“SE ALGUÉM QUER VIR APÓS MIM... TOME A SUA CRUZ... E SIGA-ME” (Lc
9,23)
Jesus nunca
escondeu nada de ninguém e para ninguém. Jesus Cristo jamais disse alguma coisa
se referindo ao plano de Deus referente aos homens e dizendo como se deve viver
uma vida verdadeiramente voltada para Deus e para o próximo onde escondesse
alguma coisa para não chocar seus ouvintes. Sempre que falava de como se deve
viver para pertencer ao Reino de Deus, Jesus era claro, preciso e objetivo e
jamais usou de meias palavras ou termos dúbios.
Jesus jamais
obrigou alguém a seguí-lo, prova disso está nessa sua afirmativa: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23).
Jesus não
obriga; ele respeita o livre arbítrio de cada um e diz: “Se alguém quer vir após mim...”; Jesus deixa a decisão para cada
um de nós. Precisamos “querer” ir
após ele, e isso é uma atitude de nossa livre e expontânea vontade...
Mas, mesmo
deixando para nós a escolha de seguí-lo ou não, ele não se omite quanto às
consequências que recairá sobre as atitudes que venhamos tomar, sejam boas ou
más: “Pois aquele que quiser salvar a sua
vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida
por causa de mim, esse a salvará.” (Lc 9,24).
O velho Simeão,
quando da apresentação de Jesus, ainda bebê, nos braços sua mãe, no Templo de
Jerusalém, profetizou: “Eis que este
menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e
como um sinal de contradição.” (Lc 2,34). Para a queda daqueles que
virariam as costas para os seus ensinamentos e para o soerguimento dos que
aderissem às suas mensagens e as vivessem intensamente, e, como um sinal de
contradição, pois que, ele mesmo afirmou: “Não
pensem que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Vim trazer a
divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra.”
(Mt 10,34). Por essa maneira dura de falar, é que os escribas e fariseus
diziam: “Está possuído por Beelzebu.” (Mc 3,22). E,
por jamais omitir qualquer coisa e sempre dizer a verdade, considerando que a
verdade, para quem não a assume e a nega, incomoda e dói, Jesus já previa qual
seria o seu fim: “O Filho do Homem deve
sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos
escribas, ser morto...” (Mc 8,31). E todos aqueles que se propuserem seguir
a Jesus terão o mesmo destino, e isso ele não escondeu de ninguém e orientou
seus seguidores, quando disse: “Eu envio
vocês como ovelhas no meio de lobos. Sejam, pois, prudentes como as serpentes,
mas simples como as pombas. Cuidado com os homens. Eles entregarão vocês a seus
tribunais e açoitarão vocês em suas sinagogas. Por minha causa vocês serão
conduzidos diante dos governadores e dos reis. Assim vocês servirão de
testemunho para eles e para os pagãos. Quando vocês forem presos, não se
preocupem nem pela maneira, nem pelo que vocês haverão de falar. Naquele
momento, será inspirado o que vocês
haverão de dizer. Porque naquele momento
não serão vocês que falarão, mas o Espírito de vosso Pai falará em vocês. O irmão entregará o seu
irmão à morte, e o pai entregará o seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra
seus pais e os matarão. Vocês serão odiados
por todos por causa do meu nome.” (Mt 10,16-22).
Jesus é
realmente motivo de contradição, conforme profetizou o velho Simeão; é incrível
acreditar que, alguém que seja perseguido, injuriado, maltratado e açoitado
seja bem-aventurado. Mas é exatamente isso que Jesus afirma: “Bem-aventurados vocês serão, quando lhes insultarem,
quando, por minha causa, lhes perseguirem e disserem falsamente todo o mal
contra vocês. Alegrenm –se e exultem, porque será grande a recompensa de vocês
nos céus.” (Mt 5,11-12), e completa: “E
todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou
filhos, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida
eterna.” (Mt 19,29).
E, bem por
isso, Jesus determina as condições para quem quiser seguí-lo: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida,
irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, irá
salvá-la. Com efeito, o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e
arruinar a sua vida? Pois o que daria o homem em troca de sua vida? De fato,
aquele que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de
minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na
gloria do seu Pai com os santos e anjos. (Mc 8,34-38).
Não se pode ser
cristão autêntico se não assumir a cruz proposta e oferecida por Jesus Cristo.
Renunciar-se a
si mesmo significa não se preocupar tanto com os próprios problemas, que talvez
não sejam tão grandes e graves como se imagina; é parar de reclamar da dor de
estômago, da indisposição, dor de cabeça, para ir ao encontro do irmão que se
encontra no seu leito de dor e o tira do convívio da sociedade e, às vezes, até
do convívio de seus familiares...
Renunciar a si
mesmo é parar de reclamar do alto custo das roupas que se usaria para ir ao
baile do clube para ouvir o irmão que
reclama do alto preço do arroz, da carne, do pão, que, pelo seu baixo salário,
o deixa sem condições de abastecer a sua mesa com o mínimo necessário para a
manutenção e o sustento decente de sua família.
Renunciar a si mesmo significa se esquecer um pouco de si próprio para
se lembrar do irmão necessitado e carente de... Deus...
Renunciar a si
mesmo significa abandonar-se à Providência Divina: “Por isso lhes digo: não se preocupem com a sua vida quanto ao que
haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a
vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhem as aves do
céu: não semeiam nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai
Celeste as alimenta. Ora, vocês não valem mais do que elas? Quem dentre vocês,
com as suas preocupações, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida?
E com a roupa, porque andam preocupados? Aprendam dos lírios do campo, como crescem,
e não trabalham e nem fiam. E no entanto
eu lhes asseguro que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um
deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será
lançada ao forno, não fará ele mesmo mais por vocês, homens fracos na fé? Por
isso, não andem preocupados, dizendo: ‘Que iremos comer?’ Ou, ‘Que iremos beber?’ Ou, ‘que iremos
vestir?’ De fato, são os gentios que estão à busca de tudo isso: o vosso Pai
Celeste sabe que vocês tem necessidade de todas essas coisas. Busquem, em
primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes
serão acrescentadas. Não se preocupem, portanto, com o dia de amanhã, pois o
dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.” (Mt
6,25-34).
Para cada dia
basta as suas próprias preocupações, e cada dia tem as preocupações próprias,
por isso Jesus nos orienta para nos preocuparmos com o hoje, com o agora, com o
minuto presente pois que, o próximo minuto já poderá não nos pertencer.
Se quisermos
seguir Jesus, é necessário que tomamos a nossa cruz de cada dia.
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