domingo, 1 de dezembro de 2019

“O FILHO DO HOMEM VIRÁ NA HORA EM QUE VOCÊS MENOS ESPERAREM”. Mt 24,44.

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
Ano – A; Cor – Roxo; Leituras: Is 2,1-5; Sl 121 (122); Rm 13,11-14; Mt 24,37-44.

“O FILHO DO HOMEM VIRÁ NA HORA EM QUE VOCÊS MENOS ESPERAREM”. Mt 24,44.

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Diácono Milton Restivo

Estamos começando um novo Ano Litúrgico, o Ano “A”, onde, nas celebrações dominicais, vai prevalecer o Evangelho segundo Mateus. O Ano Litúrgico não corresponde ao ano comercial, que começa no dia primeiro de janeiro e termina no dia 31 de dezembro. O Ano Litúrgico começa quatro domingos antes do Natal e a esse tempo chamamos “Advento”.  
O Advento (do latim Adventus: "chegada"), é o primeiro tempo do Ano Litúrgico, o qual antecede ao Natal. Para os cristãos, é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o nascimento de Jesus Cristo, a sua primeira vinda, vivem o arrependimento e buscam promover a fraternidade e a paz.
Durante o Ano Litúrgico inteiro celebramos a vida de Cristo, desde a sua encarnação no seio da Virgem Maria, passando pelo seu nacimento, paixão, morte, ressurreição, até a sua ascensão e a vinda do Espírito Santo. Nunca é demais repetir que o Ano Litúrgico é o período de doze meses divididos em tempos litúrgicos, onde se celebram, como memorial, os mistérios de Cristo, assim como a memória dos Santos.
Este ano o Ano Litúrgico começa no dia 01 de dezembro e, com ele, o Tempo do Advento. Serão quatro semanas que servirão de preparação para o Natal.
A cor dos paramentos do altar e as vestes sacerdotais e diaconais é o roxo.
Apesar de a cor roxa ser usada no Advento e na Quaresma, em ambas as oportunidades não tem o mesmo significado. No Advento o roxo evoca expectativa, esperança e preparação para a primeira vinda de Jesus, no natal. Na Quaresma o roxo chama a atenção dos fiéis para a oração, jejum, abstinência e simboliza austeridade para a preparação para a Páscoa da Ressurreição.
Advento é, portanto, tempo de voltarmos-nos para o Deus que nos ama e que está bem perto de nós. Advento é tempo da fé nas coisas novas, no novo céu e nova terra onde habita a justiça e a paz. Advento é tempo de purificação, limpeza, busca da pureza e arrependimento, de opção por uma vida saudável em que deve sobrar espaço para a solidariedade, a verdade, a paz e a comunhão.
Advento é tempo da construção da esperança e da vida comunitária que rompem os nossos limites e entendimento. Advento é tempo de alegria, de festejar o amor de Deus por nós.
Com a intenção de fazer sensível esta preparação de espera, a liturgia suprime, durante o tempo do Advento, uma série de elementos festivos. Desta forma, nas Santas Missas já não reza o Glória. Limita-se a músicas com poucos instrumentos, os enfeites festivos deixam de ser exibidos, as vestes litúrgicas são de cor roxa, os enfeites normais da Igreja são mais sóbrios, etc.
Todas estas coisas são uma maneira de expressar que, enquanto dura nosso peregrinar, nos falta algo para que nosso gozo seja completo. E quem espera, é porque lhe falta algo. Quando o Senhor se fizer presente no meio do seu povo, haverá chegado a Igreja à sua festa completa, significada pela Solenidade do Natal.
No tempo do Advento sobressaem-se algumas figuras bíblicas de suma importância para a vinda e o nascimento de Jesus no nosso meio. O profeta Isaias é uma constante nesse tempo, considerando que nos tempos difíceis de exilo e escravidão do povo judeu na Babilônia, Isaias levava a consolação e transmitia a esperança.
Outra figura proeminente neste tempo é João Batista, o precursor do Messias, o último dos profetas e, segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", "o maior entre os que nasceram de mulher", o mensageiro que veio adiante do Messias a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (Lc 7,26-28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1,76s). João Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também serem profetas e profetisas do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez, os homens a despertar do torpor do pecado.
Nos textos bíblicos do Advento a figura de José, esposo de Maria, é indispensável. José, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação do Filho de Deus, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de Davi". José é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e comunhão com Deus.
É claro, a figura de Maria é insubstituível, considerando que foi dela e por ela que nos veio a salvação na pessoa de Jesus “a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. (Jo 1,14); “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher...”. (Gl 4,4), e tudo isso aconteceu por meio da mulher escolhida por Deus desde o início dos tempos para ser a mãe do seu Filho que seria enviado para resgatar o gênero humano do pecado: Maria.
