SEXTA-FEIRA SANTA
Ano – C; Cor – Vermelho; Leituras: Is 52,13 – 53,12; Sl 30 (31); Hb
4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1 – 19,42.
“PERTO DA CRUZ PERMANECIAM, DE PÉ, SUA MÃE...” (Jo, 9,25).
Diácono Milton
Restivo
Nos momentos
em que nos sentimos sozinhos, mesmo estando no meio da mais barulhenta
multidão, devemos elevar o nosso pensamento ao Senhor Nosso Deus e Pai e, nos
recolhendo dentro de nós mesmos, nos entregarmos à oração.
Nesses
momentos em que sentimos que a solidão bate forte em nosso coração, devemos
voltar a nossa atenção a todos aqueles que estão tristes, acabrunhados,
arrasados, explorados; todos aqueles que se sentem abatidos, desesperados,
injustiçados...
Nesses
momentos, quando nos sentimos desamparados, devemos nos unir em oração e nos
colocar na presença de Deus Pai que muito nos amou e nos ama e suplicar a
mediação do Senhor Jesus que “... foi
obediente até a morte e morte de cruz...” (Fl 2,8), esse mesmo Senhor Jesus
que nos disse: “Eu dou a minha vida por minhas ovelhas.” (Jo, 10,15). João, o
Apóstolo amado, na sua primeira carta nos adverte, dizendo: “Nisso conhecemos o amor: ele deu a sua vida por nós, e nós também
devemos dar a nossa vida pelos irmãos.” (1Jo, 3,16).
Imaginemos a
cruz de Jesus, o Cristo, a cruz onde ele se imolou por nós.
“Vejam! Tão desfigurado estava que não
parecia mais gente, tinha perdido toda a sua aparência humana”. (Is 52,14).
“Ele não tinha aparência nem beleza para
atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo. Desprezado e
rejeitado pelos homens, homem do sofrimento e experimentado na dor; como
indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era desprezado e nem tomamos
conhecimento dele”. (Is 53,2-3).
Coloquemos-nos
inteiramente na presença do Senhor Nosso Deus e, num ato de humildade, peçamos:
“Senhor, aqui estamos, com nossas
fraquezas, com nossos fracassos, com nossas angústias e sofrimentos. Ó Senhor, vê a nossa miséria e nossa dor, e,
na sua bondade, tem compaixão de nós e releve todas as nossas faltas, as nossas
ingratidões, os nossos desamores”.
Prestemos
atenção: na nossa mentalização no sofrimento do Senhor Jesus, o Cristo, no Calvário,
observemos lá, junto da cruz onde Jesus está suspenso entre o céu e a terra nas
mais terríveis e angustiantes dores, uma figura abatida, desolada, sofrida:
Maria, a mãe de Jesus: “Perto da cruz de
Jesus permaneciam, de pé, sua mãe...” (Jo, 19,25).
A mãe ama
todos os filhos, indistintamente, e, a cada um se dedica de coração e sem
reservas. Não temos dúvidas, a mãe não exita em se sacrificar, em perder horas
e horas de sono para ali estar, atenciosa e orante junto à cama do filho
enfermo e, sempre aflita, partilhando da dor do filho. A mãe tem sempre uma
palavra de ânimo, de conforto, de esperança. Dificilmente encontramos a mãe nas
noites de festas, mas, no leito de dor do filho a presença da mãe é uma
constante, sempre humilde e serviçal, com seu olhar materno, com seu carinho,
com seu amor, com sua dedicação extrema e com a sua participação na dor do
filho...
Maria de pé,
perto da cruz... E, quando o Senhor Jesus, nos estertores da morte, pressentiu
que havia chegado o momento derradeiro de voltar para o Pai, num gesto de amor
extremo, transfere a maternidade de Maria para o seu apóstolo mais querido,
João: “Jesus, então, vendo sua mãe e,
perto dela, o discípulo que amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho! ’
Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’!”. (Jo, 19,26-27).
