sexta-feira, 15 de junho de 2012

“O REINO DE DEUS É COMO UMA SEMENTE DE MOSTARDA, QUE É A MENOR DE TODAS AS SEMENTES DA TERRA”. (Mc 4,26-34).


XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

A FORÇA DO REINO – O GRÃO DE MOSTARDA
Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Ez 17,22-24; Sl 91 (92); 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34.

“O REINO DE DEUS É COMO UMA SEMENTE DE MOSTARDA, QUE É A MENOR DE TODAS AS SEMENTES DA TERRA”. (Mc 4,26-34).

Diácono Milton Restivo


Com a festa de Pentecostes, a Liturgia concluiu o tempo Pascal. Assim, na segunda-feira depois do Pentecostes, retomamos o Tempo Comum, interrompido com a Quaresma seguido da Páscoa. Agora terminamos o ciclo da Páscoa e retomamos o Tempo Comum dentro da liturgia da Igreja, que se encerra, neste ano, no último domingo de novembro, dia 25, com a festa de Cristo, Rei do Universo, dando início ali, ao Ciclo do Advento. 
Todo o ano litúrgico gira em torno de um único mistério: a morte e ressurreição de Jesus em sua plenitude.  No tempo comum, como nos demais tempos litúrgicos, damos continuidade à celebração desse mistério de Cristo. Em cada domingo, fazemos memória dos relatos da vida pública de Jesus. Celebrando diferentes acontecimentos narrados nas Sagradas Escrituras, vamos nos aproximando mais e mais do mistério de amor de Deus pela humanidade.
Tendo como ponto de referência a Páscoa, cada domingo é o fundamento e o núcleo do próprio ano litúrgico (SC aa106). Até porque de acordo com o testemunho das Escrituras, a assembléia cristã de culto acontece no primeiro dia da semana: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão.” (At 20,7); “Todo primeiro dia da semana, cada um coloque de lado aquilo que conseguiu economizar...” (1Cor 16,2).