A primeira leitura desta celebração evoca o profeta Isaias que, apesar de ter nascido por volta do ano de 765 aC e de ter profetizado durante o período de 740 a 700 aC, Isaías é o profeta mais frequentemente citado no Novo Testamento. Foi profeta do Reino do Sul no mesmo período de Oséias, Amós e Miquéias. Isaías era da tribo de Judá e, de acordo com a tradição rabínica, era parente próximo de vários reis; era, portanto, membro da família real de Judá. Fazia parte da classe aristocrática e deve ter crescido no palácio do rei em Jerusalém.
Isaias foi um dos profetas que mais vislumbrou a vinda do Messias, profetizando que o Messias nasceria de uma virgem e seria chamado “Emanuel”, que quer dizer “Deus conosco”: “Pois saibam que Yahweh lhes dará um sinal: a virgem concebeu e dará à luz um filho, e o chamará por nome de Emanuel”. (Is 7,14; Mt 1,23), e esse menino teria “sobre o seu ombro o manto real, e ele se chama “Conselheiro Maravilhoso”, “Deus Forte”, “Pai para sempre”, “Príncipe da Paz”. Grande será ao seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça desde agora e para sempre” (Is 9,5-6; Lc 2,14).
Isaias escreveu que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso” (Is 9,1; Jo 8,12), isto é, que o Messias viria da Galiléia, considerando que os judeus, pela sua prepotência, arrogância e discriminação em relação aos outros povos, consideravam a região ao norte, a Galiléia, como “um país tenebroso”. Profetizou a vinda de João Batista, o precursor do Messias, “a voz que clama no deserto” (Is 40,3; Mt 3,3; Jo 1,23). Disse que o Espírito de Deus iria repousar sobre o Messias: “Sobre ele pousará o Espírito de Yahweh: o espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor de Yahweh” (Is 11,2; Mt 3,16) e, nessa profecia, Isaias declina os dons do Espírito Santo: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, conhecimento e temor de Yahweh, da qual Jesus estava pleno. Disse que além do Espírito de Yahweh estar sobre ele, Yahweh “o ungiu para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros, para promulgar o ano da graça de Yahweh”, texto com o qual Jesus iniciou a sua pregação e o programa de sua atividade na sinagoga de Nazaré (Is 61,1-2; Lc 4,18-19; 7,22). Isaias disse que o Messias abriria os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos e curaria os coxos e os mudos: “Então, os olhos dos cegos vão se abrir, e se abrirão também os ouvidos dos surdos; os aleijados saltarão como cervo, e a língua do mudo cantará, porque jorrarão águas no deserto e rios na terra seca”.  (Is 35,5-6; Mt 11,5; Lc 7,22). Que o Messias seria ferido pelas nossas transgressões: “Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós.” (Is 53,5; 2Cor 5,21; Rm 4,25; Gl 3,13). Disse que o Messias não responderia aos seus acusadores, ficando de boca fechada: “Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; tal como cordeiro ele foi levado para o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca.” (Is 53,7; Mt 26,63; 1Pd 2,23; At 8,32-33; Jo 1,29); seria cuspido, esbofeteado, chicoteado e teria as barbas arrancadas: “Apresentei as costas para aqueles que me queriam bater e ofereci o queixo aos que me queriam arrancar a barba, e nem escondi o meu rosto dos insultos e escarros”  (Is 50,6; Mt 26,67; 27,30); que o despojo do Messias, a sua túnica, seria repartido entre os seus algozes: “Por isso eu lhe darei multidões como propriedade, e com os poderosos repartirá o despojo; porque entregou o seu pescoço à morte e foi contado entre os pecadores...” (Is 53,12; Mc 15,24); que o Messias iria interceder por seus algozes: “... ele carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores” (Is 53,12b) – “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34); que o Messias seria penalizado junto com transgressores e intercedeu por um seu companheiro de desdita e pelos seus algozes  (Is 53,12; Mt 27,38; Mc 15,28; Lc 22,37; 23,34; 23,40-43); que o Messias seria rejeitado e ferido por nossas iniquidades: “Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos conhecimento dele. Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado. Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós” (Is 53,3-5; Mt 8,17), e que um rico o sepultaria: “A sepultura dele foi colocada junto com os ímpios, e seu túmulo  junto com o dos ricos, embora nunca tivesse cometido injustiça, e nunca a mentira estivesse em sua boca” (Is 53,9; Mt 27,57.60; 1Pd 2,22).
Na leitura de Isaias desta celebração é narrada uma visão do profeta sobre Judá e Jerusalém sobre uma profecia de juízo contendo um relance de restauração.
