domingo, 8 de dezembro de 2019

IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Ano: A – Cor: Branco – Leituras: Gn 3,9-15.20; Sl 97 (98); Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38.

“ALEGRA-TE, CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR ESTÁ CONTIGO”. (Lc 1,28).

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Diácono Milton Restivo

A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi definida como uma festa universal em 28 de fevereiro de 1476 pelo Papa Sisto IV.
A Imaculada Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula “Ineffabilis Deus” em 8 de Dezembro de 1854. Na Bula “Ineffabilis Deus”, o Papa diz: “Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial privilégio de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis” (Tm, p. 305).

Desde o início do cristianismo diversos Padres da Igreja defenderam a Imaculada Conceição da Virgem Maria, tanto no Oriente como no Ocidente.
No Século IV Santo Efrém da Síria (306-373), diácono, teólogo e compositor de hinos sacros, propunha que só Jesus Cristo e sua mãe, Maria são limpos e puros de toda a mancha do pecado.
Já no Século VII se celebrava a festa litúrgica da Conceição Imaculada de Maria aos 8 de dezembro, exatamente nove meses antes da festa de sua natividade, do seu nascimento, comemorada no dia 8 de setembro.
Quando a Igreja afirma, e nossa fé adere total e incondicionalmente aos ensinamentos da Igreja, que a conceição de Maria foi imaculada, isto é, desde a concepção no útero de sua mãe, não sofreu os efeitos adjacentes da herança do pecado a que todos os seres humanos estão sujeitos, está afirmando que Maria, desde a sua concepção foi isenta do pecado, por isso ela é Imaculada.
Nenhum ser humano é isento do pecado e das tentações. Por isso Deus preparou uma mulher para ser livre do pecado para que seu Filho fosse também isento de culpa. Desta forma o Senhor antecipou para Maria, a escolhida entre todas as mulheres, a graça da Redenção que seu Filho conquistaria com seu sacrifício supremo.
A Imaculada Conceição de Maria foi o primeiro fruto que Jesus conquistou com sua morte. E Maria foi concebida no seio de sua mãe, sem a mancha do pecado.
São Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja, faz um questionamento que dá o que pensar: “Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?” Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo tocasse naquela em que ele seria gerado homem.
Deus, na sua sabedoria infinita, não poderia permitir que o Santo dos Santos, o Rei dos Reis, o Filho do Altíssimo, assumisse a natureza humana e tivesse como mãe uma mulher que, nem que fora por apenas um segundo, tivesse sido submetida aos caprichos do demônio.
Aonde Deus se faz presente, esse lugar, por dedução, não é somente Santo, mas Santíssimo.
A carne de Jesus, que foi açoitada durante o julgamento e perfurada na cruz, o sangue derramado para a remissão do gênero humano, foram gerados e formados no seio puríssimo da Virgem Maria então, também, por extensão eram carne e sangue virginais de Maria assim como a carne o e sangue do filho são carne e sangue da mãe.
A carne e o sangue de Jesus eram imaculados, sem mancha, sem pecado. Como poderiam, então, serem formados em uma mulher que tivesse a carne e o sangue impuros, sujeitos ao pecado?
A carne de Jesus é a mesma carne de Maria e seu sangue é o mesmo de Maria; logo, a honra do Filho de Deus exige uma Mãe Imaculada. Se é pelo fruto que se conhece a árvore (Mt 7,16-20), então, como o Cordeiro foi sempre imaculado, sempre pura também foi sua Mãe.
A partir do momento em que o primeiro casal, que vivia uma felicidade plena no jardim do Éden, deixou-se tentar e se deixou levar pela pretensão de se tornar igual a Deus, conforme lhe disse o tentador: “Mas Deus sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se abrir, e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3,5), Deus promete a salvação. A partir desse momento, Maria começa a habitar os pensamentos de Deus: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). Se foi a primeira mulher a que levou a humanidade para a inimizade com o seu Criador, deveria ser, também, uma mulher que reataria com o Pai essa amizade perdida pela ganância, desobediência e soberba.