Para entendermos bem o que seja o Tempo Comum, vamos buscar nos escritos do Padre José Bortolini um esclarecimento que nos seja razoável:
”Tempo Comum, na liturgia, não é sinônimo de rotina ou algo que acontece sem ser notado. O tempo comum abraça todas as estações do ano: um pouco do verão em janeiro e fevereiro, um pouco do outono em junho, todo o inverno e dois terços da primavera. As estações são uma metáfora das etapas da vida ao longo do tempo comum. O desabrochar da existência na primavera e no Batismo das crianças; a pujança, vitalidade e fecundidade dos jovens e adultos no Crisma e Matrimônio; o branquear dos cabelos e amadurecimento sapiencial no outono da terceira idade; o inverno e o silêncio, a Unção dos Enfermos e a Páscoa irreversível de cada pessoa rumo à casa do Pai: “Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas moradas na casa do meu Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês. E quando eu for e lhes tiver preparado um lugar, voltarei e levarei vocês comigo, para onde eu estiver, estejam vocês também”. (Jo 14,1-3). O Tempo Comum está inserido no Ano Litúrgico que é a celebração da vida de Jesus Cristo ao longo de um ano. A cada ano, nós, os cristãos, revivemos as etapas mais importantes da vida de nosso Senhor: seu nascimento, a morte, ressurreição, ascensão e o envio do Espírito Santo; durante o Ano Litúrgico nossa caminhada de fé é marcada pelos momentos fortes da vida do Senhor. A solenidade da Santíssima Trindade é a primeira grande celebração após a retomada do Tempo Comum. A cor litúrgica que a Igreja se reveste durante o Tempo Comum é o verde: o altar (mesa da Eucaristia) e o ambão (mesa da Palavra) estarão revestidos com uma toalha de cor verde; os paramentos do presidente da celebração: as estolas e a casula do bispo e do padre e a estola e a dalmática do diácono também serão verdes. O verde é a cor da esperança. O Tempo Comum, no começo do ano, começa logo após o fim do Ciclo do Natal, que se encerra com o Batismo do Senhor. A segunda-feira seguinte à festa do Batismo do Senhor já é a segunda-feira da primeira semana do Tempo Comum. Neste ano de 2.012, durante o período do Tempo Comum, estamos no ano B no que se refere às leituras do Evangelho; o ano B é de Marcos, assim como o Ano A é Mateus e o Ano C é Lucas. A primeira leitura dos domingos do Tempo Comum é sempre do Antigo Testamento e, tematicamente, prepara o terreno para o Evangelho. O Salmo responsorial está sempre sintonizado com a primeira leitura. A segunda leitura é sempre do Novo Testamento e é leitura contínua dos principais trechos das Cartas e do Apocalipse. Nem sempre a segunda leitura combina estreitamente com a primeira e o Evangelho. Um dos objetivos dessa organização é fornecer, no intervalo de três anos, uma visão integral dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.” (extraído do livreto “Por que creio - Tempo Comum, 40 respostas e perguntas” do Padre José Bortolini, editora Paulus).
É no comum da vida que se prova a arte de bem viver. É no cotidiano que provamos nossa fidelidade ao Senhor, razão de nossa vida e de nossa missão. Assim o Tempo Comum do Ano Litúrgico evidencia a presença amorosa e fiel do Senhor nos acontecimentos extraordinários ou rotineiros que tecem nosso dia-a-dia: conflitos e cansaços, convivência, trabalho, lazer, lutas...  Experimentamos a Páscoa vivendo o dia-a-dia como tempo de graça e salvação.
O Domingo é, no Tempo Comum, Páscoa e Pentecostes semanais, dia do encontro gratuito da comunidade para proclamar a vida que vence continuamente a morte, fazendo a memória do mistério Pascal de Jesus.
A liturgia recomeça o Tempo Comum com Jesus continuando a falar em parábolas sobre o Reino de Deus. No capítulo 4 de Marcos Jesus continuou a ensinar o povo por meio de parábolas.
Primeiro Jesus conta a parábola do semeador que saiu para semear, que nós conhecemos como a parábola do semeador. Como é sabido, parábola é uma narração, geralmente curta, para ensinar uma verdade moral ou espiritual, através de comparação com a vida real. A parábola é uma das formas da pregação de Jesus: “Muitas coisas lhes falou em parábolas” (Mt 13,3). 
Jesus fala aos discípulos e às multidões em parábolas. A parábola permite então uma avaliação da profundidade das relações que cada pessoa tem com Jesus: o critério de nossa intimidade com Cristo está no fato de sermos seus discípulos (Mt 12,48-49; 13,55-57). A parábola é “sacramento”, isto é, a parábola é um gesto de Deus para o homem, um chamado e uma “provocação” de Deus ao interlocutor humano.
Na parábola Jesus retoma casos e imagens da própria vida: o campo, a semeadura, a casa, o mercador, a ovelha, o patrão, o empregado, a vinha... É da realidade terrena e da vida vivida de cada dia que Jesus chega às realidades sobrenaturais. É a lógica da encarnação. E Jesus, sempre que ficava sozinho com seus discípulos, estes lhe perguntavam qual era o sentido das parábolas que lhes contava: “Quando Jesus ficou sozinho, os que estavam  com ele, junto com os Doze, perguntaram o que significavam as parábolas”. (Mc 4, 10).  E Jesus os esclarecia a respeito. 
No Evangelho deste domingo Jesus inicia falando do homem que lançou a semente na terra.  Essa é a nossa função, essa é a função de todos os cristãos: lançar a semente. Como na parábola do semeador, não importa aonde a semente venha a cair, o importante é semear.
