FESTA DE TODOS OS SANTOS
Cor: branco – Leituras: Apo
7,2-4.9-14; Sl 23 (24); 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a.
“FELIZES OS
PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO A DEUS” (Mt 5,8).
Diácono Milton Restivo
O dia de Todos
os Santos, antigamente, era comemorado festivamente no primeiro dia de novembro,
que era feriado, mas, como deixou de ser feriado, a Igreja transfere esta
comemoração litúrgica para o primeiro domingo do mês de novembro. E o dia de
Todos os Santos, como sugere a comemoração, é dedicado a todos os santos existentes:
aos santos que conhecemos e aos santos que não conhecemos; aos santos que
sabemos o nome e a sua história, e aos santos que não sabemos o nome nem a
história de sua vida e que jamais ouvimos falar. A festa de todos os santos é
uma das comemorações mais importante da Igreja e do calendário litúrgico, é a
festa da família da Igreja.
A fé nos
apresenta os santos todos como nossos irmãos, pessoas que foram como nós, com
os nossos anseios, problemas, alegrias e sofrimentos, que viveram em épocas e
lugares diferentes ou situações idênticas ou contrárias às nossas.
A fé nos
apresenta os santos como membros da mesma família, da família a qual todos pertencemos:
a família do Pai Nosso. Como membros dessa família devemos nos encher de
alegria e congratularmos-nos com os nossos irmãos que viveram intensamente na
fé e que nos anteciparam na casa do Pai, que venceram o mundo e se acham,
agora, num lugar onde não há mais lágrimas, sofrimento, desilusões, tristeza ou
dor. Através de suas vidas e exemplos de fé os santos nos transmitem que é
possível levar a sério a mensagem evangélica.
Santos são
todos os que gozam da presença beatífica do Pai, canonizados pela Igreja ou
não. São os nossos irmãos e irmãs que chegaram antes que nós na casa do Pai.
A liturgia
busca no livro do Apocalipse a primeira leitura que declara o número dos
assinalados que permanecerão à frente do cordeiro: “E ouvi o número dos
assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil assinalados, de todas as
tribos dos filhos de Israel”. (Apo 7,4).
O número dos
assinalados que farão parte da morada celeste é infinito. E somente os
assinalados poderão louvar o Cordeiro: “...
e olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e
quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai. E
ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um grande
trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas. E cantavam
um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos;
e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil
que foram comprados da terra”. (Apo 14,1-3).
Cento e
quarenta e quatro mil aqui não quer dizer um número exato, mas infinito.
Se buscarmos
significados a respeito disso, encontraremos muitos e todas as explicações
favorecem o seguimento religioso dos que a dão. Sem entrar em comentários
profundos, alguns dizem que se trata do número 12 que representa as 12 tribos
de Israel no Antigo Testamento, multiplicado pelo número dos apóstolos, também 12.
O resultado será 144 que multiplicado por 1000, número que indica multidões e o
infinito, soma 144.000. Subentende-se, então, que os eleitos, os assinalados,
são os santos do Antigo e do Novo Testamento que formam a multidão de adoradores
do Cordeiro. É um povo incontável, porque a salvação está aberta para todos os
homens de todas as raças, tribos, nações e línguas.
O número 144.000 é mencionado três vezes no livro do
Apocalipse: “Ouvi então o número dos
que receberam a marca: cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos do povo
de Israel”. (Apo 7,4); “Depois
disso, tive esta visão: o Cordeiro estava de pé sobre o monte Sião. Com ele os
cento e quarenta e quatro mil que traziam a fronte marcada com o nome dele e o
nome do seu Pai [...] Estavam diante do trono, dos quatro Seres vivos e
dos Anciãos e cantavam um cântico novo. Era um cântico que ninguém podia
aprender; são os cento e quarenta e quatro mil marcados que foram resgatados da
terra”. (Apo 14,1.3).
Os santos são
aqueles que fazem ou farão parte da visão beatífica de Deus, tendo sido já
prenunciado por Jesus quando ele falava do fim dos tempos e chamaria para junto
de si os que assumiram com responsabilidade as promessas do batismo: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória,
acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos
os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros,
assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua
direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua
direita: ‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o
Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com
fome e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era
estrangeiro e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu
estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me
visitar’.” (Mt 25,31-36).
