NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO.
Ano: C; Cor: branco; Leituras: 2Sm 5,1-3; Sl 121 (122); Cl 1,12-20; Lc
23,35-43.
“SE ÉS O REI DOS JUDEUS, SALVA-TE A TI MESMO”. (Lc 23,37).
Diácono
Milton Restivo
Chegamos ao
último domingo do Tempo Comum e que também é o último domingo do Ano Litúrgico
“C”, onde lemos e meditamos todo o Evangelho escrito por Lucas.
No próximo
domingo, dia 01 de dezembro, começaremos o Tempo do Advento, que é o período
onde nos prepararemos para o Natal do Senhor e também será o primeiro dia do
novo Ano Litúrgico, desta feita o ano “A”, que voltar-se-á para o Evangelho
escrito por Mateus.
Como vimos nas
nossas meditações anteriores, a partir do Evangelho de Lucas 9,51, Jesus “tomou a firme decisão de partir para
Jerusalém”, porque “estava chegando o
tempo de Jesus ser levado para o céu”. Finalmente, para Jesus, chegou o
momento para justificar o porque “a
Palavra se fez homem e veio habitar entre nós” (Jo 1,14a) e realizar o
término de sua jornada para Jerusalém e entre os homens.
Neste último
domingo do Ano Litúrgico a Igreja convida a todos os fiéis a concentrar a mente
e o coração no fundamento da nossa fé: Jesus Cristo, o Senhor, e “para que, ao nome de Jesus, se dobre todo
joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo
é o Senhor para a glória de Deus Pai”. (Fl 2,10-11).
A Igreja
convida-nos a confessar a Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo, o centro da
história, a esperança da humanidade que inaugurou o Reino de Deus entre os
homens.
Jesus é Rei,
não como entendem os homens: sentado num trono magnífico, ricamente ornamentado
de ouro e pedras preciosas, à moda dos reis humanos.
Durante o
anúncio do Reino, Jesus mostra-nos o que este Reino significa para nós como salvação,
revelação e reconciliação diante da mentira mortal do pecado que existe no
mundo.
Jesus responde
a Pilatos quando este lhe pergunta se na verdade ele é o Rei dos judeus: “Tu és o rei dos judeus’? Jesus respondeu:
‘Você diz isso por si mesmo ou foram outros que lhe disseram isso a meu
respeito? [...] O meu reino não é
deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para
que eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas agora o meu reino não
é daqui” (Jo 18,33-34.36).
Jesus identifica-se
não como rei de um mundo de medo, de mentira e de pecado.
Jesus é o Rei
do Reino que suplanta todo e qualquer reinado deste mundo; Jesus é Rei do Reino
de Deus que ele veio anunciar e trazer para todos nós: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e
acreditem na Boa Notícia”. (Mc 1,14-15; Mt 3,2).
Para Jesus esse
Reino não é um privilégio nacional dos judeus.
Os judeus são
os “filhos do reino” apenas porque foram chamados primeiro e não porque a posse
do Reino já lhes esteja assegurada, e é a eles a quem Jesus ameaça dizendo que,
por causa de sua incredulidade serão excluídos do Reino: “Enquanto os herdeiros do Reino serão jogados nas trevas exteriores
onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8,12).
Jesus é Rei de
um Reino que veio para todos, mas, infelizmente, muitos não querem ser súditos
deste Reino e procuram impedir que outros o sejam e, para esses, Jesus não
poupa condenação: “Ai de vocês, doutores
da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem
vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. [...] Serpentes, raça de cobras venenosas. Como é
que vocês poderiam escapar da condenação do inferno?” (Mt 23,13.33).
Os Evangelhos demonstram
que Jesus começa o seu Reino com a entrega da própria vida, quando Pilatos lhe
perguntou: “Então, tu és rei?”
respondendo diante de Pilatos e de todos os seus sectários: “Você está dizendo que eu sou rei. Eu nasci
e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a
verdade ouve a minha voz”. (Jo 18,37).
Jesus confirma
que é Rei, porém, sua realeza nada tem a ver com a dos poderosos deste mundo
que exploram e oprimem o povo, vangloriando-se e tirando proveito da submissão
de seus súditos. Jesus é o rei que dá a vida: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10),
trazendo aos homens o verdadeiro conhecimento do verdadeiro Deus e do
verdadeiro homem.
O reino de
Jesus é o reino da verdade, onde a exploração dá lugar à partilha e a opressão
dá lugar à fraternidade. Jesus é um Rei, mas Rei de um Reino da verdade, da
justiça, do amor e da misericórdia. Todo aquele que está com a verdade ouve a
sua voz, o segue: “Eu sou o bom pastor:
conheço minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu
conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas. Tenho também outras ovelhas que não
são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e
haverá um só rebanho e um só pastor”. (Jo 10,14-16). Mas, infelizmente,
muitos perguntam, como perguntou Pilatos: “O
que é a verdade?” (Jo 18,38) e, como Pilatos, viram as costas e não esperam
a resposta.
A afirmação do
reinado de Jesus está também, presente na sua cruz com a inscrição que, mesmo
contestada pelos judeus, foi pregada como uma das razões de sua crucifixão: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”. (Jo
19,19).
