O propósito
dessa parábola é de ensinar a perseverança na oração. Devemos “rezar sempre, sem nunca desistir”. Orar
sempre, continuamente.
É fundamental
que estejamos presentes na oração. Às vezes, corremos o risco de, quando
rezamos, agirmos como crianças levadas que tocam a campainha da casa e depois
saem correndo; elas se afastam antes que a porta seja atendida. Não devemos
apenas bater, mas insistir, sem esmorecer: “Peçam,
e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês!
Pois, todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta
será aberta”. (Lc 11,9-10; Mt 7,7-8).
Nesta parábola
o juiz é apresentado como um homem de coração duro e insensível, sem
princípios, que não temia a Deus e não tinha consideração para com os homens;
não era religioso e nem mesmo humanitário e era descaradamente corrupto. Uma
viúva que se sentia injustiçada por alguém, veio a esse juiz pedir justiça: “Faça-me justiça contra o meu adversário!’
(Lc 18,3b), mas foi ignorada por muito tempo pelo juiz. Era a arrogância
extrema contra a total impotência.
Porque Jesus
coloca uma viúva como a injustiçada? Porque a viúva tem um lugar de destaque ao
inverso nos escritos sagrados, que não é de privilégios, mas de abandono total.
A viúva, tanto no Antigo como no Novo Testamento, era uma pessoa discriminada,
porque a sua situação era de total insegurança e desconforto social.
As viúvas,
assim como os órfãos e os estrangeiros, pertenciam àquela categoria de pessoas
que sempre necessitava da proteção especial dos profetas: “busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão,
defendam a causa da viúva” (Is 1,76); “se
não oprimirem o estrangeiro, o órfão e a viúva [...] então eu continuarei morando com vocês, neste lugar, nesta terra que
eu dei aos seus antepassados...” (Jr 7,6.7). Também necessitavam do amparo
e da defesa da Lei que fez um apelo de misericórdia para elas: “Não maltrate a viúva nem o órfão, porque se
você os maltratar e eles clamarem a mim, eu escutarei o clamor deles” (Ex
22,21); “Não distorça o direito do
estrangeiro e do órfão, nem tome como penhor a roupa da viúva”. (Dt 24,17).
Também na igreja
primitiva as viúvas eram discriminadas e, para serem ajudadas, o comportamento das
viúvas devia respeitar alguns requisitos, a saber: exercer a piedade; estar
desamparadas; que esperavam em Deus; que fossem espirituais, dedicando-se à
oração; que tivessem mais de sessenta anos – as de menos de sessenta anos
continuavam na rua da amargura -; que tivessem sido mulheres de um só marido –
se tivessem sido casadas mais uma vez, perderiam o direito -; que tivessem
criado os filhos com dedicação; que exerciam a hospitalidade aos santos; que socorriam
os aflitos; que praticassem toda espécie de boa obra. As viúvas mais jovens, taxadas
de preguiçosas, mexeriqueiras – discriminação - e que viviam batendo perna na
rua, pertenceriam ao segundo grupo: “Rejeite
às viúvas mais jovens; pois quando seus desejos se afastam de Cristo, elas
querem se casar, tornando-se censuráveis por terem rompido o seu primeiro
compromisso. Além disso, elas aprendem a viver ociosas, correndo de casa em
casa; elas não são apenas desocupadas, mas também fofoqueiras, indiscretas,
falando o que não devem.” (1Tm 5,11-13).
Jesus toma a
figura da viúva como a injustiçada na parábola, e isso ele o fez de propósito:
a viúva era uma mulher que, após perder o seu marido, não tinha amparo nem de
sua família, nem da família do marido, nem da sociedade e nem da religião. Seu
único recurso era apelar pela ajuda e misericórdia alheia e, de uma maneira
geral, para uma autoridade.
Jesus usa um
personagem que não tinha voz e nem vez; alguém que só dependia da misericórdia
de uma possível autoridade, assim como cada um de nós depende da misericórdia e
do amor do Pai, porque “Deus é Amor [...]
Nisto consiste o amor: não fomos nós que
amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima
de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 4,8.10.16).
A viúva, embora sabendo
que o juiz – autoridade - era corrupto e injusto, homem que não temia a Deus e nem
respeitava os homens, “juiz que não temia
a Deus e não respeitava homem algum” (Lc 18,2), não desanimou, pelo
contrário, persistiu em sua súplica até ver atendida a sua súplica, a sua pretensão.
A fé inquebrantável e o espírito de perseverança que animavam a viúva, deram
êxito à sua causa.
Uma das
características da oração é a persistência. A persistência é a prova da nossa
fidelidade a Deus, da nossa dependência e confiança.
Jesus já havia
contado a parábola do amigo importuno (Lc 11,5-98).
Nesta parábola
a viúva insistiu, e o juiz lhe atendeu. Se o homem sendo mau, deu atenção à
causa da viúva, quanto mais não fará por nós o Senhor nosso Deus? Estamos
diante de uma parábola que nos ensina sobre a oração.
