DIÁCONO É O PRIMEIRO PASSO PARA PERTENCER AO CLERO.
Diácono Milton Restivo
O que diz o Código de Direito Canônico quando define
quem seja “Clero”?
Para esclarecer
a memória de quem contesta ou nega essa realidade, vejamos o que determina o
Código de Direito Canônico promulgado pelo papa João Paulo II, dado em Roma, a
25 de janeiro de 1983, na residência do Vaticano, ao quinto ano de seu
Pontificado.
Assim diz o
Código de Direito Canônico no seu Cânon 266:
Ø
“Pela ordenação diaconal,
alguém se torna clérigo e é incardinado na Igreja particular ou prelazia
pessoal, para cujo serviço foi promovido”.
No parágrafo 2
do mesmo Cânon, reza:
Ø
“O membro
professo com votos perpétuos num instituto religioso ou incorporado
definitivamente numa sociedade clerical de vida apostólica, pela ordenação
diaconal é incardinado como clérigo nesse instituto ou sociedade, a não ser
que, quanto às sociedades, as constituições determinem diversamente”.
E, no rodapé
explicativo, deixa claro que:
Ø
“O fato que está
na base de toda incardinação originária é o diaconado”.
No parágrafo 3
do já mencionado Cânon, diz:
Ø
“Pela ordenação diaconal,
o membro do instituto secular é incardinado na Igreja particular para cujo
serviço foi promovido, a não ser que seja incardinado no próprio instituto em
virtude de concessão Apostólica”.
O Código de
Direito Canônico, no seu Cânon 276 orienta e incentiva o clero, diáconos e
presbíteros a ter uma vida de santidade:
Ø
“Em seu modo de
viver, os clérigos são obrigados por peculiar razão a procurar a santidade, já
que, consagrados a Deus por novo título de recepção da ordem, são dispensadores
dos mistérios de Deus a serviço do povo”.
E, para reforçar
essa afirmativa, no parágrafo 3 deste Cânon, incentiva à oração da Liturgia das
Horas, como vemos:
Ø
“Os sacerdotes e
os diáconos que aspiram ao presbiterato são obrigados a rezar todos os dias a
liturgia das horas, de acordo com os livros litúrgicos próprios e aprovados; os
diáconos permanentes, porém, rezem a parte determinada pela Conferência dos
Bispos”.
O Código de
Direito Canônico, no seu Cânon 276, orienta e incentiva o clero, composto pelos
diáconos e presbíteros e sob o exemplo do Bispo, a ter uma vida de santidade.
Mas, na
realidade isso não aconteceu quando da realização do Dia Mundial de Oração pela
Santificação do Clero, realizado no dia 03 de junho de 2016, na solenidade do
Sagrado Coração de Jesus, onde somente os presbíteros se reuniram na Paróquia
Nossa Senhora Aparecida, em Votuporanga, para uma manhã de Espiritualidade em
ocasião do Dia Mundial de oração pela Santificação do Clero (conforme jornal
Diocese Hoje de Junho de 2016).
Para esse dia de
santificação do clero os Diáconos, que fazem parte do Clero também, foram
barrados, enquanto puderam participar, além dos presbíteros, religiosos e
religiosas de diversas congregações e líderes leigos de pastorais de várias
comunidades.
Será que os
Diáconos da nossa Diocese são tão santos assim que não necessitam participar do
dia Mundial de Oração de Santificação do Clero, do qual eles pertencem e, pelo
Sacramento da Ordem são os primeiros a pertencer ao Clero?
Quem diz isso é
o próprio Código de Direito Canônico no seu Cânon 266:
Ø
“pela ordenação
diaconal, alguém se torna clérigo e é incardinado na Igreja particular”.
E no seu
parágrafo 2:
Ø
“O membro
professo com votos perpétuos num instituto religioso ou incorporado
definitivamente numa sociedade clerical de vida apostólica, pela ordenação
diaconal é incardinado como clérigo”.
