FREI GALVÃO - SANTO ANTÔNIO DE SANT'ANNA GALVÃO
Antônio de
Sant'Anna Galvão nasceu em 1739 na frequesia de Santo Antonio de Guaratinguetá,
na capitania de São Paulo.
Era o quarto de
dez ou onze filhos de uma família profundamente religiosa de elevado status
social e político. Seu pai, o português Antonio Galvão de França, era o
capitão-mor da vila.
Natural de Faro
e ativo no mundo do comércio, França pertencia à Odem Terceira de São Francisco
e era conhecido por sua generosidade.
Sua mãe, Isabel
Leite de Barros, era filha de fazendeiros e membro da família do famoso
bandeirante Fernão Dias Pais, conhecido como o "caçador de
esmeraldas". Ela morreria prematuramente em 1755, aos 38 anos.
Também
conhecida por sua generosidade, Isabel teria doado todas suas roupas aos pobres
à época de sua morte. Galvão passou toda sua infância na casa que se situava na
esquina da Rua do Hospital com a Rua do Teatro (atualmente Ruas Frei Galvão e
Frei Lucas, respectivamente).
O local foi
demolido e recentemente reconstruído.
Aos 13 anos,
Galvão foi enviado pelos pais ao seminário jesuíta Colégio de Belém, localizado
em Cachoeira, na Bahia, com a finalidade de estudar ciêwncias humanas.
Seu irmão José
já se encontrava no local. No Colégio de Belém, que freqüentou de 1752 a 1756,
Galvão fez grandes progressos nos estudos sociais e na prática cristã. Ele
aspirava se tornar um padre jesuíta, mas a perseguição anti-jesuíta liderada
por Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, fez com que ele se
mudasse para um convento franciscano em Taubaté, seguindo o conselho do pai.
Aos 21 anos, em
15 de abril de 1760, Galvão desistiu do futuro promissor – visto a influência
de sua família na sociedade – e se tornou um noviço no Convento de São
Boaventura de Macacu, em Itaboraí, Rio de Janeiro. Lá, ele adotou o nome
religioso de Antônio de Sant'Ana Galvão em homenagem à devoção de sua família a
Santa Ana.
Durante o
noviciado, Galvão se tornou conhecido por sua piedade, zelo e virtudes
exemplares. Galvão fez sua profissão solene em 16 de abril de 1761, assumindo o
voto de defender o título de "Imaculada" da Virgem Maria, ainda
considerada uma doutrina polêmica à época.
Em 11 de julho
de 1762, Galvão foi ordenado sacerdote e transferido para o Convento de São
Francisco, na cidade de São Paulo, onde continuou seus estudos em teologia e
filosofia. Durante a jornada do Rio de Janeiro para São Paulo, fez uma breve
parada em Guaratinguetá para celebrar sua primeira missa, realizada na Matriz
Santo Antonio, onde ele havia sido batizado.
Em 1768, ele
foi nomeado confessor, pregador e porteiro do convento, considerado um cargo
importante naquela época. Destacou-se de tal forma que a Câmara Municipal lhe
considerou o "novo esplendor do Convento".
Em 1770, foi
convidado para fazer parte da Academia Paulista de Letras, chamada de
"Academia dos Felizes". De 1769 a 1770, atuou como confessor no
Recolhimento de Santa Teresa, casa que abrigava devotas de Teresa de Ávila na
cidade de São Paulo.
Lá, ele
conheceu a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, uma freira penitente que
afirmava ter visões onde Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.
Galvão, o confessor dela, estudou essas mensagens e se consultou com os outros
religiosos, que as reconheceram como válidas e sobrenaturais.
Galvão ajudou a
criar o novo Recolhimento, chamado Nossa Senhora da Luz, que foi fundado em 2
de fevereiro de 1774 na mesma cidade. Era baseado na Ordem da Imaculada
Conceição, e se tornou um lar para meninas que desejavam viver uma vida
religiosa sem fazer votos.
Com a morte
repentina da irmã Helena em 23 de fevereiro de 1775, Galvão se tornou o novo
diretor do instituto, atuando como novo líder espiritual das irmãs. Naquela
época, uma mudança no governo da província de São Paulo trouxe um líder que
ordenou o fechamento do convento.
Galvão aceitou
a decisão, mas as freiras se recusaram a abandonar o local e, devido à pressão
popular e aos esforços do Bispo, o convento foi logo reaberto.