Não é responsabilidade do semeador se a semente cair em terreno árido, rochoso, cheio de espinhos, e também não é sua responsabilidade se a semente vier a germinar ou não. Isso vai depender do terreno onde a semente caiu e da participação do agricultor, que é o Pai. Por isso, Jesus tranquiliza o semeador: “Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece”. (Mc 4,27). Depois de espalhar a semente, de proclamar a Palavra, o semeador, o cristão, pode dormir e acordar sossegado na certeza de ter cumprido o seu dever; o que vem depois vai depender da terra em que a semente, a Palavra foi semeada “porque o homem não sabe como isso acontece”, porque é o Pai que passa a agir, e “a terra produz fruto por si mesma” (Mc 4,28a). Os resultados se fazem aparecer: “primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga” (Mc 4,28b).
Há a necessidade de que o semeador que semeia a semente ou o cristão que proclama a Palavra confiarem e serem pacientes até que elas germinem e frutifiquem como se estivessem esperando a vinda do ceifador, que é o Pai, o agricultor, conforme disse Tiago em sua carta: “Irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Olhem o agricultor: ele espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do outono e da primavera. Sejam pacientes vocês também; fortaleçam os corações, pois a vinda do Senhor está próxima”. (Tg 5,7).
Mas Jesus não para por ai; ele quer ver o resultado da germinação e da frutificação da semente que foi lançada na terra: “Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou”. (Mc 4,29). Assim como o semeador anseia pelo resultado de sua plantação, e quando ela frutifica, ele apanha a foice para apará-la e colhê-la, também o Pai, o agricultor anseia pela germinação e frutificação da Palavra que foi lançada nos corações; no tempo oportuno Ele virá com a foice para colher os seus frutos; os colherá, se tiverem vingado ou os cortará e lançará fogo na plantação se estes o tiver decepcionado, conforme já dissera o profeta Joel: “Lancem a foice, porque a colheita está madura. Venham pisar, pois o tanque está cheio e os barris transbordando, porque é grande a maldade das nações”. (Jl 4,13). 
Depois dessa explanação, Jesus volta a se preocupar com o Reino dos Céus e procura fazer uma comparação ou alusão: “O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (Mc 4,31-32).
Como poderíamos trazer para os nossos dias essa comparação que Jesus faz do Reino, da semente de mostarda, do seu crescimento vertiginoso, dos seus grandes galhos e do abrigo que fornece aos pássaros? O Reino de Deus é uma realidade no nosso meio. Um grande edifício começa com o lançamento de um pequeno tijolo. Com pequenas pedras se faz uma grande montanha. Com gotas de água se formam fontes, que se tornam rios que se agrupam no mar, formando o grande oceano. Uma grande ceara começa com o lançamento, por parte do semeador, de uma primeira e pequena semente. Então o Reino de Deus começa com cada um dos cristãos.
O cristão é o primeiro tijolo, a primeira pedra, a primeira gota de água, a primeira pequenina semente de uma grande plantação que é o Reino de Deus. O que está faltando para que Deus realize o seu grande sonho de concretizar o Reino dos Céus? Semeadores da Palavra. Para o semeador exercer a sua função há a necessidade da semente. Tentar fazer uma colheita sem plantar a semente é completamente ridículo. Além de semeadores da Palavra, o cristão também deve ser semente nas mãos do Pai e que esteja disposto a que o Senhor o plante onde ele queira.
Toda semente destaca-se pela insignificância, humildade e pequenez, e Jesus faz referência à menor de todas as sementes, a da mostarda. Quando o cristão se identificar com essa semente e se deixar ser plantado onde o Pai o determina, de única, humilde e solitária semente, ele germinará, crescerá, frutificará e os pássaros do céu irão buscar conforto e refúgio nos seus galhos.
Jesus define bem o sacrifício, a entrega total e a missão da semente: “Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muitos frutos”. (Jo 12,24).
O Reino de Deus começou somente com um que subiu na montanha para rezar, que depois escolheu doze, que depois escolheu setenta e dois: “Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou  seus discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Mt 6,12-13). “Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus”. (Mc 6,7). “Convocando os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” [...] “Depois disso escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois para toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir”. (Lc 9,1-2; 10,1).  Por que os mandou dois a dois para proclamar a chegada do Reino? Porque ele havia dito: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. (Mt 18,20). Veja como o Reino de Deus se propagou por sobre a terra: começou com uma simples sementinha de trigo que foi jogada no chão, morreu e, depois de três dias, ressuscitou germinando, e deu muitos frutos: “Eu garanto a vocês; se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto.” (cf Jo 12,24); Esse grão que caiu na terra, morreu e ressuscitou, escolheu doze, depois escolheu setenta e dois, depois escolheu a mim e a você e que, por nós, fundou a Igreja sobre a qual o poder do inferno nada poderá contra ela: “... e o poder da morte nunca poderá vencê-la.” (Mt 16,18b).
E tudo começou com um pequeno grão de mostarda, com o grão de trigo que foi crucificado, jogado na terra, ressuscitado para nos enviar o Espírito de Deus.
Será que deu para entender o que Jesus quis dizer: “O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (?) (Mc 4,31-32).  

Nenhum comentário:

Postar um comentário