Ou
seria mesmo discriminação?
O próprio Catecismo da Igreja
Católica declara:
Ø
"É impossível imaginar uma
igreja sem que seja constituída do tríplice ministério ordenado, ou seja,
Bispos, Presbíteros e Diáconos".
Mas, o que é ser Diácono na e da Igreja?
Comecemos pela
sua instituição administrativa contida no livro dos Atos dos Apóstolos:
Ø
“O número dos
discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se
dos fiéis de origem hebraica. Os de origem grega diziam que suas viúvas eram
deixadas de lado no atendimento diário” (At 6,1).
Vemos que, em
Jerusalém, não eram somente judeus que haviam se convertido para a Igreja do
Caminho, mas, também, fiéis de origem grega aderiram aos ensinamentos do Divino
Mestre.
As
pessoas carentes por parte dos judeus tinham atendimento preferencial por parte
da comunidade judaica, enquanto que os necessitados de origem grega e ou
estrangeiros eram negligenciados e, por isso, reclamaram.
Para serem
encarregados dessa tarefa foram escolhidos sete homens, todos de origem grega, “de boa fama, repletos do Espírito e de
sabedoria” (At 6,3).
Jamais
poderíamos dizer com segurança que, ao serem encarregados esses sete homens
para esse serviço, estava instituído na Igreja o ministério diaconal porque, em
primeira instância, Jesus foi o primeiro diácono e o diácono por excelência:
Ø
“quem de vocês
quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês; e quem de vocês quiser
ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês. Pois, o Filho do Homem não
veio para ser servido. Ele veio para servir e dar a sua vida como resgate em
favor de muitos” (Mt
20,26-28).
Ninguém criou
nada se já Jesus não tivesse sido ou dado o exemplo.
O fato de os
Apóstolos escolherem sete homens “de boa
fama, repletos do Espírito e de sabedoria” no meio da comunidade é
consequência daquilo que Jesus já fizera e dera o exemplo na última ceia quando
lavou os pés dos seus discípulos e disse:
Ø
“Vocês compreenderam o que eu acabei de
fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre, o Senhor. E vocês têm razão; eu sou
mesmo. Pois bem: eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso
vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu
lhes dei o exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto
a vocês: o servo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que
aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em
prática”. (Jo 13,12-17).
Os Apóstolos, ao
designarem esses sete homens, apenas acordaram para a realidade de que a Igreja
de Jesus Cristo é diaconal por excelência, nasceu diaconal e deixa de ser
Igreja se não for diaconal.
Ao designar
esses homens para esse serviço, os Apóstolos estavam delegando a eles um
serviço, que em primeiríssimo lugar, era deles próprios, os Apóstolos, conforme
disse o teólogo Collins que, fazendo isso, os Apóstolos poderiam continuar com
o seu ministério apostólico no Templo, entre os judeus, ministério esse que era
uma diaconia, a de proclamar ali a Palavra.
Isso deixa claro
e é biblicamente correto que o ministério diaconal na Igreja foi instituído
antes mesmo do ministério presbiteral.
A Igreja é, por excelência, diaconal.
O presbítero que
não tenha sido diácono, que não tenha vivido a sua diaconia intensamente e que
não continue com seu ministério diaconal inserido no seu ministério presbiteral
por toda a sua vida, não está exercendo o ministério a que fora chamado, mas se
converteu em um profissional do altar, e como temos profissionais do altar.
A Igreja é, por
excelência, diaconal, servidora, a exemplo de Cristo, que disse:
Ø
“o Filho do Homem não veio para ser servido.
Ele veio para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt
20,28).
Os sete homens
escolhidos eram de origem grega e, portanto, eles deveriam desempenhar a sua diaconia
entre os cristãos de origem grega, e isso quer dizer que, não somente suprir as
necessidades materiais desse seguimento, mas de proclamar também a Palavra para
eles.
