IV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – A; Cor – roxo; Leituras: Is 7,10-14; Sl 23 (24); Rm 1,1-7; Mt
1,18-24.
“JOSÉ FEZ COMO O ANJO DO SENHOR HAVIA MANDADO E ACEITOU MARIA COMO SUA
ESPOSA”. (Mt 1,24).
Diácono Milton
Restivo.
Mais uma vez o profeta Isaias se faz
presente na primeira leitura da liturgia do Tempo do Advento, tempo de
preparação para o nascimento do Emanuel, o “Deus conosco”.
Neste quarto e último domingo do
Advento, Isaías profetiza o nascimento do Messias, tendo como mãe uma virgem: “A virgem conceberá, e dará à luz um filho.
Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”. (Is
7,14; Mt 1,23).
Maria é essa virgem. Emanuel, o
Deus conosco, é Jesus, o “Filho de Deus
que se fez homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus”,
como disse Agostinho, bispo de Hipona.
O Salmo nos faz viver a
expectativa do nascimento do Salvador e nos prepara para recebê-lo: “Portas, levantem seus frontões; elevem-se
portais antigos, pois vai entrar o Rei da glória! Quem é esse Rei da glória? É
Yahweh, o herói vitorioso! É Yahweh o herói das guerras! [...] Quem é esse Rei da glória? É Yahweh dos
Exércitos! Ele é o Rei da glória!” (Sl 23 (24),7-8.10).
Este Salmo determina quem poderá
fazer parte do Exército de Yahweh e do Messias que vai nascer de uma virgem,
quem poderá subir a sua montanha santa, habitar na sua casa e viver a sua
justiça e a sua vida: “Quem pode subir a
montanha de Yahweh? Quem pode estar no seu lugar santo? Aquele que tem mãos
inocentes e coração puro, que não confia nos ídolos, nem faz juramento para
enganar. Esse receberá a benção de Yahweh, e do seu Deus Salvador receberá a
justiça. Essa é a geração dos que procuram Yahweh, dos que buscam tua face, ó
Deus de Jacó”. (Sl 23 (24),3-6).
Na segunda leitura, na Carta aos
Romanos, Paulo identifica quem seja o Messias “... que pelos profetas havia prometido, nas Sagradas Escrituras, e que
diz respeito a seu Filho, descendente de Davi segundo a carne, autenticado como
Filho de Deus com poder, pelo Espírito de santidade que o ressuscitou dos
mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor”. (Rm 1,2-4).
O Evangelista Mateus, no Evangelho
desta liturgia, narra a origem do Messias e a angústia de José, noivo de Maria,
até entender quais eram os desígnios de Deus para enviar a sua Palavra para os
homens: “E a Palavra se fez homem e
habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória; glória do Filho único do
Pai, cheio de amor e fidelidade”. (Jo 1,14).
Mateus começa assim a sua
narrativa do Evangelho de hoje: “A origem
de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José,
antes de coabitarem, achou-se grávida pelo Espírito Santo.” (Mt 1,18).
Maria era noiva de José. Antes de
assumirem a vida normal de casados,
“Maria achou-se grávida pelo Espírito Santo.” (Mt 1,18).
Mas, quem era José? Mateus, em seu Evangelho , 1,16,
diz que José era filho de Jacó, enquanto que Lucas, em seus escritos, 3,23, diz
que o pai de José se chamava Eli, mas ambos os Evangelistas são unânimes em
afirmar que José era descendente do rei Davi (Lc 3,23-31; Mt 1,20).
Segundo o Evangelista Mateus José
tinha como profissão ser carpinteiro, quando se referiu a Jesus: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt
13,55), e Marcos também se referencia a Jesus dessa maneira: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria...?” (Mc 6,3).
O historiador H. Lesêtre no seu
livro “Guia através do Evangelho”, edição de 1944, transmite os seguintes
conhecimentos a respeito do matrimônio entre os judeus na época de Jesus
Cristo: - “Em teoria, podia o varão
escolher a sua companheira. Mas o fato de celebrarem-se os matrimônios em idade
muito tenra, importava que os pais exercessem uma grande influência na escolha.
Assim acontecia que os pais do jovem procurassem para ele uma esposa e pagassem
aos pais desta o dote, quer em dinheiro, quer em gênero. Celebravam-se as
núpcias e desde esse momento consideravam-se os noivos como legitimamente
casados e habilitados a usar legitimamente de todos os direitos do matrimônio.
Os noivos continuavam, porém, morando com os pais. Pelos textos (Lc 1,27-34 e
Mc 1,18), patenteia-se claramente que Maria não estava senão desposada com José
quando recebeu a visita do Anjo”.
Segundo a tradição judaica, a
noiva, na época, firmava compromisso com o noivo dos doze aos quinze anos de
idade, e o jovem varão, dos dezoito aos vinte anos de idade.