O primeiro pecado do homem criou um abismo intransponível entre a criatura e seu Criador. A partir daí o Criador começou a pensar numa ponte que suplantaria a distância imensa e profunda que separava Criador e criatura, através da qual viria a salvação. E essa ponte tem nome: Maria.
Quando chegou a plenitude dos tempos em que a salvação deveria ser uma realidade entre os homens e para os homens “Deus enviou Seu Filho ao mundo nascido de uma mulher” (Gl 4,4), conforme disse o Apóstolo Paulo. Paulo afirma: “Não foi Adão o seduzido, mas a mulher” (1Tm 2,14); portanto, devia ser também por meio da mulher que a salvação chegasse à terra.
O Evangelho desta comemoração é o de Lucas que, magistralmente inspirado pelo Espírito Santo, é o único evangelista que narra com pormenores a conversa, na intimidade de sua casa, entre Maria e o Anjo Gabriel, o Mensageiro do Pai, que viera consultar Maria sobre a missão que lhe estava reservada, a de ser, não somente a portadora da Salvação, mas aquela que, através da maternidade, formaria no seu ventre aquele que “... será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes  de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32-3).
O Anjo Gabriel saúda Maria, dizendo: “Alegra-te Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Ao dizer “cheia de graça, o Senhor está contigo” está subentendido que Maria é isenta do pecado porque uma pessoa cheia de graça é a morada de Deus, e Deus só reside em quem não está sob o domínio do pecado, do maligno.
Se Maria é “cheia de graça” mesmo antes de Jesus ter vindo ao mundo, é porque desde sempre ela foi toda pura, toda bela, sem mancha alguma; isto é, Imaculada.
“Cheia de graça!” A todos os outros santos a graça é dada em parte, contudo, à Maria foi dada em toda a sua plenitude.
Partindo desse princípio, diria Santo Tomás de Aquino: “a graça santificou não só a alma, mas também a carne de Maria, a fim de que com ela revestisse depois o Verbo Eterno”.
Maria é cheia de graça, cheia do Espírito de Deus, da bondade de Deus, cheia da ternura de Deus.          Se já na criação, quando as coisas eram feitas, afirmava o Criador que tudo era bom: “Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era bom.” (Gn 1,31).
Se o Senhor nosso Deus achou que tudo o que fizera era bom, o que se poderá então dizer da Santa Virgem Maria? Maria é a mais formosa entre as mulheres (Ct 1,8; 5,9; 6,1); Maria é aquela para quem Deus olhou (Lc 1,48); Maria é bendita entre as mulheres (Lc 1,28-42); Maria é a repleta do Espírito Santo e da força do Altíssimo (Lc 1,35); Maria é a Mãe do Filho de Deus (Lc 1,35; Gl 4,4); Maria é o grande sinal de Deus. (Apo 12,1). Quem será digno de louvar a Santa Mãe de Deus?
Tudo é obra do Senhor, tudo é obra do amor e somente o amor e pelo amor se compreende as criaturas de Deus. “Os olhos não viram, os ouvidos nunca ouviram, nem o coração humano jamais imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1Cor 2, 9).
No tempo de Maria, como hoje, deveriam existir mulheres que se destacavam na sociedade, na política, no poder, na riqueza. Mulheres que, sem dúvida, poderiam oferecer ao Filho de Deus um palácio com todas as mordomias, ao invés de uma gruta úmida e fria. Poderiam oferecer um berço de ouro, ao invés de um cocho de animal como primeiro leito, aquecedores de ar ao invés do respirar quente dos animais para aquecer o recém-nascido.            Mulheres que poderiam providenciar e determinar para que as primeiras visitas ao Filho de Deus recém-nascido fossem os mais ricos e poderosos monarcas que existiam na terra naquele tempo, ao invés de as primeiras visitas serem, como foram, pobres e humildes pastores, discriminados pela sociedade da época.