Instituição do Diaconato Permanente na Igreja
Repetindo,
o diaconato foi instituído pelos apóstolos. A instituição do diaconato antecede
a instituição do presbiterato. Podemos ver em Atos 6,1-6 a imposição de mãos
sobre os primeiros sete diáconos: Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas,
Nicolau e Estevão que foi o primeiro mártir (At. 6,8-7,60). Podemos, ainda, ver
outras referencias como Fl 1,1 e 1Tm 3,8-ss.
O
diaconato permaneceu florescente na Igreja do Ocidente até o século V, depois
por várias razões desapareceu.
Diaconato é o primeiro grau do Sacramento da Ordem.
Os outros dois graus do
Sacramento da Ordem são o presbiterato e o episcopado, portanto, diáconos,
presbíteros e bispos compõem a hierarquia da Igreja.
Para os Diáconos as mãos lhes são
impostas pelo Bispo para o serviço e não para o sacrifício.
Com a ordenação o diácono deixa
de ser leigo e passa a fazer parte do clero.
Esse Sacramento o faz diácono por
toda a eternidade. Não há como retroceder.
Diaconato é o
primeiro grau do Sacramento da Ordem. E, quem recebe o Sacramento da Ordem é,
incontestavelmente, quer queiram ou não os contestadores, Clérigo, como são
clérigos os presbíteros e Bispos.
Portanto, diáconos,
presbíteros e bispos compõem a hierarquia da Igreja. É a constituição do Clero.
Com a ordenação o diácono deixa sua
condição de leigo e passa a fazer parte do clero.
O Sacramento da Ordem, como o do Batismo e da
Confirmação, imprime caráter indelével em quem o recebe.
Esse Sacramento
imprime caráter, que o faz diácono por toda a eternidade. Não há como
retroceder. Juntamente com o Sacramento do Batismo e da Confirmação o
Sacramento da Ordem imprime marca indelével, conforme ensina o Catecismo da
Igreja Católica:
Ø
§698
- O selo é um símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que "Deus
marcou com seu selo" (Jo 6,27) e é nele que também o Pai nos marca com seu
selo. Por indicar o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos
do batismo, da confirmação e da ordem, a imagem do selo ("sphragis")
tem sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o "caráter"
indelével impresso por estes três sacramentos que não podem ser reiterados.
Ø
§1121
- Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça,
um caráter sacramental ou "selo" pelo qual o cristão participa do
sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas.
Esta configuração com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é indelével,
permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como
promessa e garantia da proteção divina e como vocação ao culto divino e ao
serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca podem ser reiterados.
Ø
§1304
- Como o Batismo, do qual é consumação, a Confirmação é dada uma só vez, pois
imprime na alma uma marca espiritual indelével, o "caráter”, que é o sinal
de que Jesus Cristo assinalou um cristão com o selo de seu Espírito,
revestindo-o da força do alto para ser sua testemunha.
Ø
§1305
- O "caráter" aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no
Batismo, e "o confirmado recebe o poder de confessar a fé de Cristo
publicamente, e como que em virtude de um ofício (quasi ex ofício )".
Ø
§1317
- A Confirmação, como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual
ou caráter indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma
vez na vida.
Caráter sacramental da Ordem no Catecismo da Igreja
Católica
Ø
§698
O selo é um símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que "Deus
marcou com seu selo" (Jo 6,27) e é nele que também o Pai nos marca com seu
selo. Por indicar o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos
do batismo, da confirmação e da ordem, a imagem do selo ("sphragis")
tem sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o
"caráter" indelével impresso por estes três sacramentos que não podem
ser reiterados.
Ø
§1121
Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça,
um caráter sacramental ou "selo" pelo qual o cristão participa do
sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas.
Esta configuração com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é
indelével , permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a
graça, como promessa e garantia da proteção divina e como vocação ao culto
divino e ao serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca podem ser
reiterados.
Ø
§1563
"O oficio dos presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa
da autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo.
Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, supondo os sacramentos da iniciação
cristã, é conferido por meio daquele sacramento peculiar mediante o qual os
presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são assinalados com um caráter
especial e assim configurados com Cristo sacerdote, de forma a poderem agir em
nome de Cristo Cabeça em pessoa."
Ø
§1570
Os diáconos participam de modo especial na missão e graça de Cristo.
São marcados pelo sacramento da Ordem com um sinal ("caráter") que
ninguém poder apagar e que os configura a Cristo, que se fez
"diácono", isto é, servidor de todos. Cabe aos diáconos, entre
outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos
mistérios, sobre tudo a Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao
Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir o funerais e
consagrar-se aos diversos serviços da caridade.
Ø
§1581
Este sacramento toma a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça
especial do Espírito Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de
sua Igreja. Pela ordenação, a pessoa se
habilita a agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua tríplice
função de sacerdote, profeta e rei.
Ø
§1583 Alguém validamente ordenado pode, é
claro, por motivos graves, ser exonerado das obrigações e das funções ligadas à
ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais poder voltar a ser leigo no
sentido estrito , porque o caráter impresso pela ordenação permanece para
sempre. A vocação e a missão recebidas
no dia de sua ordenação marcam a pessoa de modo permanente.
Quando foi restabelecido o Diaconato
Permanente
Foi restabelecido pelo Concílio
Vaticano II. Inicialmente foi regulamentado pelo Papa Paulo VI em 1967 no Motu
Próprio "Sacrum Diaconatus Ordinem".
Em 31 de março deste ano foram
promulgados pela Congregação para o Clero as "Normas Fundamentais para a Formação
dos Diáconos Permanentes" e "O Diretório do Ministério e da Vida dos
Diáconos Permanentes". Estes documentos deixam explícitos que “a
restauração do diaconado permanente numa Nação não implica a obrigação da sua
restauração em todas as dioceses. Compete exclusivamente ao Bispo Diocesano
restaurá-lo ou não”.
Estola, símbolo da dignidade do ministro ordenado (diácono, presbítero,
epíscopo)
Jesus, que veio
ao mundo “para servir e não ser servido”,
deu o exemplo da diaconia na última ceia quando
Ø
“se levantou da
mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na
bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha
na cintura. [...] Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto,
sentou-se de novo, e perguntou: ‘Vocês compreenderam o que eu acabei de fazer?
Vocês dizem que eu sou o Mestre, o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo.
Pois bem: eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês
devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo: vocês devem fazer a
mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior que o seu
senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês
compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática”. (Jo 13,4-5.12-17).
A estola do diácono é a toalha
que Jesus cingiu a cintura, quando tirou seu manto, para lavar e enxugar os pés
dos seus discípulos. Isso é diaconia.
Ser diácono é
imitar, seguir e propagar o exemplo do Mestre.
Não se é papa,
nem bispo e nem padre se não for diácono, tanto é que o primeiro degrau para o
ministério ordenado é a ordenação à diaconia; mas esse período entre a diaconia
e o presbiterato é tão curto que muitos presbíteros se esquecem que, antes de
serem presbíteros, são diáconos e que deveriam continuar sendo, não importando
o grau de ordenação que tenham recebido.
Prova disso está
quando o Papa Francisco em uma Quinta-feira Santa, quando da cerimônia do
Lava-pés, colocou a sua estola na transversal, como a usa os diáconos, da direita
para a esquerda, e lavou os pés dos seus fiéis como um diácono, como Jesus fez
na última Ceia.
Em outra
oportunidade, numa celebração, quando um diácono levava, com os braços
estendidos e ao alto, o Evangeliário, o Papa Francisco chegou a ele e pediu o
Evangeliário para que ele mesmo, o Sumo Pontífice, o levasse. Alguém próximo ao
Papa, possivelmente um Cardeal, lhe diz que transportar o Evangeliário era
função do diácono, ao que o Papa Francisco respondeu: “E eu, o que sou? Não sou também um diácono?”.