O casamento acontecia quando os
jovens se comprometiam e ficavam noivos, isto é, se casavam, mas não
coabitavam, não iam morar juntos, como acontece nos nossos dias; o rapaz ia
montar a sua casa e depois de ter tudo pronto, casa, móveis e tudo o mais que
fosse necessário para uma vida a dois, é que o noivo ia à casa dos pais da
noiva buscá-la para coabitarem.
Justifica-se, então, a afirmativa
do Evangelista Mateus: “... Maria, sua
mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida
do Espírito Santo.” (Mt 1,18).
Está claro, principalmente pelas
dúvidas que habitaram a cabeça de José quando notou Maria grávida, que eles não
tiveram contatos íntimos.
Para entendermos melhor os
problemas pelos quais passaram José e Maria que foi visitada pelo anjo, se faz
necessário que estudemos e meditemos muito sobre a Anunciação do anjo em si e sobre
a entrega total de Maria nas mãos de seu Deus e Senhor. Maria aceitou ser a mãe
do Filho de Deus: “Eis aqui a escrava do
Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37).
Mas, vamos ver se entendemos bem a
situação de Maria nessa oportunidade. Ela era uma adolescente, jovem, virgem,
solteira, entre doze e quinze anos de idade, comprometida em casamento com um
jovem entre dezoito e vinte anos de idade, chamado José, “homem justo” (Mt 1,19), descendente do rei Davi (Lc 3,23-31; Mt
1,2).
Maria tinha uma vida normal de uma
adolescente normal de sua idade na sua época. Diferente apenas na oração e na entrega
total nas mãos de Deus. O povo esperava o Messias.
O povo judeu sabia pelas Sagradas
Escrituras, que o Messias nasceria de uma virgem, conforme já profetizara o
profeta Isaias: “... uma virgem conceberá
e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel.” (Is 7,14; Mt 1,23). Bem
por isso todas as moças da época sonhavam em ser a escolhida por Deus para ser
a mãe do Messias tão cantado e esperado pelo povo judeu, mas não sabiam quando
e como isso poderia acontecer. Nem Maria sabia por que, quando o anjo do Senhor
lhe anunciou essa boa nova, ela não duvidou, mas não entendeu como isso poderia
acontecer, dizendo: “Como é que vai ser
isso, se eu não conheço homem algum?”
(Lc 1,34).
Maria já estava comprometida em
casamento com José, mas ainda não haviam coabitado, e pela afirmativa de Maria,
ela e José “não usaram legitimamente de todos os direitos do matrimônio”. E o anjo
lhe respondeu: “O Espírito Santo virá
sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o
Santo que nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35).
E para que nenhuma dúvida pairasse
no ar, o anjo continua: “Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37). Maria, simplesmente, mesmo sem entender como isso
poderia acontecer, confia plenamente na palavra do Senhor, entrega-se
totalmente em suas mãos e responde ao anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”
(Lc 1,38).
A partir daquele momento Maria “achou-se
grávida pelo Espírito Santo.” (Mt 1,18) e começa a trazer dentro de si, no
seu ventre, o Filho de Deus, nascido de mulher sem a participação de homem
algum, como escreveu Paulo: “Quando
chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma
mulher... (Gl 4,4); e “O Verbo se fez
carne e habitou entre nós.” (Jo
1,14).
E assim, de repente, sem uma
explicação razoável aos olhos do povo e ao coração do jovem noivo José, aquela
jovenzinha meiga, pura e casta, aparece grávida. Poderíamos imaginar a
repercussão desse fato numa cidade tão pequena? Uma moça jovem, solteira, de
boa reputação, de família exemplar, bem quista na comunidade, noiva de um excelente,
trabalhador e querido jovem por todos na cidade, de repente... aparece
grávida...
Ainda tem mais uma agravante.
Logo depois da visita do anjo, ao
tomar conhecimento que sua parenta Isabel, de idade avançada, estava no sexto
mês de sua gravidez, “... Maria pôs-se a
caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de
Judá.” (Lc 1,39).
Ao saber das dificuldades que sua
parenta Isabel, mulher já de idade avançada, teria, principalmente no final de
sua gravidez, Maria não pensou em si e muito menos no seu estado também de gravidez,
e “se pôs a caminho para a região
montanhosa” (Lc 1,39), onde
morava Isabel e, segundo as Escrituras, Maria ficou na casa de Isabel até o
nascimento do filho de Isabel, isto é, pelo espaço de três meses, considerando
que o anjo lhe dissera que “Isabel,
tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês...” (Lc 1,36), faltando, portanto, três
meses para o nascimento do filho de Isabel.
Após o nascimento do filho de
Isabel, João Batista, Maria retornou para a sua pequena cidade.