Mas, a Divina Providencia age diferentemente dos pensamentos humanos.
Deus não quis para o seu Filho um palácio, já que o mundo inteiro é seu. O Senhor não quis para o seu Filho um berço de ouro, já que tem a abóboda celeste para lhe servir de suporte dos pés.
Deus não quis para o seu Filho um aquecedor de ar para aquecê-lo, já que os ventos que sopram dos quatro cantos do Universo obedecem as suas ordens, obedecem a sua voz. Deus não quis para visitar seu Filho, pela primeira vez, ricos monarcas e poderosos reis e nem esnobes gentes da sociedade, porque ele é o Rei dos Reis, e todos os reinos do mundo lhe pertence.
Deus não quis para mãe de seu filho uma mulher rica, poderosa, da sociedade, porque sabia que no coração dessas mulheres não havia lugar para a Vida que deveria ser vivida pelos homens e para a Verdade que seria transmitida a toda a humanidade, porque os corações das mulheres ricas estariam encharcados e inchados das coisas da terra e não teriam espaços para as coisas do céu.
Para ser a mãe de seu Filho, o Senhor não procurou mulheres em palácios ou sociedades, mas procurou a mais pobre, a mais humilde exatamente numa das mais pobres e humildes casas de Nazaré, uma humilde cidade da Galiléia. Para a mãe de seu Filho o Senhor não escolheu a mulher mais rica da terra, mas aquela que estava mais familiarizada com as coisas do céu.
Deus não escolheu uma mulher comprometida com a sociedade e com o mundo, com o coração cheio das preocupações passageiras e apegado demais as coisas que perecem – mas escolheu uma mulher com o coração desapegado, um coração pobre, um coração que ele sabia, poderia não entender o que estivesse acontecendo, mas que se submeteria dócil e livremente a vontade de Deus, ainda que isso lhe custasse as mais cruciantes dores.
Nenhum de nós pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então pergunta Santo Afonso Maria de Ligouri: “Qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava? Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus”.
E Jesus Cristo foi exigente na escolha de sua mãe: escolheu uma escrava e fez dela uma rainha. Nós não escolhemos a mãe que temos, embora agradecemos a Deus pelas mães que ele nos deu, mas o Senhor Jesus teve um privilégio a mais que nós; ele teve o privilégio de poder escolher a sua mãe, e nisso ele foi exigente, porque escolheu a mais bela, a mais pura, a mais santa, a mais imaculada, a mais inviolável, e, além de tudo isso, a mais humilde. 
Maria foi pobre em toda a extensão da palavra. Não só teve espírito de pobre, mas viveu a pobreza materialmente com todas as suas consequências. Maria se sentiu um instrumento humilde e pobre para os planos da Providência. E foi exatamente por isso que o Senhor a julgou apta para operar nela as suas maravilhas: “Minha alma engrandece ao Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 2,46-48).
Poderia haver algo de mais pobre do que uma Virgem para ser mãe?
Deus opera as suas maravilhas nos pobres, nos humildes e nos corações desapegados das coisas do mundo, e Maria preencheu em tudo os desejos do Pai. E assim Deus preparou a Mãe adequada para Seu Filho, concebido pelo Espírito Santo diretamente (Lc 1,35), sem a participação de um homem, o qual transmitiria ao Filho o pecado de origem.
Além disso, não haveria na terra homem capaz de gerar o Filho de Deus.
O cardeal Suenens afirma: “A santidade do Filho é causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele mesmo aparecer no horizonte”
São Bernardino de Sena ensina que Jesus veio para salvar a todos, inclusive Maria. Contudo, há dois modos de remir: levantando o decaído ou preservando-o da queda. Este último modo Deus aplicou a Maria.
Maria, por sua Imaculada Conceição, foi o marco inicial de nossa salvação, e será sempre aquela que nos levará à fonte da mesma salvação, Jesus Cristo, o esplendor da Verdade.