A estola é o
símbolo da dignidade e do compromisso do ministro ordenado, e a estola do
diácono é na transversal, e isso lembra a toalha cingida na cintura por Jesus
para lavar os pés dos seus discípulos. Pena que a memória da última ceia,
quando Jesus lava os pés dos discípulos para dar o exemplo da diaconia a todos,
acontece, na nossa Igreja, somente na cerimônia da Quinta-feira Santa que, em
muitos lugares, é mais transformado em teatro do que em liturgia e memória.
Seria esse o
objetivo de Jesus ao dizer:
Ø
“Eu lhes dei o exemplo: vocês devem fazer a mesma
coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior que o seu senhor, nem
o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se vocês compreenderam isso,
serão felizes se o puserem em prática”. (Jo 13,15-17)?
Acredito que
não. O “lavar os pés” uns dos outros não tem dia e nem horário marcado; a
diaconia do povo de Deus deve acontecer quando o amor fala mais alto e nos
arremete a entender e a atender a necessidade do próximo, e para isso não existe
dia específico e nem precisamos procurar: ela vem ao nosso encontro.
Os diáconos,
como os bispos e presbíteros, são pastores, apascentadores, são aqueles que
cuidam, protegem e instruem o rebanho de Deus, tendo como modelo, o Senhor
Jesus Cristo, o Sumo e Divino Pastor.
A estola do
sacerdote desce verticalmente dos ombros ao longo do corpo para mostrar a
verticalidade de seu ministério. Sendo pontífice, o sacerdote faz ponte, faz
ligação entre Deus e o homem através do sacrifício apresentado a Deus "in persona Christi".
O ministério do
diácono é voltado para o serviço à comunidade.
O diácono, por
sua vez, usa a estola diagonalmente ao longo do corpo, partindo do ombro
esquerdo, indicando que está pronto para o trabalho.
A estola
atravessada no peito mostra a horizontalidade de suas funções e que está a
serviço da comunidade, da igreja, compromissado com a obediência ao Bispo de
sua Diocese.
Funções do Diácono na Igreja
Diaconia
quer dizer serviço. Então o Diácono é ordenado para servir. Faz parte do
ministério do Cristo Servo, que veio para servir e não para ser servido.
O
ministério do diácono é voltado para o serviço à comunidade.
A
estola atravessada no peito mostra a horizontalidade de suas funções como a
toalha cingida na cintura de Jesus quando ele lavou os pés de seus discípulos.
A
Lumem Gentium diz que:
Ø
“servem o povo de Deus na
diaconia da liturgia, da palavra e da caridade (LG 29)”.
Na
liturgia eucarística, o diácono tem funções próprias: servir o altar, proclamar
o Evangelho, fazer a homilia, quando autorizado pelo presidente da celebração,
convidar para o abraço da paz, purificar os vasos sagrados e fazer a despedida.
São
ainda funções do diácono: instruir e exortar o Povo de Deus e incentivar a
participação correta e efetiva da igreja da divina liturgia; conservar e
administrar a eucaristia; administrar solenemente o batismo; assistir e
abençoar o matrimônio; realizar o rito funeral e da sepultura; administrar os
sacramentais; atuar, preferencialmente na caridade; assistir a comunidade
carente; participar da administração diocesana ou paroquial.
Os documentos de
"Santo Domingo" nos dizem que o diácono permanente é o único a viver
a dupla sacramentalidade - da ordem e do matrimônio. Um não elimina o outro. A
vida matrimonial é, portanto vivida em sua plenitude.
Esta é a razão
pela qual a esposa tem que autorizar, por escrito e de viva voz, no momento da
ordenação, que o bispo tem a sua autorização irrevogável para ordenar seu
marido.
