A OFERTA DA VIÚVA
Jesus está
vivendo a sua última semana de vida em Jerusalém antes de sua entrega total ao
Pai. Desta feita, depois de sentar-se diante do Templo, encontra uma coisa
positiva – o gesto da viúva pobre que depositou duas das menores moedas da
época no cofre do Templo!
Primeiro, uma
advertência contra a atitude dos líderes religiosos da época (não serviria para
hoje também?): “Tenham cuidado com os
doutores da Lei”.
Segundo:
adverte contra a ânsia de se destacar dos demais por se vestirem bem, da
mordomia que julgam ter direito e de um tratamento diferenciado: “Eles gostam de andar com roupas compridas,
de ser cumprimentados nas praças púbicas, gostam dos primeiros lugares nas
sinagogas, e dos lugares de honra nos banquetes”.
Terceiro:
Jesus adverte contra o anseio de ter prestígio e honras, as falcatruas e as
vantagens que esses líderes religiosos tiravam dos menos favorecidos e o
fingimento que aplicavam para acobertar os seus roubos, transgressões e
falsidades: “No entanto, exploram as
viúvas e roubam suas casas, e para disfarçar fazem longas orações”. E,
quarto, deixa claro qual será o fim de quem assim age: “Por isso eles vão receber uma condenação mais severa.” (Mc
12,35-37). “E Jesus estava sentado diante
do Tesouro do Templo, e olhava a multidão que depositava moedas no
Tesouro. Muitos ricos depositavam muito dinheiro”.
Às vezes, como
aqueles que depositavam grande quantia no Tesouro do Templo, ou pagando
corretamente o seu dízimo, pode-se pensar que quem assim o faz está servindo e
agradando ao Senhor, quando na verdade, apenas estão fazendo um teatro e usando
um palco à vista de todos para colocarem-se em evidência.
Jesus olhava
aquela multidão que acorria ao Templo, principalmente nas festas da Páscoa,
enquanto observava as reações dos discípulos, que se admiravam, arregalando os
olhos e cutucando-se mutuamente quando algum ricaço, ruidosamente, despejava
sua bolsa cheia de moedas, causando um tilintar que trazia alegria aos corações
dos sacerdotes que serviam no templo.
Vai daí que “Então,
chegou uma viuva pobre, e depositou duas pequenas moedas, que valiam uns poucos
centavos”. (Mc 12,41-42).
E Jesus chama seus discípulos e lhes diz que a viúva depositou mais que todos
os outros, apesar de ser apenas “duas
pequenas moedas que valiam uns poucos centavos”, e acrescentou: “porque todos depositaram do que estava
sobrando para eles. Mas a viuva, na sua pobreza depositou tudo o que tinha,
tudo o que possuia para viver”. (Mc 12, 44). Somente Marcos e Lucas (Mc
20,45; Lc 21,1-4) descrevem a atitude de Jesus perante a pobre viúva que deitou
a sua oferta no cofre do Templo de Jerusalém. Jesus chamou a atenção dos
discípulos para que observassem a oferta da pobre viúva.
A viúva só
chamava a atenção pela sua miséria, mas teve o desprendimento de ofertar ao
Senhor, também, toda a sua pobreza. O pouco que ela deu era tudo o que possuía
para viver e, portanto, muito mais dos que depositavam aquilo que lhes sobrava.
Depositar é ofertar, é dar, é doar. A viuva deu
duas insignificantes moedas que valiam poucos centavos o que, diante de Deus
foi uma grande oferta. “Se o dinheiro não for teu servidor, ele será o teu
mestre”, disse Francis Bacon. E Jesus
explica o porque: “porque todos
depositaram do que estava sobrando para eles”.
A viuva deu tudo o que tinha para seu sustento.
Na oferta e na doação existem três princípios
básicos: amor, fé e sacrifício.
Amor quer dizer que ninguém a mandou dar tudo o
que possuia para o seu sustento, e ela deu. Ela ofertou livremente. Era algo
espontâneo, honrando a Deus e sua obra. Demonstrou sua fé, porque a viúva deu
tudo, não ficou com nada, nem para o seu sustento, porque se sentia amparada
pela misericórdia do Senhor. Jesus não demonstrou nenhuma pena pela viúva. Jesus
sabia que a mulher estava acionando um princípio poderoso de Deus para o seu
suprimento: a Fé.
Dar quando se tem muito é fácil. Dar do que sobra
é mais fácil ainda. Mas dar quando se tem necessidade exige fé. Isto significa
confiar mais em Deus do que nas riquezas. É tendo fé que Deus proverá o
sustento da viúva. Na Bíblia o conceito de oferta está ligado à idéia de
sacrifício.
Não devemos ofertar a Deus o que não significa
nada ou não vale nada para nós. Se as nossas contribuições não nos expõem ao
sacrifício, ainda não atingimos o padrão ensinado por Jesus. A viúva estava
disposta a passar privações para que outros não passassem.
Ainda
hoje muita gente está acostumada a obter tudo a peso de ouro e na razão direta
de suas posses materiais, por isso, julga, com o mesmo gabarito, a justiça de
Deus.
Quantos
acreditam que, quando as ofertas forem bastante generosas e todos aplaudirem
tocando trombeta pela suposta generosidade de seus corações, também Deus os
recompensará na vida futura e até na vida presente, como ensinam com muito
interesse muitos seguimentos religiosos que se dizem cristãos: se a tua oferta
for generosa, o teu dízimo for abundante, Deus te recompensará com bens e
riquezas materiais.
Desconhecem
a admoestação de Jesus, de que os que receberem os aplausos na terra por
supostos bens que fazem ou pela generosidade de suas ofertas ou esmolas, já
receberam a sua recompensa: “Vocês gostam
de parecer justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. De
fato, o que é importante para os homens, é detestável para Deus”. (Lc
16,15); “Não pratiquem a justiça de vocês
diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não
terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu. [...] Eu garanto a vocês: eles já receberam a
recompensa”. (Mt 6,1.2a).
Esquecem-se
de que Deus não se deixa levar por aplausos e respeitos humanos.
A
viúva tímida, quase que ocultamente, pois somente Jesus e os seus discípulos
presenciaram o seu gesto, depositou, na arca do tesouro do Templo, a sua
oferenda obscura e insignificante, fruto do seu trabalho e indispensável para o
seu próprio sustento. Jesus considerou a sua oferta superior ao conjunto de
todas as demais dádivas que ali foram colocadas pelos abastados da cidade. A
viúva depositou o que lhe era substancial, ao passo que os outros deram do que
lhes sobrava, e que não lhes faria falta alguma.
A religião
genuína é a que alcança e socorre os necessitados, como disse Tiago em sua
carta: "Religião pura e sem
mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em
aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo" (Tg 1,27).
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