Posteriormente,
com o crescente número de novas irmãs, a construção de mais espaço de
convivência se tornou necessária. Galvão demorou 28 anos para construir um novo
convento e uma igreja, sendo esta última inaugurada em 15 de agosto de 1802.
Além das obras
de construção e dos deveres dentro e fora de sua Ordem, Galvão se comprometeu
também com a formação das irmãs.
Os estatutos
que ele escreveu para elas eram um guia para a vida interior e para a
disciplina religiosa. Quando as coisas pareciam estar mais calmas, uma outra
intervenção do governo trouxe uma nova provação para Galvão. O capitão-mor
sentenciou um soldado à morte por ter ofendido a seu filho levemente, e o
sacerdote foi obrigado a se exilar por ter defendido o soldado. Mais uma vez, a
pressão popular conseguiu revogar a ordem contra o padre.
Em 1781, Galvão
foi nomeado mestre dos noviços em Macacu.
Entretanto, as
irmãs e o Bispo de São Paulo, Manoel da Ressurreição, recorreram ao superior provincial, escrevendo-lhe que
"nenhum dos habitantes desta cidade será capaz de suportar a ausência
deste religioso por um único momento".
Como resultado,
ele foi mandado de volta para São Paulo. Mais tarde, em 1798, Galvão foi
nomeado guardião do Convento de São Francisco, sendo reeleito em 1801.
Em 1808, Galvão
teria instituído a devoção a Nossa senhora das Botas em Piraí do Sul durante
viagem missionária ao Paraná. Galvão, ao chegar às margens do rio Piraí, teria
decidido passar alguns dias no povoado, se hospedando na casa de Ana Rosa Maria
da Conceição. Antes de ir embora, deixou de presente a ela uma estampa de Nossa
Senhora das Barracas.
Ana Rosa
colocou a lembrança numa moldura de madeira e fazia suas orações diante da
imagem. Ficou viúva, se casou de novo e se mudou de endereço.
Durante a
mudança, a estampa se perdeu. Algum tempo depois, passando por uma região onde
havia ocorrido um incêndio, ela encontrou o quadro entre as cinzas e os brotos
da vegetação. A moldura havia se queimado, mas a imagem estava apenas
chamuscada.
O fato foi
interpretado como um milagre e a notícia se espalhou pelo povoado. Como o povo
já não se lembrava do nome original da imagem, rebatizaram-na de Nossa Senhora
das Brotas e erigiram uma capela em sua homenagem.
Em 1811, fundou
o Convento de Santa Clara em Sorocaba. Onze meses depois, retornou ao Convento
de São Francisco, na cidade de São Paulo. Em sua velhice, obteve permissão do
Bispo Mateus de Abreu Pereira e de seu tutor para ficar no Recolhimento que
ajudara a criar. Veio a falecer naquele local em 23 de dezembro de 1822.
Galvão foi
sepultado na igreja do Recolhimento, sendo o seu túmulo até hoje um destino de
peregrinação de fiéis que teriam obtido favores devido a sua intercessão.
Na época de seu
enterro, sua fama de santo já havia se espalhado por todo Brasil, sendo que os
frequentadores de seu velório, desejosos em guardar uma relíquia sua, foram
cortando pedaços de seu hábito, que ficou reduzido até a altura dos joelhos de
Galvão. Como ele possuía somente aquele hábito, foi sepultado com o de outro
frade, que ficou igualmente curto.
A primeira
lápide do túmulo de Galvão teria tido o mesmo destino de sua batina, sendo
pouco a pouco levada pelos devotos. As pedras da lápide eram colocadas em copos
com água para tratar os enfermos.
Em 1929, o
Convento de Nossa Senhora da Luz tornou-se um mosteiro, sendo incorporado à
Ordem da Imaculada Conceição.
A edificação,
atualmente chamada de Mosteiro da Luz, foi declarada Patrimônio Cultural da
Humanidade pela UNESCO. No local também está localizado o Museu de Arte Sacra
de São Paulo, que abriga um dos mais representativos acervos do patrimônio
sacro brasileiro, originalmente reunido por Duarte Leopoldo e Silva, primeiro
arcebispo de São Paulo.
São comemorados
também neste dia: Santa Úrsula, São Cirilo de Cesaréia (mártir), São Eleutério
de Rocca d’Arce (peregrino), São Geraldo de Mâcon (monge e bispo), Santos
Guilherme, Estevão, Raimundo e companheiros (mártires de Tolosa), São Bernardo
de Novara, Santo Emílio, Santa Margarida de Pole, São Sisínio.
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