MARTIRIO DE JOÃO
BATISTA
Aproximadamente
setecentos anos antes do nascimento de João Batista, o profeta Isaias já falava
dele, profetizando: “Uma voz grita: ‘Abram no deserto um caminho para
Yahweh; na região da terra seca, aplainem uma estrada para o nosso Deus. Que
todo vale seja aterrado, e todo monte e colina sejam nivelados; que o terreno
acidentado se transforme em planície, e as elevações em lugar plano.” (Is
40,3-4).
No seu
Evangelho Mateus confirma a veracidade dessa profecia, quando afirma: “Naqueles
dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia: ‘Convertam-se,
porque o Reino do Céu está próximo’. João foi anunciado pelo profeta Isaías,
que disse: ‘Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do
Senhor, endireitem suas estradas’.” (Mt 3,1-3). A figura de João Batista
começa a ser delineada através da profecia de Isaías.
Como Isaías,
João Batista é personagem indispensável neste Tempo do Advento. É o mensageiro
da Boa Nova. O profeta Malaquias, também, anuncia o mensageiro que haveria de
vir antes da Boa Nova: “Vejam! Estou mandando o meu mensageiro para preparar
o caminho à minha frente. De repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que
vocês procuram, o mensageiro da Aliança que vocês desejam. Olhem! Ele vem! –
diz Yahweh dos Exércitos.” (Ml 3,1).
Malaquias
compara João Batista ao profeta Elias pela sua coragem e destemor em acusar os
pecados dos reis e das autoridades de sua época: “Vejam, eu mandarei a vocês
o profeta Elias, antes que venha o grandioso Dia de Yahweh. Ele há de fazer que
o coração dos pais volte para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e
assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.” (Ml
3,23-24). João Batista começa a sua missão identificando-se: “Eu não sou o
Messias.” (Jo 1,20), e declara ser aquela voz que prepara o caminho
do rei: “Eu sou uma voz gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’,
como disse o profeta Isaias.” (Jo 1,23).
O anjo
Gabriel, no Evangelho de Lucas, quando anunciava o nascimento de João Batista
ao seu pai, reafirma a profecia de Malaquias a respeito de João: “Caminhará
à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter o coração
dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o
Senhor um povo bem disposto.” (Lc 1,17).
No Evangelho
de Mateus, Jesus, falando sobre João Batista, diz: “É de João que a
Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar
o teu caminho diante de ti. [...] E se vocês o quiserem aceitar, é este
o Elias que devia vir.” (Mt 11,10.14).
João Batista,
que teria nascido aproximadamente seis meses antes do Messias (cf Lc 1,26.36),
foi esse mensageiro enviado por Yahweh para abrir as cortinas do Novo
Testamento, de uma Nova Aliança, e apontar aos seus discípulos a chegada da
Salvação e proclamar a presença do Cordeiro de Deus no meio do seu povo: “No
dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: ‘Eis o Cordeiro
de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu falei;
Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de
mim’. (Jo 1,29.35).
João declarou
sua insignificância diante do Messias que já estava no meio do povo, e
antecipou a missão do Messias: “Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar
alguém mais forte do que eu. Eu não sou digno nem sequer de desamarrar a
correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e
com fogo. Ele terá na mão uma pá; vai limpar sua eira, e recolher o trigo no
seu celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga.” (Lc
3,16-17).
Mais tarde, o
próprio Jesus destacaria a importância do ministério profético de João Batista,
quando disse: “Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram,
nenhum me maior que João Batista.” (Mt. 11,11).
João Batista
foi um homem de aspecto rude e caráter firme. Era austero, com hábitos
aparentemente anti-sociais; sua vestimenta era primária e seu alimento era apenas
aquilo que a natureza lhe oferecia: “João usava roupas de pelos de camelo, e
cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre.” (Mt 3,4; Mc
1,6).
Não tinha
papas na língua, jamais vacilou em falar clara e contundentemente quando se
fizesse necessário e, para ele não importava quem estivesse cometendo algum
delito, fosse gente do povo, fosse autoridade ou até rei. Às pessoas simples do
povo, os publicanos, que eram considerados pecadores públicos, aos soldados e
ao povo em geral, que buscavam a verdade, o amor, o perdão e a reconciliação
com Deus, e que perguntavam a João Batista: “O que é que devemos fazer?” (Lc
3,10), João recomendava a partilha e a generosidade: “Quem tiver duas
túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa.” (Lc
3,10-11).
Para aqueles
que tinham cargos públicos e que podiam se aproveitar dos impostos que cobravam
do povo, João recomendava a honestidade: “Não cobrem nada além da taxa
estabelecida.” (Mt 3,13).
Para aqueles
que eram responsáveis pela segurança do povo, os soldados, João recomendava a
não violência e o contentamento pelo salário recebido: “Não maltratem
ninguém; não façam acusações falsas, e fiquem contentes com o salário de
vocês.” (Lc 3,14).