Nessa altura dos acontecimentos a gravidez
de Maria já se fazia notar, o seu ventre estava crescido e destacavam-se as
transformações físicas naturais de uma mulher que estava esperando o seu filho,
e o olho crítico das comadres e fofoqueiras não perdeu tempo; a fofoca correu
solta e, como se diz, o marido é sempre o último a saber.
Para não fugir à regra, José não
sabia de nada, e o povo da localidade entendia menos ainda. Maria deixa sua
cidade por três meses; saiu normal, e volta grávida... O que deve ter passado
na cabeça de cada um de seus conhecidos e do povo em geral daquela curritela?
De quem seria o filho? De José? Mas era público e notório que José não havia
acompanhado Maria enquanto ela esteve por três meses na casa de Isabel.
Imaginem os mexericos das
comadres, das fofoqueiras nos portões, nas esquinas, por sobre os muros e
cercas; como devem ter falado de Maria... (Ainda bem que fofocas e fofoqueiras
só existiam naquele tempo; no nosso tempo, jamais!)
E Maria permanecia do mais
profundo dos silêncios. E José? O que teria pensado José? Maria, a sua amada Maria,
a jovenzinha de seus sonhos a quem ele depositara toda a sua confiança, todo o
seu amor, todo o seu futuro, de repente, sem uma explicação razoável e sem ela
se explicar, fica ausente da cidade e da família por três meses e volta
grávida. José não tivera participação nisso. Não fora ele. Ele era inocente. Se
tivesse sido ele, com certeza, pelo seu caráter, retidão e temor a Deus,
assumiria o seu gesto e, sem sombra de dúvida, levaria Maria de imediato para a
sua casa, pois eles já estavam comprometidos em matrimônio.
Mas não fora José... Para
complicar mais as coisas, Maria permanecia no mais profundo dos silêncios... José
era um jovem justo e temente a Deus, e, bem por isso, gostava das coisas
certas.
Maria não disse nada a José. José
não perguntou nada a Maria.
E a lei do povo judeu era severa,
extremamente severa a esse respeito e determinava que “Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais com uma
mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem como a mulher. Deste modo você
eliminará o mal de Israel. Se houver uma jovem prometida a um homem, e um outro
tiver relações com ela na cidade, vocês levarão os dois à porta da cidade e os
apedrejarão até que morram: a jovem por não ter gritado por socorro na cidade,
e o homem por ter violentado a mulher do seu próximo. Desse modo, você
eliminará o mal do seu meio” (Dt
22,22-24).
Se José colocasse em prática essa
Lei de Moisés e denunciasse Maria por havê-lo traído, fatalmente a lei seria
cumprida, e Maria deveria ser apedrejada na porta da cidade para eliminar o
pecado do meio do povo.
Mas José amava demais Maria para
chegar a esse extremo. Mas também não podia aceitar aquela situação. E Maria
não se explicava, não dizia nada. Maria permanecia no seu silêncio. Maria,
simplesmente, poderia sair gritando aos quatro ventos dizendo que aquilo que
estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo. Poderia dizer, sem
mentir, que “... o Espírito Santo veio
sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra.” (Lc 1,35), e bem por isso engravidara,
e o filho que trazia dentro de si era o Messias esperado pelo povo judeu, era “o Filho de Deus que se fazia homem para que
todos os homens se tornassem filhos de Deus”.
Mas, se afirmasse isso, pelo menos
três coisas poderiam acontecer: primeira:- o povo poderia dizer que ela estava
louca por afirmar coisas tão absurdas para tentar justificar a sua gravidez; segunda:-
o povo não acreditaria e ela própria passaria por ré confessa, e a lei de
Moisés deveria ser cumprida, e Maria deveria ser apedrejada na porta da cidade
para que o pecado fosse tirado do meio do povo, e: terceira:- o povo que já
estava ansioso pela vinda do Messias para tirá-lo da opressão dos romanos,
poderia até acreditar em Maria, aceitar que, realmente, ela estaria dizendo a
verdade e tratá-la como uma rainha.
Maria não fez nada disso. Maria
manteve-se no seu silêncio. Foi o silêncio da virgem.
Maria não tentou explicar nada a
ninguém. Nem mesmo ao seu noivo José. O que estava acontecendo nela e com ela
era obra do Espírito Santo, e, se o Senhor a colocara naquela situação, o
Senhor resolveria todos os problemas que estavam surgindo e surgiram após. Maria
sofria com as fofocas do povo. Maria sofria com a incompreensão de José, com o
sofrimento de José, mas se mantinha no mais profundo silêncio, sempre confiando
no Senhor.
O que estava acontecendo com Maria
era a vontade do Senhor, e Maria repetia a cada instante: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).