Jesus é o diácono por excelência
Jamais poderíamos
dizer com segurança que, ao serem encarregados esses sete homens para esse
mistér, estava instituído na Igreja o ministério diaconal porque, em primeira
instância, Jesus foi o primeiro diácono e o diácono por excelência:
Ø
“quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o
servidor de vocês; e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se
servo de vocês. Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para
servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt
20,26-28).
Ninguém criou
nada se já Jesus não tivesse sido ou dado o exemplo.
O fato de os
Apóstolos escolherem sete homens “de boa fama, repletos do Espírito e de
sabedoria” no meio da comunidade é
consequência daquilo que Jesus já fizera e dera o exemplo na última ceia quando
lavou os pés dos seus discípulos e disse:
Ø
“Vocês compreenderam o que eu acabei de fazer? Vocês
dizem que eu sou o Mestre, o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. Pois bem:
eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar
os pés uns dos outros. Eu lhes dei o
exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o
servo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que
o enviou. Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática”. (Jo
13,12-17).
Os Apóstolos, ao
designarem esses sete homens, apenas acordaram para a realidade de que a Igreja
de Jesus Cristo é diaconal por excelência, nasceu diaconal e deixa de ser
Igreja se não for diaconal. Ao designar esses homens para esse serviço, os
Apóstolos estavam delegando a eles um serviço, que em primeiríssimo lugar, era
deles próprios, os Apóstolos, conforme disse o teólogo Collins que, fazendo
isso, os Apóstolos poderiam continuar com o seu ministério apostólico no Templo,
entre os judeus, ministério esse que era uma diaconia, a de proclamar ali a
Palavra.
Isso deixa claro
e é biblicamente correto que o ministério diaconal na Igreja foi instituído
antes mesmo do ministério presbiteral.
O presbítero que
não tenha sido diácono, que não tenha vivido a sua diaconia intensamente e que
não continue com seu ministério diaconal por toda a sua vida, não está
exercendo o ministério a que fora chamado, mas se converteu em um profissional
do altar, e como temos profissionais do altar. A Igreja é, por excelência,
diaconal, servidora, a exemplo de Cristo, que disse: “o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e dar
a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20,28). Os sete homens
escolhidos eram de origem grega e, portanto, eles deveriam desempenhar a sua
diaconia entre os cristãos de origem grega, e isso quer dizer que, não somente
suprir as necessidades materiais desse seguimento, mas de proclamar também a
Palavra para eles.
Para ficar claro
isso, nada melhor que buscar a opinião de um mestre em Teologia, Júlio César
Bendineli, constante do seu livro “Diaconia da Palavra”, página 68:
Ø
“É por isso que os Atos dos Apóstolos apresentam, na
sequência, Estevão pregando em Jerusalém e, pouco depois, Filipe, como sendo o
responsável pelo progresso da Palavra na Samaria (At 8,4ss), isto é, para além
de Jerusalém e da Judéia. Mais adiante, o mesmo Filipe voltará à cena, quando
será chamado, não por acaso de Evangelista (At 21,8). Sua missão o levaria até
a Cesaréia, um porto usado para se viajar a Roma (At 8,4-14.26-40), objetivo
final da trajetória da Palavra nos relatos lucanos”.
E continua Júlio
César Bendineli no mesmo livro, página 69:
Ø “Os diáconos,
assim como os Apóstolos, eram enviados com a função, principalmente, de anúncio
do Evangelho, e mais tarde, na era patrística, sempre apareciam associados aos
bispos e aos presbíteros no ministério da Palavra, especialmente no contexto
catequético [...] Em resumo, a essência do ministério dos
antigos diáconos era a mediação, o ofício de ser ponte ente a Igreja e o mundo,
operado pela mensagem/palavra que transmitiam na condição de representantes de
uma autoridade (bispo) em nome da qual exerciam funções caritativas ou de
cuidado com o próximo, sempre conectadas com a pregação do Evangelho”.
