PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
Ano – A; Cor – Roxo;
Leituras: Is 2,1-5; Sl 121 (122); Rm 13,11-14; Mt 24,37-44.
“O FILHO DO HOMEM VIRÁ NA
HORA EM QUE VOCÊS MENOS
ESPERAREM”. Mt 24,44.
Diácono Milton Restivo
Estamos
começando um novo Ano Litúrgico, o Ano “A”, onde, nas celebrações dominicais,
vai prevalecer o Evangelho segundo Mateus. O Ano Litúrgico não corresponde ao
ano comercial, que começa no dia primeiro de janeiro e termina no dia 31 de
dezembro. O Ano Litúrgico começa quatro domingos antes do Natal e a esse tempo
chamamos “Advento”.
O Advento
(do latim Adventus: "chegada"), é o primeiro tempo do Ano
Litúrgico, o qual antecede ao Natal. Para os cristãos, é um tempo de preparação
e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o nascimento de Jesus
Cristo, a sua primeira vinda, vivem o arrependimento e buscam promover a
fraternidade e a paz.
Durante o Ano Litúrgico inteiro celebramos a vida
de Cristo, desde a sua encarnação no seio da Virgem Maria, passando pelo seu
nacimento, paixão, morte, ressurreição, até a sua ascensão e a vinda do
Espírito Santo. Nunca é demais repetir que o Ano Litúrgico é o período de doze meses divididos em tempos
litúrgicos, onde se celebram, como memorial, os mistérios de Cristo, assim como
a memória dos Santos.
Este ano o Ano
Litúrgico começa no dia 01 de dezembro e, com ele, o Tempo do Advento. Serão
quatro semanas que servirão de preparação para o Natal.
A cor dos
paramentos do altar e as vestes sacerdotais e diaconais é o roxo.
Apesar de a cor
roxa ser usada no Advento e na Quaresma, em ambas as oportunidades não tem o
mesmo significado. No Advento o roxo evoca expectativa, esperança e preparação
para a primeira vinda de Jesus, no natal. Na Quaresma o roxo chama a atenção
dos fiéis para a oração, jejum, abstinência e simboliza austeridade para a
preparação para a Páscoa da Ressurreição.
Advento é,
portanto, tempo de voltarmos-nos para o Deus que nos ama e que está bem perto
de nós. Advento é tempo da fé nas coisas novas, no novo céu e nova terra onde
habita a justiça e a paz. Advento é tempo de purificação, limpeza, busca da
pureza e arrependimento, de opção por uma vida saudável em que deve sobrar
espaço para a solidariedade, a verdade, a paz e a comunhão.
Advento é tempo
da construção da esperança e da vida comunitária que rompem os nossos limites e
entendimento. Advento é tempo de alegria, de festejar o amor de Deus por nós.
Com a intenção
de fazer sensível esta preparação de espera, a liturgia suprime, durante o
tempo do Advento, uma série de elementos festivos. Desta forma, nas Santas
Missas já não reza o Glória. Limita-se a músicas com poucos instrumentos, os
enfeites festivos deixam de ser exibidos, as vestes litúrgicas são de cor roxa,
os enfeites normais da Igreja são mais sóbrios, etc.
Todas estas
coisas são uma maneira de expressar que, enquanto dura nosso peregrinar, nos
falta algo para que nosso gozo seja completo. E quem espera, é porque lhe falta
algo. Quando o Senhor se fizer presente no meio do seu povo, haverá chegado a
Igreja à sua festa completa, significada pela Solenidade do Natal.
No tempo do
Advento sobressaem-se algumas figuras bíblicas de suma importância para a vinda
e o nascimento de Jesus no nosso meio. O profeta Isaias é uma constante nesse
tempo, considerando que nos tempos difíceis de exilo e escravidão do povo judeu
na Babilônia, Isaias levava a
consolação e transmitia a esperança.
Outra figura proeminente neste tempo é João
Batista, o precursor do Messias, o último dos profetas e, segundo o próprio
Jesus, "mais que um profeta",
"o maior entre os que nasceram de
mulher", o mensageiro que veio adiante do Messias a fim de lhe
preparar o caminho, anunciando a sua vinda (Lc 7,26-28), pregando aos povos a
conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1,76s). João
Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são
chamados a também serem profetas e profetisas do reino, vozes no deserto e
caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento
de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez, os homens a
despertar do torpor do pecado.