Os que agiam e
agem assim nem mesmo têm consciência do bem que praticariam porque, fazendo o
bem, eram instrumentos nas mãos de Deus, e por isso perguntariam a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e
te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando que te vimos como estrangeiro
e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos
doente ou preso e te fomos visitar?” (Mt 25,37-39).
Quem faz o bem
com sinceridade, não está preocupado com a recíproca e nem com as vantagens que
esse bem possa lhe proporcionar; faz o bem porque cumpre o mandamento de Jesus:
“Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu
coração, com toda a sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o
primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a
si mesmo”. (Mt 22,37-39); “Não existe
outro mandamento maior do que esses”. (Mc 12,31b).
Na verdade, quem
ama a Deus sobre todas as coisas, ama ao irmão como a si próprio, e é esse o
exemplo que os santos nos dão e, quem na vida procura servir a Deus, se julga
servo inútil porque, por mais que faça, jamais dará a Deus o amor que ele
merece e, por isso, se reconhecem servos inúteis: “Assim também você: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem
fazer, digam: ‘Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. (Lc
17,10).
A partir daí os
santos entendem que tudo o que fizeram de bem não foi por iniciativa própria,
mas eles apenas serviram de instrumentos hábeis nas mãos de Deus para atender
as necessidades do irmão, como disse Francisco de Assis: “Senhor, faze de mim um instrumento de tua paz...”
Os santos são
aqueles que foram colocados à direita do Rei e que receberão o prêmio da vida
eterna e viverão em comunhão plena no Reino do Céu, e esses são os que “ficam diante do trono de Deus, servindo a
ele dia e noite em seu Templo. Aquele
que está sentado no trono estenderá sua tenda sobre eles. Nunca mais terão
fome, nem sede; nunca mais serão queimados pelo sol, nem pelo calor ardente.
Pois o Cordeiro que está no meio do trono será o pastor deles; vai conduzi-los
até às fontes de água da vida. E Deus lhes enxugará todas as lágrimas”. (Apo 7,15-17). “Aquele que atesta essas coisas diz: ‘Sim! Venho muito em breve.’ Amém ! Vem,
Senhor Jesus! A graça do Senhor esteja com todos. Amém!” (Apo 22,20-21).
O salmista, no Salmo responsorial 23 (22), diz que
“Yahweh é meu pastor. Nada me falta”,
e esse Salmo é um dos Salmos mais bonitos e mais recitados da Bíblia. É
atribuído ao rei Davi e, conforme a tradição judaica, David teria escrito este
Salmo quando estava cercado por tropas inimigas num oásis, à noite; daí o Salmo
inserir tamanha confiança na Providência Divina contra os inimigos. Claro que
há outras interpretações que defendem que esse Salmo tenha sido feito de outra
maneira e em outro lugar mas, particularmente, prefiro ficar com a tradição
judaica.
O rei Davi se deleita ao entregar-se aos
cuidados de Yahweh, a quem chama de Pastor: “Yahweh é o meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz
repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças”. (Sl 23 (22),1-2).
O pastor passava o dia todo com as suas
ovelhas e estabelecia com elas uma profunda identidade. No Salmo 80 (79) o
salmista, em suas súplicas, também chama Yahweh de pastor: “Pastor de Israel, dá ouvidos, tu que diriges a José como a um
rebanho...”. (Sl 80 (79),1).
O profeta Isaias demonstra
o amor que Yahweh tem por seu rebanho: “Como um pastor, Ele cuida do rebanho, e com seu braço o reúne; leva os
cordeirinhos ao colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam”. (Is 40,11).
Os reis de Israel eram considerados, por
Yahweh, pastores do seu povo: “Darei
a vocês pastores de acordo com o meu coração, e eles guiarão vocês com ciência
e sensatez”. (Jr 3,15).
O profeta Ezequiel narra a
mensagem recebida de Yahweh que se identifica como pastor: “Recebi
de Yahweh a seguinte mensagem [...] Minhas
ovelhas se espalharam e vagaram sem rumo pelos montes e morros. Minhas ovelhas
se espalharam por toda a terra, e ninguém as procura para cuidar delas. [...] Eu
mesmo vou procurar as minhas ovelhas. Como o pastor conta o seu rebanho, que
está no meio de suas ovelhas que se
haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. [...] Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e o seu curral
ficará no mais alto dos montes de Israel. Ai elas poderão repousar num curral
bom, e terão pastos abundantes sobre os montes de Israel. Eu mesmo conduzirei
as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar.”. (Ez 34,1.6.11-12.14-15).