Diáconos, Evangelistas e Pregadores da Palavra
O livro dos Atos
dos Apóstolos se preocupa em colocar em relevo os dois dentre esses sete homens
escolhidos pelos apóstolos que se distinguiram pela pregação da Palavra, aos
quais, nesse livro, foi dado destaque especial: Estevão e Filipe.
Estevão que,
inclusive, foi martirizado a pedradas por proclamar e testemunhar a Palavra,
conforme é narrado no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 7.
Foi justamente
pelo zelo da proclamação da Palavra que Estevão atraiu contra si feroz oposição
por parte dos judeus. Uma de suas mensagens sobre o Reino de Deus acendeu a
fúria dos ouvintes que confrontados no seu pecado resolveram matá-lo.
Em seu martírio,
Estevão teve uma visão do céu aberto e Jesus de pé ao lado do Pai. O diácono
morreu pedindo que Deus perdoasse os seus algozes, entre os quais estava Saulo
de Tarso, que mais tarde se tornaria o mais célebre dos apóstolos.
O outro desses
sete homens que se destacou pela proclamação da Palavra, foi Filipe (não o
apóstolo). Felipe, não que não tenha se limitado às tarefas do dia-dia da
igreja e do seu ministério, mas, homem consagrado a Deus, foi orientado pelo
Espírito Santo a seguir pelo caminho que ligava Jerusalém a Gaza. Na estrada,
aproximou-se correndo da caravana de um alto oficial etíope, eunuco,
administrador dos bens de sua rainha. O oficial lia um trecho do livro do
profeta Isaías, sobre Jesus. O etíope convidou Filipe a subir no carro e Felipe
usando a palavra do profeta, pregou o Evangelho com tamanha unção que o oficial
creu e quis ser batizado ali mesmo, à beira do caminho.
Após batizar o
oficial, Filipe foi arrebatado pelo espírito do Senhor, deixando o etíope
maravilhado com o poder de Deus, conforme é narrado nos Atos dos Apóstolos,
8,26-40.
A recomendação de Paulo, contrariamente a quem
muitos querem atribuir, não foi somente para os diáconos.
A recomendação
de Paulo a Timóteo, contida na primeira carta a Timóteo, devemos entendê-la
dirigida também aos diáconos, mas não apenas e somente aos diáconos, como muita
gente entendida em teologia quer impor, mas essa recomendação foi,
indistintamente, a todos os que “aspira cargo de direção” na Igreja, isto é, diáconos,
presbíteros e epíscopos, a todos os que têm ministério ordenado dentro daquilo
que lhe é próprio e no grau da ordem que lhes são conferido:
Ø
“Seja irrepreensível, esposo de uma única mulher,
ajuizado, equilibrado, educado, hospitaleiro, capaz de ensinar, não dado a
bebida, nem briguento, mas indulgente, pacífico e sem interesse por dinheiro.
Ele deve ser homem que saiba dirigir bem a própria casa, e cujos filhos lhe
obedeçam e respeitem. Pois se alguém não sabe dirigir a própria casa, como
poderá dirigir bem a Igreja de Deus?” (1Tm 2,2-5).
Na Igreja
Primitiva e, principalmente no tempo de Paulo e dos Apóstolos, os próprios
Apóstolos (possivelmente descartando João, o Evangelista), os diáconos e,
posteriormente os presbíteros eram casados. Esse testemunho quem nos dá é o
próprio Paulo na sua primeira carta aos coríntios, 9,4-5, quando tentava se
justificar, como havia dito antes, que o trabalhador é digno do seu salário,
conforme consta da Bíblia do Peregrino:
Ø
“Não temos
direito de comer e beber? Não temos o direito de nos fazer acompanhar por uma esposa cristã, como os demais
apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas? Somos Barnabé e eu os únicos que não têm
direito de ficar sem trabalhar?”
Isso deixa claro
que a recomendação e, mais do que isso, a chamada de atenção de Paulo, não se
restringia aos diáconos, como é voz corrente hoje em dia pelos que se dizem
entendidos em teologia, mas a todos os ministros chamados e vocacionados para
direcionar o povo de Deus ao seu verdadeiro destino. Não pode dirigir a Igreja
de Deus quem não sabe dirigir a própria casa, na época epíscopos, presbíteros e
diáconos.