O interessante é que, enquanto muitos cristãos católicos colocam em dúvida a Imaculada Conceição de Maria e muitos seguimentos que se dizem cristãos negam essa verdade, o Islã, religião não cristã, os muçulmanos, enaltece a pureza de Maria do pecado desde o momento de seu nascimento e destaca a figura de Maria no seu livro sagrado, o Alcorão, chamando Maria de “Tahirah”, que significa "Aquela que foi purificada" (Alcorão 3,42). De acordo com um hadith (livro de leis dos mulçumanos), o diabo não tocou em Maria quando ela nasceu, portanto, ela não chorou (Nisai 4,331). Chamam-na, também, de “Mustafia” que significa "Ela, que foi escolhida".
O Alcorão declara: "Ó Maria! Por certo Deus te escolheu e te purificou, e te escolheu sobre todas as outras mulheres dos mundos" (Alcorão 3,42).
Deus escolheu a Virgem Maria entre todas as mulheres do mundo para um plano divino.
Uma das passagens mais importantes do Alcorão, Maria foi chamada de Nur (Luz) e Umm Nur (a mãe da Luz). O verso da Luz, também contém os símbolos virginal do cristal, a estrela, a árvore abençoada de oliva e óleo, que segundo os muçulmanos, referem-se à pureza de Maria.
Os mulçumanos enaltecem Maria no seu livro sagrado, o Alcorão; o que, então, pode se dizer dos cristãos que enegrecem a figura e a pureza de Maria, querendo negar as graças de que Deus a cumulou?
E, nessa altura, neste momento, repito a oração de São Luiz Maria Grignon de Montfort: “Preservai-me, Senhor, preservai-me desses sentimentos e dessas práticas, e concedei-me a graça de partilhar os sentimentos de gratidão, de estima, de respeito e de amor que o Senhor consagra à vossa Mãe Santíssima, a fim de que eu tanto mais vos ame e glorifique quanto mais de perto vos imitar e seguir. Como se até agora nada ainda tivesse dito em honra de sua Mãe Santíssima, dai-me a graça de louvá-la dignamente apesar de todos os seus inimigos que são também vossos, e permiti que eu lhes diga com todos os santos: “Não pensem vocês em receber a misericórdia de Deus se vocês ofendem sua santa Mãe.” (do livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luiz Grignion de Montefort).
Hoje, mais do que antes, é preciso dirigir à Maria, muitas vezes, aquela ardorosa oração que os cristãos do Egito já lhe dirigiam no Século III: “Debaixo de vossa proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus. Não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Maria, Imaculada, rogai por nós”.
Para aqueles que colocam dúvidas ou negam as graças com que Deus cumulou Maria e a reconheça como a Imaculada Conceição, São Luiz Maria Grignon de Montfort faz uma triste e preocupante admoestação: “É verdade que causa espanto e compaixão ver a ignorância e as trevas de todas as criaturas deste mundo em relação à Mãe Santíssima do Filho de Deus. E isso acontece entre os próprios católicos que fazem promessa de ensinar aos outros a verdade e que, no entanto, não conhecem a Maria Santíssima. Esses cristãos pouco falam de Maria e da devoção que lhe é devida, porque muitos dizem que temem que, falando de Maria, poderiam ofuscar a luz que vem de Jesus. Maria é o meio seguro e sem ilusão, é um caminho curto e sem perigo, é uma estrada imaculada e sem imperfeição, é um segredo maravilhoso para achar a Jesus Cristo e amá-lo perfeitamente. Muitos cristãos combatem a devoção à Maria, à Nossa Senhora... Será que Jesus fica contente de ver que, mesmo no seu rebanho, existem pessoas que não ligam para a sua Mãe Santíssima? Será que a devoção à Maria impede a devoção a Jesus?” (do livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luiz Grignion de Montefort).


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