Maria era a escrava do Senhor, não
competia a ela se defender. Maria rezava no seu silencio: “Só em Deus a minha alma repousa, porque dele vem a minha salvação. Só
ele é minha rocha e a minha salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalada. [...] Só
em Deus, ó minha alma repouse, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a
minha rocha e minha salvação, a minha fortaleza, jamais serei abalada. De Deus depende a minha salvação e minha
fama. Deus é o meu forte rochedo. Deus é o meu refúgio” (Sl 62 (61),2-3.6-8);
só o Senhor seria o seu rochedo, o seu advogado na hora em que ele achasse que
fosse mais certa.
E José estava amargurado. Não
entendia o que estava acontecendo e nem poderia entender. Mas, porque Maria não
rompia seu silêncio e explicava tudo para José? Então José tomou uma decisão: “José, seu esposo, sendo justo, e não
querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo.” (Mt
1,19);
José tomou a decisão que julgou a
mais acertada e justa: abandonar Maria, ir embora, sumir da cidade, ir para um
lugar distante mesmo levando em suas costas que o povo o julgasse dizendo-o
culpado por ter “aprontado” com Maria e fugido para não assumir a sua
responsabilidade, abandonando a sua jovem noiva grávida. Foi o que lhe pareceu
mais justo e certo. Assim ele não denunciaria Maria e não a entregaria ao
terrível cumprimento da Lei de Moisés. Assim ele não difamaria sua noiva. Faria
isso para não dizer a todos que Maria o havia traído, traído sua confiança, o
seu amor e por isso mesmo ele não poderia mais assumir a responsabilidade de
coabitar com ela, assumí-la em sua casa. Mesmo sabendo da intenção de José,
Maria ainda assim se manteve calada, no silêncio que só o Senhor ouve, só o
Senhor entende.
Maria não deixou de confiar no seu
Senhor um minuto sequer, porque “só em
Deus a sua alma repousava, e dele viria a sua salvação.” (Sl 62 (61),2). E o Senhor não
abandonou Maria.
Certa noite, “enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe em
sonho, e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como
tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um
filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo
profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado de
Emanuel, que significa: Deus conosco”.
(Mt 1,20-23).
Eram as palavras que José
precisava ouvir e, a partir daí, José tranquilizou-se. Maria sabia que as
coisas de Deus era o próprio Deus que deveria resolver.
José não procurou satisfações com
Maria respeitando o silêncio da virgem e “...
agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.” (Mt 1,24), e tomou sob sua guarda a
mãe e o Filho que, pela revelação do anjo em sonho, passou a saber que aquela
criança que nasceria de Maria não era outra senão o Messias, o Salvador dos
homens.
Maria deixou tudo nas mãos de
Deus, nas mãos do Senhor. Ela sabia que, se fora o Senhor que a colocara
naquela situação, com certeza, o Senhor esclareceria tudo, como esclareceu, não
ao povo, mas, somente a José, e era isso que realmente interessava.
Maria permanecia sempre no seu
silêncio, procurando cumprir aquilo mesmo que ela dissera ao anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em
mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).
E isso não era o fim; era apenas o
começo de muitas dores, muitas lágrimas, muito sofrimento, muitas
incompreensões, muitas perseguições, muito falatório e, a respeito disso, Maria
seria avisada pelo velho Simeão: “Eis que
esse menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um
sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma.
Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”. (Lc 2,34b-35).
E, interessante, os Santos
Evangelhos não citam nenhuma fala de José, nenhuma palavra que ele tenha pronunciado
é citada no Livro Sagrado.
A figura de José aparece somente
na infância de Jesus e desaparece durante a vida oculta.
Nesse período José falecera. Quando
Jesus começa a sua vida pública só Maria o acompanha. José já havia cumprido a
sua parte nos planos de Salvação do Senhor Nosso Deus e partido para a casa do
Pai...
A morte de José deve ter sido a
mais santa possível. Imaginemos na cabeceira de seu leito, José moribundo,
tendo de um lado Jesus e do outro, Maria.
Poderá existir morte mais santa que
essa? É a morte que todos os cristãos deveriam desejar!
Por que Deus Pai incluiu José no
seu Plano de Salvação? Porque ele queria para o seu Filho uma família constituída.
O Senhor poderia simplesmente dispensar o concurso de um homem para cuidar de
seu Filho, e ele mesmo cuidaria de Maria e Jesus, já que ele dispensara a
participação do homem para gerar seu Filho, mas o Senhor quis, com isso,
valorizar e divinizar a constituição familiar onde a união de pai, mãe e
filhos, união abençoada por Deus, perfeita e cristã, é o caminho mais curto
para se chegar à casa do Pai.
José não foi uma figura
descartável nos planos de Deus e muito menos um anônimo; foi ele quem cuidou de
Maria e de Jesus até que Jesus amadurecesse como homem e tivesse condições de
cuidar de si e de sua mãe.
José é o exemplo mais perfeito
para ser seguido por todos os pais cristãos.
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