Nos textos bíblicos do Advento a figura de José,
esposo de Maria, é indispensável. José, o homem justo e humilde que aceita a
missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai
legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação do Filho de Deus,
permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de
Davi". José é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem
entrar em diálogo e comunhão com Deus.
É claro, a figura de Maria é insubstituível,
considerando que foi dela e por ela que nos veio a salvação na pessoa de Jesus “a Palavra se fez homem e habitou entre nós.
E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e
fidelidade”. (Jo 1,14); “Quando,
porém, chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma
mulher...”. (Gl 4,4), e tudo isso aconteceu por meio da mulher escolhida
por Deus desde o início dos tempos para ser a mãe do seu Filho que seria
enviado para resgatar o gênero humano do pecado: Maria.
A primeira leitura desta celebração evoca o
profeta Isaias que, apesar de
ter nascido por volta do ano de 765
aC e de ter profetizado durante o período de 740 a 700 aC,
Isaías é o profeta mais frequentemente citado no Novo Testamento. Foi profeta
do Reino do Sul no mesmo período de Oséias, Amós e Miquéias. Isaías era da
tribo de Judá e, de acordo com a tradição rabínica, era parente próximo de
vários reis; era, portanto, membro da família real de Judá. Fazia parte da
classe aristocrática e deve ter crescido no palácio do rei em Jerusalém.
Isaias foi um dos profetas que mais
vislumbrou a vinda do Messias, profetizando que o Messias nasceria de uma
virgem e seria chamado “Emanuel”, que
quer dizer “Deus conosco”: “Pois saibam
que Yahweh lhes dará um sinal: a virgem concebeu e dará à luz um filho, e o
chamará por nome de Emanuel”. (Is 7,14; Mt 1,23), e esse menino teria “sobre o seu ombro o manto real, e ele se
chama “Conselheiro Maravilhoso”, “Deus Forte”, “Pai para sempre”, “Príncipe da
Paz”. Grande será ao seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e
seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça desde agora e para
sempre” (Is 9,5-6; Lc 2,14).
Isaias escreveu que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou
para os que habitavam um país tenebroso” (Is 9,1; Jo 8,12), isto é, que o
Messias viria da Galiléia, considerando que os judeus, pela sua prepotência,
arrogância e discriminação em relação aos outros povos, consideravam a região ao
norte, a Galiléia, como “um país
tenebroso”. Profetizou a vinda de João Batista, o precursor do Messias, “a voz que clama no deserto” (Is 40,3;
Mt 3,3; Jo 1,23). Disse que o Espírito de Deus iria repousar sobre o Messias: “Sobre ele pousará o Espírito de Yahweh: o
espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza,
espírito de conhecimento e temor de Yahweh” (Is 11,2; Mt 3,16) e, nessa
profecia, Isaias declina os dons do Espírito Santo: sabedoria, inteligência,
conselho, fortaleza, conhecimento e temor de Yahweh, da qual Jesus estava pleno.
Disse que além do Espírito de Yahweh estar sobre ele, Yahweh “o ungiu para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para
proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros, para
promulgar o ano da graça de Yahweh”, texto com o qual Jesus iniciou a sua
pregação e o programa de sua atividade na sinagoga de Nazaré (Is 61,1-2; Lc 4,18-19; 7,22). Isaias disse
que o Messias abriria os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos e curaria os
coxos e os mudos: “Então, os olhos dos
cegos vão se abrir, e se abrirão também os ouvidos dos surdos; os aleijados
saltarão como cervo, e a língua do mudo cantará, porque jorrarão águas no
deserto e rios na terra seca”. (Is
35,5-6; Mt 11,5; Lc 7,22). Que o Messias seria ferido pelas nossas transgressões: “Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas,
esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e
por suas feridas é que veio a cura para nós.” (Is 53,5; 2Cor 5,21; Rm 4,25;
Gl 3,13). Disse que o Messias não responderia aos seus acusadores, ficando de
boca fechada: “Foi oprimido e humilhado,
mas não abriu a boca; tal como cordeiro ele foi levado para o matadouro; como
ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca.” (Is 53,7; Mt
26,63; 1Pd 2,23; At 8,32-33; Jo 1,29); seria cuspido, esbofeteado, chicoteado e
teria as barbas arrancadas: “Apresentei
as costas para aqueles que me queriam bater e ofereci o queixo aos que me
queriam arrancar a barba, e nem escondi o meu rosto dos insultos e escarros”
(Is 50,6; Mt 26,67; 27,30); que o
despojo do Messias, a sua túnica, seria repartido entre os seus algozes: “Por isso eu lhe darei multidões como
propriedade, e com os poderosos repartirá o despojo; porque entregou o seu
pescoço à morte e foi contado entre os pecadores...” (Is 53,12; Mc 15,24); que
o Messias iria interceder por seus algozes: “...