Na oportunidade em que Isaias escreveu essa visão o povo judeu estava prestes a ser dominado por povos estrangeiros e Isaias prenuncia os “últimos tempos”, tentando transmitir consolo a uma nação à margem da derrocada a que estava suas terras e sua gente e prestes de perder suas origens, sua religião e sua auto estima.
A situação que o povo vivia quando este oráculo foi escrito era bem sombria. Após a invasão do país do norte, Israel, pela Assíria, Judá, o pequeno reino do sul ficou muito vulnerável. Não bastasse isso, havia injustiças, arbitrariedade dos juízes, corrupção das autoridades, cobiça dos grandes proprietários, opressão dos governantes, além de uma atividade religiosa intensa, mas vazia no que dizia respeito à santidade e espiritualidade; as autoridades religiosas haviam se distanciado da sua verdadeira missão: manter o povo unido para não se afastar de Yahweh. 
As profecias sobre os dias finais ou “últimos tempos” narradas por Isaias contém sempre um relance da restauração. A visão de Isaías dos “últimos tempos” não é um sonho nem uma utopia, mas uma profecia relativa a um tempo em que Deus reinará sobre a terra. Diante dos sofrimentos e desilusões de um povo desnorteado, Isaias faz um convite reconfortante e que tem por objetivo fazer com que aquele povo retorne para o seu Deus e volte a cumprir os seus preceitos: “Venham, vamos subir à montanha de Yahweh, vamos ao Templo do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos, e possamos caminhar em suas veredas” (Is 2,3). A partir do momento em que todas as nações passarem a entender que Yahweh é o único e verdadeiro Deus, os instrumentos de destruição e guerra serão transformados em instrumentos de paz e que produzem vida: “Ele julgará as nações e será o árbitro de povos numerosos. De suas espadas eles fabricarão enxadas, e de suas lanças farão foices. Nenhuma nação pegará em armas contra a outra, e ninguém mais vai se treinar para a guerra” (Is 2,4). Finalmente, Isaias faz um apelo e um convite vigoroso: “Venha, casa de Jacó, vamos caminhar à luz de Yahweh” (Is 2,3-5).
O Salmo responsorial faz o mesmo convite para que todos se dirijam para a casa de Yahweh: “Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos à casa de Yahweh! ’ [...] para celebrar o nome de Yahweh. [...] Pela casa de Yahweh nosso Deus, desejo todo bem a você” (Sl 122,(121) 1.4c.9).
No Evangelho, no primeiro domingo do Ano Litúrgico, acontece um paradoxo: ao invés de começar o ano com uma mensagem confortadora, Jesus fala da vinda do Filho do Homem, isto é, do fim do mundo. Muitos exegetas bíblicos, isto é, estudiosos que interpretam as passagens bíblicas, atribuem essa passagem como se Jesus estivesse falando da destruição de Jerusalém, que aconteceria cerca de quarenta anos depois de sua morte, mas, vamos trazê-la para os nossos dias. Jesus começa dizendo que “a vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé” (Mt 24,37).
Como foi no tempo de Noé? Vamos refrescar a nossa memória e voltar ao livro do Gênesis: “Yahweh viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do coração humano era sempre mau. Então Yahweh se arrependeu de ter feito o homem sobre a terra, e o seu coração ficou magoado. E Yahweh disse: ‘Vou exterminar da face da terra os homens que criei, e junto também os animais, os répteis e as aves do céu, porque me arrependo de os ter feito’” (Gn 6,5-7).
Como vemos, nos dias de Noé os homens estavam corrompidos pelo pecado. Havia sinais de decadência do mundo, sinais de queda moral, sinais de profanação das coisas sagradas.
Os valores éticos, morais e religiosos estavam invertidos e o materialismo e o individualismo haviam invadido a vida das pessoas de uma forma grande e devastadora. Seria diferente nos nossos dias? Os impulsos da carne dominavam a humanidade no tempo de Noé, e Paulo Apóstolo bem define isso: “São bem conhecidas as obras da carne: fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas. Eu previno vocês, aliás, já o fiz: os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5,19-21). Acontecia tudo isso no tempo de Noé. A corrupção, o vício, a perversão, o suborno, a sedução haviam tornado podres a moral, a ética e a religião dos homens.
E Jesus continua dizendo no Evangelho: “Pois nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,38-39).
