“PERDOAR NÃO SETE, MAS SETENTA VEZES SETE..." (Mt 18,22).
Havia, entre os
judeus do tempo de Jesus, um conceito de que o ofendido deveria perdoar o
ofensor no máximo até sete vezes, talvez apoiados numa passagem do Antigo
Testamento que diz: “É que Caim é vingado sete vezes, mas Lamec,
setenta e sete vezes.” (Gn 4,24).
Talvez, apoiado
nesse conceito, Pedro aproxima-se de Jesus e pergunta-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim?
Até sete vezes? (Mt 18,21). Jesus, na sua sabedoria infinita, talvez tenha
achado graça da inocência e singeleza de Pedro no que diz respeito cumprir a
lei escrita e, como sempre fez, não perde a oportunidade de evangelizar e
demonstrar que a misericórdia de Deus é infinita vez maior que qualquer
conceito humano no que diz respeito ao perdão, e responde: “Não te digo até sete vezes mas até setenta vezes sete.” (Mt 18,22).
Se conhecemos
bem o modo de proceder dos judeus contemporâneos de Jesus, vemos que era comum
entre eles a limitação das coisas.
Eles imaginavam
que, fazendo a coisa por um determinado tempo ou algumas vezes e, se
alcançassem resultado satisfatório ou não, poderiam desistir, sem remorsos e
sem incorrerem no risco de, por isso, cometerem algum erro ou pecado. Até
então, para o perdão havia uma limitação; até sete vezes alguém poderia ser
perdoado. Cada um, assim julgavam eles, poderia perdoar, no máximo, até sete
vezes quando alguém o ofendia.
Pedro não perde
a oportunidade de consultar o Mestre sobre a validade desse preceito dos
judeus. Mas o Senhor Jesus não fica apenas no “setenta vezes sete”, e complementa; “Se teu irmão pecar, repreende-o e se ele se arrepender, perdoa-lhe. E
caso ele pecar contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar, dizendo:
Estou arrependido, tu lhe perdoarás.” (Lc 17,3-4).
Os números nas
Sagradas Escrituras não têm um sentido matemático, mas simbólico.
O número sete
expressa a realização completa de uma coisa; significa evocar a presença divina
como testemunha, ou seja, segundo a doutrina de Jesus Cristo, não deve haver
limitações de quantas vezes devemos perdoar, principalmente quando o irmão nos
procura arrependido e pedindo perdão de alguma falha contra nós. Quantas vezes
devemos perdoar o irmão que peca contra nós? Os judeus diziam “sete vezes”. E Jesus estende esse
número ao infinito: “Não te digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mt 18,22), isto é sempre... sempre...
sempre...
E nós, quantas
vezes perdoamos? Não chegamos perdoar duas ou três vezes, quanto mais sete... Quando
alguém age conosco da maneira que não gostamos ou que atinge a nossa
sensibilidade, simplesmente nos separamos dessa pessoa, a deixamos de lado, a
ignoramos, a isolamos e dificilmente perdoamos o que ela, talvez num momento
difícil de sua vida, ou psicologicamente
abatida, tenha feito e nos ofendido.
Ou, se a
perdoarmos, e ela tornar cometer qualquer outra falta contra nós, de imediato
fazemos o nosso julgamento e damos o nosso veredicto: “eu já a perdoei uma vez, não a perdôo mais...”. Pelo menos nesse
ponto os judeus eram mais generosos que nós; os preceitos religiosos deles
diziam para perdoar até sete vezes e nós, dificilmente, perdoamos por duas
vezes a mesma pessoa. Que falta de generosidade; que falta de cristianismo. Pedro
pergunta ao Mestre: “Senhor, quantas
vezes devo perdoar o meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt
18,21).
Jesus, com toda
a sua misericórdia, compreensão e reconhecendo a fragilidade humana, deixa
claro que a caridade e o amor está acima de qualquer ofensa, e responde: “Não te digo até sete vezes mas setenta
vezes sete.” (Mt 18,22), isto é, infinitamente, perdoar sempre, sem ter a
preocupação de contar quantas vezes se está perdoando.
Sempre que
alguém precisar do nosso perdão, não podemos negá-lo. Sempre que alguém pedir o
nosso perdão, não podemos deixar de dá-lo sob pena de não sermos perdoados pelo
nosso Pai que está nos céus porque, na oração do Pai Nosso que nos foi ensinada
por Jesus, repetimos: “Perdoa as nossas
ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” (Mt 6,12), e
complementa: “Porque se vós perdoardes os
homens as suas ofensas, também vosso Pai Celeste vos perdoará. Mas se não
perdoardes os homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados.”
(Mt 6,14-15).
No livro do
Eclesiástico temos essa maravilhosa mensagem que nos ensina como devemos
perdoar o irmão para obter o perdão de Deus: “O rancor e a cólera, também esses são abomináveis, o pecador os
possui.” (Eclo 27,30). Aquele que se
vinga, encontrará a vingança do Senhor que pedirá minuciosa conta de seus
pecados. Perdoa ao teu próximo a injustiça, e então, ao rezares, ser-te-ão
perdoados os teus pecados. Um homem guarda rancor contra outro: e pede perdão a
Deus? Para com o seu semelhante não tem misericórdia, e pede perdão de seus
pecados? Ele que é só carne, guarda rancor: quem lhe obterá perdão dos seus
pecados? Lembra-te do fim e deixa o ódio, da corrupção e da morte, e observa os
mandamentos. Lembra-te dos mandamentos e
não tenhas ressentimento do próximo; da aliança do Altíssimo, e não consideres
a ofensa. Fica longe das discussões e evitarás o pecado, porque o homem
colérico atiça a discussão. O homem pecador perturba os amigos, entre os que
vivem em paz, lança a desavença, o fogo eleva a chama conforme o combustível, a
discussão aumenta conforme a teimosia...” (Eclo 28,1-10).
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