ele carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores” (Is 53,12b)
– “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que
estão fazendo” (Lc 23,34); que o Messias seria penalizado junto com
transgressores e intercedeu por um seu companheiro de desdita e pelos seus
algozes (Is 53,12; Mt 27,38; Mc 15,28;
Lc 22,37; 23,34; 23,40-43); que o Messias seria rejeitado e ferido por nossas
iniquidades: “Desprezado e rejeitado
pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como indivíduo de
quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos conhecimento
dele. Todavia, eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores
que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado,
um homem ferido por Deus e humilhado. Mas ele estava sendo transpassado por
causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo
que nos deixaria quites; e por suas feridas é que veio a cura para nós” (Is
53,3-5; Mt 8,17), e que um rico o sepultaria: “A sepultura dele foi colocada junto com os ímpios, e seu túmulo junto com o dos ricos, embora nunca tivesse
cometido injustiça, e nunca a mentira estivesse em sua boca” (Is 53,9; Mt
27,57.60; 1Pd 2,22).
Na leitura de Isaias
desta celebração é narrada uma visão do profeta sobre Judá e Jerusalém sobre
uma profecia de juízo contendo um relance de restauração.
Na oportunidade em que Isaias escreveu
essa visão o povo judeu estava prestes a ser dominado por povos estrangeiros e
Isaias prenuncia os “últimos tempos”,
tentando transmitir consolo a uma nação à margem da derrocada a que estava suas
terras e sua gente e prestes de perder suas origens, sua religião e sua auto
estima.
A situação que o povo vivia quando este
oráculo foi escrito era bem sombria. Após a invasão do país do norte, Israel,
pela Assíria, Judá, o pequeno reino do sul ficou muito vulnerável. Não bastasse
isso, havia injustiças, arbitrariedade dos juízes, corrupção das autoridades,
cobiça dos grandes proprietários, opressão dos governantes, além de uma
atividade religiosa intensa, mas vazia no que dizia respeito à santidade e
espiritualidade; as autoridades religiosas haviam se distanciado da sua
verdadeira missão: manter o povo unido para não se afastar de Yahweh.
As profecias sobre os
dias finais ou “últimos tempos” narradas
por Isaias contém sempre um
relance da restauração. A visão de Isaías dos “últimos tempos” não é um sonho nem uma utopia, mas uma profecia
relativa a um tempo em que
Deus reinará sobre a terra. Diante dos sofrimentos e
desilusões de um povo desnorteado, Isaias faz um convite reconfortante e que
tem por objetivo fazer com que aquele povo retorne para o seu Deus e volte a
cumprir os seus preceitos: “Venham, vamos
subir à montanha de Yahweh, vamos ao Templo do Deus de Jacó, para que ele nos
mostre seus caminhos, e possamos caminhar em suas veredas” (Is 2,3). A
partir do momento em que todas as nações passarem a entender que Yahweh é o
único e verdadeiro Deus, os instrumentos de destruição e guerra serão
transformados em instrumentos de paz e que produzem vida: “Ele julgará as nações e será o árbitro de povos numerosos. De suas
espadas eles fabricarão enxadas, e de suas lanças farão foices. Nenhuma nação
pegará em armas contra a outra, e ninguém mais vai se treinar para a guerra” (Is
2,4). Finalmente, Isaias faz um apelo e um convite vigoroso: “Venha, casa de Jacó, vamos caminhar à luz
de Yahweh” (Is 2,3-5).
