ASCENSÃO DO SENHOR
Ano – B – Cor – Branco; Leituras: At
1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20.
“DEPOIS DE FALAR COM OS DISCÍPULOS, O
SENHOR JESUS FOI LEVADO AO CÉU, E SENTOU-SE À DIREITA DE DEUS”. (Mc 16,19).
Diácono Milton Restivo
Comemoramos, neste domingo, a Ascensão de Jesus aos
céus.
O livro dos Atos dos Apóstolos, atribuído a Lucas,
inicia com a narrativa desse acontecimento: a ascensão de Jesus aos céus.
O interessante é que Lucas dedica esse livro, como já
o havia feito no seu Evangelho, a um personagem que até hoje ninguém sabe quem
seja:
·
“No meu
primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou...” (At 1,1).
Há várias indagações e teses a respeito de quem seja
Teófilo, mas até hoje ninguém chegou a um consenso.
Quem seria Teófilo? Teófilo é um nome próprio grego,
composto de duas palavras: “Theos” e “filós”, que quer dizer, exatamente: amigo
de Deus.
Então, foi para esse ou esses amigos de Deus que Lucas
dedicou e escreveu as suas obras: o Evangelho e os Atos dos Apóstolos.
Para todos aqueles que ouviram e aceitaram a mensagem
de Jesus:
·
“Vocês são
meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando”. (Jo 15,14).
Seríamos nós esses amigos de Deus?
O Salmo desta liturgia também aclama Yahweh subindo
aos céus, antecipando a subida de Jesus ressuscitado para o Pai:
·
“Yahweh sobe
por entre ovações, Yahweh, ao toque da trombeta.” (Sl 46 (47),6).
Na segunda leitura Paulo escreve aos efésios falando
sobre a ressurreição e ascensão de Jesus aos céus, onde o Pai o fez cabeça da
Igreja, colocando tudo a seus pés, e dando-lhe a plenitude universal:
·
“Ele
manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez
sentar-se à sua direita nos céus, bem a cima de toda autoridade, poder,
potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste
mundo, mas ainda no mundo futuro.” (Ef
1,20-21).
Na nossa profissão de fé, dizemos que:
·
“Ressuscitou
ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, está sentado à
direita de Deus Pai. E de novo há de vir para julgar os vivos e os mortos; e o
seu reino não terá fim”.
Se Jesus não voltasse ao Pai, ele não enviaria à
Igreja o Espírito Santo, conforme ele mesmo dissera:
·
“Entretanto,
eu lhes digo a verdade: é melhor para vocês que eu vá, porque, se eu não for, o
Consolador não virá para vocês. mas se eu for, eu o enviarei.” (Jo 16,7).
Para que os discípulos de Jesus, de todos os tempos,
pudessem lembrar-se do que ele havia dito e ensinado, haveria a necessidade de
receberem o Espírito Santo:
·
“Mas o Advogado,
o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas
as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.” (Jo 14,26);
·
“quando o
Advogado vier, ele vai desmascarar o mundo, mostrando quem é pecador, quem é o
Justo e quem é o condenado. Quem é o pecador? Aqueles que não acreditaram em mim. Quem é o Justo? Sou
eu” (Jo 16,10a).
Então, como Jesus deixou claro, havia a necessidade de
Jesus Cristo voltar para o Pai depois de consumada sua missão entre os homens
para cumprir a sua promessa do envio do Espírito Santo.
A nossa fé nos diz que o Cristo ressuscitado e
glorificado entrou na glória de Deus Pai:
·
“foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus
Pai” depois de ter “aparecido a Cefas e depois aos doze. Em
seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais
ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente apareceu a Tiago, e
depois a todos os apóstolos. Em último, apareceu também a mim (Paulo) como a um
abortivo”. (1Cor 15,5-8).
Comemoramos, na festa litúrgica da Ascensão de Jesus,
a sua elevação ao céu, quarenta dias após a sua ressurreição.
Rezamos na profissão de fé que
·
“Jesus subiu aos céus”.
Na oração que o Senhor nos ensinou, também dizemos:
·
“Pai nosso que estais no céu”.
Interpretamos o céu como a morada de Deus, conforme a
própria Bíblia, no Antigo Testamento, procura transmitir:
·
“Vestido de esplendor e majestade, envolto em luz como
num manto, estendendo os céus como tenda, construindo tua morada sobre as
águas”. (Sl 104, 1b-2);
·
“Cantem a Deus, reis da terra, toquem para o
Senhor, que avança pelos céus, os céus antigos”. (Sl 68,33-34);
·
“Ninguém é como o Deus de Jesurun: ele cavalga o céu
em seu auxílio e as nuvens com Sua Majestade”. (Dt 33,26).
O Antigo Testamento ensina que é no céu que o Senhor
tem o seu trono e de lá reina sobre a sua corte e sobre os seus exércitos:
·
“Ouça a palavra de Yahweh. Eu vi Yahweh sentado em seu
trono, e todo o exército do céu estava em pé, à direita e à esquerda de Yahweh”. (1Rs 22,19).
