“EIS AQUI A ESCRAVA DO SENHOR”
(Lc 1,38).
Nazaré, cidade
da Galiléia. “A Galiléia ocupava o norte
da Palestina: o Jordão e o lago de Tiberíades formavam seus limites ao oeste; a
Samaria a separava da Judéia no sul, e ao oeste, a Fenícia a isolava do
mar. Era um país aprazível e fértil, no qual a natureza se revestia de uma
graça incomparável. O lago de
Tiberíades, com suas belas águas de um azul cinzento, agitadas às vezes por
tempestades repentinas, era emoldurado por uma vegetação luxuriante, e sulcado por
numerosos barcos de pesca... Nas
montanhas, Nazaré achava-se a cem
quilômetros de Jerusalém; Canaã achava-se um pouco mais ao norte e Naim
mais ao sul.”
Assim H.
Lesêtre, no seu livro “Guia através do Evangelho”, edição de 1944, descreve a
situação geográfica da Galiléia, onde se localiza A cidade de Nazaré, para nós,
cristãos, de divina lembrança.
Nos últimos
dias que antecederam a era cristã, lá, em Nazaré da Galiléia, morava uma
jovenzinha, entre doze e quinze anos de idade, a quem o Senhor Nosso Deus,
desde os primórdios da humanidade, preparava para ser a mãe de seu Filho, o
qual seria o Salvador do gênero humano mergulhado no pecado.
O profeta
Isaias, aproximadamente setecentos anos antes desses acontecimentos já falava
dessa jovenzinha, profetizando: “Eis que
a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel.”
(Is 7,14; Mt 1,23).
E quando chegou
a plenitude dos tempos, o Senhor, (conforme nos narra o Evangelista Lucas, 1,
26-35), enviou um de seus Anjos Mensageiros:
“... o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada
Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, o
nome da virgem era Maria.” (Lc 1,26-27).
O Anjo Gabriel
transmitiu à jovenzinha e virgem Maria o recado que o Senhor lhe havia
determinado e, sem dúvida, Maria o ouviu cheia de espanto e emoção e, comovida,
à princípio, sem saber exatamente o que estava acontecendo e qual seria a razão
daquela “Anunciação”, mas, sintonizada
como sempre esteve com a vontade e os desígnios de Deus e seu coração
entendendo que um pedido do Senhor não é simplesmente um pedido mas um
prenúncio de que a Salvação prometida desde o início dos tempos estava
chegando, não titubeou e se colocou inteiramente, de corpo e alma, ao serviço
do Senhor, respondendo ao Mensageiro:
“Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a sua palavra.” (Lc
1,38).
Maria, quando
consultada pelo Anjo, se declara “a escrava do Senhor”, e coloca-se
inteiramente à disposição de Deus para que a vontade do Senhor se realizasse
nela da maneira mais perfeita e como Deus quisesse.
Nos nossos dias
não existe mais escravidão e nós, por isso mesmo, não entendemos bem o
significado e a dimensão dessa palavra “escrava”. Ser escravo é não ter vontade
própria, não ter o direito, sequer, de ter desejos, é não ter, absolutamente,
liberdade. Ser escravo é sempre estar sujeito a um senhor como propriedade
única e exclusiva dele.
Ser escravo é
viver em absoluta sujeição a um senhor. Mas quando o Senhor mandou o Anjo
Gabriel consultar Maria se ela queria e aceitava ser a escada entre o céu e a terra por onde
desceria a Salvação personificada na pessoa de Jesus Cristo, demonstrou que
respeitava a liberdade de Maria, considerou a vontade de Maria e, se porventura
ela colocasse obstáculos ou não aceitasse esse convite, o Senhor sem dúvida,
simplesmente respeitaria sua decisão e Maria não seria a escolhida para ser a
mãe do Verbo Encarnado, da Palavra de Deus que se faria homem.
E esse convite
do Senhor à Maria não era um convite à glória, mas ao sacrifício; não era um convite
à alegria, mas ao sofrimento. Diante de Deus Maria se diz “escrava”; coloca-se
totalmente nas mãos do Senhor e, espontaneamente e de livre escolha, deixa de
ter vontade própria. Maria coloca-se nas mãos do Senhor de tal maneira que tudo
o que nela fosse acontecer deveria ser a vontade de Deus, e se entregou a esse
mister de tal maneira que o Senhor poderia fazer nela e com ela tudo ”segundo
a sua palavra” (Lc 1,38). Maria é a escolhida do Senhor, a amada do Senhor,
a consagrada do Senhor, a “a escrava do
Senhor” (Lc 1,38).
Quem é de Deus
não tem vontade própria, isso de livre e expontânea vontade. É assim que
rezamos na oração do Pai Nosso: “...seja
feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mt 6,10). Antes mesmo de
o Senhor Jesus ensinar aos seus apóstolos, discípulos e cristãos do mundo
inteiro e de todos os tempos a oração do Pai Nosso, Maria já a estava vivendo e
colocando em sua vida a concretização da vontade de Deus.
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