A experiência
nos faz entender que o sofrimento é sempre difícil de ser aceito e, por vezes,
a tentação do desespero, da vingança, do revide, pode estar batendo à porta do
nosso coração.
Pode ser forte
até a tentação do ódio. Mas, não devemos
entrar nessa...
Não vamos
permitir que a descrença e a desilusão ofusquem a nossa fé e a nossa
esperança... Por isso devemos permanecer em oração!
São benditas
as lágrimas que lavam os olhos, purificam o coração e nos faz ver melhor a vida
por outro prisma. Não devemos nos desesperar; somos pessoas humanas, não somos
anjos...
Continuemos em
oração e mentalizando a cruz de Cristo; Jesus está ali, no mais terrível dos
sofrimentos. Tanto que o Senhor Jesus amou a todos, tanto bem que Jesus fez: “os cegos recuperam as vistas, os
paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos
ressuscitam e os pobres são evangelizados.” (Mt, 7,47). Jesus perdoou pecados: “Por esta razão eu lhe digo, seus numerosos pecados lhe estão
perdoados... Seus pecados estão perdoados.” (Lc 7,47.48). Jesus amou e
acariciou as criancinhas; “Deixai as
crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o reino dos céus.” (Mc,
10,14). Jesus amou e respeitou os velhos e as viúvas: “Pois todos os outros deram do que lhes sobrava, ela (a viúva),
porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para
viver.” (Mc, 12,44). Jesus acolheu os pobres: “Ao ver a multidão, teve compaixão dela, porque estava cansada e
abatida como ovelha sem pastor.” (Mt, 9,36). Jesus alimentou os famintos: “Não é preciso que vão embora. Daí-lhes vós
mesmos de comer.” (Mt, 14,16). Jesus
curou os doentes: “Assim que desembarcou, viu uma grande
multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes.” (Mt, 14,14). Jesus
expulsou os demônios: “Logo que saíram, eis
que lhe trouxeram um endemoniado mudo. Expulsou o demônio, o mudo falou.” (Mt,
9,32-33) e “Os demônios lhe imploravam,
dizendo: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” Jesus lhes
disse: “Ide.” (Mt, 8,32-33)
Até os mortos
se levantavam ao ouvirem a palavra de Jesus:
“Jovem, eu te ordeno, levanta-te.” E o morto sentou-se e começou a falar.”
(Lc, 7,14-15). e “Lázaro, vem para fora.”
O morto saiu com os pés e as mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse: “Desatem-no
e deixem-no ir embora.” (Jo, 11,43-44).,
e ainda mais: “Tomando a mão da
criança, disse-lhe: “Talita kûm” - que significa: “Menina, eu lhe digo, levante-se.”
No mesmo instante a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos.”
(Mc, 5,41-42).
Jesus era um
homem tão cheio de Deus; era o próprio Deus caminhando conosco neste vale de
lágrimas: “... quem me viu, viu o Pai.
Como podes dizer: “Mostre-nos o Pai?”Você não crê que estou no Pai e o Pai está
em mim? As palavras que lhes digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que
permanece em mim, realiza suas obras. Creiam-me: Eu estou no Pai e o Pai está
em mim.” (Jo 14,9-11).
Na sua
infinita sabedoria, Jesus nos deixa uma regra de ouro: “Tudo aquilo, portanto, que vocês
quiserem que os homens lhes façam, façam vocês a eles, pois esta é a lei e os
profetas.” (Mc, 7,12). Sabemos que o Senhor Jesus gostava muito de dar
atenção aos mais esquecidos, aos abandonados, aos doentes, aos desamparados,
aos injustiçados, aos que se sentiam sozinhos, aos mais pobres.
