminados pela sociedade da época.
Mas, a Divina
Providencia age diferentemente dos pensamentos humanos.
Deus não quis
para o seu Filho um palácio, já que o mundo inteiro é seu. O Senhor não quis
para o seu Filho um berço de ouro, já que tem a abóboda celeste para lhe servir
de suporte dos pés.
Deus não quis
para o seu Filho um aquecedor de ar para aquecê-lo, já que os ventos que sopram
dos quatro cantos do Universo obedecem as suas ordens, obedecem a sua voz. Deus
não quis para visitar seu Filho, pela primeira vez, ricos monarcas e poderosos
reis e nem esnobes gentes da sociedade, porque ele é o Rei dos Reis, e todos os
reinos do mundo lhe pertence.
Deus não quis
para mãe de seu filho uma mulher rica, poderosa, da sociedade, porque sabia que
no coração dessas mulheres não havia lugar para a Vida que deveria ser vivida
pelos homens e para a Verdade que seria transmitida a toda a humanidade, porque
os corações das mulheres ricas estariam encharcados e inchados das coisas da
terra e não teriam espaços para as coisas do céu.
Para ser a mãe
de seu Filho, o Senhor não procurou mulheres em palácios ou sociedades, mas
procurou a mais pobre, a mais humilde exatamente numa das mais pobres e
humildes casas de Nazaré, uma humilde cidade da Galiléia. Para a mãe de seu
Filho o Senhor não escolheu a mulher mais rica da terra, mas aquela que estava
mais familiarizada com as coisas do céu.
Deus não
escolheu uma mulher comprometida com a sociedade e com o mundo, com o coração
cheio das preocupações passageiras e apegado demais as coisas que perecem – mas
escolheu uma mulher com o coração desapegado, um coração pobre, um coração que
ele sabia, poderia não entender o que estivesse acontecendo, mas que se
submeteria dócil e livremente a vontade de Deus, ainda que isso lhe custasse as
mais cruciantes dores.
Nenhum de nós
pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então pergunta Santo Afonso Maria de
Ligouri: “Qual seria aquele que, podendo
ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava? Por conseguinte, deve-se ter
por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus”.
E Jesus Cristo
foi exigente na escolha de sua mãe: escolheu uma escrava e fez dela uma rainha.
Nós não escolhemos a mãe que temos, embora agradecemos a Deus pelas mães que
ele nos deu, mas o Senhor Jesus teve um privilégio a mais que nós; ele teve o
privilégio de poder escolher a sua mãe, e nisso ele foi exigente, porque
escolheu a mais bela, a mais pura, a mais santa, a mais imaculada, a mais
inviolável, e, além de tudo isso, a mais humilde.
Maria foi pobre
em toda a extensão da palavra. Não só teve espírito de pobre, mas viveu a
pobreza materialmente com todas as suas consequências. Maria se sentiu um instrumento
humilde e pobre para os planos da Providência. E foi exatamente por isso que o
Senhor a julgou apta para operar nela as suas maravilhas: “Minha alma engrandece ao Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 2,46-48).
Poderia haver
algo de mais pobre do que uma Virgem para ser mãe?
Deus opera as
suas maravilhas nos pobres, nos humildes e nos corações desapegados das coisas
do mundo, e Maria preencheu em tudo os desejos do Pai. E assim Deus preparou a
Mãe adequada para Seu Filho, concebido pelo Espírito Santo diretamente (Lc
1,35), sem a participação de um homem, o qual transmitiria ao Filho o pecado de
origem.
Além disso, não
haveria na terra homem capaz de gerar o Filho de Deus.
O cardeal
Suenens afirma: “A santidade do Filho é
causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele
mesmo aparecer no horizonte”
São Bernardino
de Sena ensina que Jesus veio para salvar a todos, inclusive Maria. Contudo, há
dois modos de remir: levantando o decaído ou preservando-o da queda. Este
último modo Deus aplicou a Maria.
Maria, por sua
Imaculada Conceição, foi o marco inicial de nossa salvação, e será sempre
aquela que nos levará à fonte da mesma salvação, Jesus Cristo, o esplendor da
Verdade.