O que é oração?
“Oração é a comunicação com Deus. É um
diálogo entre duas pessoas que se amam mutuamente: Deus e o homem”. Deus está
interessado em tudo o que o homem faz e, assim sendo, ele tem prazer na oração
dos seus filhos: “Yahweh detesta o
sacrifício dos injustos, mas aprecia a súplica dos homens retos”. (Pr
15,8).
Comunicar-se
com Deus é um dos grandes privilégios dos filhos de Deus, assim como a Palavra
de Deus. A oração é um dos elementos básicos da vida cristã.
Oração
é um estilo de vida. É um relacionamento com Deus. Através da oração
conversamos com Deus e Deus conversa conosco. Pedimos, agradecemos e adoramos ao
Senhor nosso Deus.
Oração é o
respiro da alma, do espírito. Sem respiração não existe vida. Quem não ora não
tem vida em Deus e com Deus.
A oração é o
estabelecimento de um diálogo do cristão com Deus. Jesus é o grande mestre da
oração. A oração acompanha todos os fatos importantes da sua vida terrestre. Jesus
reza ao receber o batismo de João (Lc 3,21); reza no monte das Oliveiras antes
de sua prisão (Lc 22,41.44), e reza na cruz. A última palavra do Senhor antes
de morrer, foi uma oração (Lc 23,46). Jesus rezava pela manhã (Mc 1,35) e a
tarde (Mt 14,23) e passava a noite inteira em comunhão com o Pai (Lc 6,12).
Jesus
retirou-se para uma montanha e passou a noite em oração para, na manhã
seguinte, escolher os seus apóstolos (Lc 6,12-13). Antes de fazer a pergunta
aos discípulos sobre o significado da sua pessoa para eles, Jesus esteve em
oração (Lc 9,18).
No momento da
sua transfiguração, Jesus estava em oração (Lc 9,28-29). No Jardim das
Oliveiras, passou o tempo em oração e pediu aos discípulos para orarem, a fim
de não entrarem em tentação (Lc 22,39-46). Na cruz, orou pelos seus algozes (Lc
23,34).
Orar é estar em
contínua comunhão e sintonia com o Pai; é viver a vida da Trindade: “Se vocês ficarem unidos a mim e minhas
palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem e será concedido a vocês.”
(Jo 15,7).
A oração exige
perseverança: “Peçam, e lhes será dado!
Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois, todo aquele
que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta” (Mt
7,7-8); “Sejam constantes na oração; que
ela os mantenha vigilantes, dando graças a Deus” (Cl 4,2); “Rezem sem cessar” (1Ts 5,17b); “Rezem incessantemente no Espírito, com
orações e súplicas de todo tipo, e façam vigílias, intercedendo sem cansaço, por todos os cristãos” (Ef
6,18).
A oração é um
espaço privilegiado para compreendermos as propostas do amor. “Como uma criança de Deus, a oração é como
ligar para casa todos os dias”.
A viúva da
parábola insistiu no seu pedido ao juiz injusto até que ele, de tanto ser
importunado, não teve outro recurso senão atender ao pedido da viúva para se
ver livre dela: “Eu não temo a Deus e nem
respeito homem algum. Mas essa viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe
justiça, para que ela não fique me incomodando”. (Lc 18,4b-5).
Esse é o
exemplo da perseverança na oração. Deus sabe do que precisamos antes que
peçamos, mas ele quer ouvir de nossa boca os nossos pedidos, pois só pede quem
confia e só espera ser atendido quem ama. E Jesus termina, dizendo: “E Deus não faria justiça aos seus
escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu
lhes declaro que Deus fará justiça por eles e bem depressa”. (Lc 18,7-8a).
Jesus já havia
ensinado como deve ser a insistência na oração e como o Pai atende quem é
perseverante na oração: “Peçam, e lhes
será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois,
todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será
aberta. Quem de vocês dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá
uma cobra, quando ele pede um peixe? Se vocês, que são maus, sabem dar coisas
boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas
boas aos que lhe pedirem”. (Mt 7,7-11);
No livro do
Eclesiástico encontramos o cuidado que Deus tem pelos seus pobres e carentes
que a ele recorre fazendo súplicas e desafogando suas queixas: “O Senhor é juiz e não faz diferença entre
as pessoas. Ele não dá preferência a ninguém contra o pobre. Pelo contrário,
atende a súplica do oprimido. Ele não despreza a súplica do órfão, nem a viúva
que desafoga as suas queixas. Será que as lágrimas da viúva não lhe descem pela
face, e o grito dela não se levanta contra quem a faz chorar? Quem serve ao
Senhor será recebido com benevolência, e sua súplica chegará até as nuvens. A
súplica do pobre penetra as nuvens, e ele não sossega, enquanto ela não chegar
até lá. Ele não desiste, até que o Altíssimo intervenha para fazer justiça aos
justos e realize o julgamento. O Senhor não tardará...”. (Eclo 35,12-19a).
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