sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A OFERTA DA VIÚVA

A OFERTA DA VIÚVA

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Jesus está vivendo a sua última semana de vida em Jerusalém antes de sua entrega total ao Pai. Desta feita, depois de sentar-se diante do Templo, encontra uma coisa positiva – o gesto da viúva pobre que depositou duas das menores moedas da época no cofre do Templo!
Primeiro, uma advertência contra a atitude dos líderes religiosos da época (não serviria para hoje também?): “Tenham cuidado com os doutores da Lei”.
Segundo: adverte contra a ânsia de se destacar dos demais por se vestirem bem, da mordomia que julgam ter direito e de um tratamento diferenciado: “Eles gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças púbicas, gostam dos primeiros lugares nas sinagogas, e dos lugares de honra nos banquetes”.

Terceiro: Jesus adverte contra o anseio de ter prestígio e honras, as falcatruas e as vantagens que esses líderes religiosos tiravam dos menos favorecidos e o fingimento que aplicavam para acobertar os seus roubos, transgressões e falsidades: “No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas, e para disfarçar fazem longas orações”. E, quarto, deixa claro qual será o fim de quem assim age: “Por isso eles vão receber uma condenação mais severa.” (Mc 12,35-37). “E Jesus estava sentado diante do Tesouro do Templo, e olhava a multidão que depositava moedas no Tesouro. Muitos ricos depositavam muito dinheiro”.
Às vezes, como aqueles que depositavam grande quantia no Tesouro do Templo, ou pagando corretamente o seu dízimo, pode-se pensar que quem assim o faz está servindo e agradando ao Senhor, quando na verdade, apenas estão fazendo um teatro e usando um palco à vista de todos para colocarem-se em evidência.
Jesus olhava aquela multidão que acorria ao Templo, principalmente nas festas da Páscoa, enquanto observava as reações dos discípulos, que se admiravam, arregalando os olhos e cutucando-se mutuamente quando algum ricaço, ruidosamente, despejava sua bolsa cheia de moedas, causando um tilintar que trazia alegria aos corações dos sacerdotes que serviam no templo.
Vai daí que “Então, chegou uma viuva pobre, e depositou duas pequenas moedas, que valiam uns poucos centavos”. (Mc 12,41-42). E Jesus chama seus discípulos e lhes diz que a viúva depositou mais que todos os outros, apesar de ser apenas “duas pequenas moedas que valiam uns poucos centavos”, e acrescentou: “porque todos depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viuva, na sua pobreza depositou tudo o que tinha, tudo o que possuia para viver”. (Mc 12, 44). Somente Marcos e Lucas (Mc 20,45; Lc 21,1-4) descrevem a atitude de Jesus perante a pobre viúva que deitou a sua oferta no cofre do Templo de Jerusalém. Jesus chamou a atenção dos discípulos para que observassem a oferta da pobre viúva.
A viúva só chamava a atenção pela sua miséria, mas teve o desprendimento de ofertar ao Senhor, também, toda a sua pobreza. O pouco que ela deu era tudo o que possuía para viver e, portanto, muito mais dos que depositavam aquilo que lhes sobrava.
Depositar é ofertar, é dar, é doar. A viuva deu duas insignificantes moedas que valiam poucos centavos o que, diante de Deus foi uma grande oferta. “Se o dinheiro não for teu servidor, ele será o teu mestre”, disse Francis Bacon.  E Jesus explica o porque: “porque todos depositaram do que estava sobrando para eles”
A viuva deu tudo o que tinha para seu sustento.
Na oferta e na doação existem três princípios básicos: amor, fé e sacrifício.
Amor quer dizer que ninguém a mandou dar tudo o que possuia para o seu sustento, e ela deu. Ela ofertou livremente. Era algo espontâneo, honrando a Deus e sua obra. Demonstrou sua fé, porque a viúva deu tudo, não ficou com nada, nem para o seu sustento, porque se sentia amparada pela misericórdia do Senhor. Jesus não demonstrou nenhuma pena pela viúva. Jesus sabia que a mulher estava acionando um princípio poderoso de Deus para o seu suprimento: a Fé.
Dar quando se tem muito é fácil. Dar do que sobra é mais fácil ainda. Mas dar quando se tem necessidade exige fé. Isto significa confiar mais em Deus do que nas riquezas. É tendo fé que Deus proverá o sustento da viúva. Na Bíblia o conceito de oferta está ligado à idéia de sacrifício.
Não devemos ofertar a Deus o que não significa nada ou não vale nada para nós. Se as nossas contribuições não nos expõem ao sacrifício, ainda não atingimos o padrão ensinado por Jesus. A viúva estava disposta a passar privações para que outros não passassem.
Ainda hoje muita gente está acostumada a obter tudo a peso de ouro e na razão direta de suas posses materiais, por isso, julga, com o mesmo gabarito, a justiça de Deus.
Quantos acreditam que, quando as ofertas forem bastante generosas e todos aplaudirem tocando trombeta pela suposta generosidade de seus corações, também Deus os recompensará na vida futura e até na vida presente, como ensinam com muito interesse muitos seguimentos religiosos que se dizem cristãos: se a tua oferta for generosa, o teu dízimo for abundante, Deus te recompensará com bens e riquezas materiais.
Desconhecem a admoestação de Jesus, de que os que receberem os aplausos na terra por supostos bens que fazem ou pela generosidade de suas ofertas ou esmolas, já receberam a sua recompensa: “Vocês gostam de parecer justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. De fato, o que é importante para os homens, é detestável para Deus”. (Lc 16,15); “Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu. [...] Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa”. (Mt 6,1.2a).
Esquecem-se de que Deus não se deixa levar por aplausos e respeitos humanos.
A viúva tímida, quase que ocultamente, pois somente Jesus e os seus discípulos presenciaram o seu gesto, depositou, na arca do tesouro do Templo, a sua oferenda obscura e insignificante, fruto do seu trabalho e indispensável para o seu próprio sustento. Jesus considerou a sua oferta superior ao conjunto de todas as demais dádivas que ali foram colocadas pelos abastados da cidade. A viúva depositou o que lhe era substancial, ao passo que os outros deram do que lhes sobrava, e que não lhes faria falta alguma.
A religião genuína é a que alcança e socorre os necessitados, como disse Tiago em sua carta: "Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo" (Tg 1,27). 

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