O interessante é que, enquanto
muitos cristãos católicos colocam em dúvida a Imaculada Conceição de Maria e
muitos seguimentos que se dizem cristãos negam essa verdade, o Islã, religião
não cristã, os muçulmanos, enaltece a pureza de Maria do pecado desde o momento
de seu nascimento e destaca a figura de Maria no seu livro sagrado, o Alcorão, chamando
Maria de “Tahirah”, que
significa "Aquela que foi purificada" (Alcorão 3,42). De acordo com um hadith (livro
de leis dos mulçumanos), o diabo não tocou em Maria quando ela nasceu,
portanto, ela não chorou (Nisai 4,331).
Chamam-na, também, de “Mustafia” que significa "Ela, que foi
escolhida".
O Alcorão declara: "Ó
Maria! Por certo Deus te escolheu e te purificou, e te escolheu sobre todas as outras
mulheres dos mundos" (Alcorão
3,42).
Deus escolheu a Virgem Maria
entre todas as mulheres do mundo para um plano divino.
Uma das passagens mais
importantes do Alcorão, Maria foi chamada de Nur (Luz) e Umm Nur
(a mãe da Luz). O verso da Luz, também contém os símbolos virginal do cristal,
a estrela, a árvore abençoada de oliva e óleo, que segundo os muçulmanos,
referem-se à pureza de Maria.
Os mulçumanos enaltecem Maria no
seu livro sagrado, o Alcorão; o que, então, pode se dizer dos cristãos que enegrecem
a figura e a pureza de Maria, querendo negar as graças de que Deus a cumulou?
E, nessa altura,
neste momento, repito a oração de São Luiz Maria Grignon de Montfort: “Preservai-me, Senhor, preservai-me desses
sentimentos e dessas práticas, e concedei-me a graça de partilhar os
sentimentos de gratidão, de estima, de respeito e de amor que o Senhor consagra
à vossa Mãe Santíssima, a fim de que eu tanto mais vos ame e glorifique quanto
mais de perto vos imitar e seguir. Como se até agora nada ainda tivesse dito em
honra de sua Mãe Santíssima, dai-me a graça de louvá-la dignamente apesar de
todos os seus inimigos que são também vossos, e permiti que eu lhes diga com
todos os santos: “Não pensem vocês em
receber a misericórdia de Deus se vocês ofendem sua santa Mãe.” (do
livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luiz Grignion
de Montefort).
Hoje, mais do
que antes, é preciso dirigir à Maria, muitas vezes, aquela ardorosa oração que
os cristãos do Egito já lhe dirigiam no Século III: “Debaixo de vossa proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus. Não
desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de
todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Maria, Imaculada, rogai por
nós”.
Para aqueles que
colocam dúvidas ou negam as graças com que Deus cumulou Maria e a reconheça
como a Imaculada Conceição, São Luiz Maria Grignon de Montfort faz uma triste e
preocupante admoestação: “É verdade que
causa espanto e compaixão ver a ignorância e as trevas de todas as criaturas
deste mundo em relação à Mãe Santíssima do Filho de Deus. E isso acontece entre
os próprios católicos que fazem promessa de ensinar aos outros a verdade e que,
no entanto, não conhecem a Maria Santíssima. Esses cristãos pouco falam de
Maria e da devoção que lhe é devida, porque muitos dizem que temem que, falando
de Maria, poderiam ofuscar a luz que vem de Jesus. Maria é o meio seguro e sem
ilusão, é um caminho curto e sem perigo, é uma estrada imaculada e sem imperfeição,
é um segredo maravilhoso para achar a Jesus Cristo e amá-lo perfeitamente.
Muitos cristãos combatem a devoção à Maria, à Nossa Senhora... Será que Jesus
fica contente de ver que, mesmo no seu rebanho, existem pessoas que não ligam
para a sua Mãe Santíssima? Será que a devoção à Maria impede a devoção a
Jesus?” (do livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de
São Luiz Grignion de Montefort).
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