Deus é do céu, mora no céu, no céu está o seu trono, e
de lá observa os fiéis e os transgressores de sua aliança:
·
“Yahweh, Deus do céu, Deus grande e terrível, fiel à
aliança e misericordioso com aqueles que te amam e observam teus mandamentos”. (Ne 1,5).
Estas são imagens poéticas que o Antigo Testamento
transmite, entre outras tantas, sobre a morada de Deus; uma morada distante e
quase inaccessível para o homem.
Vem Jesus, e, na boca de Jesus a palavra céu aparece
de uma forma diferente, natural e muito frequente, como uma realidade que
existe por si mesma e que já está no meio de nós.
Jesus fala do Reino dos Céus:
·
“Fiquem alegres e contentes, porque será grande para
vocês a recompensa no céu” (Mt 5,12).
Fala do tesouro que deve ser acumulado no céu:
·
“Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam e nem roubam” (Mt 6,2);
·
“Se você quer ser perfeito, vá, vende tudo o que tem,
dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu” (Mt 19,21).
Jesus conhece os segredos do Reino do Céu e o
transmite aos seus:
·
“Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do
Reino do Céu, mas a eles não.” (Mt
13,11).
Enfim, Jesus é o pão descido do céu:
·
“É o meu Pai quem dá para vocês o verdadeiro pão que
vem do céu, porque o pão de Deus e aquele que desceu do céu e dá a vida ao
mundo”. (Jo 6,33).
A obra de Jesus consiste em unir a terra ao céu, em
fazer que venha o Reino dos céus e que a vontade de Deus seja feita assim na
terra como no céu:
·
“Venha ao teu reino; seja feita a tua vontade, assim
na terra como no céu” (Mt 6,10).
Jesus recebeu do Pai todo o poder no céu e na terra:
·
“Toda autoridade foi dada a mim no céu e sobre a
terra”. (Mt 28,18).
E, bem por isso,
·
“O Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita
de Deus”. (Mc 16,19b).
E Jesus subiu aos céus.
O Antigo Testamento nos diz que o céu é a morada do
Deus dos Exércitos.
Jesus, na nova Aliança, ensina que o céu é a presença
paternal e invisível de Deus que envolve todo o mundo, a natureza:
·
“Olhem os pássaros do céu; eles não semeiam, não
colhem nem ajuntam em
armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta” (Mt 6,26);
E que envolve os justos e os injustos:
·
“Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no
céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos
e injustos” (Mt 5,45);
Demonstrando, com isso, a inesgotável bondade do Pai:
·
“Se vocês que são maus, sabem dar coisas boas a seus
filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe
pedirem” (Mt 7,11).
Durante quarenta dias depois de sua ressurreição Jesus
permaneceu no meio de seus discípulos dando-lhes as últimas instruções:
·
“Depois de sua paixão, com muitas provas
convincentes, Jesus apresentou-se vivo a eles. Durante quarenta dias foi visto
por eles e falou-lhes a respeito do Reino de Deus. (At 1,3).
Depois de permanecer durante quarenta dias entre seus
discípulos:
·
“Jesus foi levado ao céu à vista deles. E quando uma
nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais” (At 1,9).
Mas, afinal das contas, o que é o céu? Onde fica? Marcos
diz que Jesus
·
“foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus
Pai” (Mc 16,19).
No Antigo Testamento e no Novo Testamento, em suma, o
céu é a casa de Deus; e Jesus, que veio do Pai, voltou para o céu, a casa o
Pai.
Se o céu é a casa de Deus, então é um lugar pleno de
alegria, felicidade, amor, fraternidade, compreensão, aceitação.
Paulo, no grande hino do amor, diz:
·
“Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé,
a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1Cor 13,13).
A fé e a esperança desaparecerão com a morte, só
restará o amor; portanto, o céu é a casa do amor.
João disse na sua carta:
·
“Deus é amor”. (1Jo
4,16).
Agora ficamos na dúvida se João quis realmente dizer
que “Deus é amor”, ou se “o amor é Deus”; não importa, a conclusão que chegamos é que o céu é a casa de
Deus, a casa do amor.
Quando dizemos que temos Deus no coração, o nosso
coração é o céu, porque Deus só pode estar no céu.
A morada de Deus só pode ser o céu.
Quando afirmamos que o nosso lar é o céu, queremos
dizer que Deus reside no nosso lar, porque Deus só pode residir no céu.
Deus só pode estar no céu, e se a nossa comunidade tem
a presença sensível de Deus, então a nossa comunidade já vive antecipadamente a
alegria e o amor que reina no céu. E Jesus
·
“foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus
Pai”. (Mc 16,19).
No início do Evangelho de Marcos Jesus começa os seus
ensinamentos com uma advertência que, aliás, são as primeiras palavras de Jesus
nesse Evangelho:
·
“O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está
próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Nova” (Mc 1,14).
E, antes de Jesus ascender aos céus, deixou as últimas
orientações para os seus seguidores, que se assemelham à primeira advertência
sobre a Boa Nova:
·
“E Jesus disse: ‘vão pelo mundo inteiro e anunciem a
Boa Nova para a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não
acreditar será condenado”. (Mc
16,15-16).