São os diáconos
sozinhos que dirigem a Igreja de Deus? Não. São o papa, os bispos, os
presbíteros e os diáconos, cada qual com suas responsabilidades específicas.
Então a
recomendação de Paulo foi para todos. Isso foi dito assim porque quando foi
escrita essa recomendação não estava implantado ainda o celibato na Igreja:
epíscopos e presbíteros, assim como os diáconos, eram todos casados ou, pelo
menos podiam casar-se.
Até o papa, como
era o caso de Pedro, era casado como vemos em Marcos 1,29-31, Lucas 4,38-41, Mateus 8,14-15 e na primeira
carta aos coríntios, 9,5.
Proclamação da Palavra e dupla sacramentalidade
A proclamação do
Evangelho nas liturgias da Palavra e da Eucaristia por parte do diácono é um
costume antiguíssimo da Igreja, uma vez que, dentre os seus serviços, a
proclamação da Palavra, principalmente pelo anúncio, é atribuição inerente do
seu ministério ordenado.
Como uma pessoa
eclesial, o diácono tem de permanecer próximo da Palavra.
Os documentos de
"Santo Domingo" nos dizem que o diácono permanente é o único a viver
a dupla sacramentalidade, que nem o bispo e nem o presbítero vivem: - o
sacramento da ordem e o sacramento do matrimônio -. Um não elimina o outro.
Tanto a vida do
ministro ordenado como a de quem recebeu o sacramento do matrimonio é, portanto
vivida em sua plenitude na pessoa do diácono permanente.
D. Orani fala sobre sua experiência em relação aos
diáconos.
Em artigo
difundido no portal da arquidiocese do Rio de Janeiro, o Cardeal Dom Orani
considera que a retomada do ministério diaconal, “como uma vocação própria,
é uma grande riqueza para nós. Tive a oportunidade de poder vivenciar várias
experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja
iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese (São José do Rio
Preto/SP) ou então continuando uma caminhada das mais antigas do Brasil, na
arquidiocese anterior a que servi”,
conta Dom Orani.
O Cardeal afirma
que percebeu
Ø
“a importância e o valor do diaconato permanente,
tanto no campo social como na presença evangelizadora da Igreja nos diversos
âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar, por minhas experiências, a
riqueza da vida, da missão e do trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja”.
Resumindo
e reafirmando.
Para esclarecer
a memória de quem contesta ou nega a realidade de que o diácono não seja
clérigo e que não faça parte da hierarquia da Igreja, vejamos o que determina o
Código de Direito Canônico promulgado pelo papa João Paulo II, dado em Roma, a 25
de janeiro de 1983, na residência do Vaticano, ao quinto ano de seu
Pontificado.
Assim diz o
Código de Direito Canônico no seu Cânon 266:
Ø
“Pela ordenação
diaconal, alguém se torna clérigo e é incardinado na Igreja particular ou
prelazia pessoal, para cujo serviço foi promovido”.
No parágrafo 2
do mesmo Cânon, reza:
Ø
“O membro
professo com votos perpétuos num instituto religioso ou incorporado
definitivamente numa sociedade clerical de vida apostólica, pela ordenação
diaconal é incardinado como clérigo nesse instituto ou sociedade, a não ser
que, quanto às sociedades, as constituições determinem diversamente”.
E, no rodapé
explicativo, deixa claro que:
Ø
“O fato que está
na base de toda incardinação originária é o diaconado”.
No parágrafo 3
do já mencionado Cânon, diz:
Ø
“Pela ordenação
diaconal, o membro do instituto secular é incardinado na Igreja particular para
cujo serviço foi promovido, a não ser que seja incardinado no próprio instituto
em virtude de concessão Apostólica”.
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