A preparação
feita por João Batista para receber a Salvação que vinha de Deus, foi para um
caminho de santidade, e o povo de Deus deve andar nesse caminho, conforme
dissera o profeta Isaias: “Haverá ai uma estrada, um caminho, que chamarão
de caminho santo. Impuro nenhum passará por ele, e os bobos não vão errar o
caminho. [...] Por ele andará os que foram redimidos e os que foram
resgatados por Yahweh.” (Is 35,8.9b.10a).
Mas,
voltando-se para os fariseus e saduceus que eram as autoridades religiosas e
civis do povo judeu, que se julgavam superiores a tudo e a todos, que
exploravam o povo simples e humilde, que se julgavam já salvos simplesmente por
se acharem filhos de Abraão, João Batista denunciou a religiosidade aparente
deles, que eram as classes sociais abastadas, assim os condenou, dizendo: “Quando
viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: ‘Raça de
cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir a ira que vai chegar? Façam coisas
que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: ‘Abraão é
nosso pai’. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer
filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore
que não der bom fruto, será cortada e lançada no fogo.” (Mt 3,7-10; Lc
3,7-9).
Ao rei
Herodes, que era um homem sanguinário, mas fraco e acovardado, que fora
influenciado por Herodíades, que fora esposa de seu irmão e a quem o rei havia
tomado-a para si, João Batista não se intimidou e o condenou abertamente, o que
lhe custou a própria vida: “João dizia a Herodes: ‘Não é permitido você se
casar com a mulher do seu irmão’. Por isso, Herodíades ficou com raiva de João
e queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois
sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo,
embora ficasse embaraçado quando o escutava.” (Mc 6,18-20) mas, o resultado
disso tudo foi a decapitação de João Batista a pedido da própria Herodíades (cf
Mc 6,17-29; Mt 14,1-12).
Mais tarde,
talvez corroído pelo remorso, como se isso fosse possível, o rei Herodes viu em
Jesus a ressurreição de João Batista: “Herodes, governador da Galiléia,
ouviu falar da fama de Jesus. Disse então aos seus oficiais: ‘Ele é João
Batista que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse
homem.” (Mt 14,1-2).
As Sagradas
Escrituras não informam se João Batista e Jesus se conheciam antes de se
encontrarem no rio Jordão, por ocasião do batismo de Jesus, mas o próprio João
Batista afirma que: “Eu mesmo não o conhecia...”. (Jo 1,31). João
Batista era filho do sacerdote Zacarias e Isabel (Lc 1,15-25). O mesmo Lucas
diz que Isabel era “parenta” de Maria, possivelmente prima (cf Lc 1,36).
Jesus se
dirige ao rio Jordão para ser batizado por Jesus, muito embora não precisasse
desse ritual para se lavar dos pecados, porque ele, Jesus, não os tinha; Jesus
não precisava do batismo de João Batista, pois não tinha qualquer culpa, a não
ser a culpa da humanidade que ele assumira. Quis, entretanto, nos deixar o
exemplo do que fazer e a lição de que ninguém é puro, a não ser ele próprio,
Jesus.
A princípio,
João, conhecedor dessa realidade, se recusa a batizar Jesus, conforme narra
Mateus no seu Evangelho: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de
se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo,
dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim’. Jesus, porém,
lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a
justiça’. E João concordou.” (Mt 3,13-15).
E, nessa
oportunidade, acontece uma teofania: pela primeira vez e publicamente, a
Santíssima Trindade se manifesta: “Logo que Jesus saiu da água, viu o céu se
rasgando, e o Espírito como pomba, desceu sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu
és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado’.” (Mc 1,10-11), fato
esse testemunhado pelo próprio João Batista: “Eu vi o Espírito descer do
céu, como uma pomba, e pousar sobre ele.” (Jo 1,32). ”
A vida pública
de Jesus tem início com seu Batismo por João, no rio Jordão: “Jesus tinha
cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública.” (Lc 3,23). Até
para o povo e para os próprios discípulos de Jesus, a figura de João Batista,
depois de sua morte, ainda permanecia entre todos porque, quando Jesus
perguntou aos discípulos quem os homens diziam que ele era, eles responderam: “Alguns
dizem que é João Batista...” (Mt 16,14).
A vaidade, o
orgulho, a soberba, jamais estiveram presentes na vida de João Batista. Por sua
austeridade e fidelidade ao seu Deus, João Batista foi confundido com o próprio
Cristo, mas, imediatamente, retruca: “Eu não sou o Cristo” (Jo 3,28) e
ainda “não sou digno de desatar a correia de sua sandália”. (Jo 1,27; Mc
1,7).
Quando seus
discípulos hesitavam, sem saber a quem seguir, João Batista apontava em direção
ao único caminho, demonstrando o rumo certo, ao exclamar: "Eis o
cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". (Jo 1,29). A pregação
de João Batista foi totalmente cristológica. Como faltam profetas como João
Batista nos nossos dias...
São
comemorados também, neste dia: Bem-aventurada Joana Maria da Cruz, Santa Sabina, São Nicéias e Santo Hipácio, Santos
Nicéia e Paulo (mártires), Santo Osório Gutierrez (fundador do mosteiro de
Loernzana), Santa Sabina de Roma (mártir), Santa Sabina de Troyes (virgem).
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