O Salmo responsorial faz o mesmo convite
para que todos se dirijam para a casa de Yahweh: “Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos à casa de Yahweh! ’ [...] para celebrar o nome de Yahweh. [...] Pela casa de Yahweh nosso Deus, desejo todo
bem a você” (Sl 122,(121) 1.4c.9).
No Evangelho, no primeiro domingo do Ano
Litúrgico, acontece um paradoxo: ao invés de começar o ano com uma mensagem
confortadora, Jesus fala da vinda do Filho do Homem, isto é, do fim do mundo.
Muitos exegetas bíblicos, isto é, estudiosos que interpretam as passagens
bíblicas, atribuem essa passagem como se Jesus estivesse falando da destruição
de Jerusalém, que aconteceria cerca de quarenta anos depois de sua morte, mas,
vamos trazê-la para os nossos dias. Jesus começa dizendo que “a vinda do Filho do Homem será como no
tempo de Noé” (Mt 24,37).
Como foi no tempo de Noé? Vamos refrescar a nossa
memória e voltar ao livro do Gênesis: “Yahweh
viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do coração
humano era sempre mau. Então Yahweh se arrependeu de ter feito o homem sobre a
terra, e o seu coração ficou magoado. E Yahweh disse: ‘Vou exterminar da face
da terra os homens que criei, e junto também os animais, os répteis e as aves
do céu, porque me arrependo de os ter feito’” (Gn 6,5-7).
Como vemos, nos dias de Noé os homens
estavam corrompidos pelo pecado. Havia sinais
de decadência do mundo, sinais de queda moral, sinais de profanação das coisas
sagradas.
Os valores
éticos, morais e religiosos estavam invertidos e o materialismo e o
individualismo haviam invadido a vida das pessoas de uma forma grande e
devastadora. Seria diferente nos nossos dias? Os impulsos da carne dominavam a
humanidade no tempo de Noé, e Paulo Apóstolo bem define isso: “São bem conhecidas as obras da carne:
fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades,
contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras,
orgias e coisas semelhantes a essas. Eu previno vocês, aliás, já o fiz: os que
praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5,19-21). Acontecia
tudo isso no tempo de Noé. A corrupção, o vício, a perversão, o suborno, a
sedução haviam tornado podres a moral, a ética e a religião dos homens.
E Jesus continua
dizendo no Evangelho: “Pois nos dias
antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento,
até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o
dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,38-39).
Repito: os nossos
tempos estão diferentes? O homem de hoje, de uma maneira geral, perdeu o
sentido da espiritualidade e da busca dos verdadeiros valores morais, éticos e
religiosos e, desnorteados, buscam igrejas que são coniventes com o seu modo de
vida, com as suas inclinações e que justifiquem os seus desmandos. Escolhem
igrejas como se fossem escolher um cardápio, como se fossem restaurantes, e
buscam se saciar com o prato do dia que resolve o seu problema momentaneamente.
Se o cardápio daquela igreja não lhe satisfaz, buscam outras, e outras, e
outras... O importante é ter um cardápio que o satisfaça de imediato, um cardápio
descompromissado com a vida e com os irmãos e que vá de encontro com o culto da
satisfação pessoal. Buscam igrejas como se fossem um supermercado, onde se
escolhe, nas gôndolas, o artigo que mais lhe apetece e que vai de encontro com
as suas necessidades momentâneas. O Evangelho da Cruz foi excluído do cardápio
dessas igrejas-restaurantes e das gôndolas dessas igrejas-supermercados. E
assim o homem se preocupa apenas com as coisas desta vida e se sente bem com a
vida que leva, sem ter Deus no comando.
Nos dias de hoje muitos valores da família estão
ignorados, os valores conjugais perdidos, os valores espirituais esquecidos, os
valores sexuais deturpados, a permissividade tem aumentado em nosso meio, o adultério
acontece, mas não é levado a sério. Os filhos não respeitam os pais, os alunos
não respeitam os professores. As pessoas têm perdido o sentido de serem
honestas e estão sempre querendo levar vantagem em tudo, enganando-se e
buscando enganar a todo mundo.
