sexta-feira, 22 de novembro de 2019

“PERDOAR NÃO SETE, MAS SETENTA VEZES SETE..." (Mt 18,22).

“PERDOAR NÃO SETE, MAS SETENTA VEZES SETE..." (Mt 18,22).   

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Havia, entre os judeus do tempo de Jesus, um conceito de que o ofendido deveria perdoar o ofensor no máximo até sete vezes, talvez apoiados numa passagem do Antigo Testamento que diz:  “É que Caim é vingado sete vezes, mas Lamec, setenta e sete vezes.” (Gn 4,24).
Talvez, apoiado nesse conceito, Pedro aproxima-se de Jesus e pergunta-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes? (Mt 18,21). Jesus, na sua sabedoria infinita, talvez tenha achado graça da inocência e singeleza de Pedro no que diz respeito cumprir a lei escrita e, como sempre fez, não perde a oportunidade de evangelizar e demonstrar que a misericórdia de Deus é infinita vez maior que qualquer conceito humano no que diz respeito ao perdão, e responde: “Não te digo até sete vezes mas até setenta vezes sete.” (Mt 18,22).

Se conhecemos bem o modo de proceder dos judeus contemporâneos de Jesus, vemos que era comum entre eles a limitação das coisas.
Eles imaginavam que, fazendo a coisa por um determinado tempo ou algumas vezes e, se alcançassem resultado satisfatório ou não, poderiam desistir, sem remorsos e sem incorrerem no risco de, por isso, cometerem algum erro ou pecado. Até então, para o perdão havia uma limitação; até sete vezes alguém poderia ser perdoado. Cada um, assim julgavam eles, poderia perdoar, no máximo, até sete vezes quando alguém o ofendia.
Pedro não perde a oportunidade de consultar o Mestre sobre a validade desse preceito dos judeus. Mas o Senhor Jesus não fica apenas no “setenta vezes sete”, e complementa; “Se teu irmão pecar, repreende-o e se ele se arrepender, perdoa-lhe. E caso ele pecar contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar, dizendo: Estou arrependido, tu lhe perdoarás.” (Lc 17,3-4).
Os números nas Sagradas Escrituras não têm um sentido matemático, mas simbólico.
O número sete expressa a realização completa de uma coisa; significa evocar a presença divina como testemunha, ou seja, segundo a doutrina de Jesus Cristo, não deve haver limitações de quantas vezes devemos perdoar, principalmente quando o irmão nos procura arrependido e pedindo perdão de alguma falha contra nós. Quantas vezes devemos perdoar o irmão que peca contra nós? Os judeus diziam “sete vezes”. E Jesus estende esse número ao infinito: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mt 18,22), isto é sempre... sempre... sempre...
E nós, quantas vezes perdoamos? Não chegamos perdoar duas ou três vezes, quanto mais sete... Quando alguém age conosco da maneira que não gostamos ou que atinge a nossa sensibilidade, simplesmente nos separamos dessa pessoa, a deixamos de lado, a ignoramos, a isolamos e dificilmente perdoamos o que ela, talvez num momento difícil  de sua vida, ou psicologicamente abatida, tenha feito e nos ofendido.
Ou, se a perdoarmos, e ela tornar cometer qualquer outra falta contra nós, de imediato fazemos o nosso julgamento e damos o nosso veredicto: “eu já a perdoei uma vez, não a perdôo mais...”. Pelo menos nesse ponto os judeus eram mais generosos que nós; os preceitos religiosos deles diziam para perdoar até sete vezes e nós, dificilmente, perdoamos por duas vezes a mesma pessoa. Que falta de generosidade; que falta de cristianismo. Pedro pergunta ao Mestre: “Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18,21).
Jesus, com toda a sua misericórdia, compreensão e reconhecendo a fragilidade humana, deixa claro que a caridade e o amor está acima de qualquer ofensa, e responde: “Não te digo até sete vezes mas setenta vezes sete.” (Mt 18,22), isto é, infinitamente, perdoar sempre, sem ter a preocupação de contar quantas vezes se está perdoando.
Sempre que alguém precisar do nosso perdão, não podemos negá-lo. Sempre que alguém pedir o nosso perdão, não podemos deixar de dá-lo sob pena de não sermos perdoados pelo nosso Pai que está nos céus porque, na oração do Pai Nosso que nos foi ensinada por Jesus, repetimos: “Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12), e complementa: “Porque se vós perdoardes os homens as suas ofensas, também vosso Pai Celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes os homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados.” (Mt 6,14-15).
No livro do Eclesiástico temos essa maravilhosa mensagem que nos ensina como devemos perdoar o irmão para obter o perdão de Deus: “O rancor e a cólera, também esses são abomináveis, o pecador os possui.” (Eclo 27,30). Aquele que se vinga, encontrará a vingança do Senhor que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa ao teu próximo a injustiça, e então, ao rezares, ser-te-ão perdoados os teus pecados. Um homem guarda rancor contra outro: e pede perdão a Deus? Para com o seu semelhante não tem misericórdia, e pede perdão de seus pecados? Ele que é só carne, guarda rancor: quem lhe obterá perdão dos seus pecados? Lembra-te do fim e deixa o ódio, da corrupção e da morte, e observa os mandamentos. Lembra-te dos mandamentos  e não tenhas ressentimento do próximo; da aliança do Altíssimo, e não consideres a ofensa. Fica longe das discussões e evitarás o pecado, porque o homem colérico atiça a discussão. O homem pecador perturba os amigos, entre os que vivem em paz, lança a desavença, o fogo eleva a chama conforme o combustível, a discussão aumenta conforme a teimosia...” (Eclo 28,1-10). 

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