Repito: os nossos tempos estão diferentes? O homem de hoje, de uma maneira geral, perdeu o sentido da espiritualidade e da busca dos verdadeiros valores morais, éticos e religiosos e, desnorteados, buscam igrejas que são coniventes com o seu modo de vida, com as suas inclinações e que justifiquem os seus desmandos. Escolhem igrejas como se fossem escolher um cardápio, como se fossem restaurantes, e buscam se saciar com o prato do dia que resolve o seu problema momentaneamente. Se o cardápio daquela igreja não lhe satisfaz, buscam outras, e outras, e outras... O importante é ter um cardápio que o satisfaça de imediato, um cardápio descompromissado com a vida e com os irmãos e que vá de encontro com o culto da satisfação pessoal. Buscam igrejas como se fossem um supermercado, onde se escolhe, nas gôndolas, o artigo que mais lhe apetece e que vai de encontro com as suas necessidades momentâneas. O Evangelho da Cruz foi excluído do cardápio dessas igrejas-restaurantes e das gôndolas dessas igrejas-supermercados. E assim o homem se preocupa apenas com as coisas desta vida e se sente bem com a vida que leva, sem ter Deus no comando.
Nos dias de hoje muitos valores da família estão ignorados, os valores conjugais perdidos, os valores espirituais esquecidos, os valores sexuais deturpados, a permissividade tem aumentado em nosso meio, o adultério acontece, mas não é levado a sério. Os filhos não respeitam os pais, os alunos não respeitam os professores. As pessoas têm perdido o sentido de serem honestas e estão sempre querendo levar vantagem em tudo, enganando-se e buscando enganar a todo mundo.
Entre tantos outros valores perdidos a cada dia que passa, seriam diferentes os nossos tempos aos tempos de Noé? E, com isso, o homem perde o senso da fraternidade, do amor, da partilha, da família e do perdão. Multiplica-se a iniquidade e, a respeito disso, Jesus alerta: “A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos se esfriará” (Mt 24,12).
A grande questão de tantas pessoas estarem sucumbindo na fé, naufragando na vida espiritual e não tendo comunhão verdadeira com Deus, é justamente por não estarem ligadas a Deus, estarem desatentas para as coisas do Reino de Deus, e o mundo e a carne cada vez mais se aproveitam disso: “Portanto, se o nosso Evangelho continua obscuro para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cuja inteligência o deus deste mundo obscureceu a fim de que não vejam brilhar a luz do Evangelho da glória de Cristo, de Cristo que é a imagem de Deus” (2Cor 4,3-4).
Os homens se preocupam em satisfazer os seus apetites e seus interesses primários como relacionamentos extraconjugais, o prazer pelo prazer, o seu materialismo, uma vida independente de Deus, e isso traz consequências sérias e danosas a ponto de Jesus comparar o fim dos tempos com o tempo de Noé. Jesus prevê uma separação inevitável: “Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada” (Mt 24,40-41). Um será aceito, o outro será deixado para trás. Mais para a frente, no mesmo Evangelho de Mateus, Jesus retomará essa afirmativa: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará no seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos” (Mt 25,31-32). Somos ovelhas ou cabritos?
E essa separação não vai ser por grau de parentesco, nem pela posição social, nem pela amizade que se tem, nem pela igreja que se se frequenta.
Esta separação será feita pela fé acompanhada pelas obras em favor dos pequeninos, a que Jesus chama de irmãos: “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa, eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar. [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,34-36.40). A esses, Jesus “vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito de dor. Sim! As coisas antigas desapareceram” (Apo 21,4).
Os que não praticaram essas obras de caridade e nem a justiça, serão colocados à esquerda do Rei, “e o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘afastem-se de mim, malditos. Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos’. [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram. Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna” (Mt 25,41-46). A esses assim se dirige o livro do Apocalipse: “quanto aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, imorais, feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”. (Apo 21,8). Em vista de tudo isso, Jesus alerta a todos: Por isso, fiquem preparados! Porque, na hora em que menos vocês pensarem, o Filho do Homem virá” (24,44).
No final dessa sua explanação, Jesus deixa claras três recomendações fundamentais aos seus discípulos e a nós.
Primeira: “fiquem atentos”; não durmam, estejam sempre de prontidão “porque vocês não sabem em que dia virá o Senhor de vocês” (Mt 24,42).
Segunda: vigiar: “se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente ficaria vigiando...” (Mt 24,43). A sentinela, no seu posto de guarda, jamais pode encostar o corpo ou cochilar, porque o inimigo está esperando exatamente esse sinal de fraqueza para atacar e o ladrão para adentrar à casa.
Terceira: “estejam preparados”. Estar preparado para não ser pego de surpresa e ter munição suficiente para rechaçar o ataque do inimigo, e essa munição é a fé, as obras, a perseverança e o testemunho de uma vida verdadeiramente adequada ao modelo de Jesus.
Neste primeiro domingo do novo Ano Litúrgico Jesus nos adverte e nos chama ao arrependimento, a continuarmos firmes na fé, a despertarmos para a vida espiritual, a vivermos a plenitude do Evangelho e a nos enchermos do Espírito Santo.

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