Entre tantos outros valores perdidos a cada
dia que passa, seriam diferentes os nossos tempos aos tempos de Noé? E, com isso, o homem perde o senso da
fraternidade, do amor, da partilha, da família e do perdão. Multiplica-se a
iniquidade e, a respeito disso, Jesus alerta: “A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos se esfriará” (Mt
24,12).
A grande questão de tantas pessoas estarem sucumbindo
na fé, naufragando na vida espiritual e não tendo comunhão verdadeira com Deus,
é justamente por não estarem ligadas a Deus, estarem desatentas para as coisas
do Reino de Deus, e o mundo e a carne cada vez mais se aproveitam disso: “Portanto, se o nosso Evangelho continua
obscuro para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cuja inteligência o
deus deste mundo obscureceu a fim de que não vejam brilhar a luz do Evangelho
da glória de Cristo, de Cristo que é a imagem de Deus” (2Cor 4,3-4).
Os homens se preocupam em satisfazer os
seus apetites e seus interesses primários como relacionamentos extraconjugais,
o prazer pelo prazer, o seu materialismo, uma vida independente de Deus, e isso
traz consequências sérias e danosas a ponto de Jesus comparar o fim dos tempos
com o tempo de Noé. Jesus prevê uma separação inevitável: “Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro
será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra
será deixada” (Mt 24,40-41). Um será aceito, o outro será deixado para
trás. Mais para a frente, no mesmo Evangelho de Mateus, Jesus retomará essa
afirmativa: “Quando o Filho do Homem vier
na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará no seu trono
glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns
dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos” (Mt
25,31-32). Somos ovelhas ou cabritos?
E essa separação não vai ser por grau de
parentesco, nem pela posição social, nem pela amizade que se tem, nem pela
igreja que se se frequenta.
Esta separação será feita pela fé
acompanhada pelas obras em favor dos pequeninos, a que Jesus chama de irmãos: “Venham vocês, que são abençoados por meu
Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do
mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede,
e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa, eu estava
sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na
prisão, e vocês foram me visitar. [...] Eu
garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus
irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,34-36.40). A esses, Jesus “vai enxugar toda lágrima dos olhos deles,
pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito de dor. Sim! As coisas
antigas desapareceram” (Apo 21,4).
Os que não praticaram essas obras de
caridade e nem a justiça, serão colocados à esquerda do Rei, “e o Rei dirá aos que estiverem à sua
esquerda: ‘afastem-se de mim, malditos. Vão para o fogo eterno, preparado para
o diabo e seus anjos’. [...] Eu
garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses
pequeninos, foi a mim que não o fizeram. Portanto, estes irão para o castigo
eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna” (Mt 25,41-46). A esses
assim se dirige o livro do Apocalipse: “quanto
aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, imorais, feiticeiros, idólatras,
e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, que é
a segunda morte”. (Apo 21,8). Em vista de tudo isso, Jesus alerta a todos: Por isso, fiquem preparados! Porque, na hora
em que menos vocês pensarem, o Filho do Homem virá” (24,44).
No final dessa sua explanação, Jesus deixa claras
três recomendações fundamentais aos seus discípulos e a nós.
Primeira: “fiquem atentos”; não durmam, estejam sempre de prontidão “porque vocês não sabem em que dia virá o
Senhor de vocês” (Mt 24,42).
Segunda: vigiar: “se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente
ficaria vigiando...” (Mt 24,43). A sentinela, no seu posto de guarda,
jamais pode encostar o corpo ou cochilar, porque o inimigo está esperando
exatamente esse sinal de fraqueza para atacar e o ladrão para adentrar à casa.
Terceira: “estejam preparados”. Estar preparado para não ser pego de surpresa
e ter munição suficiente para rechaçar o ataque do inimigo, e essa munição é a
fé, as obras, a perseverança e o testemunho de uma vida verdadeiramente
adequada ao modelo de Jesus.
Neste primeiro
domingo do novo Ano Litúrgico Jesus nos adverte e nos chama ao arrependimento, a continuarmos firmes na
fé, a despertarmos para a vida espiritual, a vivermos a plenitude do Evangelho
e a nos enchermos do Espírito Santo.
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