Jesus amava os
pecadores, pois assim ele afirmou: “Não são os que têm saúde que precisam
de médico, mas sim os doentes. Vão, pois, e aprendam o que significa:
“Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício. “Com efeito, eu não vim para
chamar os justos, mas os pecadores.” (Mt, 9,12-13). O Senhor Jesus sabia e
sabe perdoar, sabe acolher os corações mais esmagados, mais dilacerados; e são
para nós, que temos o coração sofrido, as palavras acolhedoras e reconfortantes
do Senhor Jesus: “Venham a mim todos os
que estão cansados, sob o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso... Tomem sobre
vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e
encontrarão descanso para as suas almas, pois o meu jugo e suave e o meu fardo
é leve.” (Mt, 11,28-30).
Voltemos à
cruz, voltemos a meditar na cruz.
Mentalizemos
novamente Jesus pendente na cruz, na eminência da morte, e aprendamos com ele a
perdoar os que nos fazem mal, como ele perdoou os seus algozes, pedindo o
perdão do Pai para os seus carrascos:
“Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.” (Lc, 23,24).
E, mesmo no
meio das mais violentas dores imagináveis, Jesus ouviu a súplica do ladrão condenado
e crucificado no mesmo local: “Jesus,
lembra-te de mim quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade eu lhes
digo, hoje você estará comigo no paraíso.” (Lc, 23,42-43).
Estas atitudes
de amor e perdão do Divino Mestre não nos deixam perder as esperanças.
O Senhor Nosso
Pai nos ama do jeito que somos: pecadores, cheios de falhas, imperfeitos, e
muitas vezes inconsequentes...
Nos
orgulhosos, nos prepotentes a fé é muito difícil.
Nos humildes,
nas pessoas como nós, a fé é possível; basta que creiamos e tenhamos coragem de
assumirmos e vivermos as verdades ensinadas pelo Divino Mestre.
Os braços
abertos de Jesus na cruz também estão abertos para mim, para você, para todos
nós, e não podemos nos esquecer que
“Jesus morreu de pé e de braços abertos para que não ficássemos sentados e de
braços cruzados”.
Por isso tudo
devemos abrir o nosso coração ao Senhor Jesus, ouvindo o Apóstolo Pedro: “Com efeito, para isso é que fomos chamados,
pois que também Cristo sofreu por vocês, deixando-lhes um exemplo, a fim de que
sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado; mentira nenhuma foi achada
em sua boca. Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes,
punha a sua causa na mão daquele que julga com justiça. Por suas feridas vocês
foram curados, pois vocês estavam desgarrados como ovelhas, mas agora vocês
retornaram ao pastor e supervisor de suas almas.” (1Pd, 2,21-25).
Não nos
desesperemos. Não busquemos desforras. Não aumentemos o mal que já fez tanto
mal a tanta gente. Acreditemos em Deus. “Tudo é possível àquele que crê.” (Mc,
9,23).
O Senhor Jesus
está conosco. Ele permanece conosco todos os dias em cumprimento à sua
promessa: “E eis que eu estou com vocês
todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt, 28,20), e isso nos
transmite uma paz celestial.
O importante é
a paz no coração, a paz do coração, não a paz que o mundo nos dá, mas aquela
paz que o Senhor Jesus desejou e derramou sobre os seus discípulos e apóstolos
dizendo: “A paz esteja com vocês.”
(João 20, 19), e “Deixo-lhes a paz, a
minha paz lhes dou; não a dou como o mundo dá. Não se perturbe nem se intimide
o seu coração.” (Jo, 14,27). Descubramos
o nosso coração ao Senhor Jesus e reconfortemos-nos com a sua palavra de vida
eterna: “É por isso que estão diante do
trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo. Aquele que está sentado no
trono estenderá sua tenda sobre eles: Nunca mais terão fome, nem sede, o sol
nunca os afligirá, nem qualquer calor ardente; pois o cordeiro que está no meio
do trono os apascentará, conduzindo-os até as fontes de água da vida. E Deus
enxugará toda lágrima de seus olhos.” (Apo, 7, 15, 17).
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