No Novo Testamento Jesus se diz “o bom pastor”: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida
por suas ovelhas.[...] Eu sou o bom
pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece
e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas”. (Jo 10,11.14-15).
O Salmista é minucioso quando se refere a tarefa
do pastor, mesmo porque o agora rei Davi, quando foi escolhido para ser rei de
Israel, era um pastor (cf 1Sm 16,1-13), e conhecia toda a malícia do pastoreio
e sabia onde levar suas ovelhas para que elas se alimentassem bem e Yahweh,
melhor do que Davi, sabia disso tudo: “Em
verdes pastagens me faz repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura
minhas forças. Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome”. (Sl
23 (22),2-3). Fontes tranquilas eram
pequenas lagoas onde as ovelhas bebiam água. Óleo era usado para tratar os ferimentos do próprio pastor e das
ovelhas.
As ovelhas necessitavam de total segurança contra
predadores e riscos de acidentes: “Embora
eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás;
teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo”. (Sl 23 (22),4). Por isso, o
salmista coloca, nas mãos de Yahweh, o pastor do Salmo, vários instrumentos
próprios do pastor da época: bastão ou
vara que era a arma utilizada para afugentar animais selvagens e predadores que
atacavam as ovelhas, e o cajado, que era uma vara com uma curvatura na ponta
superior para puchar as ovelhas pelas pernas, barriga ou pescoço quando estas
se prendiam entre pedras, espinhos ou ramagens ou para resgatá-las de buracos
que tivessem caido. O cajado hoje, na Igreja chamado de báculo, é utilizado em
várias cerimônias litúrgicas pelos bispos, sucessores dos apóstolos, simbolizando
o seu papel de pastores do rebanho
divino. A preocupação do
pastor diligente era conduzir as suas ovelhas para verdes pastagens e onde
houvesse por perto água fresca: “Em
verdes pastagens me faz; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas
forças.” (Sl 23 (22),2). “... unges
minha cabeça com óleo...” (Sl 23 (22),5b).
O derramamento
de óleo sobre a cabeça de um homem indicava que este homem havia sido escolhido
e separado para uma determinada tarefa a serviço do Senhor. Quando uma pessoa era ungida era com o objetivo de
designar o ungido para uma tarefa específica. Davi foi ungido como rei
de Israel pelo profeta Samuel a mando de Yahweh: “E Yahweh disse: ‘Levante-se e unja o rapaz, porque é esse’. Samuel
pegou a vasilha de óleo e ungiu o rapaz na presença dos irmãos. Desse dia em
diante, o espírito de Yahweh permaneceu sobre Davi”. (1Sm 16,12b-13).
No Antigo
Testamento eram ungidos os sacerdotes e reis. Os profetas eram considerados
também ungidos de Deus. Jesus é o Ungido por excelência para restaurar na terra
o Reino dos Céus: “O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque ele me ungiu com a unção, para anunciar a Boa Notícia
aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a
recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de
graça do Senhor”. (Lc 4,18-19; Is 61,1-2). Depois de Jesus Cristo todos
somos ungidos com óleo na cabeça, nos tornando reis, sacerdotes e profetas: no
batismo, com o óleo do crisma e no próprio sacramento do Crisma somos ungidos
com óleo na cabeça pelo próprio pastor que conduz o povo de Deus: o bispo.
A segunda leitura é tirada da primeira carta de
João e fala sobre a nossa filiação divina e como devemos viver como filhos de
Deus: “Vejam que prova de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus. E
nós de fato o somos”. (1Jo
3,1).
João antevê a vivência
na glória do Pai que desconhecemos agora e que um dia o veremos realmente como
ele é, quando estivermos reunidos com todos os seus santos e, para isso,
precisamos romper com o pecado: “Amados,
desde agora jà somos filhos de Deus, embora ainda não se tenha tornado claro o
que vamos ser. Sabemos que quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a
ele, porque nós o veremos como ele é. Todo aquele que deposita essa esperança
em Jesus se purifica, para ser puro como Jesus é puro.”. (1Jo 3,2-3).
