domingo, 30 de agosto de 2020

“EIS AQUI A ESCRAVA DO SENHOR” (Lc 1,38).


 “EIS AQUI A ESCRAVA DO SENHOR” (Lc 1,38).

Nazaré, cidade da Galiléia. “A Galiléia ocupava o norte da Palestina: o Jordão e o lago de Tiberíades formavam seus limites ao oeste; a Samaria  a separava da Judéia  no sul, e ao oeste, a Fenícia a isolava do mar. Era um país aprazível e fértil, no qual a natureza se revestia de uma graça incomparável.   O lago de Tiberíades, com suas belas águas de um azul cinzento, agitadas às vezes por tempestades repentinas,  era emoldurado  por uma vegetação luxuriante, e sulcado por numerosos barcos de pesca...  Nas montanhas, Nazaré achava-se a cem  quilômetros de Jerusalém; Canaã achava-se um pouco mais ao norte e Naim mais ao sul.”       
Assim H. Lesêtre, no seu livro “Guia através do Evangelho”, edição de 1944, descreve a situação geográfica da Galiléia, onde se localiza A cidade de Nazaré, para nós, cristãos, de divina lembrança.
Nos últimos dias que antecederam a era cristã, lá, em Nazaré da Galiléia, morava uma jovenzinha, entre doze e quinze anos de idade, a quem o Senhor Nosso Deus, desde os primórdios da humanidade, preparava para ser a mãe de seu Filho, o qual seria o Salvador do gênero humano mergulhado no pecado.

O profeta Isaias, aproximadamente setecentos anos antes desses acontecimentos já falava dessa jovenzinha, profetizando: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel.” (Is 7,14; Mt 1,23).
E quando chegou a plenitude dos tempos, o Senhor, (conforme nos narra o Evangelista Lucas, 1, 26-35), enviou um de seus Anjos Mensageiros: “... o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, o nome da virgem era Maria.” (Lc 1,26-27).
O Anjo Gabriel transmitiu à jovenzinha e virgem Maria o recado que o Senhor lhe havia determinado e, sem dúvida, Maria o ouviu cheia de espanto e emoção e, comovida, à princípio, sem saber exatamente o que estava acontecendo e qual seria a razão daquela “Anunciação”, mas, sintonizada  como sempre esteve com a vontade e os desígnios de Deus e seu coração entendendo que um pedido do Senhor não é simplesmente um pedido mas um prenúncio de que a Salvação prometida desde o início dos tempos estava chegando, não titubeou e se colocou inteiramente, de corpo e alma, ao serviço do Senhor, respondendo ao Mensageiro: “Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a sua palavra.” (Lc 1,38).           
Maria, quando consultada pelo Anjo, se declara “a escrava do Senhor”, e coloca-se inteiramente à disposição de Deus para que a vontade do Senhor se realizasse nela da maneira mais perfeita e como Deus quisesse.
Nos nossos dias não existe mais escravidão e nós, por isso mesmo, não entendemos bem o significado e a dimensão dessa palavra “escrava”. Ser escravo é não ter vontade própria, não ter o direito, sequer, de ter desejos, é não ter, absolutamente, liberdade. Ser escravo é sempre estar sujeito a um senhor como propriedade única e exclusiva dele.
Ser escravo é viver em absoluta sujeição a um senhor. Mas quando o Senhor mandou o Anjo Gabriel consultar Maria se ela queria e aceitava  ser a escada entre o céu e a terra por onde desceria a Salvação personificada na pessoa de Jesus Cristo, demonstrou que respeitava a liberdade de Maria, considerou a vontade de Maria e, se porventura ela colocasse obstáculos ou não aceitasse esse convite, o Senhor sem dúvida, simplesmente respeitaria sua decisão e Maria não seria a escolhida para ser a mãe do Verbo Encarnado, da Palavra de Deus que se faria homem.
E esse convite do Senhor à Maria não era um convite à glória, mas ao sacrifício; não era um convite à alegria, mas ao sofrimento. Diante de Deus Maria se diz “escrava”; coloca-se totalmente nas mãos do Senhor e, espontaneamente e de livre escolha, deixa de ter vontade própria. Maria coloca-se nas mãos do Senhor de tal maneira que tudo o que nela fosse acontecer deveria ser a vontade de Deus, e se entregou a esse mister de tal maneira que o Senhor poderia fazer nela e com ela tudo  ”segundo a sua palavra” (Lc 1,38). Maria é a escolhida do Senhor, a amada do Senhor, a consagrada do Senhor, a “a escrava do Senhor” (Lc 1,38).
Quem é de Deus não tem vontade própria, isso de livre e expontânea vontade. É assim que rezamos na oração do Pai Nosso: “...seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mt 6,10). Antes mesmo de o Senhor Jesus ensinar aos seus apóstolos, discípulos e cristãos do mundo inteiro e de todos os tempos a oração do Pai Nosso, Maria já a estava vivendo e colocando em sua vida a concretização da vontade de Deus.

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