Jesus pede aos seus discípulos que dêem continuidade
àquilo que ele veio fazer e que fez durante toda a sua vida: trazer a Boa Nova,
proclamar a Boa Nova, anunciar a Boa Nova.
O que nos vem à cabeça quando ouvimos “anunciar” seria
transmitir com palavras o que o Cristo nos ensinou e nos deixou; é também isso,
mas não é só isso.
“Anunciar”, em primeira instância, é viver, é colocar
em prática, é converter-se, é encher o seu coração do amor e do perdão do Pai,
porque ninguém dá o que não tem, e só damos e anunciamos aquilo de que o
coração está cheio.
É pelos exemplos de vida cristã que vivemos é que
conseguimos cativar mais ovelhas para o rebanho do bom Pastor, sendo uma ovelha
exemplar.
Quem poderia acreditar em Jesus Cristo e se
deixar batizar se não tiver um exemplo a ser seguido e um anúncio a ser
colocado em prática?
O fato de ser salvo ou condenado, não é uma atitude ou
iniciativa de Jesus, mas, é de quem crer e assumir a Boa Nova com
responsabilidade, este será salvo, e, quem toma conhecimento da Boa Nova e não
a leva a sério, já se condenou.
Jesus já havia advertido sobre isso quando disse:
·
“Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o
mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Quem acredita nele, não
está condenado, quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no
nome do Filho único de Deus” (Jo
3,17-18),
Jesus repetiu
essa mesma admoestação quando disse antes de voltar para o Pai:
·
“E Jesus disse: ‘vão pelo mundo inteiro e
anunciem a Boa Nova para a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será
salvo. Quem não acreditar será condenado” (Mc 16,15-16).
O batismo leva-nos a imitar Jesus em tudo e a fazer o
que ele faria se estivesse no nosso lugar.
Paulo nos diz em uma de suas cartas:
·
“Que a palavra de Cristo permaneça em vocês com toda a
sua riqueza, de modo que possam instruir-se e aconselhar-se mutuamente com toda
a sabedoria. Inspirados pela graça cantem a Deus de todo o coração, salmos,
hinos e cânticos espirituais. E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou
ações, o façam em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai por meio dele” (Cl 2,16-17).
Jesus coloca na nossa mão uma grande responsabilidade:
a de nos convertermos e, pelo nosso exemplo de vida, converter o irmão.
Ser batizado é aderir à fé e assumí-la com todas as
suas consequências.
Ter fé é assumir com responsabilidade as exigências do
batismo.
Para quem assim o fizer, Jesus foi primeiro para o céu
para reservar a cada um uma morada na casa do Pai:
·
“Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em
Deus e acreditem também em
mim. Existem muitas moradas na casa do meu Pai. Se não fosse
assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês”. (Jo 14,1-2).
E Jesus continua na sua exortação:
·
“Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem,
são estes: expulsarão demônio em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem
cobras ou algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre
os doentes,estes ficarão curados” (Mc
16,17-18).
Com isso Jesus quer dizer que a Boa Nova que ele veio
trazer é libertadora: liberta o homem que expulsa os demônios que o impedem de
viver em harmonia e fraternidade.
Falarão novas línguas.
Não línguas incompreensíveis, inelegíveis,
indecifráveis e inteligíveis que indevidamente são atribuídas ao Espírito
Santo, mas a verdadeira língua do Espírito Santo que todos entendem: a língua
do amor, da paz, da fraternidade, da igualdade, da união, da inclusão dos
discriminados e marginalizados; falarão uma língua que todos entendem sem haver
necessidade de tradutores, porque será a língua do amor, porque
·
“Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Também não serão contaminados com as cobras e venenos
do século, como a mídia, a imprensa marrom, as atitudes inconvenientes de quem
deveria dar o exemplo.
Também curarão muitos surdos que não têm ouvido para
ouvir a Boa Nova, muitos mudos, que mesmo conhecendo a Boa Nova não a vivem e
nem a divulgam, muitos cegos que não tem visão para contemplar as maravilhas do
Senhor, muitos paralíticos que se colocaram nas cadeiras de rodas da
ignorância, da inércia, do comodismo, e se acomodaram no exercício de divulgar
a Boa Nova. E ressuscitarão muitos mortos que se encontram nas suas tumbas
mortuárias por terem perdido a vontade e a alegria de viver por não conhecerem
ou não crerem na Boa Nova.
E, finalmente,
·
“O Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à
direita de Deus” (Mc 16,19).
O que tinha de fazer Jesus o fez; agora ele deixa a
continuidade de sua missão aos seus apóstolos, aos seus discípulos, enfim, à
sua Igreja.
O tempo da salvação e do Reino de Deus não terminou
com a ida de Jesus para a casa do Pai; muito pelo contrário, tornou-se
universal pelas atitudes daqueles que aderiram à fé, que acreditam em Jesus e
se tornaram as suas testemunhas e seus representantes na caminhada rumo a casa
do Pai
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