domingo, 30 de outubro de 2016

ZAQUEU

XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM

"ELE PROCURAVA VER QUEM ERA JESUS..." - (Lc 19, 3).

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Diácono Milton Restivo

No Evangelho segundo Lucas Jesus continua sua caminhada rumo a Jerusalém.
A cidade de Jericó fica no caminho de quem vem do norte, da Galiléia, para o sul, Jerusalém.
Estavam com Jesus aqueles que o seguiam por onde quer que fosse; homens e mulheres, discípulos seus, que eram companhia permanente, mas tinha, também, os curiosos ocasionais que se aproximavam apenas para se inteirarem das novidades.
Quando chegava nos vilarejos e nas cidades, o povo desses lugares, ao tomar conhecimento que Jesus se aproximava, saia ao seu encontro, uns por curiosidade, outros querendo ver milagres ou buscando a recuperação da saúde e outros ainda desejosos de beber da sabedoria do Mestre.
Ao chegar às portas de Jericó, um desses “que procurava ver quem era Jesus” era “um homem chamado Zaqueu”.
Zaqueu era um personagem famoso e famigerado na cidade, bem conhecido por todos, mas odiado por muitos porque era “chefe dos cobradores de impostos e muito rico”. Rico demais, daqueles para os quais a porta do Reino dos céus parece por demais estreita. 

Já falamos quem eram os cobradores de impostos no tempo de Jesus na meditação do domingo passado, na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14). Os publicanos eram aqueles que tinham enriquecido ilicitamente, explorando o povo e recebendo os impostos para os romanos.
O cobrador de impostos nunca foi amado e muito menos popular em nenhum país do mundo: ainda mais o publicano judeu, que representava uma dupla blasfêmia: judeus que pediam dinheiro de outros judeus para dá-lo ao odiado império romano.
Enfim, os publicanos eram o que de pior, de menos moral se podia encontrar entre os judeus.
E Zaqueu era um desses, e não somente isso, era o chefe de alguns desses: “era chefe dos cobradores de impostos e muito rico”.
Lucas descreve Zaqueu como de pequena estatura: “era muito baixo”.
Zaqueu era um homem de baixa estatura, pequenino, e ficou sabendo que Jesus, na sua caminhada para Jerusalém, passaria por sua cidade Jericó.
Teve um desejo ardente de ver o Divino Mestre, ou, pelo menos, observá-lo passar pelas ruas; isso já o satisfaria.
A multidão o rodeia facilmente e ninguém faz o favor de lhe abrir espaço.
Zaqueu tinha uma só virtude: uma inexplicável curiosidade. Morria de vontade de ver Jesus, e talvez nem soubesse o porque. Mas, a multidão que acompanhava Jesus era imensa e Zaqueu, no meio do povo, como era de baixa estatura, muito pequeno, todos ficavam à sua frente e, por isso, ele não conseguia ver Jesus.
Zaqueu não desistiu; foi perseverante, foi persistente e não se acomodou enquanto não encontrou um meio de ver Jesus. Correu na frente de todos, alguns quarteirões, onde imaginou que Jesus fosse passar e, ciente de sua pouca estatura, não hesitou em se humilhar tomando uma atitude de criança, tornando-se criança e, deixando de lado a sua posição social, o seu alto cargo administrativo, a sua autoridade, o conceito que julgava ter diante do povo, subiu em uma árvore, uma figueira, não se importando com aquilo que, possivelmente, o povo diria dele que, sem dúvida, riria dessa sua atitude infantil. Não se importou com nada disso e subiu na figueira aguardando ansiosamente o momento em que Jesus deveria passar por ali.
Não demora muito, Jesus passa... Zaqueu estava em um lugar privilegiado, acima de todos, de onde poderia ver perfeitamente Jesus, contemplar a sua majestade, o seu porte digno e a sua candura irrepreensível.
Zaqueu tinha alcançado o seu objetivo: ver Jesus. Satisfez o seu desejo e, para isso, teve que ser perseverante, não se preocupou com o trabalho que teria para alcançar o seu objetivo e, finalmente, se humilhou, subindo em uma árvore, não se importando com a opinião dos outros, mas conseguiu o seu intento. Tinha que ver Jesus a qualquer custo, mesmo passando por ridículo.
Quando lemos e meditamos os santos Evangelhos é que vemos maravilhas e vamos, gradativamente, descobrindo as melhores maneiras de nos encontrarmos com Jesus que, constantemente, passa em nossa vida.
Para o encontro com o Divino Mestre há a necessidade de, primeiro, ter o desejo ardente de encontrá-lo, depois de aceitá-lo como Salvador; em seguida ser persistente e perseverante e não descansar enquanto não alcançar o objetivo; dando continuidade, não se preocupar com o trabalho e sacrifícios que vai ter para esse encontro maravilhoso e, finalmente, ser humilde para que, através do gesto de humildade, Jesus possa dirigir o seu olhar, a sua misericórdia e a sua palavra da verdade e convidar quem o busca para fazer parte de sua mesa.
Zaqueu, homem poderoso, rico e prepotente, porém pequeno, de baixa estatura, dá a todos a maior lição de humildade, e é recompensado com esse encontro com o Divino Mestre.
Existem muitas passagens na vida de Jesus que parecem confusas, e que dão muito o que pensar. Coisas que acontecem de repente e, esse repente, muda completamente a vida de quem não vivia de conformidade com os preceitos evangélicos.
Com Zaqueu aconteceu assim: a sua curiosidade, a sua persistência, a sua perseverança em simplesmente ver o Divino Mestre, mudou totalmente a sua vida: “Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, pois era de baixa estatura. Correu então à frente e subiu num sicômoro para ver Jesus que iria passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse: ‘Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa.’ Ele desceu imediatamente e recebeu-o com alegria. À vista do acontecido, todos murmuravam, dizendo: ‘Foi hospedar-se na casa de um pecador’!” (Lc 19,1-7).
Que belo exemplo Zaqueu dá. Quem quiser encontrar realmente Jesus, precisa seguir o exemplo de Zaqueu. E Zaqueu foi recompensado. Quando Jesus chegou debaixo da figueira onde se encontrava empoleirado Zaqueu, o Mestre olha para cima, possivelmente sorri, e lhe diz: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa.” (Lc 19,5).
E o interessante de tudo isso é que Zaqueu não conhecia Jesus, e humanamente falando, Jesus também não conhecia Zaqueu; os dois jamais haviam se encontrado, se visto, se cruzado nas estradas da vida, e Jesus chama Zaqueu pelo nome; Jesus sabia o nome de Zaqueu como sabe o nome de cada um de nós, e está sempre nos convidando para descermos do arbusto do nosso orgulho, da nossa vaidade, do nosso comodismo, da nossa ociosidade, da nossa preguiça, para que ele “possa ficar em nossa casa”, possa ficar conosco.
E Jesus manda Zaqueu descer da árvore e hospeda-se em sua casa, levando para aquele lar a salvação. E a língua maldizente do povo não perde a oportunidade e critica a atitude de Jesus, dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um pecador.” (Lc 19,7), e, para os que assim pensam e julgam, Jesus tem uma resposta: “Com efeito, eu não vim para chamar justos, mas pecadores.” (Mt 9,13). E Jesus foi hospedar-se na casa de Zaqueu sem medo de contaminar-se com os seus pecados ou com que, os que se julgavam santos, pensavam ou falavam.
O evangelista não narra, mas, possivelmente, Zaqueu ofereceu um almoço ou jantar para Jesus e sua comitiva. O evangelista continua a sua narrativa dizendo que “Zaqueu ficou de pé e disse a Jesus...” (Lc 19,8a).  Para dirigir-se a Jesus, Zaqueu tomou uma atitude de respeito: “ficou de pé”: tudo leva a crer que estava sentado à mesa com Jesus.
A conversa que eles tiveram enquanto ceiavam, com certeza, tocou fundo o coração de Zaqueu. Ele reconheceu ser um pecador, um explorador do povo, um defraudador dos pobres, e a mensagem de Jesus atingiu o seu coração. Numa atitude de contrição e de tentar ressarcir a quem ele tinha extorquido, disse a Jesus: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. (Lc 19,8b).
Sendo ele chefe dos cobradores de impostos, com certeza, naquela cidade não havia alguém que Zaqueu não tivesse extorquido qualquer valor monetário.
Jesus entendeu que Zaqueu estava falando a verdade e que, a partir daquele momento ele mudaria de vida e mentalidade, e afirmou: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (Lc 19, 9-10).
Jesus sentiu-se satisfeito, não tanto pela refeição que lhe foi oferecida por Zaqueu, mas por ter realizado a vontade do Pai: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.” (Jo 4,34). No céu também houve festa, porque: “Haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. [...]  Os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um pecador que se converte. [...] Mas era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado”. (Lc 15,7.10.32).
A vida de Zaqueu transformou-se radicalmente depois da conversa que teve com Jesus.
Esse encontro com Jesus mudou a vida desse homem que explorava e roubava o povo protegido pela lei dos opressores.
Zaqueu mudou de vida e de mentalidade. Porque isso não acontece na nossa vida?
Todas as vezes que pegamos as Escrituras para meditar subimos na árvore da busca do amor de Deus para ver Jesus, e Jesus manda-nos descer da nossa prepotência, do nosso orgulho, da nossa vaidade, do nosso desamor e tudo o mais que nos distancia do irmão e de Deus. E porque, como Zaqueu, não mudamos de vida e de mentalidade?
Cada vez que meditamos as Escrituras alguma coisa tem que mudar na nossa vida, senão estamos perdendo tempo...
Nesse encontro de Zaqueu com Jesus existe um outro personagem que passa despercebido nessa passagem evangélica que chama a atenção e, na meditação que fazemos, nos faz chegar à conclusão que também nos dá lições de disponibilidade: é a árvore que Zaqueu procurou para subir para ver melhor e mais de perto Jesus quando ele por ali passasse.
A árvore que serviu de escada, de pedestal para que Zaqueu, o homem pequenino, o homem de baixa estatura, pudesse ficar um pouco mais alto, acima da multidão, para poder melhor ver e olhar para Jesus, encarar Jesus e dar a oportunidade para que o Divino Mestre olhasse para bem dentro de seus olhos e o convidasse a descer depressa da árvore porque precisava conversar com ele e, em consequência disso, Jesus “se convida” para ficar em sua casa para ali se hospedar: “... hoje devo ficar em tua casa.” (Lc 19,5).
Aquela árvore é o exemplo autêntico do cristão verdadeiro.
Todos os cristãos deveriam ser árvore onde aqueles que não conhecem a Jesus e gostariam de conhecê-lo, de vê-lo mais de perto, pudessem subir e contemplar, mais do alto a maravilha divina que é Jesus.
Todos deveríamos ser árvores à beira do caminho onde Jesus deve passar para servirmos de apoio, de conforto, de sombra, de fornecedores de frutos e de escada para que todos pudessem subir e pudessem superar a sua pequena estatura na vivência cristã e na vida de fé, e pudessem se desapegar um pouco do chão das iniquidades para se elevarem até Jesus, como fez Zaqueu.
E esses que buscam a Jesus, depois de estarem sobre a árvore, pudessem ser convidados pelo próprio Jesus para mudarem de vida e de mentalidade, arrependerem-se e acreditarem no Evangelho: “Arrependei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1,15): “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus.” (Mt 4,17).
Nessa passagem evangélica é exatamente a árvore onde Zaqueu subiu o personagem que passa mais despercebido, e foi com a ajuda dessa árvore que Zaqueu superou a sua pequena estatura, tanto física como da fé, se desapegou do chão, se elevou e chegou até Jesus.
Todos nós, cristãos, deveríamos ser árvores. Mas árvores frutíferas.
Árvores frondosas, com galhos fortes que pudessem suportar o peso de todos os irmãos que precisam de nós para se achegarem a Jesus.
Árvores frondosas e frutíferas que acolhessem a todos em sua sombra para repousarem e renovarem as suas energias; sombra que seria a nossa palavra amiga, o nosso conforto, a nossa presença e o nosso apoio a todos aqueles que precisam de um amigo sincero que os conduza para o verdadeiro caminho que leva à verdade e que dá a vida que não se acaba mais...
Depois que Zaqueu viu Jesus e Jesus a Zaqueu, Jesus manda Zaqueu descer da árvore para que outros possam subir quando Jesus novamente passar por aquele caminho; e Zaqueu, por causa da árvore, que é o exemplo autêntico do cristão verdadeiro, essa árvore que o elevou do chão e o colocou frente-a-frente com o Divino Mestre, teve a felicidade extrema de receber Jesus em sua casa, de receber a Salvação em seu lar, conforme disse o próprio Senhor Jesus: “Hoje a salvação entrou nesta casa...” (Lc 19,9).
Precisamos ser árvores, apoio para todos aqueles que desejam ver e conhecer mais e melhor e de perto a Salvação que vem de Deus Pai.

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