No julgamento
de Jesus, para a sua condenação, pesou muito o título “Rei dos judeus” que,
aliás, Jesus nunca dissera que fosse e nunca negou que seria e, a título de
chacota, jogaram-lhe sobre os ombros um manto escarlate, símbolo da realeza,
como cetro, colocaram-lhe nas mãos um pedaço de cana, como saudações, escarraram-lhe
no rosto, dando-lhe bofetadas, como símbolo real, colocaram-lhe na cabeça uma
coroa, não de ouro, mas de espinhos agudos e, como carícias, flagelamento: “Então Pilatos pegou Jesus e o mandou
flagelar. Os soldados trançaram uma coroa de espinhos e a colocaram na cabeça
de Jesus. Vestiram Jesus com um manto vermelho. Aproximaram-se dele e diziam:
‘Salve, rei dos judeus!” E lhes davam bofetadas”. (Jo 19,13); “Vestiram Jesus com um manto vermelho, teceram
uma coroa de espinhos e lha puseram na cabeça. Depois começaram a
cumprimentá-lo: ‘Salve rei dos judeus’! E batiam-lhe na cabeça com uma vara.
Cuspiam nele e, dobrando os joelhos, prestavam-lhe homenagem”. (Mc
15,17-20).
Jesus reina na
cruz e da cruz! A sua realeza se manifesta na vida dada como cordeiro imolado
para a salvação de todos para que nos corações das pessoas Jesus reine e
concretize assim a salvação que ele veio nos trazer.
Durante toda a
sua pregação Jesus deixou transparente que ele é Rei daqueles a quem ele dirá
ao recebê-los no seu Reino: “Venham vocês
que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes
preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram de
comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro e me
receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram, eu estava doente, e
cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar. [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês
fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt
25,34-36.40).
Em
contrapartida dirá àqueles que ignoraram o Rei na pessoa dos irmãos
necessitados e oprimidos: “Afastem-se de
mim, malditos, Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.
Porque eu estava com fome... com sede... era estrangeiro... estava sem roupa...
estava na prisão... e vocês não se preocuparam comigo. [...] Eu garanto a vocês:
todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que
não o fizeram” (Mt 25,41-43.45).
Jesus é o Rei
que se identifica com o pobre, com o oprimido, com o marginalizado por uma
sociedade baseada na riqueza e no poder. Jesus é um Rei que se preocupa com a
justiça em favor da libertação do pobre e oprimido. E a condição para
participar da vida do Reino é o que Jesus colocou acima.
Mas, reconhecer
Jesus apenas externamente como Rei, não dá acesso a ninguém ao Reino, mesmo se
alguém profetizou e fez milagres em seu nome e não cumpriu a vontade do Pai: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor,
Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a
vontade do meu Pai, que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor,
Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que
expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres? ’ Então
eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim,
malfeitores”. (Mt 7,21-23).
A condição para
entrar no Reino deste Rei é a conversão, a mudança de vida e de mentalidade: “O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus
está próximo. Convertam-se e acreditem no Evangelho”. (Mc 1,15); “Convertam-se, porque o Reino de Deus está
próximo” (Mt 3,2).
Assim fala o
profeta Daniel, no seu livro, a respeito deste Rei: “Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas
o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu
reino é tal que jamais será destruído”. (Dn 7,14).
O livro do
Apocalipse assim define o Rei: “... da
parte de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dos mortos,
o Chefe dos reis da terra. A Jesus que nos ama e nos libertou de nossos pecados
por meio de seu sangue, e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu
Pai – a Jesus, a glória e o poder para sempre. Amém. Ele vem com as nuvens; e o
mundo todo o verá, até mesmo aqueles que o transpassaram. E todos os povos do
mundo baterão no peito por causa dele. É isso mesmo! Assim Seja! Eu sou o Alfa
e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele-que-é-que era e que-vem, o Deus
Todo-poderoso”. (Apo 1,5-8).
Na festa de
Cristo, Rei do Universo comemora-se, também, o dia nacional do leigo e da
leiga.
A respeito
disso, nada melhor do que transcrever um pronunciamento do nosso querido D.
Orani João Tempesta, na oportunidade, Arcebispo de Belém, Pará e hoje Arcebispo
do Rio de Janeiro: “Para isso é que, ao
comemorarmos o Dia dos Cristãos Leigos e Leigas é que olhamos também a missão
deles enquanto cristãos coerentes e que vivem o Evangelho no meio da sociedade
em todas as realidades humanas procurando fermentá-las com as suas vidas! Os
cristãos leigos tem a sua grande missão justamente aí. Embora muitos exerçam os
necessários trabalhos no interior de nossas comunidades, a especificidade da
missão do cristão leigo é justamente nas realidades temporais procurando fazer
acontecer aí o Reino de Deus. Aliás essa é também a grande missão da Igreja, a
de se abrir, conduzir, anunciar, proclamar esse reino do qual ela é também
sinal”.
São sobre a identidade e missão desses
homens e mulheres batizados, os cristãos leigos e leigas, que formam a imensa
maioria do Povo de Deus e que são a esperança da Igreja.
A formação do laicato, portanto, tem
sido uma preocupação constante da Igreja latino americana e mesmo do mundo
inteiro, no sentido de poder oferecer ao mundo cristãos leigos adequadamente
preparados para responder aos desafios da sociedade e do momento atual.
Sendo, portanto, um batizado, o leigo
não é nem nunca foi nem será cidadão de segunda categoria na Igreja, consumidor
apenas dos bens espirituais e eclesiais, mas cidadão pleno, participante ativo,
depositário de um ministério que o faz atuar com e como Cristo.
Neste Domingo de Cristo Rei, quando a
Igreja do Brasil celebra o Dia do Leigo, todos os batizados são chamados a
renovar seu compromisso batismal. Assim estarão proclamando que Jesus Cristo é
o Rei do Universo e se dispondo a recriar suas atitudes e seus gestos, amando
com um coração semelhante ao Coração de Cristo Rei.
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