No Evangelho Jesus expõe
as bem-aventuranças que é a
cartilha para os que querem se enquadrar nos seus ensinamentos para poder
partilhar com ele da glória do Pai, o que foi aceito e seguido por todos os
santos que gozam da visão beatífica de Deus: “Jesus viu as multidões, subiu à montanha e
sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiá-los: ‘Felizes
os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os aflitos,
porque serão consolados. Felizes os mansos, porque possuirão a terra. Felizes
os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os que são
misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados
filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se
disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e
contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo
perseguiram os prefetas que vieram antes de vocês” ( Mt 5,1-12).
No Antigo Testamento Yahweh ordenou a
Moises para que ele transmitisse ao povo: “Sejam
santos, porque eu, Yahweh, o Deus de vocês, sou santo.” (Lv 19,2), e Pedro,
na sua primeira carta, repete isso: “Porque
a Escritura diz: ‘sejam santos porque eu sou santo’”. (1Pd 1,16).
Ser santo não é
privilégio de ninguém; ser santo é a obrigação de todos os cristãos.
No batismo o
cristão recebe a vocação da santidade e da perfeição, e é por isso que Jesus determina: “Sejam perfeitos como é perfeito o Pai de
vocês que está no céu”. (Mt 5,48). Se quizermos partilhar da alegria, do
amor, da felicidade dos santos na casa do Pai, precisamos santificar a nossa
vida, levando a sério a recomendação de Yahweh ao seu povo: “Quanto a vocês, santifiquem-se e sejam
santos, porque eu sou Yahweh, o Deus de vocês”. (Lv 20,7)..
Para coroar a
nossa meditação de hoje da festividade de Todos os Santos, nada melhor do que
citar alguns trechos do livro “Oração para viver e morrer” de Caio Fábio:
“Ser
santo é buscar ser essencialmente humano, ser parte da história, porém
vivendo a presença de Deus no mundo (Lc 7,39). Ser santo tem relação com
a busca de uma sociedade sem desigualdades e onde os mais fracos jamais sejam
despojados (Mt 23,14). Ser santo é viver a alegria do
conhecimento de Deus com oração e fé e é sofrer as angústias da história como
resultado de nossos vínculos com um padrão que o mundo não conhece (Mt 11,25-27;
5,11-12)”.
“Ser
santo é ser separado, não dos pagãos, como Israel equivocadamente tentou,
mas é viver a diferença radical dos valores do Reino em meio às sociedades
pagãs (Mt 5,43-48).
Ser
santo é ter na paixão dos
profetas a motivação existencial para o nosso enfrentamento histórico do mal (Lc
13,33). Ser santo é, mesmo em dia de sábado, trabalhar a favor da santidade
de vida (Lc 14,1-6). Ser santo é colocar o valor da vida
acima do valor das coisas, mesmo aquelas mais "sagradas" (Mt 23,23). Ser
santo é entender que o altar diante do qual Deus nos quer ver prostrados
não é apenas o altar do templo, mas também os altares ensanguentados dos corpos
dos nossos irmãos de história e que estão caídos nas esquinas da vida (Lc
10,25-37)”.
“Ser
santo é viver a misericórdia no agitado ambiente secular, ao invés de viver
a quietude alienada do ambiente religioso que não tem janelas para a história
da dor humana (Mt 9,9-13).
Ser
santo é acreditar que a santidade
não se polui quando toca com amor aquilo que é sujo (Mt 8,1-4; Mc 7,1-23). Ser
santo é não temer ser mal interpretado pela mente daqueles que estão sujos
de pretensa santidade. (Mc 7,5; Lc 7,39). Para Jesus ser santo é ser verdadeiro para com a nossa condição
humana: é ter a coragem de chorar em público (Jo 11,35), de admitir perdas e saudade (Jo 11,36), de gritar de dor (Mt 27,50), de confessar depressão (Mt 26,38), de pedir ajuda emocional (Mc 27,50), de se
confessar cansado (Jo 4,6), de dizer tenho sede (Jo 19.28), de confessar
dificuldades familiares (Mc 3,21; Jo. 7,1-9), de admitir que a privacidade é um direito e uma necessidade de
sobrevivência (Mc 6,30-32.45.46)”.
“Ser
santo é admitir que o amor pode ser exercido na perspectiva da disciplina
física (Mc 11,15-19) e que o
"desabafo" é um sadio escape quando se está farto de estupidez (Lc
11,31-32).
Ser
santo é continuar sendo de Deus
mesmo em meio ao mais profundo e inexplicável silêncio divino (Mt 27,46)”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário